– Filha, pegou a mochila? Foi caçar ontem com seu pai, não foi? Está com sede ainda? - perguntava minha mãe, enquanto tentava arrumar meu cabelo em um coque.

– Fica tranquila, mãe. Meu pai e eu pegamos uns bons ursos ontem, com o sangue mais apetitoso que eu provara. Não vou atacar ninguém no colégio, já estou acostumada com o vovô.

Ela finalmente fez o coque. Meus cabelos ruivos não eram muito fáceis de arrumar, pois eram volumosos demais. Vesti minha jaqueta e me olhei no grande espelho do meu quarto. Minhas bochechas estavam rosadas, isso era ótimo. Pelo menos poderia passar por uma adolescente qualquer, exceto pelo fato de ter que controlar minha respiração, como meu pai ensinou.

Meu quarto era arrumado, com uma mobília maravilhosa. Era branco, claro, do jeito que eu gostava. Tinha uma prateleira enorme que ocupava uma das quatro paredes, e nela continha todos meus livros favoritos. Alguns eram da minha mãe, e outros foram presentes da minha família. Tinha uma cama bem no centro do quarto, com a roupa lilás (aliás, era ali que passava mais de um dia dormindo, quando estava cansada). Olhei para o chão; nele, Alice colocou um tapete bem fofo, daqueles que parecem pelúcia. Fui até a janela. Dava para ver a casa do meu avô Carlisle sem esforço.

Na porta de entrada da minha casa, uma moto preta estava estacionada. Era Jacob. Ele sorriu.

– A noiva já está pronta? - disse meu protetor, rindo.

– Já desço, Jake - não pude deixar de rir também.

Chamo Jake de "meu protetor" porque, desde que eu era um bebê, ele aguentou firme minhas mordidas não-venenosas. Me levou para o parque, me educou e me seguia para lá e para cá, garantindo minha segurança. Aturou minhas birras, e ainda atura. Ele sempre foi bom pra mim. Por isso, o vejo como um anjo protetor.

Estou com, "aparentemente", 15 anos agora. Iniciando o ensino médio. Já havia estudado antes, claro, mas tudo o que aprendi está nos livros. Todos aqui exerceram uma função, até eu atingir essa idade. Alice cuidava das minhas roupas, é claro. Tio Jasper me ensinava a me defender (já estava muito boa nisso, aliás). Tio Emmett... Bom, tio Emmett me fazia rir. Rosalie me fazia companhia nas caçadas, quando meu pai estava ausente. Carlisle cuidava da minha saúde. Esme, da minha alimentação. Mamãe era minha melhor amiga, e papai era meu professor de piano.

Acordei do meu pequeno devaneio quando ouvi a voz de Jake na minha porta:

– Ness, o que está fazendo aí parada? Vamos nos atrasar, sua boba. - ele riu novamente. Jacob era assim. Tão alegre que me contagiava.

– Desculpe, desculpe. Eu já estava descendo. Ah, minha mochila. - peguei a bolsa e desci correndo as escadas. Me despedi do meu pai e da minha mãe, e os dois me desejaram sorte e força.

Jake subiu na moto, e eu subi atrás dele. Ele acelerou, e senti o vento nos meus cabelos enquanto íamos em direção à escola. Segurei firme em sua cintura, ciente de que ele não me deixaria cair.