Renascida escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 12
Capítulo 11




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Bella pov’s

 

Eu vaguei com a minha moto pela rodovia mais deserta que encontrei, nem ao menos tinha pavimentação. Eu não sabia se era seguro estar próxima de humanos. Minha moto era lenta, mais lenta do que imaginava quando humana, mas eu tinha que manter o disfarce. Eu não poderia correr o risco de ser percebida. Se os Cullen faziam de tudo para manter as aparências então manter o anonimato devia ser algo importante. As roupas que vestia impediam que o Sol tocasse na minha pele, o que era bom. Eu não sabia para onde deveria ir, mas sabia que aquela estrada de terra deserta me levaria a Seattle. Talvez Victoria estivesse lá, certamente ela está nas proximidades, eu não sabia. Uma parte de mim queria encontrá-la e aniquilá-la, outra parte queria encontrar meu porto seguro, Edward. Por mais que ele não me amasse, por mais que não me quisesse por perto, eu queria encontrá-lo. Eu estava confusa, entristecida, sozinha. Eu queria mais do que nunca Edward. Não! Eu tinha que ser forte, eu tinha que aprender a não depender dele como sempre aconteceu! Eu fui forte o bastante para encarar a morte tantas vezes, não é? E naquela época lembro-me vagamente de ser uma humana. Agora eu era uma vampira, eu tinha forças para tanto, não tinha? Não, eu não tinha. Nunca me senti tão fragilizada como agora. Então eu senti, eu estava sendo seguida. Acelerei com a moto, o motor rugiu em protesto. Eu não precisava olhar para trás para saber que estava sendo seguida, mas olhei pelo espelho retrovisor. Eram dois, corriam velozmente e logo estariam lado a lado comigo. Um era alto, magro, devia ter uns dezoito anos no máximo, olhos rubros e cabelos castanhos curtos. A que estava ao lado dele era baixa, magra, pele tão pálida quanto à do rapaz ao seu lado, olhos rubros e cabelos longos, negros. Eram vampiros e por algum motivo pareciam estar prestes a me atacar.

 

O rapaz foi o primeiro a ficar ao meu lado. Tirei o capacete, ignorando as faíscas que apareceram quando o Sol tocou minha pele, e joguei contra ele ainda dirigindo a moto. A força foi aterradora, o capacete se despedaçou tamanha a força que empreguei. Ele ficou desorientado e perdeu velocidade. A outra estava bem atrás de mim. Deu um grande salto e logo estava a minha frente. Eu olhei envolta e vi que haviam muitas arvores cercando a pista em que eu corria. Ainda com a moto em movimento, eu saí de cima dela, a peguei com uma de minhas mãos e atirei a moto em cima da vampira. A moto despedaçou-se e explodiu. Claro que as ferragens da mesma não prejudicaram a vampira, mas o fogo sim. Eu passei a correr ignorando o fato de que poderia ser vista e adentrei a floresta que ficava as margens da rodovia não pavimentada deixando para trás a carcaça da minha moto. O que era aquilo? Por que aqueles vampiros me atacaram? Eu continuei a correr pela floresta como um projétil tentando clarear as idéias, mas foi impossível. Senti o rastro de algum animal por perto e segui esse mesmo rastro. Depois de poucos minutos estava abatendo dois cervos.

 

...

 

Nem sei por quanto tempo corri, mas sabia que estava bem próximo de Seattle. Eu fiquei no interior da floresta que rodeava a cidade pensando se deveria ou não ir para a cidade. Para mim restava apenas a mochila com meus poucos pertences e dinheiro para emergências. Eu estava suja de terra e sangue de minhas presas, precisava de roupas novas e um banho. Além disso, estava com aquela sensação incomoda de que estava sendo seguida, talvez fosse melhor me livrar de todas as minhas coisas e aproveitar o meu dinheiro para comprar tudo novo. Eu estava bem alimentada, não haveria razão para atacar um ser humano. Sem dizer que o Sol já se punha e não correria o risco de virar uma lanterna ambulante. Foi com essa resolução que sai da floresta, jogando as roupas sujas de sangue no chão, e segui para um lugar onde pudesse me preparar para minha “viagem”.

 

...

