Renascida escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 19
Capítulo 18




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Edward e Bella pov’s

 

Bella pov’s

 

Eu não soube o quanto havia corrido desde que sai do castelo pertencente aos Volturi, mas, quando parei em frente àquela casa um pouco afastada do centro urbano, já era de manhã. A névoa encobriu o Sol e assim pude caminhar como uma pessoa normal sem ter a luz do Sol refletida pela minha pele. O bebe fitava-me intensamente, sorria. O único ser humano que sorriria para mim após ter descoberto o que eu era, deduzi. Eu sabia que tinha de deixá-lo em um local seguro, estranhamente eu sentia uma sede colossal, uma fraqueza que ameaçava me desmoronar. Me aproximei da entrada da casa, coloquei o bebe em frente a porta. O olhei, ele ainda sorria, era uma criatura estranha. Toquei a campainha e desapareci, ainda era cedo demais para ter alguém perambulando pelas ruas desertas. Fiquei escondida entre arbustos enquanto via a tudo. Ouvi os passos ruidosos, femininos, que desciam apressadamente pelas escadas. Uma mulher aparentemente jovem e bela atendeu a porta. Senti a garganta em chamas só por sentir o cheiro daquela mulher a alguns metros de mim, eu estava perigosamente faminta. A mulher não demorou a notar o recém nascido em sua porta, o pegou nos braços assustada e o levou para dentro de casa.

 

“Missão cumprida.” –Pensei. Eu teria que encontrar um local abrigado do Sol para me esconder.

 

...

 

Naquela pequena cidade, nas proximidades de Voltera, eu deixei o bebê que quase foi morto por Caius, naquela cidade eu encontrei um local para me refugiar do Sol, a torre de uma igreja. Fiquei próxima ao grande sino, o Sol começava a se mostrar por detrás de uma camada espessa de nuvens. Eu não poderia sair dali, não estava devidamente coberta. Ainda usava o longo vestido de cetim vermelho que pouco cobria meus ombros. Uma letargia pesada me atingiu, eu estava tão fraca que até mesmo um ato banal como levantar parecia exigir esforço. Meu corpo inteiro pesava como chumbo, eu estava tão fraca e sedenta! Entendi rapidamente o porquê disso: o poder que usei com Caius, o estranho poder que tomou meu corpo e fez todos os vampiros a minha volta desaparecerem, havia sugado minhas energias. Eu fechei meus olhos, me permiti fingir dormir, fingir sonhar. As lembranças de minha vida humana se esvaiam de minha mente como grãs de areia em minhas mãos abertas. Até meu nome me soava um pouco estranho. Charlie, Renée, Billy, Jake, Jessica, Angela, Bem, Lauren, Mike... Quem eram essas pessoas? Via apenas borrões em minha mente. Haviam, porém, infelizmente devo acrescentar, um nome que não saia de minha mente: Edward. Aquele por quem eu nutria um amor e ódio tão avassaladores que ameaçavam me consumir. Eu o queria ali comigo para que me amasse, para que sofresse o que eu estava sofrendo, isso se a minha imagem pudesse comovê-lo, o que eu mesmo duvidava. Eu agora era um espectro que tinha uma vida miserável, sem objetivos, sem ter para onde ir e que, infelizmente, não poderia morrer facilmente. O que eu faria agora? Para onde iria? Que razão me motivaria a continuar vivendo?

 

“Vá até ele, cobre-o. Cobre-o por ter desgraçado com a sua vida!” –Uma pessoa desconhecida para mim grasnava estas palavras em minha cabeça. Não deveria ser eu.

 

-Cobrar a quem? Laurent está morto, não há o que cobrar. –Falei sabendo que ninguém poderia ouvir meu murmúrio débil.

 

“Tem uma pessoa que você deve cobrar.” –A voz persistiu. Eu queria calá-la não sabendo como fazer isso.

 

-Quem...?

 

“Edward Cullen. Faça com que ele pague pelo que fez! Ele a envolveu em seu mundo, a expôs a uma gama de perigos e a abandonou quando cansou de você. Pretende deixá-lo impune? Quer uma razão para existir? Exista por isso! Exista para a vingança, para o amor, para o ódio ou o que quer que você queira dele!”.

