Desconstruindo Mycroft escrita por Sparkles


Capítulo 21
Epifanias e bicicleta


Notas iniciais do capítulo

Enquanto eu posto esse capítulo, Mark Gatiss está apenas a alguns quilômetros de mim, provavelmente numa loja de lembrancinhas, comprando um par de havaianas. And I think to myself, what a wonderful world... huahaha chega de palhaçada, vamos à história!



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Era a sexta-feira antes da prova e eu até ia estudar, mas minha mãe disse que não se estuda na véspera e que já era pra eu ter aprendido o que eu tinha que aprender, e vá entender, né. Fui então pra casa de Greg ver um filme.

Tinha sobrado um pedaço da torta de maçã que eu tinha feito, então resolvi levar pra ele, porque sei lá, me parecia educado. Greg ficou maravilhado com a torta e disse que meu propósito na vida era cozinhar. Tive uma epifania. Comecei a me imaginar como um grande chef e sabe, até que não é má ideia.

Assistimos um 007 que eu não tinha visto e um pouco depois do meio do filme, perto do fim, tive outra epifania e decidi que quando eu crescesse eu ia trabalhar no serviço secreto. Eu me via muito bem como uma daquelas pessoas que fica sentada no ar condicionado, enviando missões pros agentes e assinando papéis. Nem muita adrenalina, nem muito monótono. Talvez eu finalmente tenha descoberto o meu propósito na vida.

“Com a minha ajuda, vale lembrar fui eu quem te mostrou o filme.”

“Cala a boca, Greg. Sou eu quem narro a história.”

“Tudo bem, desculpa, eu só queria deixar isso claro.”

Enfim, lanchamos e jogamos um jogo que eu nunca tinha jogado antes, chamado War. Achei muito interessante, pois tentamos jogar com o cenário político atual como base e eu nunca me senti tão entretido quanto durante aquele jogo. Foi então que eu tive mais uma epifania e decidi que meu propósito na vida era ser um embaixador ou ter um cargo no governo.

“Espera, você não disse que queria ser do serviço secreto?”

“Ah, disse. Mas eu posso ser os dois, ou melhor, os três.”

“Não, você só pode ter um propósito na vida.”

“Qual o propósito de ter você como amigo se você não me apoia? Uh, não importa, só faça o favor de parar de me interromper.”

“Desculpa, prossiga.”

Onde eu estava? Ah sim, jogos de tabuleiro. Depois de dezesseis rodadas de War, jogamos todos os jogos de tabuleiro que Greg tinha em casa e...

“Não jogamos todos, faltou o Twister.”

“Twister não é um jogo de tabuleiro e eu não tenho coordenação pra jogar isso, de qualquer maneira. Agora silêncio, Greg, eu preciso terminar de escrever esse maldito papel.”

E depois que chegamos ao nível extremo do tédio, resolvemos...

“Afinal, o que você tanto escreve aí?”

“É uma espécie de diário, que a psicóloga do colégio pediu.”

“Sério? Eu não sabia que você frequentava a psicóloga do colégio.”

“Minha mãe me obrigou.”

Como eu dizia, resolvemos voltar a minha casa, onde eu comecei a escrever a droga do seu papel, avaliadora, e eu teria terminado há mais tempo se o Greg não ficasse me incomodando o tempo todo!

“O que foi agora, homem? Do que você tá rindo?”

“É que você tem uma carinha amarela desenhada na parede, eu achei isso engraçado.”

“Foi o Sherlock que fez e eu não consegui apagar.” respirei fundo “Você não tem nada melhor pra fazer não?”

“Hm, acho que não.” Ele se jogou na minha cama. “Se bem que eu podia estrear minha bicicleta nova!”

“Fascinante, vá de uma vez, por favor.”

“Você não quer vir também? A gente fica se alternando.”

“Creio que não, eu realmente preciso terminar de escrever isso aqui.”

“Depois você termina, vamos!”

Mais que depressa, Greg levantou-se, me puxou pelo braço e em menos de cinco minutos, estávamos no topo de uma ladeira, na esquina da nossa rua, com a bicicleta azul (e novinha em folha!) em mãos.

“Você pode dar a primeira volta se quiser” ele disse.

“Não, pode ir primeiro.”

“Vá primeiro, eu insisto.”

Subi na bicicleta e encarei a ladeira. Travei. Era íngreme demais. Greg fez uma contagem regressiva e ia me empurrar quando eu interrompi.

“Espera, tem um problema! Eu não posso ir primeiro porque... eu... eu não sei andar de bicicleta.” Fechei os olhos, esperando a reação escandalosa de Greg.

“É, foi o que eu pensei.” Ele falou, me surpreendendo.

“Desculpa, mas o quê?” estava incrédulo.

“Sei lá, você não me parece muito ligado a atividades físicas.” Tive que concordar. “Eu conheço você um pouco.” Sorriu.

“Ótimo, então eu vou voltar pra casa mesm...”

“Na-na-ni-na-não! Agora que já estamos aqui, você vai aprender a andar de bicicleta.”

“Obrigado, mas eu dispenso. É um conhecimento desnecessário, para um futuro diplomata-embaixador fazedor de tortas do serviço secreto.”

“Desnecessário?” ele riu “Não, agora eu faço questão de te ensinar. Vai ser divertido e você vai até poder colocar isso no seu currículo depois.”

“Ah, claro. Eu ia contratar essa pessoa que fala alemão, mas puxa, esse aqui anda de bicicleta. Esse sim é o homem certo pro trabalho.” Ironizei.

“Pode rir o quanto quiser, mas você ainda vai me agradecer.”

Comecei a pedalar, mas eu andava vinte centímetros, me desequilibrava para um lado, colocava o pé no chão e repetia o processo. A primeira descida foi um desastre. Levamos a bicicleta de volta ao topo.

“É melhor que eu desista. Não estou muito a fim de cair e sofrer ferimentos de gravidade média na véspera da prova.”

“Mas é exatamente por isso que você não está conseguindo, falta de confiança.”

“Bem, eu não vou conseguir arranjar confiança às seis da tarde. Vamos voltar pra casa.”

“De jeito nenhum!” ele me olhou diretamente. “Eu disse que eu vou te ensinar e está dito. Agora sobe!” Revirei os olhos e fiz o que ele pediu. “Muito bem. Olhe apenas para a sua frente, comece a pedalar e não pare por nada nesse mundo. Eu vou ficar te segurando o tempo todo.”

“Não! Não encosta em mim!”

“Deixa de ser fresco, Mycroft. Eu só vou segurar o banco e o guidom. Fica calmo.”

“Eu estou calmo!” gritei.

Inspirei o ar e soltei devagar. Tudo bem, era só pedalar e olhar para frente. Greg posicionou as mãos na bicicleta. Bem, se eu caísse, ele caía também e ainda amortecia minha queda.

Comecei a pedalar. Foi muito rápido. Tudo que senti foi o vento na minha cara e a velocidade aumentando gradativamente. Eu estava conseguindo!

“É isso aí, você está indo sozinho!” Greg gritou animado.

“Sozinho?” comecei a me desequilibrar “Socorro, GREG ME SEGURA!”

Ele até tentou correr até mim, mas não houve tempo. Dei de cara com uma cabine telefônica.


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Notas finais do capítulo

Pra quem não queria ser nada, agora o Mycroft quer ser três coisas ao mesmo tempo. Preciso de uma epifania dessas, hohoho. Beijos e até next chapter o/



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