Secrets escrita por Yukii


Capítulo 12
Secret 12 - Wait


Notas iniciais do capítulo

~ Esse capítulo se passa após o episódio 100 de YYH.



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Os dias e as horas nunca paravam, alheios a todos os problemas humanos. Botan sempre reclamara por isso, durante toda a sua vida; era tão injusto que os minutos não pudessem se alongar nos momentos bons! Por hora, ela queria reclamar por um motivo totalmente inverso: o novo momento chato na sua vida estava se desdobrando muito vagarosamente, as horas pareciam esticadas e os dias quase não tinham mais fim. Pelo menos era isso que Botan achava. Ultimamente, ela passava mais tempo perambulando pelo Ningenkai do que voando nos céus e recolhendo as almas, como ela havia costumado fazer em tempos passados. Isso se devia ao fato de que Koenma, seu chefe, estava sendo procurado por todo o Reikai, e a guia espiritual fazia o possível e o impossível para fugir de interrogatórios; mas não podia abandonar o seu trabalho, e nem queria, afinal de contas. O trabalho era a única coisa que distraía a mente conturbada e distante de Botan.

 

Mais precisamente, a mente de Botan estava sempre vagando por um koorime mal-humorado e rabugento, que, naqueles momentos, devia estar enfurnado em algum lugar obscuro do Makai. Toda vez que se fisgava pensando nele, a ferry girl costumava rir de si mesma. Nunca se imaginara apaixonada por alguém, e ainda mais alguém como ele. Hiei não era o tipo de garoto bonito e gentil que agradava mocinhas e conquistava o coração de todas; ele poderia ser tudo, menos isso. E Botan, apesar de ter uma essência basicamente romântica, nunca achou que algum dia poderia gostar dele como viria a gostar, mais tarde. Enquanto caminhava pelas ruas atulhadas de transeuntes, Botan se lembrava de quando o vira pela primeira vez - já era praticamente a décima vez no dia que isso acontecia, e ela mal tinha consciência disso. Ela se lembrou da imagem vilanesca, vestida de negro, sorrindo maliciosamente enquanto observava o desespero de Yusuke perante a imagem desacordada de Keiko, um olho se abrindo na testa da mesma. Naquela época, Hiei gostava mais de sorrir; uns sorrisos assustadores e secos, era verdade, mas não deixavam de ser sorrisos. Os solados dos tênis da ferry girl apertaram o solo com certa urgência, enquanto ela se lembrava do quanto temera aquele koorime; não o temera à toa, afinal, ele dera todos os motivos para isso, certo?

 

Um sorriso de canto surgiu em Botan, ao se lembrar - pela trigésima ou quadragésima vez em 48 horas - dos beijos leves que ganhara do koorime. Ela devia ser uma das únicas garotas que nunca sonhara com seu primeiro beijo, porque sua mente sempre estava atulhada com coisas de seu trabalho como ferry girl. De todo modo, nunca esperara que seu primeiro beijo fosse com um koorime um tanto violento, que gostasse de sangue e a chamasse de mulher idiota. Toda vez que se lembrava daquela sensação gentil que Hiei lhe proporcionara, sentia algo fazer cócegas dentro dela e escorregar, enquanto ela sorria internamente e externamente.

 

- Botan-san! - a voz lhe chamou, de algum lugar na diagonal esquerda. Ela não escutou, afogada em seus devaneios. - Botan-san!

 

A ferry girl só teve consciência de que alguém lhe chamava quando a mão de Keiko se fechou sobre seu ombro direito, e ela virou, levemente avoada, reconhecendo as duas amigas.

 

- Keiko-chan! Shizuru-chan! - cumprimentou euforicamente a ferry girl, com um sorriso um tanto grande demais para seu rosto.

 

- Já faz duas horas, Botan-san! Nós marcamos de nos encontrarmos por aqui as nove, lembra? - ralhou Keiko.

