Pesadelo | Amor Imortal 01 escrita por Lolli Blanchard


Capítulo 10
Capítulo 10




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Marie estava em frente da prisioneira, com seu corpo colado ao tronco de uma árvore em quanto se esticava toda para alcançar os frutos que estavam em uma altura quase inacansável. Ela, no entanto, estava sentada em uma pedra, observando a empregada daquele castelo fazer esforço para pegar as laranjas que a cozinheira pediu.

A prisioneira não havia gostado muito da ideia de ficar sentada em quanto Marie fazia todo o trabalho, mas sabendo que a empregada era mais alta que ela e mesmo assim não alcançava as frutas, sua única opção foi se sentar. Além do mais, o pouco de esforço que havia feito para tentar alcançar uma única laranja havia a cansado como se estivesse correndo durante muito tempo. Pelo menos agora ela sabia que só servia de algo quando a adrenalina corria por suas veias. Afinal, se não fosse por causa disso, a prisioneira jamais teria derrubado Maximus na primeira vez que se encontraram.

Em quanto observava a empregada sem ter muito o que fazer, para passar o tempo, ela pegou várias margaridas brancas que haviam crescido em volta daquela pedra e depois de fazer uma trança de lado em seu cabelo longo e liso, ela começou adicionar aquelas pequenas flores em várias regiões dele. A prisioneira tirou vários fiapos da barra de seu vestido para prender a ponta de sua trança, fazendo nós para que o penteado não se desfizesse já que seu cabelo era fino demais para ser domado.

Ela estava esticando todo o seu corpo para capturar a última margarida que estava próxima daquela pedra, mas por culpa do seu sedentarismo ao não se levantar, a prisioneira esbarrou no cesto que estava cheio de frutas ao seu lado, o derrubando no chão para que várias laranjas rolassem pelo gramado até que voltassem a ficar imóveis. Mas por mais que a prisioneira tivesse desejado ter se levantado para pegá-las, seus olhos ficaram presos em outra coisa antes mesmo que tivesse a chance de fazer qualquer movimento.

Dentro daquele cesto que Marie carregou não existia apenas as frutas e um manto para forrar o fundo, na verdade, tinha muito mais do que coisas inofensivas. Depois do cesto cair, uma adaga que estava em baixo do manto ficou totalmente a mostra. Aquela lamina curvolenia, mesmo que estivesse com uma bainha, demonstrava ser bem afiada e perigosa. Principalmente quando o seu cabo era dourado e possuía vários desenhos.

E se havia algo que a prisioneira aprendeu com seu pequeno convivio no inferno, era que quanto mais bonita fossem as coisas, mais perigosas elas seriam. Maximus era a prova viva disso.

Ela olhou para Marie com a intenção de encontrar seus olhos, mas falhou quando a empregada também olhava para a a adaga que havia caído de dentro do seu cesto, com um rosto sem nenhuma expressão.— Por que você estava caminhando com isso dentro do cesto?— A prisioneira perguntou com cautela.

Marie encontrou o olhar dela depois que segundos de silencio passaram após sua pergunta e um sorriso simpático surgiu em seu rosto como se uma lamina afiada nunca estivesse diante dos olhos delas.

— Nós estamos no inferno.— Foi a resposta dela.— Temos que andar protegidos caso algo aconteça.—

— Pensei que o nível 1 fosse seguro.— A prisioneira apontou aquilo que Maximus deixou claro para ela.

— E é seguro, mas existem demonios do outro nível que desejam invadir esse lado.— Marie deu de ombros.— Não me culpe por andar prevenida caso o pior aconteça.——

— Não...— A prisioneira ficou confusa por um momento pela resposta nada delicada da empregada, fugindo totalmente daquela imagem que havia construído para ela.— Apenas pensei que você não fazia parte disso.—

— Eu sou um demonio, querida, e se estou no inferno é por merecer estar aqui.— Marie sorriu.— Não deixe que a aparencia das pessoas a engane, isso é um erro profundo de se cometer aqui.—

— Mas...— A prisioneira franziu seu cenho por um momento.

Se todas as pessoas que estavam aqui cometeram crimes terriveis, como ela poderia confiar em alguém? Se enganar com a aparencia delas parecia a melhor opção para ter um convivio bom. E, aparentemente, Maximus era o único que não fez nada de errado para estar no inferno, mas comparar a bondade dele com as das pessoas que estavam aqui estava fora até mesmo de cogitação.

