Secrets escrita por Yukii


Capítulo 3
Secret 3 - Sorrow, Kindness and Pride


Notas iniciais do capítulo

~ Esse capítulo se passa durante o episódio 30 de YYH.



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O Torneio das Trevas era algo realmente monstruoso. Essa era a opinião de Botan, que formou-se quase instantaneamente, no momento em que ela adentrou o estádio, e essa opinião se aprofundou cada vez mais, com o decorrer das lutas. Apesar de tudo, ela estava segura que o Time Urameshi não enfrentaria nenhum problema sério; suas únicas preocupações eram Kuwabara - que parecia muito mais propenso a perder qualquer luta que fosse com aquele espírito desastrado que ele tinha - e Yusuke, porque ela sempre acabava se preocupando com o melhor amigo, de uma forma ou outra. E, por alguma razão, ele estava dormindo. Quanto a Hiei e  Kurama, ela acreditava que não precisava se preocupar. Apenas achava.

As primeiras lutas transcorreram de forma calma; tanto Yusuke quanto os outros já haviam enfrentado lutas bem mais difíceis. Na primeira rodada, o Time Urameshi lutava contra o Time Rokuyukai. Botan surpreendeu-se ao ver quem seria o adversário de Hiei: era Zeru, um homem de cabelos louros e olhos nada amistosos. Não que os olhos de Hiei fossem diferentes. Pela frieza que ambos emanavam, Botan supôs que seria uma luta violenta e horrível; a ideia lhe causou tremores. Apesar de tudo, ainda torcia por Hiei: não apenas por ele fazer parte do time de Yusuke, mas também pela recente descoberta da guia espiritual sobre o parentesco entre ele e Yukina. Com certeza, lá, enterrado nos ermos daquela alma manchada pela violência, havia um sentimento bom, que ele nutria pela irmã - agora já segura, resgatada pelos garotos que lutavam ali - e que o fizera ir salvá-la.

A luta começou em pé de igualdade. Zeru e Hiei se atacavam, sem muita intensidade, apenas testando um ao outro. Botan sentia-se feliz por poder presenciar a luta de perto, logo ali, ao lado da arena; não gostava muito de lutas - principalmente quando estas envolviam os seus amigos -, mas aquela luta em especial não lhe preocupava, porque ela tinha certeza de quem ganharia. A natureza feroz de Hiei era imbatível.

Talvez tenha sido por isso que ela tenha se assustado tanto, ao ver o fogo alaranjado emitido por Zeru atingir o koorime em cheio. Ou talvez tenha sido por outro motivo. Era estranho ver Hiei, o monstro que ela arquitetara na sua mente, formado apenas por muito ódio e uma parcela mínima de afeto, ferido como estava. Ele berrava, enquanto o fogo envolvia seu corpo impiedosamente, queimando-o, matando-o. Por vários minutos, os orbes rosados de Botan miraram a cena, inconformados com o que viam. Há algum tempo, se ela presenciasse aquela mesma cena, não sentiria nada em especial; talvez até achasse bom, ver o monstro frio e retraído que tanto lhe amedrontara ser destruído de forma rápida. Mas agora, a cena aparentava um horror indescritível aos seus olhos. Porque o monstro não era um monstro - era apenas alguém que lhe assustava, querendo ou não. E aquele "monstro" estava lutando ao lado de seus amigos, jogara a máscara de orgulho fora, apenas para lutar do mesmo lado que eles. E o afeto dele, o afeto que não necessitava ser correspondido pela irmã, que sequer sabia de sua existência, esse afeto parecia queimar e morrer junto com ele. O segredo deles, o segundo, estava morrendo.

O corpo de Hiei caiu com um baque surdo no chão. Botan não olhava; seus olhos nervosos fixavam algum pedaço da grama verde abaixo de seus pés, apenas para não presenciar aquela cena. Pelo silêncio que se fazia no estádio e os murmúrios assustados que ecoavam por ali, porém, ela podia ter uma certa ideia do horror da cena.

Ouviu a narradora dizer algumas palavras murchas e sem sentido, as quais ela não gravou a pronúncia. Na sua mente, ecoavam as palavras de Hiei, na ocasião em que haviam se encontrado, para salvar Yukina.

"Escute. Não diga a Yusuke nem aquele idiota de cabelo laranja que estou indo salvar Yukina."

"Eu vou sozinho e farei do meu jeito."

