Aos poucos, sinto a dor percorrer cada centímetro do meu corpo. Parece que minhas entranhas estão pegando fogo. Minha vista está embaçada, mas eu consigo te ver gritando alguma coisa. Sim, o que é? Meu nome? Parece tão distante... Tento resistir e puxar uma flecha, mas não tenho forças. Meu corpo, como se contra a minha vontade, despenca. O chão está úmido e sujo. Mas este não é o momento adequado para me preocupar com isso.

Vejo você se aproximando correndo, e outras vozes me chamando. Também são familiares... Sango? Miroku? Shippou? Num instante você está ali, ao meu lado. Diz coisas sem-sentido para meus ouvidos. Minha vista está cada vez mais desfocada. Mas mesmo assim, consigo identificar um pequeno brilho no canto de seus olhos, antes de sentir uma gota de um líquido quente cair na minha bochecha. Não... não pode ser. Uma lágrima?

Por que você chora, InuYasha? Não precisa chorar... Eu estou bem aqui, não? Esses ferimentos não são nada... Aliás, nem dói mais. Fecho os olhos e sinto o calor do seu corpo contra o meu. Mas ele vai se esvaindo... O que está acontecendo? Não precisa se desesperar desse jeito, eu estou bem. Nem sinto mais a dor. Pra falar a verdade, nem sinto nada.

Tento abrir os olhos, mas continuo no escuro. Fico deitada ali, durante um tempo, até que uma força estranha me faz conseguir me levantar. Onde eu estou? Onde estão Miroku, Sango, Shippou, Kirara? Onde está você, InuYasha?

Ali... vejo uma luz brilhando... Vou na direção dela. Talvez lá eu te encontre. Oh! A luz é uma passagem. Parece que me leva até... O vilarejo. O que está acontecendo? Estão todos tão tristes... Sigo para a casa da vovó Kaede. Pergunto onde você está. Mas ela não me responde. Nem levanta os olhos. Está chorando silenciosamente, enquanto consola Shippou, que abriu um berreiro quase insuportável. Qual é o motivo de todas as lágrimas?

Continuo andando. Miroku e Sango estão sentados sob uma árvore. Ela está chorando no ombro dele, que também tem lágrimas nos olhos. O que aconteceu para todos ficarem assim?? Aconteceu algo ao Kohaku, Sango? Por que eles não me respondem? Por que me ignoram, como se não estivesse ali?

Mais para frente, vejo você. Está sério... Eu te chamo... Mas você apenas desvia o olhar. Mas não. Não posso deixar vocês me ignorarem assim!

Me aproximo de você e dou um beijo em sua face. Fez alguma diferença? Parece que sim, pois você toca levemente o lado que eu beijei. Está me enxergando, agora? Como está! Ergue os olhos para mim e sussurra “Eu te amo, Kagome...”

Era tudo que eu precisava ouvir.