Pesadelo | Amor Imortal 01 escrita por Lolli Blanchard


Capítulo 15
Capítulo 15




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Ellylan se levantou da cama que estava sentada assim que Niffie terminou de costurar sua pele e fez um novo curativo. Sua vontade era de gritar por causa da dor e de até mesmo espernear em quanto chorava, pois aquela mulher tão louca por se casar com Meridius não usou nenhuma anestecia para amenizar a dor em quanto enfiava uma agulha em seu pescoço.

— Você está bem?— Niffie perguntou, inclinando sua cabeça ligeiramente.— Humanos normalmente chorariam por causa da dor.—

Sim, ela não imaginava o quanto Ellylan desejava chorar e esmurrar a cabeça daquela mulher por ficar tão calma depois de costurar sua pele.

— Estou bem.— Ela preferiu ser educada, pois a verdade era que mais que sua vontade fosse de chorar, Ellylan se sentia seca por dentro para derrubar qualquer lagrima. Sua mente estava a mil com todas as informações que estava recebendo e tudo piorou quando Meridius com toda sua delicadeza falou que ela havia o atacado em um momento inconsciente. Elly não podia chorar quando tudo isso estava acontecendo.

— Venha, Maximus está vindo buscá-la.— Ela falou abrindo a porta do quarto, mas não saindo. Aparentemente Niffie apenas a abriu para esperar Maximus.

— Como vocês sabem quando alguém está se aproximando?— Ellylan perguntou, não contendo sua curiosidade. Ela podia facilmente pensar que era sobre aquela comunicação que existia mentalmente, mas duvidava que ela acontecia a qualquer momento.

— Nós, seres divinos, podemos sentir vibrações das almas quando alguém está proximo. É claro que não se compara com o que os arcanjos podem sentir, pois eles podem ver nossas almas se desejarem, mas as vibrações que sintimos são únicas, assim como são as pessoas.— Niffie explicou.— As dos arcanjos são vibrações grandes que podem até mesmo prejudicar sua mente se não souber lidar com isso.—

— Seres divinos? Então os demonios não se encaixam nisso...—

— Não, definitivamente não. Afinal, as almas deles estão sob dominio de Maximus.— Disse ela.— Apenas Maximus pode reconhecê-los.—

— Por que parece que Maximus possuí o papel mais importante?——

— Na verdade, aquele que realmente tem o poder mais importante é Dimitrius, pois é ele quem escolhe o lugar de cada alma quando os humanos morrem, mas é Maximus que governa o inferno.— Niffie disse com certa magoa em sua voz.— Ele foi criado para liderar a pior dimensão, não é como se sentimentos bons existissem constantemente em seu reino.—

— E por que ele?— Ellylan perguntou.— Por que não Meridius ou Dimitrius?—

Para Ellylan, o mais velho deveria herdar a pior parte de tudo e ela estava bem ciente de que o anjo loiro não era o mais velho. Além do mais, o modo como Meridius agia dizia que ele seria perfeito para governar o inferno.

— Porque Maximus possuí um coração por baixo de seus escudos.— Ela sussurrou baixo paraque ninguém a ouvisse.— Aquele que deve governar o inferno não pode se tornar o próprio mau, não pode fazer parte dele.——

— Meridius é o mais severo porque não deve ter piedade no mundo dos perfeitos, certo?— Ela adivinhou.

— E Dimitrius não deve ter o medo de julgar.— Niffie concluiu.— A cada geração que passa, os imperadores das dimensões devem ter pelo menos um filho ou deixar na mão de um deles a responsabilidade de ter três filhos. Após o nascimento das crianças, são os anciões que devem escolher qual dimensão elas governarão, nada funciona de pai para filho. Os anciões mandam nos arcanjos como se eles fossem apenas servos.—

— E você...— Ellylan não pode concluir sua pergunta, pois ficou hororrizada em pensar que o destinos dessas crianças eram traçadas antes mesmo de serem geradas. Ela não podia acreditar que Niffie aceitava isso.