 

Todos me olhavam, aquilo realmente me enervou. A garganta estava seca, o corpo inteiro protestava pelo sangue dos transeuntes que passavam por mim. Não foi fácil ignorá-los, mas eu consegui. Eu andei por Seattle durante pouco tempo, foi fácil encontrar uma loja de departamentos por lá. Eu tinha uma boa quantia em dinheiro, felizmente não gastei tudo o que tinha com o conserto das motos. E todos continuavam a me olhar. Eu segui para a parte feminina de roupas, peguei roupas que pudessem cobrir meu corpo inteiro. Nem olhei direito para as roupas, se elas combinavam comigo ou não. Peguei tudo o que provavelmente usaria e segui para o provador. Naquele provador eu pude me refugiar um pouco, o cheiro de todos aqueles humanos estava mexendo comigo. Eu estava satisfeita em ver que pude me controlar até agora, mas não poderia contar tanto com a sorte. Experimentei rapidamente as roupas que escolhi, couberam muito bem. Através delas eu poderia ocultar um pouco o meu cheiro. Sentei-me em um banco que estava dentro do provador onde eu me encontrava e olhei para o lado. Eu me vi no espelho, pela primeira vez. Quase tomei um susto. Eu não era mais a Bella, definitivamente não era. Minha pele era tão branca e pálida quando me lembrava ser a pele dos vampiros que vi. Eu estava diferente, muito embora ainda tivesse as mesmas feições de quando era humana. A mulher diante de mim era incrivelmente bela, mas possuía um olhar assustador, cor ocre por ter se alimentado antes de adentrar a cidade. Eu permaneci ali olhando para meu reflexo por mais tempo que o normal e depois parti.

 

Joguei meus pertences antigos em uma lixeira ao lado da loja de departamentos. Agora eu estava vestindo outras roupas, uma calça jeans preta, botas, uma camisa de mangas longas branca e uma jaqueta por cima, óculos escuros e boné. Mesmo completamente camuflada e com roupas que não entregariam meu cheiro, eu ainda chamava atenção demais. A sede ainda me tomava, eu havia passado tempo demais naquela cidade repleta de humanos. Do outro lado da rua havia um telefone publico. Foi inevitável atravessar a rua driblando o transito caótico e seguir para lá. Já havia anoitecido, nem senti a passagem do tempo. Eu fui até o telefone publico, segurei o gancho do telefone, mas não consegui discar. O que eu diria a meu pai? A minha mãe? Meu pai certamente tentaria rastrear a ligação. Eu não poderia correr riscos, ou melhor, eles não poderiam correr riscos. Eu coloquei o telefone no gancho. Suspirei frustrada. Eu suportaria a eternidade longe das pessoas que eu amava? Se fosse para mantê-los seguros eu faria isso. E então eu senti, alguém me observava. Eu me virei e vi uma mulher de longos cabelos loiros, olhos intensamente rubros, ela me observava. Eu a encarei do outro lado, era uma vampira. Vi outros dois, eram os mesmos que me atacou, o cheiro era o mesmo. Eu estava cercada. Quem seriam aqueles vampiros? Por que me atacavam? Eu recuei indo para um beco. Claro que eu seria seguida, ao menos eu poderia detê-los de alguma forma sem ser vista ou sem machucar ninguém. Eu adentrei o beco mais e mais, não estava sendo seguida pelos vampiros que vi do outro lado da rua. Eu já estava prestes a voltar para a rua principal quando senti a aproximação de um pequeno grupo, três indivíduos. Eram três homens humanos.

 

-Olha só que belezinha! –Disse o mais alto deles, usando vestes bem sujas e com os cabelos longos.

 

-Linda, não é? E então meu anjo o que veio fazer aqui? –Falou o outro, o mais baixo e gordo, era um pouco calvo. O outro estava mais atrás, ele deve ter percebido que eu não era comum, deve ter sentido minha estranheza. Eles se aproximavam cada vez mais, lembrei-me de um episodio antigo cujas lembranças quase não existiam em minha cabeça, o dia em que quase fui estuprada em Port Angeles. Dessa vez eu não tinha Edward para me ajudar... Dessa vez eu não precisava dele. Eu olhei mortiferamente para os homens a minha frente, eles recuaram um pouco ao verem a hostilidade que eu emanava. Ainda sim eles continuaram diante de mim dizendo coisas obscenas. Eu os ignorei, não valia à pena testar meus novos poderes vampirescos naquele tipo de gente. Eu não iria matar humanos, por mais merecedores que fossem da morte. Caminhei um pouco mais rápido e tentei passar por eles, mas eles se afunilaram e tentaram bloquear minha passagem.