 

- Ah! Me desculpe, me desculpe! - pediu a guia, usando a melhor cara de gato abandonado que conseguia fazer. - Eu acabei acordando tarde de novo hoje!

 

- Você tem acordado tarde todos os dias - corrigiu Shizuru.

 

As amigas continuaram a conversar entre si, enquanto passeavam despreocupadas pelo centro da cidade. Botan demorava um pouco a responder tudo o que lhe era dirigido, justificando sua lentidão com noites de sono mal-dormidas; não era mentira, mas também não era uma verdade completa, afinal, ela não esclarecera que o motivo da sua insônia estava perambulando pelo Makai e tinha um olho na testa.

 

- Já fazem seis meses, né?

 

Botan quase tropeçou nos seus cadarços, achando que seus pensamentos estivessem ganhando voz própria. Depois de um momento de choque, percebeu que a autora da frase fora Keiko, caminhando ao seu lado esquerdo.

 

- Sim. Seis meses que eles foram embora. - Shizuru deu um suspiro calmo ao dizer essas palavras, acrescentando em tom matreiro: - Você me lembra disso tantas vezes por dia que eu mal consigo esquecer, Keiko-chan.

 

A garota riu, um pouco nervosa, enquanto um quê de saudade se manifestava em seus olhos. A guia espiritual tentava, com todas as suas forças, fugir daquele assunto desconfortável e estranho, que fazia seu coração querer se retorcer e pular no mesmo lugar. As amigas não percebiam o desconforto da ferry girl, e continuavam falando.

 

- É estranho como passou depressa. - comentou Shizuru, acendendo um cigarro enquanto caminhava.

 

- Não exatamente - murmurou Keiko, uma tristeza repentina lhe assolando a fronte. Shizuru lhe lançou um olhar preocupado, enquanto Botan grudava os olhos nas vitrines iluminadas pelo sol, em busca de qualquer coisa que lhe distraísse daquilo.

 

- Ah, me desculpe por tocar em algo tão desagradável, Keiko-chan - pediu a irmã de Kuwabara, parecendo sem graça.

 

A namorada de Yusuke sorriu abertamente.

 

- Não fique assim, Shizuru-san! Está tudo bem. Yusuke voltará, afinal de contas. Eu poderei compensar a ausência dele com uma boa surra.

 

Essa era a frase típica de Keiko que faria Botan rir, numa situação comum. A ferry girl, porém, estava ocupada demais tentando acalmar seus pensamentos para conseguir escutar o que quer que fosse. Shizuru e Keiko trocaram um olhar assustado.

 

- Botan-san...? - Keiko chamou, hesitante, notando a expressão distante da ferry girl.

 

Botan piscou uma ou duas vezes, desviando o rosto de uma vitrine que exibia bolsas de couro a qual estivera mirando nos últimos minutos, tentando se distanciar da conversa e dos assuntos que aquelas palavras traziam a tona.

 

- Ah! E-estou aqui! - ela engrenou um sorriso cheio de dentes para as amigas. - Eu estava pensando em umas coisas que eu tinha para resolver, então... então... acabei me distraindo! Haha! - ela soltou um risinho nervoso.

 

- Vocês realmente sentem falta daqueles garotos, não é? - comentou Shizuru com um ar calmo. Botan virou o rosto, na tentativa de esconder um rosado leve que lhe assomara as faces.

 

- É, acho que sim - admitiu Keiko, com um sorriso fraco. "Eu queria poder ser sincera como a Keiko-chan", refletiu Botan, enquanto a imagem de Hiei vinha a sua cabeça.

 

- Nós podíamos marcar um dia para visitar Yukina-chan no templo da vovó Genkai, o que acham? - propôs a outra.

 

- Seria uma boa ideia! - Keiko aprovou. - Ela deve estar se sentindo tão sozinha quanto nós. O que acha, Botan-san?

 

- É, é - concordou Botan com alegria; sequer tinha escutado o que elas tinham dito.

