O mês de outubro passou assim, todos cansados demais para fazerem qualquer coisa, mas por fim sendo obrigados. A temporada de Quadribol se aproximava e aquilo era a única coisa que parecia ser capaz de deixar o ar tão pesado. Jogadores eram constantemente vaiados pelos membros de outras casas, feitiços e azarações voavam por toda a parte.

– Isso é uma atrocidade! - Bradava Jonnatan. - Chega! Vou falar com a McGonagall, já tenho dois jogadores na Ala Hospitalar! - E deixou Tiago e Sirius para trás, gritando com qualquer um que entrasse na sua frente.

– Uau! Daqui a pouco vamos precisar de guarda costas... - Murmurou Sirius. - Se bem que sua tropa não te deixa em paz um segundo se quer. - Disse olhando para trás de onde se via um grupinho de garotas paparicando-os.

– Eu preferia ser atingido por dez feitiços estuporantes do que ter elas no meu encalço 24 horas por dia. - Comentou com a cara fechada.

– Nisso que dá tomar uma ação tão precipitada...

– Precipitada? Isso se chama respirar ares antigos. Mas admito que parecia ser mais divertido quando elas não eram assim, tão fanáticas.

– Só faz duas semanas e ele já está reclamando? Quem diria...

– Não diga “que a ruivinha conseguiu amolecer esse pobre e desolado coraçãozinho de fada mordente”!

– Eu ia falar de outro jeito mas...

– Ia ser a mesma coisa.

– Dá pra parar de terminar as minhas frases??

– Claro, se você começar a pensar antes no que diz.

– Vem cá Pontas, o quê que te deu? - E percebendo que o amigo ia se contrapor, continuou: - Não fala que não foi nada porque foi. Eu me perdi no meio da história ou o quê? Você e ela estavam indo bem, de repente puf! Tapa na sua cara, ai puf! Tapa na cara dela, e agora você está bravo comigo. Vai ser amigo de um bipolar pra ver no quê que dá!

– Calma ae - comentou Tiago rindo. - Eu só to injuriado com esses ataques, não só do pessoal das outras casas, ou das tiagonáticas,...

– Tiagonáticas? Meu Merlim! - Riu Sirius.

– Mas também dessas perguntas que todos me fazem “o quê que você tem?” “tá melhor?”. Com toda gentileza do mundo eu estou bem, está tudo bem, se eu estiver morrendo eu falo para vocês, tá ok?

– Ok, Sr. “Tudo bem”. Vamos logo para o campo antes que o outro Sr. TPM nos dê bronca.

– Depois que levar uma goles na cabeça não sabe porquê...

– Eu não quero! Se ele me ver vai ficar bravo e em geral pessoas bravas não fazem as coisas direito, não quero ser o motivo pelo qual a Grifinória vai ir mal no treino e depois ser motivo de chacota no jogo.

– Nossa, que raciocínio! Pena que eu não prestei atenção. Se arruma que a gente vai e ponto. - Disse Anne.

– Tão autoritária! Uui! - Brincou Kate - E é assim que a gente nota a diferença de Anne sem Remo e Anne com Remo. - E foi assim que um travesseiro voou do outro lado do quarto. - Autoritária, agressiva, isso é uma ditadura Remular, entendeu? Hahahahahahaha!

– Sabe o que tem mais química? A minha mão e a sua cara, Katherine.

– Ui, chamou pelo nome, o papo ficou sério. - Disse Lily.

– Lily, vai se arrumar!!!

– Tô indo!! Por Merlim, pra quê tanta pressa...?

– Bom dia pessoal! O treino hoje vai ser simples porque eu não quero que os outros vejam nossas táticas, mas também não quero que percam o foco, deem o melhor de si sem mostrar seu maior talento, ok? Vamos lá. - Disse Jonnatan no vestiário.

– Viu, o outro senhor também é bipolar. - Murmurou Sirius para Tiago que simulou um tapa na cara do amigo.

– Foco, Black, foco. - Disse Tiago e levantou voou.

