Quebrando as correntes do destino escrita por Jose twilightnmecbd


Capítulo 8
Salada de frutas... e flores


Notas iniciais do capítulo

POV - Edward



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Edward

O vinho já começava a fazer efeito. Que bom. Já não era sem tempo. Eu já perdera a conta de quantas canecas de vinho tomei uma atrás da outra. A noite estava fria e eu fervia por dentro. Os outros escravos acenderam uma fogueira e batucavam uma música animada. A maioria dançava. Eu bebia.

Aqui na chácara era diferente do Engenho. Não havia muito trabalho pesado. Os escravos eram em sua maioria mulheres e escravos domésticos, que cuidavam da prataria, dos jardins, hortas e havia a casa de fiar. Todas as roupas de cama e até vestimentas eram feitas ali. As escravas grávidas passavam a gestação aqui e se o filho nascesse homem, assim que completasse seis meses de idade, era mandado para viver no Engenho.

Sempre havia essas festas, chamadas de “Festa de Senzala”, principalmente quando o Comendador estava fora. E ele quase sempre estava.

¾ O que tu procura num tá no vinho, mininu Edward...

Olhei para o negro pai Billy, sentado ao meu lado. Ele era o escravo mais velho do Comendador, muito querido e sempre cheio de conselhos, por isso todos os chamavam de pai.

¾ Não estou procurando nada. – virei a caneca de vinho na boca.

¾ Está aperreado e isso tem cheiro de mulhé...

Olhei de rabo de olho para ele. Estava sorrindo o velho safado.

¾ E por um acaso eu costumo ter problemas com mulher, pai Billy? – debochei e enchi minha caneca de vinho.

¾ Um dia todos nós sempre temos... – ele riu.

¾ Estou incomodado sim, mas é só uma situação... inusitada. – enchi a boca de vinho.

¾ Mulhé! – ele gargalhou. – Sô cego, mas enxergo longe, mininu Edward, longe...

O pai Billy perdera a visão na lavoura. Um antigo feitor jogara um tipo de ácido em seus olhos como castigo e o cegara. O Comendador gostava muito do escravo Billy, era um de seus braços mais fortes. Assim que soube, mandou o feitor embora.

¾ Queres saber? Meu vinho acabou. Se irei ficar aqui a escutar suas asneiras, preciso de mais bebida. – falei me levantando, tonteei ao ficar de pé.

¾ Edward? – não precisei responder para que ele soubesse que eu estava ouvindo – Ocê segura uma flor e uma batata da mesma maneira?

Pai Billy e suas metáforas.

— Obviamente que não. Por que perguntas?

— Se apertares a flor com a mesma força que a batata, o que acontece?

— Oras! A flor ficará destruída!

— Assim também são as mulhé, meu fio... – Pai Billy tinha o olhar vago que se fixava bem na direção da fogueira.

Acompanhei seu olhar e observei as mulheres que dançavam. Negras de todas as cores e todas as idades. Ainda envolto meditando no que o pai Billy acabara de dizer, uma silhueta me chamou a atenção. Por um minuto meu coração disparou, mas quando a silhueta saiu das sombras, era Rosa.

Deixei pai Billy e fui para a lateral da senzala pegar mais vinho no barril. Sabia que Rosa me seguiria.

— Fui pro seu quarto ontem de noite. – Rosa falou cruzando os braços. Continuei de costas, abaixado, enchendo um cântaro de vinho. – Não me disseste que sairias. – Continha certo nível de ira em sua voz que me incomodava.

Não devia satisfações a Rosa. Mas resolvi dá-las.

— Li até tarde para a madrinha, depois Renée pegou-me para traduzir receitas grandes. – fechei o barril e fiquei de pé.

Rosa estava usando um vestido branco que ia até abaixo dos joelhos deixando suas panturrilhas torneadas à mostra. Usava uma faixa cor de laranja amarrada marcando a cintura e na parte de cima o tecido caía sobre os braços contornando os seios, arrebitados, e deixando todo o ombro desnudo. Sua linda pele negra brilhava ao luar.

— Pensei que tivesse me evitando. – foi direto ao ponto.

Ela era inteligente. Antes do Comendador comprá-la num leilão, ela fora mucama de uma sinhá que a havia ensinado a ler e a escrever. Fato era que não os fazia com muita excelência, mas isso já a diferenciava das demais.

— Estás enganada... – peguei um cacho de seu cabelo que batia no ombro. Inclinei-me para cheirar seu pescoço, incrivelmente Rosa sempre cheirava a rosas, mas tonteei e acabei a empurrando e quase caí no chão. – Opa! Salvei o vinho! – falei levantando a garrafa.

— Estás bêbado...

— Hum-hum – estava com a boca no gargalho. O vinho estava delicioso. – Escute-me Rosa. – Apoiei uma mão em seu ombro. – Vá para meu quarto. Espere-me lá... Só tenho de dar uma última palavra com o pai Billy e irei.

Rosa suspirou.

— Não se demores. – falou muito seriamente me encarando e se foi.

Eu ri. Acabaria numa só noite com todo esse atrevimento dela. Virei-me e na fumaça da fogueira vi o rosto de sinhaninha Isabella. Droga! Que diabos! Joguei vinho no rosto para acordar desses devaneios. Onde já se viu? Fui até onde pai Billy estava, mas ele não estava mais lá. Olhei em volta e não o vi em lugar algum, já devia ter se recolhido para dormir.

– Olá, Edward... – Virei-me ao sentir uma mão passando por minhas costas. Era Cacau.

As escravas nascidas na década de 60, em sua maioria, foram batizadas com nomes de flores, frutos ou frutas. Atrás de mim estavam, todas sorridentes: Cacau, Violeta e Amora. Elas tinham idades entre 19 e 22 anos. Eram escravas lavadeiras, passavam o dia rodeadas de aromas de limpeza e água da cachoeira.

– Olá, senhoritas... – acenei com a cabeça. – Como vão?

– Bem... – Violeta chegou bem próxima a mim – Mas, nós podia ficar melhó... – Violeta era corpulenta, tinha os dentes branquíssimos e lábios bem carnudos. Sorri.

– Tem tempo que tu num se achega com nós... – Amora era a mais nova. Tinha duas trancinhas como “Victória Chiquinha” que estavam espetadas uma para cada lado. Falou balançando a barra da saia e se remexendo lentamente.

– Agora ele só qué sabê de Rosa...

Bebi mais do vinho e sorri abertamente para elas. Elas eram belas e sedutoras. Movido pelo alto efeito do vinho, tive uma ideia.

– Não sejas por isso... – cheguei mais perto delas e peguei o seio de Cacau com uma mão e com a outra apertei a nádega de Violeta. Elas deram gritinhos e gargalhadas. – Se aceitarem minha proposta...


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