Quebrando as correntes do destino escrita por Jose twilightnmecbd


Capítulo 3
"Despedidas"


Notas iniciais do capítulo

POV - Narrador



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/461589/chapter/3

CAPÍTULO 2

¾ Bem... aqui no despedimos, não é mesmo?

Isabella sorriu. Sabia que Jacob estava enrolando para se despedir. Ele não queria deixá-la. Ela também não queria se afastar. Mas era preciso.

O navio atracara no porto de Recife e fazia uma temperatura amena, quase fria. Era o inicio do mês de junho, o inverno se aproximava. Isabella puxou as golas do paletó de Jacob, tampando seu pescoço. Ele sorriu, mas quando olhou para o rosto compenetrado de Isabella, ele gelou.

¾ Que você e os céus me perdoem por isto! – Isabella puxou o rosto de Jacob ao mesmo tempo em que ficava na ponta dos pés e colou seus lábios nos dele.

Ela precisava que ele soubesse o quanto ela era grata por tudo o que ele tinha feito por ela durante a viagem e por tudo o que ele não havia feito. Ninguém jamais entenderia, mas ela não sabia e não tinha outra forma de demonstrar sua gratidão.

Infelizmente, quando Jacob começou a corresponder o beijo e passou os braços abraçando sua cintura, Isabella estremeceu, um arrepio de pânico percorreu seu corpo, ela abriu os olhos ligeiramente só para constatar: Não tenha medo, é o senhor Jacob, apenas Jacob... – disse a si mesma. E se forçou a continuar o beijo. Ela o beijava como se sua vida dependesse daquilo. Quando o beijo acabou, os lábios deles ainda ficaram grudados por uns instantes e eles permaneceram de olhos fechados.

O beijo foi bom. Na verdade este tinha sido o primeiro beijo dado por livre e espontânea vontade de Isabella. Porém, ela não sentiu o tal “desejo” de que ouvira falar. Ao contrário, beijar Jacob fora como beijar um parente ou melhor, um amigo. Um grande amigo.

¾ Que quando abrir seus olhos para sua realidade, esteja um dia lindo de sol. – Isabella falou desgrudando os lábios e sorriu.

Jacob apenas sorriu e suspirou se lembrando do por que ela dizia isto.

¾ Não acredito que no meio duma tempestade, com o navio a ponto de naufragar, tu ficarás aí sentado de olhos fechados! – Isabella tentava se segurar no alto da cama e no parapeito da janela de seu quarto no navio.

¾ Sente-se aqui, senhorita Isabella. – Jacob falou batendo com a mão no chão, ao seu lado, sem abrir os olhos.

Isabella olhou descrente e bufando sentou-se do lado dele no chão.

¾ Não imagino como isso possa ser útil, senhor Jacob!

¾ Gritar e se desesperar de um lado para outro também não adiantará em nada... – ele falava com muita serenidade e sem abrir os olhos um segundo.

Um relâmpago iluminou o compartimento. Gritos e choro de criança se ouvia do lado de fora nos corredores.

¾ Quando eu era criança, morria de medo de trovões e relâmpagos... – Jacob começou. Isabella levantou uma sobrancelha como quem dizia “Não me diga.” – Então eu ia para debaixo de minha cama, fechava os olhos e contava histórias fantásticas para mim mesmo. Acabava pegando no sono e quando acordava já era dia e minha maior felicidade era olhar pela janela e ver que havia um lindo dia de sol lá fora.

¾ Mas agora não é mais criança. E se eu estivesse precisando de sua ajuda?

¾ Está? – ele perguntou com preocupação, abriu os olhos e olhou diretamente para ela.

Ela sorriu.

¾ Não. Não estou. Mas poderia estar...

¾ Senhorita Isabella, o que lhe acalma? – ele já estava novamente de olhos fechados e encostou a cabeça na parede.

Isabella pensou por um instante.

¾ Livros. Histórias que nunca iremos viver na vida real.

Jacob sorriu.

¾ Excelente. Conte-me sobre o melhor livro que já lera até hoje.

¾ A moreninha. – Isabella não precisou pensar muito, sua mãe havia lhe mandado esse livro junto com a última carta à Europa.

¾ Não conheço esse.

Mais trovões e relâmpagos. Isabella se encolheu e se ajeitou mais perto de Jacob.