 

A tarde se desenrolou calma e lenta. As três amigas foram lanchar em um lugar próximo, conversando sobre coisas do dia-a-dia e deixando de lado o inquietante assunto da partida de Yusuke, Kurama e Hiei para o Makai. Apesar disso, Botan passou o resto do dia ainda um pouco inquieta e desatenta. Com a chegada do pôr-do-sol amarelo-enrubescido, as três garotas se despediram; Keiko seguiu para a casa dos pais, Shizuru foi para sua própria casa, e chegou a convidar Botan para acompanhá-la, mas a guia disse que tinha várias coisas do trabalho para fazer e não poderia ir. Era verdade que ela sentia vontade de rever Kuwabara e conversar com o amigo, mas não queria mais dar mostras de sua pertubação aos colegas, temerosa que Shizuru descobrisse exatamente o que ela tinha. A ferry girl alisou os cabelos azulados com impaciência, soltando um pesado suspiro.

 

Era sempre assim: Botan passava o dia inteiro sentindo aquela euforia mágica ao pensar em Hiei, ao imaginar que ele poderia voltar a qualquer momento, e em como seria bom revê-lo, ouvir a voz irritadiça dele a chamando de baka Onna. E, no fim do dia, aquela melancolia inconstante e violenta se apoderava dela, deixando-a triste; com o negrume da noite, ela tinha certeza que Hiei não viria mais. Não naquele dia, naquele momento. Naqueles instantes de melancolia, ela pensava em como seria horrível estar alegre na manhã seguinte, apenas para se decepcionar uma segunda vez. Em alguns dias, ela chegara a chorar, enrolada no seu cobertor rosa e felpudo, até adormecer. No outro dia, a ferry girl já estava desperta e cheia de esperanças. Aquela rotina havia se repetido durante todos os dias, por seis meses. Para Botan, seis meses era muito tempo. Às vezes, ela pensava que seria melhor se Hiei tivesse partido em silêncio, se eles jamais tivessem se encontrado alguns momentos antes da partida. Assim, ela não sentiria tanta falta daqueles raros gestos carinhosos e da ideia de ser amada. Sabendo dos sentimentos - e tendo noção que, por breves instantes, ele fora amável com ela como nunca havia sido antes -, tudo se tornava mais difícil.

 

- Você é mesmo um sádico, Hiei - murmurou Botan para o vazio da rua. Nada lhe respondeu. Apertando o casaco contra si, a guia espiritual caminhou pela rua deserta. A tristeza que se escondera durante o dia inteiro, mascarada pela esperança tão típica dela, agora se revelava no bonito rosto da garota.

 

Seis meses era tempo demais para Botan.

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Acima de tudo, o cheiro de sangue. Fora isso uma das coisas que mais ficara gravada na mente de Hiei; depois de todo aquele tempo ocupado em eliminar um bando de guerreiros, era o esperado. O cheiro de sangue era algo antigo em sua vida, assim como a imagem que tremulava em sua cabeça: o rosto meigo de sua irmã, com os cabelos azul-claro emoldurando-lhe a face. Azuis. Uma nova imagem surgiu, dessa vez um pouco mais recente: aquela mesma ferry girl de quimono rosa e cabelos azuis, que sempre parecia estar em todos os cantos. Os lábios de Hiei curvaram-se muito levemente em um dos cantos, a guisa de um sorriso. Quando os olhos cansados do koorime piscaram e se abriram, porém, a imagem se apagou, e a face retomou o ar indiferente e frio de sempre. Acima, ele podia enxergar um teto escuro. Olhou-o por alguns breves instantes, antes de se jogar para um lado e se levantar. Estivera desacordado em algo que se assemelhava a um leito desconfortável e pequeno, numa sala fantasmagórica e sombria, onde cápsulas imensas eram iluminadas por luzes verdes e sombrias. Abaixo de seus pés, o koorime podia sentir a terra rugir, impulsionada pelo deslocamento de rodas; a fortaleza-móvel de Mukuro estava em movimento. Hiei ouviu seus próprios passos ecoarem de forma desagradável pelo chão, enquanto ele ia em direção a saída daquela sala.