— Não.— Disse rapidamente.— Não desejo isso para meu filho e nenhum dos arcanjos deseja também. É exatamente por esse motivo que nenhum queria se casar para ter um herdeiro, mas nós precisavamos fazer isso por Maximus... Ele se esqueceu do verdadeiro motivo por ser o escolhido para governar o inferno e... Nós não sabiamos o que aconteceria com Maxi se algum ancião intervisse, pois isso nunca aconteceu tão cedo em um governo. Então, Meridius se responsabilizou em ter os três herdeiros para ajudá-lo.—

— Vocês não se casaram por amor...—

— Isso não importa.— Mas estava obvio que importava para ela.— Não em quanto os anciões estão em cima de Maximus, não em quanto não sabemos o que eles podem fazer.— A agonia em sua voz deixou Elly agoniada também.— Ellylan, os anciões podem fazer qualquer coisa. Se eles desejarem destruir o inferno por falta de um governador, é isso que acontecerá e Maximus corre o risco de ser alvo dessa destruição.—

Ellylan não tinha o que falar naquele momento, pois parecia que tudo estava desmoranando para aqueles irmãos que pareciam ser tão unidos. Dimitrius fazia o trabalho de Maximus para que não corresse o risco do arcanjo matar todos aqueles que viviam em sua dimensão e Meridius havia tomado o pior caminho... Ele se submeteu a ter filhos e casar com alguém que não amava por causa de seu irmão. Assim como Niffie, que deveria viver uma vida cheia de sofrimento por causa dele.

Agora tudo fazia sentido quando Patrick disse que a vinda de uma humana para uma das dimensões apenas perturbava Maximus... O arcanjo devia se sentir culpado por tudo o que estava acontecendo e a presença de Ellylan apenas confundiu sua mente, aparentemente. Tudo parecia horrivel, principalmente quando envolvia crianças inocentes em um destino terrivel.

— Por que você ainda não engravidou?— Ellylan perguntou, pois parecia que Niffie e Meridius eram casados há muito tempo.

— Porque crianças são raridades em nosso mundo, Ellylan.— Niffie se afastou da porta para ficar mais próxima de Elly.— Elas são como jóias preciosas, nossos presentes... E presentes não se ganham com facilidade.—

Ellylan abriu sua boca para dizer suas próximas palavras, mas a fechou quando Maximus surgiu na porta já aberta. Sua expressão era tão fechada e sem sentimentos quanto o vácuo, assim como os seus olhos. Uma parte dela sentiu uma raiva imensa, pois ela teria que ignorar tudo o que havia acontecido entre eles no banheiro por causa disso. Novamente.

E ela não precisava tentar falar com ele sobre aquele momento para saber que era isso que aconteceria. Afinal, foi exatamente isso que aconteceu quando ela tentou mencionar o abraço que ele deu nela naquele momento que sentiu que sua mente iria explodir.

— Venha, Ellylan.— Ele disse friamente.— Vamos embora.—

Ellylan olhou para Niffie, a vendo movimentar sua cabeça para que ela fizesse o que o arcanjo pedia. Na verdade, essa era uma das poucas coisas que Elly desejava naquela momento. Maximus não podia se demonstrar tão cheio de sentimentos, a colocar em um nivel que demonstrava que se importava com ela para depois tratá-la como o nada.

Não... Seja o que fosse que Maximus estivesse passando, Ellylan não tinha culpa disso. Ela nunca desejou estar no inferno para piorar essa crise que eles passavam e seu único desejo era que o anjo loiro superasse tudo o que acontecia, mas isso não queria dizer que iria virar um objeto que ele podia mover para qualquer lugar, como se ela não possuísse nenhum sentimento.

Maximus não mostraria o melhor dele para depois destráta-la... Ellylan também possuía seus próprios problemas e nem por isso o afastou, pelo contrário, ela abriu seus braços para Maximus ajudá-la.

— Não irei para nenhum lugar.— Ela disse, se sentando na cama que a pouco tempo estava para que Niffie fizesse seus pontos.

— O que?!— Niffie e Maximus disseram em conjunto, mas em quanto a esposa de Meridius dizia em total surpresa, o arcanjo falava furiosamente. E esse era outro motivo para que ela não movesse nenhum musculo.

