Desconstruindo Mycroft escrita por Sparkles


Capítulo 23
Mesa para quatro


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoas, capítulo no fim de semana, como prometido. :3



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A voz conhecida era de Greg. Em vez de sentar no balcão, fui me juntar a ele na mesa.

“Vou pedir mais tarde.” Greg avisou a garçonete.

“Peça o talharim de uma vez. E um copo grande de água tônica diet.” Falei enquanto sentava em uma das três cadeiras vazias. Greg arregalou os olhos.

“Mycroft?! Você não deveria estar fazendo a prova?”

“Saí de lá agora.”

“C-como você conseguiu fazer em tão pouco tempo?”

“Pouco tempo? Pareceu uma eternidade!”

Ele pediu o que eu sugeri e ficamos em silêncio esperando vir os pratos. Fiquei feliz por ele não ter me enchido de perguntas mais específicas sobre a prova, porque eu estava cansado e faminto demais para esse tipo de conversa. Mas havia algo estranho, não sei ao certo, Greg me parecia nervoso. O olhei de cima a baixo e notei algo.

“Você está bem, Gregory?”

“Mas é claro que estou bem, que pergunta é essa?”

“Seus sapatos parecem estar te incomodando.”

“Um pouco, são novos.”

“Ah sim. Sabe, você poderia ter falado...”

“Falado o quê?”

“Você está esperando alguém, não está?”

Não foi preciso responder. A pessoa que chegou em seguida fez isso por ele. Ou melhor, as pessoas.

“Megan, por favor, me diga que esse não é mais um daqueles encontros duplos que você insiste em arranjar, porque eu já cansei de falar que...” A menina de cabelos extremamente loiros começou a resmungar.

“Claro que não, Harry! Eu nem sabia que esse indivíduo ia vir.”

“E eu não sabia que você ia trazer uma amiga. Achei que era uma conversa em particular.” Greg finalmente falou.

Mas que droga estava acontecendo? Ah, eu deveria ter ido direto pra casa. Sabia que o Greg estava me escondendo alguma coisa! Que raiva.

“A Harry só veio almoçar. Ela gosta do talharim daqui.” Megan falou apontando para a garota, que a meu parecer era a tal amiga Harriet que tinha cedido a casa pra ela. “Mas eu não me importo de conversar na frente dela, não escondemos nada uma da outra.”

“Ótimo, então vocês dois conversem, que eu já vou pedindo.” A menina loira falou e foi sentando sem nenhuma cerimônia em uma das duas cadeiras livres. Chamou uma garçonete de uns vinte e poucos anos que estava mais próxima da mesa. “Querida, eu quero um prato de talharim e um uísque com soda.”

“Harriet Watson, são onze e meia da manhã!”

“Exatamente, eu deveria estar dormindo, mas não, estou aqui te fazendo companhia, então, por favor, compreenda.”

Megan deu um longo suspiro, que terminou em um sorriso forçado.

“Enfim, Mycroft, querido, será que você podia nos dar licença?”

Não respondi. Eu tinha tanta coisa pra falar que se eu começasse, seria preciso chamar a polícia. Também não foi preciso, pois Greg respondeu prontamente.

“Se a sua amiga vai ficar, o Mycroft também fica.” Ele falou com um tom desafiador. “Eu também não escondo nada dele.”

Nada! Nadinha mesmo. Nem mesmo o fato de que ele estava aproveitando o tempo em que eu estaria ocupado fazendo prova pra ter uma reconciliação com a atentada.

“Tudo bem, então.” Megan falou, finalmente sentando-se na cadeira livre que sobrou. Ela respirou fundo várias vezes antes de começar. “Olha, Greg, eu sinto muito por ter sido agressiva com você...”

“E com o Mycroft.” Ele complementou.

“E com o Mycroft.” Ela repetiu, revirando os olhos. “Estou tentando muito ser uma pessoa melhor e pensar antes de agir. Cansei de afastar todo mundo que eu gosto de mim. Fui à psicóloga do colégio ontem e ela se comprometeu a me ajudar com isso.”

“Megan, você não vai pedir nada não? A Elisabeth quer saber.” Harry perguntou, quebrando o clima emotivo.

“Quem?” Megan perguntou.

“A garçonete.”

“Quando foi que você flertou com a garçonete? Harry, a gente tá aqui há menos de dez minutos!”

“Vai pedir ou não?” Elisabeth falou, se intrometendo na atmosfera da nossa mesa.

“Só um copo d’água, por favor. Estou sem vontade de talharim hoje.” Eu e Harriet dividimos um olhar de espanto. É quase um pecado ir aquele restaurante e não comer talharim à putanesca. Ultraje! Um crime!

“Gente, por favor, vocês estão perdendo o foco.” Greg falou, com voz de professor de geografia que dá aula no último tempo de sexta feira e nunca consegue terminar a matéria.

“Isso, obrigada, Greg.” Megan tossiu para limpar a voz. “Como eu estava falando, fui à psicóloga e ela me disse que escrever o que eu sinto é uma forma ótima de começar a botar pra fora toda minha raiva.”

Avaliadora e seus métodos variados e inovadores.

“Olha, Megan, isso tudo é muito legal e eu fico feliz por você, mas eu ainda não sei aonde você quer chegar” disse Greg.

“A questão é que...” ela relutou um pouco “Eu tenho que escrever sobre meu dia a dia e o texto sempre fica chato e monótono. Então me dá vontade de escrever sobre o nosso tempo juntos. Greg, eu quero aquele tempo de volta... será que você consegue me perdoar?”

Um silêncio dramático caiu sobre nós. Daria até para ouvir a respiração das pessoas naquela mesa, se não fosse por Elisabeth servindo os pratos e as bebidas que pedimos.

Greg, que até agora se mantinha sério, deixava escapar leves resquícios de seu coração de manteiga pelas feições de seu rosto. Ele precisava dar uma resposta racional e vi que aquilo não seria possível com aquele turbilhão de informações se acomodando na sua cabeça, então falei a minha primeira e única frase do almoço todo.

“Depois ele responde, vamos comer primeiro.”

“Amém!” Harriet falou, enfiando uma bela garfada de macarrão na boca.


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Notas finais do capítulo

Harriet Watson, everyone. Ai ai, me disseram que o irmãozinho dela é um fofuxo que gosta de brincar de soldadinho, hihihi.
Beijão, até outro capítulo o/



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