 

O koorime esticou a mão para a maçaneta, parando no meio do caminho e lançando um olhar surpreso para o braço. Engraçado, lembrava-se de ter perdido aquele braço enquanto lutava com Shigure; mas o membro permanecia ali, intocado. A imagem do braço lhe fez lembrar quanto tempo passara lutando no subterrâneo - pouco mais de seis meses, ou algo assim. As lutas seguidas tinham deixado um ferimento ainda não cicatrizado no seu rosto, que ele sentiu ao escorregar os dedos pela face. Os dedos também estavam ásperos e cansados, calejados pelo cabo da espada. Aqueles seis meses haviam se arrastado de uma forma lenta e monótona, para o koorime: era verdade que ele gostava de lutar, mas lutas seguidas contra oponentes levemente imbecis lhe provocavam um certo tédio.

 

E como sempre ocorria, a imagem suave de Botan lhe vinha na mente. Não era algo que ele gostasse; o semblante feliz da garota ecoando em sua mente lhe fazia vontade de saltar fora daquela minhoca ambulante, largar todas aquelas lutas de lado e voltar para o Ningenkai, o Reikai, seja lá onde ela estivesse - apenas para ter certeza que ela, de fato, ainda existia, tão adorável e idiota como antes. O koorime também odiava ter que admitir, mas sentia falta da voz dela - aquela voz alta e melodiosa, sempre gritando qualquer coisa. Tinha prometido que iria voltar para ela, e acabou constatando que isso era uma das coisas que mais tinha vontade de fazer, para sua surpresa; nunca imaginou que poderia gostar mais de algo ou de alguém do que gostava de lutar. Hiei suspirou, batendo a cabeça na parede com uma carranca mal-humorada. Tudo culpa daquela baka Onna. Culpa dela, por ele sentir aquela ansiedade estranha. Culpa dela, por ele de repente começar a pensar que o Makai não tinha muita graça. Culpa dela, por ser tudo o que havia de mais... de mais... o youkai não achou uma palavra certa para descrevê-la, e acabou irritando-se consigo mesmo por pensar tanto naquela mulher idiota. Recusava-se a acreditar que, de alguma forma, pudesse gostar dela; aquilo era ridículo. Ele sempre sentira um desprezo tão grande por ela! Não importava o quão irritante e linda ela fosse, ele não admitia que pudesse gostar de mais alguém que não fosse sua própria irmã. Ainda mais, alguém tão estranho quanto aquela mulher. "Você existe mais do que devia, baka Onna. Eu não queria que você existisse tanto assim. Isso faz ser insuportável viver num mundo onde eu não possa escutar seus gritos", pensou o koorime. Gostaria de poder dizer aquilo para ela. Faziam seis meses, afinal; era muito tempo. Não haveria mal ir ao Ningenkai para vê-la, certo? Estava apenas cumprindo uma promesa.

 

- Mukuro.

 

A youkai olhou, surpresa, escutando a voz do subordinado vinda de algum canto do escuro, chamando naquele tom entendiado.

 

- Ah, Hiei. Não esperava que você acordasse tão cedo. Foi uma luta séria, você sabe.

 

- Hn. - ele se adiantou para entrar no círculo de visão de Mukuro. - Estou de saída.

 

A mulher franziu o cenho, um tanto surpresa.

 

- O que houve? Para onde diabos você está querendo ir?

 

- Eu vou para o Ningenkai. - a voz dele era calma e segura de si.

 

- Para o Ningenkai? - repetiu a youkai, incrédula. - Você não pode ir assim, Hiei. Você acabou de se tornar meu subordinado, oficialmente.

 

- Você não entendeu. Não estou pedindo permissão, estou dizendo que vou.

 

Mukuro não pôde evitar um sorriso.

 

- E se eu não deixasse você ir?

 

Hiei encolheu os ombros com indiferença.