 

Eu sabia de quem era aquela voz mesquinha de egoísta, era o meu outro eu. Um “eu” que parecia ter surgido quando me tornei uma vampira, um “eu” que já ocupava um espaço significativo dentro de mim. Eu temia que aquele lado emergisse e a antiga Bella desaparecesse, eu não queria ser daquele jeito. Mas se eu quisesse viver ainda, eu teria que ser assim. Eu teria que ser mesquinha, egoísta, fria... Muito embora nem todos os vampiros não fossem assim. Os Cullen não eram assim. Eu poderia ser como eles?

 

A noite chegara e com ela a resposta para meu questionamento.

 

Não, eu não poderia ser como os Cullen.

 

Eu saí de meu esconderijo. Eu não sabia o que faria, mas tomaria a decisão quando me alimentasse. Foi difícil seguir. Eu andava cambaleante pelas ruas, tentei andar pelos lugares menos movimentados, não queria chamar atenção para mim, mas isso era impossível. Algumas pessoas me notavam, me olhavam com estranheza e com fascínio. Eu não as olhava. Minha garganta queimava, meus músculos tencionavam e minha boca enchia-se com um gosto estranho, o veneno incapacitante que tinha o poder de tornar um humano como uma criatura da noite assim como eu era. Eu queria tanto saciar minha sede! O cheiro que vinha daqueles humanos era saboroso, de dar água na boca! Eu não poderia. Embora eu quisesse mergulhar na melancolia e me tornar a pessoa escura que por hora só aparecia em minha mente, eu não queria me tornar um mostro. Eu consegui chegar até um beco e dei um grande salto indo parar no telhado de um sobrado de quatro andares, eu caminhei pelos telhados rapidamente, tinha que sair dali. Eu precisava me alimentar, minha pele parecia estar se tornando dura, meu corpo pesado. Eu me desequilibrei e cai do telhado de uma pequena farmácia. Felizmente ninguém presenciou minha queda, eu havia corrido o suficiente para uma parte mais remota da pequena cidade em que me encontrava. Eu fiquei caída no chão, olhava o céu parcialmente nublado, à noite passando mais rapidamente do que eu imaginava ser possível.

 

Um barulho interrompeu meus pensamentos, um latido. Eu me levantei em um átimo e vi a alguns metros, na escuridão, um cachorro de rua. Foi rápido. Como das vezes em que fiz algo e me senti espectadora de minhas ações. Em um momento eu estava encarando o cão que se afastava com o pêlo eriçado, em outro momento o cão estava seco, eu havia tomado até a última gota de seu sangue. Eu não estava satisfeita, ainda sentia-me sedenta, a fraqueza ainda atingia meu corpo. Eu fui para mais fundo no beco farejando outro animal, qualquer outro animal. Eu pensaria depois no que iria fazer.

 

...

 

Eu não sabia há quanto tempo estava caminhando naquele bosque, já havia amanhecido. Estava em uma região interiorana. Estava restabelecida, a fraqueza desaparecera após eu me alimentar com dois bois que pastavam próximos a uma pequena fazenda. O Sol novamente se punha, eu continuava a vagar mais e mais para dentro do bosque. O vertido vermelho já não possuía o mesmo brilho, como andei descuidada algumas partes do vestido rasgaram ao passar por galhos. Eu não sabia para onde estava indo, mas sabia que estava sendo seguida. Um grupo, vários indivíduos, o cheiro indicava ser vampiros. Eu sorri. A antiga Bella ficaria assustada, correria. Eu não. Eu mostraria a quem quisesse ver que eu não era aquela Bella, aquela Bella havia morrido quando Laurent cravou seus caninos em meu pescoço.

 

Um a um, eles saíram cobertos com capuzes cinza. Dançavam com graça enquanto se aproximavam de mim posicionando-se com simetria impecável. Eram sete indivíduos. Um estava à frente dos outros, nunca os tinha visto.

 

-Vampira Isabella, eu suponho. –O homem disse, não conseguia ver nenhuma de suas feições devido ao capuz.

 

-E você quem seria? Um dos carrascos dos Volturi? –Dize zombeteira.

 

-Ah, claro. Estou aqui para executar a sentença daquela que cometeu a blasfêmia de eliminar Caius, membro importante dos Volturi, assim como eliminar membros importantes que serviam a essa família. Eu sou subordinado direto de Marcus assim como os vampiros que estão ao meu lado. Então, seja um vampira boazinha e colabore com meu trabalho. –Ele falou divertido, eu sorri.