Ellylan cruzou suas pernas e ainda lançou um olhar fuzilador para Maximus quando a raiva se manifestou em seu rosto. Ela havia gostado daquilo, de fazê-lo demonstrar seus sentimentos, mesmo que fosse o pior deles.

— Bem, estou de saída.— Niffie falou passando por Maximus.— Eu já possuo uma relação complicada demais para observar outra.—

A esposa de Meridius saiu do quarto e sumiu de sua visão em questão de segundos, fazendo com que a coragem de Ellylan se trincasse por um momento pelo fato de ter que enfrentar um Maximus furioso sozinha. Mas ela ignorou isso, pois o anjo loiro não tinha o direito de tratá-la daquele jeito quando Elly sabia que ele tinha a capacidade de fazer melhor.

— Se você deseja ficar aqui,— Falou ele encontrando seu olhar.— Então que seja.—

— Maximus!— Ellylan o chamou quando o arcanjo deu as costas para ela com a intenção de sair do quarto, estava obvio que ele jamais insistiria para que Elly fizasse tudo do jeito dele e ela realmente gostaria de acreditar que o anjo loiro não se importava com sua vida a ponto de largá-la em outra dimensão, mas isso não era verdade. Ele se importava em alguns momentos e isso era o que estava a machucando-a quando Maximus agia como se ela fosse apenas um de seus servos. Ela queria que Maximus a obrigasse a fazer tudo do jeito dele.

Ellylan se esticou até a comoda que estava ao lado da cama para pegar um vaso de porcelana com desenhos azuis, depois de tê-lo em suas mãos, ela se levantou da cama para jogá-lo em direção de Maximus, mirando na parede já que sua intenção não era de acertar o anjo mesmo que sua vontade fosse essa.

O vaso bateu contra o batente da porta com força e se transformou em milhares de pedaços antes de encontrar o chão, fazendo o silencio do quarto ir embora com o seu estrondo. Maximus se virou para Ellylan novamente e seu olhar dizia que ele não esperava aquilo.

— Você enlouqueceu?— O arcanjo perguntou, caminhando com passos raivosos até que ele estivesse em sua frente, com o peito quase colado com o dela.— Qual é o seu problema, Ellylan?—

Meu problema?— Ela quase gritou aquilo por causa da raiva.— Meu problema é você!——

— Eu imagino que seja o menor dos seus problemas.— Ele disse com deboche e com um sorriso falso se formando em seu rosto. A vontade de Ellylan foi de arrancar aquele maldito sorriso com as suas unhas.

— Você age como se importasse comigo para depois me tratar como um animal, Maximus!— Era realmente dificil controlar o volume da sua voz quando tudo que via ao olhar para o rosto de Maximus era o nada. Ellylan queria chorar naquele momento, mas obrigou que aquilo sumisse. Ela não chorou por causa da dor dos seus pontos, então não choraria pelo arcanjo em sua frente.— Eu sou humana! E preciso saber se a pessoa que me protege pelo menos possuí algum tipo de consideração por mim...—

— Não existe nada que eu possa fazer sobre isso, sinto muito.— Mas ele não sentia. E ela foi tola o suficiente em acreditar que Maximus poderia tratá-la daquela maneira que gostava... Deus, ele era o imperador do inferno em quanto ela era uma humana lhe causando problemas. Que tipo de coisa Ellylan esperava dele?

Era mais fácil acreditar que esse homem frio que não demonstrava nenhum sentimento era o verdadeiro Maximus do que aquele que mostrava qualquer tipo de sentimento estranho por ela.

— Vá embora.— Ela se afastou, abaixando seus olhos para não ter que encará-lo mais.

— Você deseja ficar?— Maximus parecia ofendido agora.— Com Meridius?—

— Você realmente se importa onde eu irei ficar, Maximus?—

O arcanjo se afastou de Ellylan dessa vez, segurando seus olhos por um momento para mostrar que ele tinha muito o que dizer, mas não iria discutir com ela. O pior de tudo, era que Elly desejava discutir sobre o que estava acontecendo, ela queria saber o porque de Maximus a tratar como algo único para depois tratá-la apenas como um problema em sua vida. Mas tudo o que o anjo loiro fez foi sair do quarto sem dizer mais nada após se afastar dela, batendo a porta em suas costas com força até que as paredes tremessem.