 

-Saiam da minha frente! –Esbravejei. Um deles recuou. Aproveitei o espaço para caminhar por entre eles e sair daí. Minha garganta queimava. Foi fácil ignorar, eu é que não ia imacular meu corpo com o sangue daqueles infelizes. Eu dobrei o beco e fiquei fora de vista. Pude ouvi-los um pouco afastados.

 

-Vamos atrás dela. –Um deles falou. Como estava fora de vista dei um grande salto e consegui com facilidade parar no telhado de um prédio, eu pude vê-los dobrar o beco e olharem desnorteados para uma rua vazia tentando entender como desapareci. Eu sorri, foi bom passar pelo problema sem necessariamente fazer uma besteira. E então eu estaquei. Uma moça entrava no beco sem perceber o que espreitava nas sombras. Não demorou aos homens perceberem sua presença. Eles ficaram silenciosos enquanto a moça entrava mais e mais no beco. E então eles a surpreenderam. Ela nem pôde reagir muito, um deles a golpeou no queixo e ela caiu no chão, desmaiada. Eles iriam estuprá-la, como teriam feito comigo. Ela era tão frágil! Algo se operou em mim, como se eu fosse uma leoa e minha cria estivesse sendo ameaçada. Foi algo surreal por que, enquanto eu descia do telhado e ignorava o fato de que eles estavam me vendo como vampira, eu nada pude fazer para me deter. Foi como se eu estivesse sendo apenas espectadora da atrocidade que estava cometendo. Foi tão fácil matá-los! Peguei o primeiro, dei um soco no seu peito e pude sentir os ossos do tórax quebrando em meus punhos. Eu o joguei como se nada significasse, fui para os outros dois que tentavam se recuperam do susto. Eu os peguei pela cabeça, foi fácil levantá-los até que seus pés não se encostavam ao chão. Pulei até o telhado do prédio de dez andares que estava anteriormente, eles estavam desnorteados. Eu me joguei segurando suas cabeças com minhas mãos e cai em queda livre. Seus corpos foram esmagados com o impacto de meu corpo e do solo. O sangue espirrou e me cobriu inteira. Eu sorri satisfeita por ter acabado com aqueles vermes em tão pouco tempo. Eu parei. Olhei horrorizada para o que tinha feito, os cadáveres desfigurados diante de mim. O que eu havia feito? Eu arfei violentamente. Pude ver um movimento no beco, a garota estava acordando. Estava escuro o suficiente para que eu corresse pela cidade por entre os prédios em que ninguém percebesse. Eu tinha que sair dali. Foi rápido chegar até a floresta que ficava bem próxima de Seattle, a noite estava tão bela, estrelada. Eu parei em uma clareira, só agora havia sentido a chuva que caia. Eu fiquei de pé olhando para o céu, sentindo a chuva cair em meu corpo e lavar um pouco do sangue que me cobria. E então ele veio, o grito de horror.

 

-AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! –Foi algo libertador! Como se há muito tempo eu quisesse gritar. Eu caí de joelhos no chão e comecei a chorar compulsivamente. Não vieram as lágrimas, eu não poderia verter lagrimas. Aquilo doeu mais do que qualquer coisa, mais do que a queimação que senti quando me tornei vampira. Por que eu tive a certeza de que eu estava só, de que eu era um mostro, de que a única forma de ser feliz era morrendo. A morte, sim, eu a queria. Eu sorri. Eu não precisaria procurar pela morte, ela veio até mim. Ela sentiu meu cheiro, ouviu minha voz e veio até mim. Eu levantei desnorteada. Virei-me. Lá estava ela sorrindo, bem como me lembrava que Victoria era. Tive que admitir, mesmo que para mim, que no fundo eu sabia que ela estava em Seattle.

 

-Victoria... Parece que estava me procurando. –Eu falei debochada.

 

-Bella... Você mudou.

 

-Um pouco. Está triste pela minha mudança?

 

-Não. Eu estou preparada. Espero que esteja também, Bella. –Eu já podia ouvi-los, sentir seus cheiros. –E eu não estou só. Trouxe uns amigos.

 

-Pode vir. Eu estou pronta. –E bem atrás de Victoria em os vi, não sei quantos eram os vampiros recém nascidos, mas sabia que só um milagre para eu me salvar de tudo. Era o fim e eu sorri para isso.


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