 

Eu fiquei parada. Não que eu pensasse que não adiantaria me esforçar nessa luta já que eram mais indivíduos do que eu, mas por que era tentadora a idéia de morrer. Uma forma fácil, bem mais fácil do que tentar acabar com o meu corpo. Eu vi apenas o líder deles se mover, algo brilhante na mão que não pude ver, enquanto se aproximava com cautela.

 

-A propósito devo lhe perguntar e transmitir suas palavras aos demais membros dos Volturi. Por que assassinou friamente nosso senhor Caius e seus seguidores?

 

-Eles estavam matando humanos. Homens, mulheres, idosos, crianças... Eu não poderia permitir aquilo. –O vampiro diante de mim riu com minhas palavras.

 

-E por que se comprometeu desse jeito por causa do gado que nos alimentamos?

 

-Acho que ficou evidente qual a minha preferência alimentar. –Falei zombeteira novamente. –E imponho meu gosto aos demais. Não permitirei que uma vida seja tirada diante de mim. Eu fui humana e, pessoas que foram importantes para mim também são. –O vampiro zombava de mim, pude ver pela disposição de seus lábios que não estavam cobertos pelo manto cinza.

 

-Bem, acha mesmo que conseguirá impor seus gostos alimentares a todos? Enquanto conversamos, uma quantidade colossal de humanos morre para nos alimentar. De que adianta matar alguns indivíduos? Acha que mudará o mundo com isso? Matou Caius e outros de nossa família, mas há mais vampiros por ai. –Ele deu um passo para a frente, todos estavam imóveis. Certamente iria ele fazer o trabalho.

 

As palavras daquele vampiro me atingiram. Que diferença faria se eu tivesse matado um punhado de vampiros? Existiam muitos outros por ai, matando implacavelmente humanos.

 

Uma razão. Eu precisava de uma razão para viver caso o contrário eu deixaria aquele vampiro me matar.

 

Eu tinha uma razão. Como um anjo, puro complexo de Deus, eu poderia julgar os vampiros e exterminá-los. Como Edward admitiu ter feito no passado. Ele havia me dito que, quando teve seu complexo de Deus, matando apenas humanos ruins, isso não aplacou a depressão, o vazio que sentia. Mas o que me restava?

 

Algo me tomou naquele momento, aquela sensação de queimação. O vampiro que a pouco discursava calou-se. Olhou para mim com estranheza. Ele fez um rápido movimento e dois vampiros, um homem e uma mulher, avançaram para me atacar. Eles se chocaram violentamente contra a barreira que ergui.

 

-Ela ativou seu poder. Está envolta de uma barreira. –A vampira disse ao companheiro ao lado. Olharam sugestivamente para o vampiro com que eu mantive um curto dialogo. Certamente ele os liderava. Ele continuou olhando para mim sem nada dizer, como se estivesse prevendo o que eu faria. Ficou imóvel enquanto os outros vampiros que o acompanhavam vinham lentamente em minha direção. Agora eu estava cercada por seis vampiros, duas mulheres e quatro homens. Eu não iria ficar parada enquanto eles tentavam passar pela minha barreira, eu iria aniquilá-los. Fiz um súbito movimento e acabei por agarrar um vampiro pelo pescoço. Ele tentou sair de meu aperto, os outros olhavam a cena, atônicos. Eu vi a barreira que antes me envolvia adquirir a coloração avermelhada de outrora e soube que tudo iria acabar rapidamente. O vampiro começou a gritar sentindo o corpo se desfazer como se estivesse diante de uma temperatura elevadíssima. Ele se tornou pó em segundos e apenas as roupas ficaram ao chão.

 

-MALDITA! –Uma vampira gritou e, junto com outro vampiro, tentaram me atacar por ambos os lados. Eles não chegaram a ultrapassar minha barreira. Ao passar por elas seus corpos desintegraram. O restante olhou alarmado para a cena, tentaram correr, menos o vampiro com quem conversei.

 

-Idiotas, não saiam. –Ele avisou, mas seus companheiros o ignoraram. Eles correram na direção contraria a minha. Eu corri rapidamente e ampliei a barreira vermelha que me envolvia englobando os vampiros fugitivos. Eles gritaram, se contorceram, mas logo restaram apenas suas roupas no chão. A barreira se desfez a minha volta e eu encarei ao último vampiro. Caminhei lentamente até ele, o resto dos outros vampiros mortos por mim era levado pelo vento.