____________

Ellylan ficou encarando a porta que o arcanjo bateu por um bom tempo, não acreditando que Maximus realmente a tinha deixado para trás. Ela estava muito ciente de que o anjo loiro jamais a jogaria em seus ombros e a levasse de volta para o inferno, mas Elly esperava um pouco mais do que recebeu. E essa reação de Maximus apenas provou que aquele abraço que aconteceu entre eles foi tão falso quanto a ideia de que o arcanjo poderia considerar ela mais do que uma peça que vai levá-lo até a pessoa que quebrou suas regras.

— Idiota.— Ellylan sussurrou, abaixando seus olhos até o chão, não sabendo se o xingamento servia para ela mesma ou Maximus que acabou de abandoná-la quando disse que a protegeria de qualquer coisa.

Ela deu alguns passos para trás até que estivesse sentada na cama daquele lugar que era tão grande, que nesse momento a fazia se sentir sozinha. E o pior de tudo, era que Ellylan estava sozinha e se iludiu sobre Maximus estar ao seu lado...

Ela era tão idiota.

E por que Maximus importava tanto? Ela chegou nesse inferno sozinha, sem nenhum pertence, e tinha a certeza de que saíria dessa mesma maneira que veio. Maximus não iria possuir nenhuma consideração por ela, ele jamais a trataria como Katherine. Ellylan era apenas um problema para ser resolvido, não uma amiga.

Seus abraços, seus toques e tudo que o anjo havia feito relacionado a ela não possuiam a intenção correta. Essa era a realidade que Ellylan deveria ter aceito desde o principio.

Elly abraçou seus joelhos com força e após apoiar sua testa neles, ela permitiu que algumas lagrimas escapassem de seus olhos.

Ela estava sozinha.

E enlouquecendo.

***

Ellylan estava sentindo frio, seu corpo estava gelado de um modo quase anormal e o vento não estava ajudando em nada para melhorar sua situação, ela se encolheu na cama na intenção de esquentar seu corpo com seus próprios braços, mas ao se movimentar apenas ouviu o som de folhas secas se partirem com um leve toque.

Ela abriu seus olhos para poder entender o que realmente estava acontecendo para ouvir aquele som e sentir frio, pois era impossivel que em um quarto o som de folhas secas invadisse seus ouvidos após se movimentar. A primeira coisa que Ellylan viu depois de abrir seus olhos e piscar várias vezes para ter a certeza de que não estava sonhando, foi raizes de arvores antigas e grandes.

Aquilo não era o quarto do castelo de Meridius.

Ellylan se sentou rapidamente no chão coberto por folhas que se transformavam em farelho conforme seu movimento sobre elas, a primeira coisa que ela viu após fazer isso, o que a impediu de ficar em pé, foi o sangue que a sujava por toda suas mãos e roupa.

O sangue já estava seco e poderia ser facilmente confundido com a terra que a sujava também. Ellylan levou suas mãos até seus cabelos para sentir os vários nós e folhas que estavam presos em seus fios negros.

Ela abriu sua boca para respirar quando sentiu seus pulmões congelarem pelo medo e um pequeno gemido escapou de seus lábios. O medo estava a consumindo naquele momento, pois não se lembrava de nada do que havia acontecido para vir estar deitada no meio do nada. Sua mente estava tão em branco quanto no dia em que acordará no inferno, no meio daquela escuridão que mal podia se ver. A única coisa boa naquele momento era que o céu já estava ganhando um tom acinzentado pelo nascimento do dia, o que significaria que Elly não teria que caminhar na escuridão novamente.

Mas ela também não conseguia andar, na verdade, nem ao menos pensar estava conseguindo ao ver o sangue seco que a sujava. Ellylan não conseguia pensar em mais nada além do que falaram sobre ela ter atacado Meridius... E se isso houvesse acontecido novamente?

E se Ellylan tivesse atacado alguém sem forças para se defender?

Mas cima de tudo... Por que isso estava acontecendo?

Mate-a em quanto ainda não é um monstro.

Tudo o que estava acontecendo fazia parte do que aquele anjo insano havia dito no dia anterior antes de ser explodido?

