A Copa do Mundo dos Artistas escrita por Phoenix M Marques W MWU 27


Capítulo 14
Capítulo 14 - A campanha do Noroeste, parte 3




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            Hora do pênalti. A cobradora do Inter se preparou. Correu em direção à bola, “com fé no pé” como diria Luís Roberto, partiu como se já tivesse feito aquilo centenas de vezes, e...

            Silêncio, por uma fração de segundo.

            Eis que a goleira do Noroeste havia conseguido espalmar. A bola saiu para escanteio...

            Luiza e as garotas esqueceram-se da pressão. Eufóricas, foram abraçar a goleira. O silêncio vinha da torcida do Inter, embora um ou outro torcedor lançasse comentários indignados à atacante que desperdiçara o pênalti.

            Não importava mais o que ia acontecer. Parecia que já haviam vencido a peleja. Sentiam como se tivessem vencido um campeonato. Algumas jogadoras do Inter, Luiza pode perceber pelo canto do olho, já pareciam abatidas com aquele pênalti perdido, somado a tantas outras oportunidades já perdidas. Seria um sinal?

            De todo modo, o jogo seguiu. A princípio, parecia que o ritmo seria o mesmo. Mas, após mais algumas chances perdidas, o abatimento já era visível em muitas jogadoras do Colorado. Enquanto isso, o Noroeste crescia em campo. As garotas de Bauru se arriscavam mais no ataque. Produziam uma jogada ofensiva aqui, outra ali. Assustavam as adversárias e faziam a torcida local estremecer. Agora, o jogo era outro. Luiza via suas colegas jogarem como se estivessem num treino qualquer, ou em seu campo no Alfredo de Castilho. Jogavam agora com toda a tranquilidade possível.

            No fundo ela já estava esgotada, mas precisava continuar a se esforçar em prol da equipe. O técnico já havia começado a fazer alterações, e ela não era uma das jogadoras previstas para sair.

            Aí veio um novo lance capital. Poderia ter sido um lance qualquer, um que não fosse resultar em nada.

            34 minutos do segundo tempo. Falta cobrada na lateral de campo, a favor do Noroeste, e a bola seria levantada na área. Luiza ficou um pouco atrás, na entrada da área, despretensiosa. Achava que seria mais um lance corriqueiro.

            A meio-campista de armação chutou em direção à área. Luiza se adiantou um pouco, seguindo o que sempre fazia nos treinamentos; mas, dessa vez, a jogada funcionou um pouco bem demais. Ela, que estava um pouco recuada, viu que a bola se dirigia para ela. A bola veio rapidamente, o que surpreendeu a garota, que agiu no impulso. Esperando que conseguisse pelo menos algo favorável ao time, talvez um escanteio, saltou e tocou de cabeça. Cabeceou correto, mas com os olhos fechados, e não viu, de início, a direção que a bola tomou após o contato.

            Então, vários berros eclodiram no campo de audição de Luiza ao mesmo tempo. Ela abriu os olhos. A bola jazia, no fundo das redes, a goleira adversária superada, jogada ao chão após ter tentado a defesa. Suas colegas de time correram para ela, abraçando pela segunda vez naquela partida uma jogadora que havia feito o diferencial em prol da equipe.

            Ela própria mal podia acreditar na própria sorte. Seu impulso em realizar o mesmo movimento que havia feito despretensiosamente diversas vezes em treinamentos, agora, estava dando a vantagem ao time num momento crucial da partida.

            Elas retornaram ao seu campo de defesa para o reinício da partida. Mal podiam acreditar. Venciam, em pleno campo do adversário.

            O Inter tentou ir atrás do prejuízo. Luiza sabia que, agora, era tudo ou nada. Teriam que defender como se sua vida dependesse disso. Mesmo que levassem um gol, a vaga ainda seria delas pela regra dos gols marcados fora de casa.

            As gaúchas se lançaram ao ataque desesperadamente. O técnico do Noroeste, vendo que Luiza já estava nas últimas, tirou-a de campo, colocando mais uma zagueira em seu lugar. Fechar o time. Duas alterações já feitas, para os pouco mais de dez minutos restantes de partida.

            O Noroeste continuou se segurando, como havia feito a partida inteira. Não dava espaço para as jogadoras do Internacional respirar e planejar o que fazer para alcançar a meta. O técnico de Bauru fez a terceira substituição. Já passava dos 40 minutos. O time se fechou mais ainda.

            Do banco, Luiza viu que as Coloradas haviam sentido o baque. Um pênalti perdido e um gol sofrido quase nos momentos finais: aquilo havia sido demais. O ânimo e a disposição faltavam a elas, mas sobravam ao Noroeste, reforçado pelas três reservas que entraram na segunda etapa. O desespero era visível no semblante das gaúchas. Até a torcida, que havia estado inquieta após o gol sofrido, agora silenciava. Ninguém podia acreditar no que estavam vendo. Era sabido que o investimento do Inter na equipe de artistas havia sido altíssimo, e agora, parecia que aquele investimento estava indo por água abaixo.

            Seis minutos de acréscimo foram decretados pelo árbitro, e pareceram se arrastar pela eternidade. Luiza viu que muitas de suas colegas ainda em campo já pareciam esgotadas, e temeu que elas não conseguissem mais segurar as adversárias. Estavam tão perto de uma classificação heroica...

            O Noroeste já parecia sem forças àquela altura, mas se manteve firme para manter a tênue vantagem. Enfim, o árbitro apitou pela última vez.

            As jogadoras do banco saíram correndo abraçar as companheiras que haviam terminado a partida em campo. Algumas desabaram assim que ouviram o apito. Exaustas, mas extremamente felizes; haviam feito o que ninguém esperava delas.

            Enquanto as jogadoras do Inter saíam apressadas e em silêncio, e a torcida Colorada se dividia, com uns aplaudindo o esforço do Noroeste e outros vaiando as jogadoras gaúchas, Luiza se viu abraçada diversas vezes, e o técnico lhe deu tapinhas nas costas. As colegas de time a parabenizavam, mesmo que Luiza tivesse certeza de que aquilo havia sido um esforço coletivo. Parecia o começo de uma temporada espetacular para o modesto time do interior paulista.


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Notas finais do capítulo

Revisão: 24.01.2024