A prisioneira tinha certeza de que ele era pior que muitos que viviam no tão temido nível 2. O arcanjo apenas fazia um bom trabalho em não demonstrar suas emoções e isso o fez um pouco confiável, mas ela sabia que estaria caminhando no escuro se decidisse que a única pessoa confiável naquele lugar era o anjo loiro. E se não podia se enganar com a aparencia das outras pessoas... Em quem ela confiaria?

— Venha, me ajude a recolher essas laranjas para irmos embora.— Marie voltou a falar, caminhando para perto da pedra que a prisioneira estava sentada para pegar sua adaga e colocar em baixo do manto dentro do cesto.

Suspirando e ignorando tudo o que havia acontecido, ela saltou de sua pedra e evitou fazer movimentos bruscos para que sua trança não desmanchasse em quanto ajudava a empregada recolher as frutas que havia derrubado. Não desejando que perdesse nenhuma florzinha que estava enroscada em seu cabelo, pois havia gostada do trabalho que fez.

Depois de recolherem as ultimas frutas que fugiram do cesto, elas desistiram de tentar pegar outras daquelas árvores e começaram a fazer o caminho que as levariam de volta para o castelo. De volta para a prissão que a prisioneira vivia.

Elas chegaram no castelo pouco tempo depois, aquele campo que era cheio de árvores de laranjeiras não ficava longe, elas apenas tiveram que atravessar aqueles muros verdes e naturais para chegarem ao destino desejado. A melhor parte de tudo isso, foi que a prisioneira não teve que caminhar muito de baixo daquele sol que estava a deixando com um leve calor.

Além do mais, ela não...

— Vamos, não o recrutei como meu saco de pancadas oficial para ficar no chão.— Era a voz de Maximus em um tom totalmente divertido. Um tom que ela nunca havia ouvido. A prisioneira esqueceu de tudo que estava fazendo e pensando para que pudesse procurar pelo anjo loiro, que não estava muito longe dela pelo simples fato de poder ouvir sua voz.

A prisioneira virou seu corpo até seus olhos encontrarem Maximus e Patrick do outro lado da fonte que elas estavam atravessando para chegar nas portas do castelos, ambos seguravam espadas grandes e provavelmente pesadas. O anjo loiro estava em pé diante de seu tenente, fincando a ponta de sua espada no gramado verde para se abaixar e encontrar os olhos de Patrick em quanto ele resmungava.

— Você esta brincando comigo?!— O tenente disse com indignação.—Você acabou de me dar uma surra!—

As asas brancas de Maximus se estenderam em suas costas com um estalo quando o anjo percebeu que suas penas estavam varrendo o chão, sua expressão era tão cheia de ironia ao ver que seu soldado estava todo sujo de sangue e terra, em quanto ele estava completamente limpo, que a prisioneira não pode acreditar que estava vendo tanta emoção em seu rosto.

— Você sobreviverá, Patrick.— O anjo arrumou sua postura e não fechou suas asas quando usou sua espada como apoio para fazer isso. A prisioneira pode ver de longe o quão grande era as asas do arcanjo, assim como Maximus era.— Agora, pare de drama.—

Patrick sorriu para Maximus, seus olhos de cores diferentes mostraram o quanto ele e o arcanjo do inferno eram próximos. E esse tratamento que Maximus estava dando ao seu tenente, apenas fazia sentindo quando ele chamou o arcanjo de apenas Max. A prisioneira ficou chocada ao ver que o anjo loiro era capaz de ter amizades e ficou ainda mais impressionada em ver que ele tratava bem seus amigos. Tirando a parte em que Patrick aparentemente havia levado uma bela de uma surra por causa do sangue que sujava seu corpo, claro.

O tenente pegou sua espada que estava caída no chão e depois de se levantar, seus olhos encontraram os da prisioneira por um breve momento antes dele olhá-lo para Maximus novamente, não levantando sua espada como o anjo havia pedido.

— Sua humana está olhando para nós.— Ele disse com um sorriso sarcastico crescendo em seu rosto de principe.— Talvez eu permita que me de um soco para impressioná-la.—

Maximus ignorou seu amigo, fechando suas asas no mesmo instante que se virou em direção da prisioneira para que não batesse em Patrick. Os olhos azuis do anjo encontraram os dela por um breve momento, mas logo em seguida, eles viajaram por todo o seu cabelo.

Os lábios do arcanjo se entreabriram como se fosse dizer algo para seu amigo ao seu lado, que também a observava. Na verdade, ele observava mais a reação do anjo do que qualquer outra coisa que acontecia ao seu redor. Maximus não disse nenhuma palavra ou se moveu, apenas a observou em seu silencio.