 

- Eu iria mesmo assim.

 

- O que você tem de tão importante para fazer por lá?

 

Hiei mordeu o lábio inferior.

 

- Estou indo cumprir uma promessa.

 

- Eu não sabia que você era um homem de palavra - disse a youkai com um ar irônico.

 

- Hn. Já avisei. Estou indo. - ele se virou para ir, mas a voz de Mukuro o deteve:

 

- Ao menos diga quando você pretende voltar. Entenda, você ainda é meu subordinado.

 

Hiei bufou.

 

- Não é como se eu quisesse ir para lá ou tivesse qualquer vontade de ir. Eu prefiro o Makai, e sempre preferi. Odeio aquele mundo de humanos. Mas tenho algo para resolver lá. Não vou me demorar.

 

A youkai observou o subordinado desaparecer nas sombras e ir embora. Ela sorriu, com o mesmo ar satírico de antes.

 

- Hiei, você é um mentiroso.

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Estava de noite, e as luzes da cidade piscavam no meio do céu noturno. Já fazia um dia que Botan havia saído com Keiko e Shizuru, e agora, encontrava-se encolhida no sofá da casa de Shizuru, observando o jogo de luzes que a televisão fazia ao mudar de um canal para o outro. Ela se apertava em cima do sofá, agarrando os joelhos com os braços, um deles sustentando o controle remoto. O rosto da ferry girl estava numa tristeza contida; ela mordia a boca, tentando conter a melancolia que sempre se abatia sobre ela durante a noite, para que Shizuru nada percebesse. A ausência de Hiei estava ficando cada vez mais difícil de se suportar para a pobre guia espiritual, mas, apesar disso, ela insistia em demonstrar a confiança e a alegria que sempre esbanjara durante toda a sua vida. A princípio, Botan quisera recusar aquele convite inusitado de visitar a casa de Shizuru num momento que ela ficava tão sensível - ou seja, de noite. Mas a outra acabara por conseguir fazer com que a ferry girl fosse, insistindo que ela iria gostar de brincar com os gatinhos de Kuwabara e falar com o mesmo.

 

Os passos de Shizuru abafados pelas meias que a mesma usava não passaram despercebidos a Botan; ela rapidamente engrenou um sorriso, que não combinava muito com seus olhos tristonhos.

 

- Shizuru-chan!

 

- Consegui fazer o Kazuma¹ voltar a se concentrar, afinal - disse Shizuru, com ar cansado, enquanto se sentava ao lado da amiga. - Ele ficou tão alegre com a sua visita que quase tive que enfiar a cara dele nos livros.

 

O sorriso de Botan se desfez.

 

- Eu tinha lhe dito, Shizuru-chan! Eu tinha lhe dito que era melhor eu não vir. Estou meio cansada mesmo, e acabei atrapalhando o Kuwa-chan, e... e...

 

Shizuru estava prestes a replicar, mas seus olhos castanhos se arregalaram ao ver algo brilhar no canto de um dos olhos da guia espiritual.

 

- Botan, isso... você está chorando?

 

A ferry girl permaneceu com a mesma expressão, por alguns instantes, antes de desabar no choro. Ela enfiou o rosto nos joelhos, enquanto os ombros se sacudiam com o choro.

 

- Botan! - Shizuru sacudiu-a de leve pelos ombros, tentando fazer com que a garota reerguesse a cabeça. - Botan, o que houve...?

 

- Eu acho que estou ficando louca, Shizuru-chan! - berrou a ferry girl, levantando o rosto de uma vez só, ainda cheio de lágrimas, a fala interrompida por soluços. - Seis meses não é tanto tempo assim, é?! Sim, para mim é muito tempo! Muito tempo mesmo! E ele sempre está me chamando de idiota, mas o único idiota é ele, que não se toca que seis meses é tempo demais, DROGA! - ela enfiou a cara nos joelhos de novo, soluçando e chorando daquele jeito desesperado.