– Olha, eles já começaram! Anda Lily, essas coisas pegaram os melhores lugares. Boladona!

– Você sabe que não adiantar nada ficar se encolhendo desse jeito, né? Ele te reconhece a metros de distância. - Murmurou Remo.

– O cabelo, né?

– Aham.

– Droga...

– Por que você veio se não queria vir? - questionou Pedro.

– Fui meio que forçada, sabe! - No que Kate e Anne que estavam mais a frente riam abertamente.

– Nos ame eternamente Lily! - Disse Kate.

– Ai, ai, ai, ai, se ele cai dessa coisa, ai meu santinho! - Lily cobria seu rosto com as mãos sempre que alguém ia fazer uma curva por menos arriscada que fosse.

– Calma Lily, eles não vão cair não... - Comentavam os amigos assustados com o susto da amiga.

– E a força da gravidade nisso tudo onde que fica meu Deus??

– Pronto acabou. Tava vendo a hora que você ia ter um infarto aqui... - Brincou Kate.

– Ou o próximo que passasse por aqui ela ia tentar puxar pra arquibancada para não cair.

– Vai zoando, quando um deles cair não diga que eu não avisei.

– Então você queria que a gente caísse? - Brincou Sirius.

– Não, claro que não. Eu só...

– Ela só tava em dúvida se a gente era capaz de fazer uma manobra tão arriscada... - Comentou Tiago desviando o olhar dela ao dar ênfase na palavra.

– Não, eu sei que vocês são bons, eu só não...

– Não sabe onde fica a força da gravidade nisso tudo? - Interpôs Kate sentindo a tensão.

– Me deixem terminar minhas...

– Frases? - Disseram os outros em uníssono.

– Argh, vocês são patéticos, sabiam?

– Até porque éramos nós quem quase estávamos tendo um infarto... - Brincou Anne.

– Ai ó, tá todo mundo aqui fazendo motim contra a minha pessoa, mereço uma coisa dessas Merlim?

– Tem uma grande possibilidade de que sim... - Brincou Remo.

– Falo nada, só observo. Depois não chorem pela mandrágora não cuidada. - No que os outros riram.

– Mas mudando de assunto, vocês foram bem hoje! Até demais, tomaram o quê? - Brincou Kate abraçando Tiago ao ver a cara que ele fez.

– Ela fala “vocês” e só ele ganha abraço... - Disse Sirius olhando de Anne para Lily.

– Nem vem - brincou a loira.

– Tô bem aqui, obrigado.

– Por que o Diggory está vindo pra cá? - Murmurou Tiago ainda abraçado à Kate.

– Oi!

– Oi. - Disseram os outros.

–Vocês treinaram bem hoje... Boa sorte no jogo.

– Ahm... Obrigado. - Responderam Sirius e Tiago.

– Posso falar com você um instante? - Disse voltando-se para Lily.

– Ahm... Claro... - Disse a garota perplexa enquanto eles se afastavam do grupo.

– Que estranho. O quê que esse cara quer com a Lily? - Indagou Kate.

– Talvez eles tenham se encontrado por aí e você nem viu... - Murmurou Tiago no que todos se calaram.

– Eu estive pensando se... Se você não gostaria de ir comigo no próximo sábado à Hogsmeade... Respirar novos ares quem sabe... Isso se você não for com ninguém, é claro...

– Ah não, não... - Nisso ela olhou de esguelha para o grupo de amigos.

– Claro, você e o Potter talvez já marcaram de ir juntos...

– Oi? Não, claro que não. Ele tem outras pessoas com quem ir. Mas, claro, por que não? Aceito sim.

– Ok, então, a gente se vê por ai, Lily. - E nisso deu um beijo no rosto dela, segurando-a pela cintura.

– Até...

– Onde está o Tiago... O Potter? - Indagou quando se reencontrou com o grupo.

– Ele saiu com o Sirius sobre o pretexto de ir buscar cerveja-amanteigada para a comemoração na Sala Comunal. - Disse Remo.

–Você ainda pode chamar ele pelo nome, Lily, ele não vai te morder não. - Disse Anne brincando.