A prisioneira abaixou seus olhos, não sendo mais capaz de ficar nessa guerra de prender seu olhar com o de Maximus. Afinal, o olhar do anjo era muito mais comunicativo do que quando ele usava palavras.

— Ela não é minha humana.— Maximus disse a Patrick, desviando seus olhos dela também para encontrar o olhar de seu tenente.

— É claro, imperatore.— Respondeu ele com ironia, fazendo aquela palavra que devia impor respeito parecer uma piada.

— Fique com isso.— Maximus entregou sua espada a Patrick após puxá-la do chão.— O treino está acabado.—

— Sério?— Um sorriso verdadeiro e aliviado surgiu no rosto de Patrick, em quanto ele se virava na direção da prisioneira para formar um coração com suas mãos e movimentar seus lábios até que as palavras “eu te amo” fossem liberadas.

Ela não podia compreender o por que de ter sido responsavel do fim de seu treino com Maximus, não até ver que o anjo estava caminhando na direção dela.

— Tchau, nire maitea.— Marie falou ao seu lado, capturando os olhos da prisioneira após falar e sorrindo sugetivamente em quanto começava a andar, fazendo o mesmo que Patrick.

— O que?— Por que todos estavam indo embora?! — Onde está indo?—

— Ordens.— Ela apontou para sua cabeça, segurando o cesto cheio de laranjas contra seu corpo para entrar no castelo.

A prisioneira se virou para o anjo quando viu que não tinha mais nenhuma opção, Marie e Patrick já estavam longe dela naquele momento e nenhum dos dois poderia salvá-la de ter que enfrentar Maximus sozinha. Novamente.

A prisioneira desejava mais que tudo ajudar o anjo com seus problemas, não deixar ele se sentir perturbado pela presença dela em sua casa, mas depois da manhã que eles tiveram juntos, ela precisava de tempo para se recuperar...

Ela não entendia por que estava ficando desesperada em apenas pensar que iria conversar com o anjo loiro. Essa sensação não se encaixava mais na palavra medo, pois por mais estranho que fosse, a prisioneira não temia ficar sozinha com Maximus. Definitivamente tinha medo das coisas que ele podia fazer e não desejava de maneira vê-lo bravo ou nervoso perto dela, mas fora isso... Ela não o temia mais. Então não sabia explicar o por que de estar nervosa diante de sua presença.

O anjo se colocou em frente dela, tampando qualquer visão que ela poderia ter do que havia atrás dele por causa das suas asas já fechadas que continuavam grandes. Além do mais, Maximus em si já era maior que ela, o que já dificultava tentar desviar seus olhos para outro lugar que não fosse ele.

— Meu irmão possuí novidades sobre o seu caso.— O anjo falou calmamente, em quanto ela ficava frenética com a noticia.— Mas ele pede que leve-a para sua dimensão.—

— Por que?—

— Um anjo foi capturado com pesquisas sobre trazer humanos para o nosso mundo e nelas dizia que eles devem se infiltrar na dimensão de vocês para “sequestrá-los”.— Maximus parecia com certas duvidas sobre o que estava falando, não tendo certeza das informações que possuía, ele apenas a deixou confusa também.— Em algum momento dessa transição os humanos vêem o rostos do seu sequestrador.—

— Eu não me lembro de nada, Maximus.— A prisioneira decidiu lembrá-lo desse pequeno fato.

— O anjo confessou que fez várias tentativas que não tiveram sucesso, a possibiliade de você fazer parte dessas tentativas e ele não saber são grandes.— Maximus disse.— Ele lembrará de seu rosto.—

— E quem garante que ele admitira isso?—

— O anjo falará tudo que sabe, não se preocupe.— Falou o arcanjo de uma maneira que ela não gostou.— Sua alma está escalada para vir ao inferno, qualquer pessoa com esse destino se torna honesto.—

— Tudo bem.— Ela concordou, não tendo certeza se estava preparada para ver esse anjo.— Não me importo de ir para outra dimensão.—

— Ai está o problema,— Maximus disse com um brilho de divertimento surgindo em seus olhos.— A dimensão é de Meridius.—

— Oh...— Agora ela estava se importando com o fato de ter que ir para outra dimensão. E muito. Estando sob o teto de Meridius, a prisioneira provavelmente seria morta. Mas era sobre ela que eles estavam tratando, e de como a levariam para casa, então sua teoria de ignorar o medo dominou seu corpo de um modo que a fez querer enfrentar aquilo.— Você estará comigo?— Perguntou quase em um sussurro, se sentindo covarde por acreditar que apenas ficaria bem se o anjo loiro estivesse lá.