O anjo também disse que os humanos se transformavam quando trazidos para esse mundo, então... Essa era a única explicação concreta para tudo o que aconteceu. Talvez esse fosse o motivo por Elly não gostar da comida desse mundo e a cada dia que passava se tornava ainda mais palida. Esse podia ser o motivo por ter se sentido tão atraída pelo sangue de Maximus...

Se Ellylan estivesse se tornando uma psicopata com dupla personalidade que atacava as pessoas para saciar sua vontade de ver sangue, a melhor opção era que Maximus a matasse, pois como ele mesmo disse em seu julgamento, Elly não era nenhuma criminosa para receber a morte como punição, mas aparentemente ela poderia estar se tornando uma.

— Maximus.— Ela sussurrou com uma pequena dor se manifestando no fundo de seu coração. Antes de dormir, Ellylan não desejava vê-lo novamente, mas naquele momento o arcanjo do inferno era a única pessoa que ela gostaria de ver. Elly queria que Maximus a encontrasse novamente, da mesma maneira que a encontrou quando acordou no meio do nada.

Mas Ellylan estava sozinha agora, pois Maximus havia a abandonado na dimensão de Meridius sem se importar no que poderia estar acontecendo em sua mente. Pelo que Niffie falou, ele podia sentir a alma de todos e o arcanjo deveria saber o quanto destruída ela estava... Essa foi a pior traição de Maximus, pois se ele prometeu protegê-la, por que o arcanjo não podia cuidar da alma dela também?

Ellylan ignorou essa pergunta de sua mente que parecia insistir em culpar o anjo loiro. Na noite passada ela havia chegado a conclusão de que estava sozinha no meio de tudo isso e ficar sofrendo por causa das atitudes frias de Maximus não levaria Elly para nenhum lugar. Definitivamente não iria resolver nada culpar Maximus por sua aparente loucura.

Ela se levantou do chão e sentiu uma dor grande por toda sua coluna, Ellylan apenas esperava que estivesse doendo pelo fato de ter dormido no chão e não por outros motivos desconhecidos. Ela não sabia para onde ir, principalmente quando olhava para os lados e só via apenas arvores grandes cheias de vidas, seu único plano era encontrar algum lugar para lavar o sangue de seu corpo e depois encontrar o castelo de Meridius. Afinal, Maximus não estava mais lá e o irmão dele podia muito bem matá-la como desejou desde o inicio, principalmente agora que ela tentou mordê-lo por motivos desconhecidos.

Ellylan começou a caminhar lentamente, depois de tirar as folhas secas que haviam grudado em seu corpo e vestido, ela não possuía presa nenhuma de voltar para o castelo. Na verdade, Elly não queria voltar, mas também não poderia ficar sozinha naquele lugar tão solitário, mesmo sendo o paraíso, ela não conseguia confiar em mais nada além das palavras de Maximus. E bom, o anjo também estava começando a cair em seu conceito.

Ela tentou usar os sons que aconteciam ao seu redor como um mapa para ter algum caminho definido em sua mente, seu foco era achar o som da água, mas como aquilo se demonstrou impossivel, ela apenas escolheu um caminho e seguiu em frente.

Ellylan aproveitou aquele momento para observar todos os detalhes que existiam no tão desejado paraíso, vendo que não possuía muita diferença da dimensão de Maximus. É claro que ela havia visto apenas as boas coisas que possuiam no inferno até aquele momento e a vez que esteve no nível 2, foi suficiente para arrepiá-la completamente, mas uma das poucas coisas diferentes que ela percebeu, era que a natureza do paraíso possuía mais vida e a do inferno mesmo que estivesse completamente verde, a impressão era que sempre estava morta. E quando se podia fazer essa comparação, era realmente triste.

Em quanto caminhava, ela também pode sentir o quanto humana realmente era, e ficou feliz por isso ainda estar claro quando se vivia em um mundo onde explodir pessoas era completamente normal. Ellylan estava sentindo um frio que poderia fazê-la bater o queixo e mesmo que desejasse estar de baixo dos cobertores da cama quentinha do castelo de Maximus, ela gostou daquilo, de seu corpo lembrá-la que estava longe de ser qualquer coisa próxima aos demonios, arcanjos e tudo aquilo que ela já conheceu estando nesse mundo.