 

Shizuru permanecia de olhos arregalados, sem entender. Ela piscou uma ou duas vezes, buscando uma luz de compreensão.

 

Não havia o que entender. Botan acabara liberando tudo aquilo sem querer, e poderia se arrepender no dia seguinte. No momento, ela só queria entender porque amava tanto aquele koorime que mal parecia ligar para sua existência.

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O dia nascia lento. Lá longe, o sol se levantava lentamente, lançando sua luz sobre os prédios adormecidos da cidade cinzenta. Algumas aves voavam e arrulhavam, suas silhuetas desenhadas pelo sol. Haviam poucos carros nas ruas, e o asfalto ainda estava frio. As calçadas pareciam nunca terem sido pisadas antes, tal era o seu vazio e o silêncio.

 

No alto de um prédio afastado e largo, estava Hiei. Uma capa levemente rasgada cobria seu corpo, e seu rosto tinha sinais claros de fadiga. Tivera que enfrentar poucas e boas para chegar ao Ningenkai, e tudo por causa daquela Onna. Sua vontade era de dar-lhe uns belos gritos quando a encontrasse, mas sabia que seria totalmente desarmado pelo ar doce dela. O koorime aspirou o ar do Ningenkai; aquele ar parecia tão puro, se comparado com o ar pesado do Makai. Ali, havia aquela imensa estrela amarela no céu, que vinha diferenciar os dias e as noites; no Makai, não havia dia nem noite, pois o céu sempre estava cinza-avermelhado. O cansaço se abateu de tal forma sobre Hiei que sua vontade foi dormir ali mesmo, jogado no topo empoeirado daquele prédio. Mas sabia que não tinha tempo para isso; logo, teria de retornar ao Makai. Todo o tempo naquele mundo de humanos deveria ser gasto com aquela Onna irritante que fazia tanta falta. Hiei sentiu umas cócegas engraçadas dentro de si, ao imaginar que ela devia estar a alguns poucos quilômetros de distância dele. Em algum lugar daquele mundo, os cabelos azuis dela deviam repousar em cima de algum estofado, enquanto as pálpebras adormecidas estavam cobrindo os orbes rosados que tanto fascinavam. Hiei não percebeu que estava sorrindo.

 

- Estou aqui, Onna. - sussurrou consigo mesmo, antes de saltar do topo do prédio e a velocidade transformá-lo num borrão liso. Ao pousar no solo, a luz cálida da manhã do Ningenkai lhe iluminou com suavidade, fazendo seu corpo se aquecer. Ele apertou a capa rasgada contra o corpo, e saiu para procurar sua Onna.

 

Seis meses podiam ser muito tempo, mas a espera havia acabado.


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Notas finais do capítulo

¹Kazuma = sobrenome do Kuwabara.

Esse foi um dos cap. mais difíceis de se escrever, porque ele envolve muitos pontos de vista da Botan, e eu não tenho nenhuma habilidade com os pontos de vista dela! XD Isso aí só saiu com muito esforço, por isso a demora para postar. As partes do Hiei foram muito mais fáceis para mim, eu já tinha tudo montado na minha cabeça (menos a participação da Mukuro - eu realmente NÃO gosto dela, mas quis uma participaçãozinha dela, apenas para esclarecer que o papel dela é meramente figurativo. hoho~). As partes da Botan eu criei enquanto escrevia, e apaguei e reescrevi muitas vezes, porque, como eu já disse, tenho uma dificuldade horrível com o ponto de vista dela, para mim escrever pelo lado do Hiei é muito³ mais fácil! XD Então, o que acharam? Desculpem pela demora para postar, desculpem mesmo. O próximo não demorará tanto assim, porque ele com certeza será mais fácil para eu escrever. Me desculpem se esse capítulo ficou muito chato, ele era preciso! Obrigada a todos que leem e deixam reviews, e Feliz Natal! XD Acredito eu que o capítulo 13 sairá antes do Ano-Novo, então estejam antentos, e obrigada por tudo!