— Eu estarei ao seu lado a cada minuto que passe.— Maximus disse com um sorriso simpático crescendo em seus lábios. Não era a resposta que ela precisava, mas foi o suficiente para esquentar todo o seu corpo e fazer seu coração palpitar rapidamente. Ela tinha uma leve noção de que suas bochechas estavam avermelhadas, mas desviar seus olhos do rosto anjo em quanto sorria era quase impossivel.

Maximus levantou uma de suas mãos até o cabelo da pressioneira, pegando uma das flores que estavam o efeitando para girá-la em seus dedos. Aqueles olhos azuis de um felino ficaram fixos naquela pequena margarida. A prisioneira foi pega de surpresa com esse ato, mas não recuou quando provavelmente teria.

— No passado as mulheres usavam a natureza como parte de suas belezas para se efeitarem,— Ele disse, em quanto segurava aquela flor branca entre seus corpos.— Era algo muito bonito.—

— Isso é um elogio, Maximus?— A prisioneira arqueou sua sobrancelha, tentando deixá-la perfeitamente arqueada da mesma maneira que o anjo fazia.

— Sim.— O arcanjo do inferno disse sem nenhuma hesitação, colocando a margarida de volta em seu cabelo para depois encontrar seus olhos tão azuis quanto os dele.— E espero que o aceite.—

— Não irei apenas aceitá-lo como lembrarei para sempre.— A prisioneira disse com um grande esforço para não gaguejar por causa do efeito que Maximus estava tendo sobre seu corpo. Ela também tentou sorrir para o arcanjo, mas não conseguiu.— Obrigada.——

Para sempre...— Ele repetiu o final de sua frase.— Você não acha que essas palavras são muito fortes para uma mortal?—

— Meu para sempre dura até quando eu morrer.— A prisioneira falou o obvio.— A questão é se você irá se lembrar de uma humana com toda essa imortalidade.—

— Humanos normais são facilmente esquecidos até mesmo por seus parentes, mas uma humana que acorda no inferno para me causar dor de cabeça não é.— Maximus sorriu.— Eu me lembro de cada detalhe que aconteceu em minha vida e você nunca será esquecida.—

Ela poderia ter facilmente cambaleado naquele momento, pois um homem tão lindo como Maximus dizer que jamais a esqueceria era algo muito perturbador para sua mente prejudicada.— Quantos anos você tem, Maximus?— Decidiu perguntar quando não tinha nada o que falar para fugir do assunto e tomar redeas de seu corpo.

— Eu imagino que não seja educado perguntar a idade de alguém.—

— Ah, qual é!— A prisioneira disse com ironia e usou sua mão para empurrar o braço dele já que seu ombro estava muito mais longe.— Eu diria minha idade se soubesse.—

— Mas não sabe.— Ele apontou.— E a probabilidade de uma mulher mentir sua idade é muito maior do que a sinceridade.—

— Eu não mentiria para você.— Ela murmurio, tentando fazer sua melhor cara de cachorrinho abandonado.

— Minha idade é muito grande para uma mente tão pequena.— O anjo deu um passo para frente, quebrando o espaço entre eles para enfrentar os olhos da prisioneira.— Apenas tente calcular o fato de que tenho muitos séculos de vida e talvez direi o quanto exatamente é algum dia.—

— Você deveria saber que eu tenho uma grande capacidade de aceitar tudo o que acontece ao meu redor.— Ela disse confiante, mas intrigada sobre a resposta do anjo.— Bem, se prepare para revelar sua idade em breve, arcanjo.—

— Veremos, humana.— Maximus falou a palavra humana usando o mesmo tom que ela usou para dizer “arcanjo”, não naquele mesmo tom de que sempre usava como se ser parte da humanidade fosse algo muito errado.

A prisioneira abriu sua boca para dizer algo, mas acabou fechando sem dizer nenhuma palavra. Ela desistiu de qualquer coisa quando percebeu de que estava começando a aceitar Maximus como um amigo, algo que não estava esperando tão cedo. Fazia apenas nove dias que ela estava no inferno, mas na semana que ficou sem falar com o anjo, ele fez grande falta a prisioneira.

Bom, ela pensou, pelo menos Maximus estava conseguindo o que realmente desejava.

Sua confiança.


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