Mas algo estava errado, pois Ellylan não precisava sentir essas coisas para saber que era humana. Ela era humana. Elly não conseguia entendar o por que de querer se lembrar tanto desse detalhe que parecia ser tão importante. Na verdade, apenas ela sabia o que realmente estava acontecendo para querer sempre sentir algo que a fizesse humana, mas não podia admitir.

Ignorando seus pensamentos, Ellylan acelerou o ritmo de seus passos quando viu o fim daquela floresta, o fim de tantas árvores que a impediam de ter uma visão mais aberta de onde estava. Ela não correu, principalmente quando reparou que estava sobre um penhasco. Lá em baixo ela podia ver mais e mais mata, aquilo a desanimou de uma maneira que a fez querer se sentar e esperar que alguém a achasse, já que ela esperava pelo menos encontrar uma cidade ou algo do tipo.

Ela passou pelas últimas árvores para observar mais de perto as montanhas verdes que se erguiam do outro lado daquele lugar, apesar de sua decepção, era uma vista bonita. Realmente muito bonita. Ellylan se virou para o outro lado, dando as costas para a visão que poderia lhe causar vertigem, ela sentiu uma ponta de raiva crescer imensamenta. Pois depois das árvores que havia passado, seus olhos encontraram uma das torres mais alta do castelo branco de Meridius, lhe dando a noticia de que ela havia pego o caminho contrario.

Elly se virou frustrada, não querendo observar o seu erro de direção que ficou obvio ao encontrar aquele lugar sem arvores, pelo menos ela pode entender um pouco do por que Maximus viver no topo de um penhasco, aparentemente os imperadores das dimensões gostavam de viver no topo de tudo. Bom, Elly não podia discordar disso, pois os irmãos possuiam o poder para estar lá.

Ellylan tentou focar seus pensamentos nos arcanjos quando sua mente insistia em levá-la para outro caminho, não tendo mais opção, se deixou levar para fazer a pergunta que estava a perturbando: Por que ela não pulava?

Seu orgulhosa gritava que não, que isso a tornaria fraca e Elly não desejava ser fraca de maneira alguma, mas seu coração estava despedançando a cada momento que passava e sua mente estava se tornando louca... Além do mais, as cicatrizes em seu pulso diziam com todas as letras que sua vida no seu verdadeiro mundo não era boa, poderia até mesmo ser, só que Ellylan estava em um limite de que isso não importava mais. Haviam se passado apenas 11 dias que ela estava no inferno e não aguentava mais.

Quanto tempo Elly teria que esperar para que Maximus a mandasse de volta? Quantas coisas ela teria que aguentar até lá?

Na verdade, ela não aguentaria. Não com tudo o que estava acontecendo, não quando falaram que se tornaria um monstro. Em apenas alguns dias, o sangue já a sujava e isso a fazia ser parte do mundo dos arcanjos, ser parte do inferno...

Ellylan não possuía a força para sobreviver tudo o que estava passando e isso fez com que sua mente a fizesse essa pergunta tão inutil, mas tão verdadeira.

Ela jamais pularia, jamais acabaria com sua vida por estar sofrendo em um mundo desconhecido, mas também não podia negar que a tentação era grande.

Uma lágrima escapou de seus olhos, uma única traidora que teve a coragem que ela não possuía para se livrar do sofrimento de se sentir presa. Ela permitiu que aquela lagrima escorresse por todo o seu rosto até encontrar o chão, mas não deixou que as outras caíssem. Se Ellylan não podia acabar com sua vida tão insignificante, ela também não iria chorar.

Ela podia passar por momentos inconscientes e estar suja de sangue, mas isso não significava que se jogaria do primeiro penhasco que encontrasse em sua frente em quanto chorava. Talvez seu desejo fosse esse e mesmo que tantas coisas negativas estivessem acontecendo, algo nela a fazia acreditar que algo bom aconteceria em algum momento. Isso era o único sentimento que a fazia permanecer imovel ao invés de caminhar para frente até não possuir mais nenhum chão a baixo de seus pés.