Odiava ter que admitir isso para si mesma, mas sentia pena dele. Sentia uma pena horrível de Hiei, naquele momento, no estado em que se encontrava. Não era difícil para ela sentir pena de alguém; mas era raro que ela sentisse pena por alguém que lhe inspirasse tanto medo. Assustou-se com os próprios sentimentos.

Teve um susto maior, porém, ao ouvir a voz de Hiei pronunciando-se fria e arrastada como sempre, interrompendo uma frase qualquer da narradora. Primeiramente, a guia espiritual alimentou a possibilidade de estar enlouquecendo; em seguida, os gritos de surpresa liberados pela plateia lhe deram a certeza que ela não era a única que escutava a voz do koorime; ele estava vivo. Como conseguira isso, ela não fazia a menor ideia. Observou o vulto dele, em pé, agora usando a voz fria mesclada de palavras mortas para assustar Zeru. Essa era, afinal, a especialidade dele: impôr medo, caos, desespero. E, pela primeira vez na vida, Botan se sentiu aliviada e alegre ao ouvir aquela voz seca e baixa.

Hiei não perdeu um minuto sequer; rapidamente, liberou a técnica do Ensatsu Kokuryuu-ha, ainda não muito bem adaptada; mesmo depois de muito tempo, Botan ainda conseguiria se lembrar das chamas negras flamejando ao redor de seu conjurador, enquanto ele admitia com a mesma voz fria que não tinha um controle total sobre a técnica. O que era quase um milagre, se considerado o orgulho implacável de Hiei.

Poucos minutos depois, um dragão negro colossal levantava-se e levava Zeru, a bocarra escancarada. O dragão, após executar sua tarefa, rapidamente desfez-se em chamas, como se nunca estivesse estado ali. A única marca que deixara fora a marca de Zeru, na parede, o contorno do seu corpo, desintegrado e morto agora. Do outro lado da arena, Hiei observava o próprio braço direito, que, pelo uso da técnica, ficara num estado lastimável: queimara quase até o cotovelo. Apesar disso, ele não pareceu muito incomodado com aquilo; lançou um olhar um pouco surpreso e curioso para o braço, antes de saltar para a fora da arena, vencedor da luta, os olhos já frios e sem vida novamente.

Hiei desvencilhou-se das congratulações dos amigos, indo se prostrar num canto qualquer da parede, aninhando o braço queimado com o outro braço. Botan se aproximou, com seu ar alegre e satisfeito de sempre.

- Nossa! Você fez um estrago bem feio agora no braço, Hiei. Como vai conseguir lutar nas próximas vezes?

- Hn. Isso é problema meu, Onna. - respondeu ele, desinteressado.

- Ah! Você não pode agir assim! - Botan sorriu, de forma amistosa. Os olhos de Hiei levantaram-se para fitá-la, cheios de indiferença. - Eu posso enfaixar para você, se quiser. Já tive de cuidar de alguns ferimentos do Yusuke, eu sei como se faz!

Ela abriu mais um sorriso, tentando passar segurança. Não sabia ao certo porque estava se oferecendo para aquele serviço; talvez fosse a pena que ainda sentia dele. Ou talvez, ser tão prestativa e humilde em qualquer ocasião fosse algo de sua própria índole.

- Eu não preciso da sua ajuda, Onna. Tenho plena capacidade de fazer isso sozinho. - ele concluiu a frase, lançando um olhar que dizia algo como "saia logo daqui, você me assusta com essa estranheza, mulher". Botan suspirou, emburrada, e se afastou um pouco dele, ainda se perguntando porque tinha que ser tão gentil com alguém que simplesmente não merecia.

E agora, ele guardava, como se fosse um segredo, a gentileza dela. Do mesmo modo, ela guardava o orgulho dele.

Mas nenhum dos dois sentimentos chegavam a ser secretos, porque ninguém desconhecia a gentileza de Botan e a arrogância de Hiei.

Bom, haveriam outras oportunidades de guardar segredos.


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Notas finais do capítulo

N.A.: Eu não gostei muito desse capítulo, porque a maior parte dele aconteceu, de fato, no episódio 30, e a única coisa que eu fiz foi deixá-lo pela visão da Botan; apenas o final eu arquitetei, por assim dizer xD Eu também não gostei porque não houve nenhuma grande interação entre os personagens, então... Espero que estejam gostando, e não deixem de mandar reviews com as opiniões! *-*