 

-Vai me matar agora? –Ele falou levemente divertido.

 

-Alguém precisa comunicar aos demais membros dos Volturi que o grupo de rastreadores enviado foi eliminado. Parece que você fará isso. –Falei enquanto caminhava por ele. Olhei as roupas no chão, certamente alguma roupa iria me servir. –Vá agora antes que eu mude de idéia e o aniquile também.

 

-Sim, eu irei, mas antes... Preciso lhe dizer algo.

 

-E o que seria? –Não olhei para o vampiro as minhas costas.

 

-Não pode escapar dos Volturi. Você será morta, mais cedo ou mais tarde.

 

-Eu sei. Estou contando com isso. –Falei e então, após pegar um casaco que uma das vampiras vestia por baixo do manto cinza, eu corri. Eu não sabia para onde ia, mas sabia para onde tudo aquilo iria me levar: para a destruição.

 

Edward pov’s

 

Meu corpo inteiro estremecia com as palavras de Alice. O pior era não saber onde Bella estava. Tudo o que víamos era um bosque, um bosque em algum lugar da Itália ou até de outro país. Então tudo se apagou, como se houvesse alguma coisa interferindo nas visões de Alice acerca de Bella. Eu a olhei agoniado. 

 

-Eu lamento Edward. Algo está interferindo! Jamais conseguirei encontrar Bella com minhas visões. Teremos de fazer o que Emmett disse, vamos seguir os rastreadores dos Volturi.

 

-Pode ser tarde demais para ela. –Falei em um fio de voz. Sentei-me no chão da sacada. Os outros estavam no interior do quarto discutindo se seguiriam ou não o plano de Emmett. Alice ajoelhou-se a minha frente.

 

-Edward, vai dar tudo certo. Confie em mim. –Ah, o famoso encorajamento de Alice! Mas eu podia ouvir sua mente e sabia as duvidas que grasnavam dentro dela. Alice percebeu que em nada adiantaria me encorajar quando ela mesma estava repleta de duvidas.

 

-Como pode dar certo, Alice? Por mais que encontremos Bella antes dos rastreadores, nada vai ficar bem! Eu sinto como... Sinto como se tivesse perdido ela. Entende? –A pior coisa de ser vampiro, além de ser um mostro sem alma, é que você não consegue chorar. Coloquei minhas mãos em minha cabeça, as cenas que até então havia captado de Bella vinham me atormentar. As cenas que colhi da cabeça de Jacob e seu bando. De Alec, Aro... Eu só via Bella em sofrimento e senti que Bella me odiaria por isso, ela iria me culpar e jamais desejaria olhar para minha cara. Eu sabia o quão difícil seria se ela me odiasse, conviver com ela e ser tratado com desprezo, mas preferiria isso do que não saber onde Bella está, se está bem. O que seria dela? O que seria de mim? A cada minuto nossos Caminhos se afastavam. Eu corria até Bella, mas Bella se distanciava mais e mais. A situação era desesperadora. Fomos interrompidos por Jasper, ele me olhava preocupado, devia estar sentindo o que eu estava sentindo. Ele veio ficar ao lado de Alice e pude sentir os efeitos de seu talento, eles me ajudaram um pouco.

 

-Edward, nós voltaremos a Voltera e sondaremos os rastreadores. Tenho certeza que logo encontraremos a localização de Bella. Com o seu poder de ler mentes será fácil, muito fácil. –Jasper sorriu esperançoso. Permiti-me ter um pouco de esperança mesmo sabendo que essa esperança só serviria para encontrarmos Bella viva. Eu não me permitiria ter esperanças de que Bella me perdoasse, isso parecia impossível.

 

Enquanto nos preparávamos para retornar a Voltera, eu rezei aos céus para que nós encontrássemos Bella rapidamente e viva e para que, por mais impossível que fosse, Bella me perdoasse. Aquela foi a segunda vez que rezei. Na primeira foi quando Bella havia sido levada por James. Caso Deus não ouvisse minhas suplicas, caso Bella não fosse encontrada viva, eu a seguiria ao outro mundo. Mesmo que tivesse que ir para o inferno, se Bella estivesse comigo, seria o verdadeiro paraíso.


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