¾ É um livro de um autor brasileiro, Joaquim Manuel de Macedo. Foi lançado na década de 40.

¾ Já ouvi falar desse autor. Falecera ano passado! Ele foi fundador da revista Guanabara. Já li algumas de suas crônicas e sátiras políticas. Fale-me dessa obra.

¾ Bem, o livro se passa numa ilha, a ilha de Paquetá. Conhece? – Jacob sacudiu a cabeça, negando. – Essa ilha fica no Rio de Janeiro. Quatro jovens fazem uma aposta. Se Augusto se apaixonasse por uma das moças que lá estariam, teria de escrever um romance contando sua história. E então ele conhece Carolina, a Moreninha...

Isabella abriu os olhos e se viu enlaçada pelos braços de Jacob, que dormia serenamente. Ela nem conseguia lembrar se chegara a contar o final do livro, não se lembrava em que momento pegara no sono. O navio já não balançava mais, estava um silencio e por trás das cortinas, via-se que já era dia.

Isabella se levantou com cuidado para não acordar Jacob e foi até a janela. Quando abriu as cortinas não pode deixar de abrir um imenso sorriso. O mar estava brilhantemente iluminado pelo radiante sol que reinava no céu azul limpíssimo.

¾ Tu és minha tempestade e minha calmaria, senhorita Isabella. – Jacob falou apertando mais ainda Isabella entre os braços e mirou seus olhos cor de chocolate.

¾ Mas tens uma noiva a lhe esperar.

Ele suspirou e assim que afrouxou os braços, Isabella se soltou do abraço.

¾ Tome. – ele tirara uma cédula de dentro do bolso e colocara amassada na mão de Isabella.

Isabella cerrou os dentes. Por um momento ficou ofendida, mas quando olhou para os olhos gentis de Jacob lembrou-se que ele não sabia de nada. Ele não fazia por mal.

¾ Não posso aceitar.

¾ Por favor. São somente dez mil réis. Poderá ser útil durante a viagem. É uma longa viagem até a corte, ficarei mais tranquilo se aceitar, senhorita. Por favor. É minha última maneira de tentar... protegê-la.

Isabella sorriu meio sem graça e aceitou o dinheiro. Jacob nem sequer imaginava que ela vinha de uma família riquíssima. Os Swan de Moura. Seu pai era dono do Engenho de Cana mais produtivo de Campos de Goytacazes.

Um apito alto indicava que o trem iria dar sua partida.

¾ Muito obrigada. Por tudo. – ela segurou a mão dele. Ele se inclinou e beijou-a nos lábios. – Tenho de ir. – Isabella falou encerrando o beijo.

¾ Será que nos veremos algum dia?

¾ Temo que não... Mas quem sabe, se inventarem algo que diminua as distâncias...

Ela e Jacob sabiam que não falava apenas da distancia entre Salvador e Rio de Janeiro. Havia outros tipos de distancias que os separavam. Jacob estava de casamento marcado e Isabella tinha sido prometida a um primo de segundo grau. Um contrato, que caberia ao filho do primo Newton assinar ou não. Ela esperava de todo coração que ele dissesse não a esse casamento arranjado.

Isabella não estava preparada para se casar agora e muito menos com alguém totalmente estranho para ela. Ela já tinha batido sua cota de se relacionar com estranhos. Fora que se o tal filho do primo descobrisse a verdade, ele poderia querer mandá-la até mesmo para o tronco, como faziam com os escravos.

Jacob esperou que Isabella entrasse no trem e aguardou na janela que ela se sentaria.

¾ Adeus, senhorita Isabella. – Jacob disse beijando o dorso da mão que Isabella esticara para ele.

¾ Jake... – eles riram. – Se o destino der-me opções, eu opto por sim. Sim, eu gostaria de revê-lo um dia.

O trem começou a andar lentamente e fazia um barulho ensurdecedor. Jacob lembrou-se de algo e gritou:

¾ Senhorita Isabella, como acaba o livro? Augusto e a Moreninha ficam juntos?

Isabella se debruçou sobre a janela sorrindo e viu Jacob acenando com sua cartola.

¾ Leia o livro! Que graça tem a vida se já soubermos o final? – gritou para ele, enquanto o trem tomava velocidade e a fumaça branca apagava a imagem do primeiro homem que Isabella cogitou amar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!