– Sabe... Vocês são mais confusos do que eu imaginei, realmente se merecem... - Comentou Sirius. Sua voz ecoando nas paredes do túnel que daria para o porão da Dedos de Mel recebendo o silêncio de resposta. E então olhou de esguelha para o amigo com a varinha acesa em mãos, podia jurar que viu lágrimas rolarem por seu rosto. - Cara...

– Eu... Eu fiz alguma coisa errada? Eu disse o que não devia muito antes da hora certa? Não, acho que não. Eu devia desistir, é, talvez, mas não dá, não agora, mas também não dá pra perdoar tão fácil, assim como ela também não pode perdoar esses cinco anos em um dia. Tanto faz. Eu não acredito que vou dizer isso, mas quero ir embora, sumir daqui por um tempo.

– Casa dos Gritos?

– Talvez, pelo menos até a comemoração acabar, ai eu volto. Dormir naquele lugar sozinho não parece ser uma boa opção. Se importa? Eu te ajudo a levar os lotes...

– Oi? Você se esqueceu que somos bruxos do tipo que fazem magia? Posso levar o resto do caminho, só me dá a capa depois pra cobrir elas.

– E aqui estão! A essência da festa! As perfeitinhas de todos! - Dizia Sirius enquanto mostrava a todos os lotes que eram saudados.

– Cadê o Pontas? - Perguntou Remo.

– Na casa - sussurrou Sirius.

– Sirius!! Cadê o Titi? - Perguntou um grito de garotas do terceiro ano.

– McGonagall ela queria bater um papinho com ele, nada demais. - Disse com a maior falta de interesse de prolongar aquela conversa.

– Por que ele foi pra lá? - Questionou Remo.

– Encontrar um pouco de paz acho... Ele volta mais tarde quando tudo isso tiver acabado. - Comentou Sirius no que Lily que estava numa poltrona conversando com Anne ouviu.

– Você acha que...?

– Talvez sim, mas relaxa ele vai voltar, é o Tiago. - Comentou Anne.

– Você vem? - Indagou Kate para a amiga.

– Vou ficar aqui um pouco, quero terminar de ler esse capítulo. - Disse indicando o livro em sua mão. Sirius e Remo se entreolharam, ele deveria chegar daqui a pouco, mas então, com um balanço de cabeça se despediram dela e subiram as escadas para o dormitório.

– Eles precisam... Conversar um pouco... Talvez até muito...

– Desde que não comecem a explodir um com o outro não me importo. - Eles foram se deitar esperando a qualquer momento que a torre inteira fosse acordada.

– Lily? - Ele não esperava encontrar ela ali, na verdade não esperava encontrar ninguém ali ainda. - Lily? - Disse se aproximando dela e notando que ela cochilara. - Lendo de novo... - Riu fracamente. O que eu faço com você? Tão escorregadia. Uma hora te tenho e na outra não somos nem conhecidos... Eu não sei o que fazer...

Nisso se encaminhou para a escada no que a garota pareceu acordar como se ali tivesse uma linha que ele cruzara e a acordara como um alarme.

– Hm...? - Disse ainda perdida por conta do sono. - Tiago?

– Sim?

– Não, nada, eu só... - Ele ansiava por ouvir aquelas palavras mais do que tudo. - Nada. Você... Você queria ficar sozinho... Quer dizer, aqui?

– Não. - Sentia que o desânimo causado pela pergunta se espalhava por seu rosto. Ela não iria chegar no ponto da coisa toda se não fosse instigada àquilo. - Já estou subindo.

– Se quiser, eu não... Não me importo de subir...

– Lily - ainda assim não era capaz de chamá-la pelo sobrenome -, o lugar é público eu não preciso que você saia pra quê eu fique aqui também. - Comentou mais friamente do que previra e ela devia estar pensando o mesmo pela expressão em seu rosto. - Desculpa, eu só... Só estou cansado. Boa noite. - Disse se virando rapidamente, sabia que não ia aguentar, odiava ser fraco na frente das pessoas que sentia que devia proteger.