Ellylan sentiu o vento se agitar em suas costas, fazendo com que seus cabelos cheios de nós voassem para frente de seus olhos e logo em segida o barulho de asas se debatendo invadiram o silencio daquela natureza bela e tentadora. Ela se encolheu minimamente quando ouviu o som dos cascalhos se manifestaram depois dos pés do anjo se movimentar. Ele parou no momento em que percebeu a tensão que o corpo dela emandava.

— Se você pular,— Era a voz de Maximus, não fria, mas sim séria e cautelosa.— Eu a pegarei.—

— Não irei fazer isso.— Elly sussurrou, olhando para baixo.

— Mas é isso o que você realmente deseja.— Sim, talvez fosse. Ellylan estava aceitando qualquer opção para se ver livre do que estava passando. E ninguém poderia entender aquilo.

— Eu estou sozinha, Maximus.— Ela não se virou para encontrar o olhar do anjo, não quando estava suja de sangue e se manter de costas para ele era a única opção de revelar isso.— Estou sozinha em um mundo que não me pertence sem ao menos lembrar quem eu sou. Você nunca me entenderá, eu sou apenas a sua regra quebrada que deve ser corrigida.— O arcanjo continuou em silencio e ela foi obrigada a fechar seus olhos e respirar fundo para não chorar devido a confirmação que veio dele quando não disse nenhuma palavra.— Você me matará se me tornar um problema, Maximus.—

— Ellylan,— Maximus disse seu nome, se aproximando dela e a fazendo dar um passo para frente com a intenção de manter a distancia.— Vire-se.—

Sem ter realmente uma opção do que fazer, Ellylan se virou como o arcanjo pediu. Ela tentou encontrar os olhos azuis dele quando fez isso, mas era impossivel quando Maximus olhava para o sangue que a sujava. Por um momento o arcanjo ficou sem ennhuma expressão em seu rosto, mas não por querer demonstrar algo, mas sim pela surpresa. Maximus não esperava que sangue a estivesse sujando, o sangue que não era dela.

— O que você fez?— Ele perguntou acusadoramente, mas não a julgando.

— Eu não me lembro.— Ellylan desviou seus olhos quando Maximus tentou encontrá-los, agora ela não conseguiria olhá-lo quando nem mesmo o arcanjo do inferno sabia o que estava acontecendo.

Maximus deveria possuir todas as respostas.

— Eu pensei que você tivesse ido embora.— Ela voltou a falar, olhando fixamente para as botas negras dele. Elly mudou de assunto para que não chorasse, sabendo que manter suas lagrimas presas não duraria muito tempo se ficasse tentando compreender o motivo de estar suja com sangue.

— Não.— O som de um riso quase a fez olhar para cima, mas ainda assim era muito pouco para ter que enfrentar os olhos do arcanjo.— Eu não poderia deixá-la nas mãos de Meridius, ele provavelmente a trancaria em uma cela e esqueceria de mandar comida.—

— Você está dizendo que não me abandonou?—

— Eu não poderia, Elly.— Maximus se aproximou dela antes mesmo que Ellylan tivesse a chance de se afastar, o anjo colocou seu dedo indicador em baixo de seu queijo para obrigá-la a encontrar os seus olhos. E de todas as vezes que o arcanjo se aproximou dela, essa parecia ser a mais verdadeira. Principalmente quando os seus olhos mostravam que era exatamente ali que ele gostaria de estar.— Você é minha para cuidar.—

— Eu sou apenas um problema, Maximus.— Ela insistiu.

— Sim, uma grande problema que irá me enlouquecer.— O anjo loiro sorriu ligeiramente.— E eu sei também que algo está acontecendo, coisas que você não quer me contar e que poderá ser motivos para lhe matar no futuro, mas antes que tudo chegue nesse nivel, irei fazer o meu melhor para ajudá-la.—

— E isso é uma promessa sem consideração por mim também?—

— Não, é o que eu realmente quero fazer.— Maximus disse.— Eu sou o imperador do inferno, não um anjo como os humanos pensam. Não exija meus sentimentos quando não posso dar mais do que tenho, Elly.—

— Pare de me chamar de Elly.— Ela disse ao mesmo tempo que franzia o cenho. Afinal, se Maximus pedia para ela parar de exigir seus sentimentos, ele não possuía a permissão de chamá-la de uma maneira tão carinhosa.

Ellylan estava pronta para dizer isso ao arcanjo quando um sorriso ironico cortou seus lábios.— Imagino que Elly seja melhor que Milady.—

— Não, você não...— Ela tentou se afastar para demonstrar sua insatisfação com aquele apelido que Gate lhe deu e que havia chegado aos ouvidos do arcanjo, mas Maximus a segurou para que isso não acontecesse, ele colocou sua mão na cintura dela para segurá-la onde estava e quando isso não foi suficiente, o anjo repousou aquela que segurava seu queixo em suas costas. Todos os centimetros acabaram naquele momento em quanto os corpos de ambos se encaixavam, mas a única coisa que chamava atenção da mente de Ellylan era o calor das mãos do anjo loiro que eram capazes de atravessar o tecido de seu vestido para que ela sentisse em sua pele o quão quente era temperatura de Maximus.

— Você está próximo demais.— Ellylan disse desesperadamente a única coisa que sua mente permitiu, procurando algum ponto fixo em sua camisa para olhar enquanto o arcanjo balançava sua cabeça negativamente ao mesmo tempo que ela falava.

— Estou demonstrando meus sentimentos como pediu,— Ele falou, mas era o coração de Ellylan que estava fazendo mais barulho naquele momento.— Eu estou a protegendo.—

— Me protegendo de que?—

— De você mesma, que inconscientemente caminhou até a margem desse penhasco.— Maximus a respondeu, desviando seus olhos para o que existia atrás dela. Ellylan olhou por cima de seus ombros, vendo o quão próximo ficou a beira de cair sem ao menos perceber que estava caminhando. Ellylan que antes repousava suas mãos em seu peito para tentar manter alguma distancia, passou a segurá-lo em seus braços, pronta para agarrá-lo se fosse preciso.

— Inconscientemente.— Ela repetiu a palavra, encontrando os olhos do arcanjo.— Eu acho que essa palavra é o meu maior problema.—

— Você precisa me deixar entrar em sua mente, Elly.— O arcanjo murmurio.— Eu reciso entendê-la para saber o que acontece com você.—

— Eu acho que nem mesmo minha mente sabe, Maximus.— Uma certa agonia apareceu em meio aos sentimentos confusos de Ellylan. Ela apenas não sabia se era por causa de Maximus estar tão próximo e a segurando para não cair ou por outros motivos.— E você apenas a confunde ainda mais quando não se importa comigo e no minuto seguinte me segura para não cair em um buraco negro.—

O anjo sorriu, um sorriso sincero que combinava muito com seu lado angelical.— Eu não sei lidar com os sentimentos que você me causa, não me culpe por isso.—

— E que sentimentos seriam esse?—

— A vontade de matá-la é a principal deles.— O arcanjo deu de ombros.— Estou acostumado a ser tratado como um rei, ter cabeças baixas quando passo e, principalmente, não ter minha opinião discutida... Você não me trata como os outros.—

— Porque eu não pertenço ao seu mundo.—

— Qualquer humano se acovardaria em seu lugar, Elly.—

— Nada disso é fácil para mim.— Ellylan encontrou aqueles olhos azuis perfeitos que estavam a fazendo se sentir tão segura quando o arcanjo podia facilmente soltá-la para uma queda nada agradável.

— Não se preocupe.— Maximus falou, segurando o olhar dela com pura determinação e poder.— Eu irei tornar tudo isso mais fácil.—

Sim, e ele poderia fazer isso. Afinal, o arcanjo estava a segurando na beira de um penhasco e nem ao menos a fazia sentir medo sobre a possibilidade de soltá-la, mas sua mente também não a deixava confiar completamente em Maximus, pois Ellylan tinha certeza que logo aquele anjo frio e sem sentimentos retornaria, pois era assim que Maximus funcionava. Ele sempre a magoaria de alguma maneira.

Um arcanjo que governava o inferno nunca poderia agradar uma humana quebrada.


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