A Eterna Segunda Vida de Alex Tanner escrita por Laís Bohrer


Capítulo 8
Glass on Floor


Notas iniciais do capítulo

Lay*: Eu escrevi esse capítulo duas vezes porque a primeira eu meio que... Não ficou muito legal e tinha algumas coisas que não encaixavam até que literalmente a Alex se viu em um beco sem saída. E por fim com um pacote de m&m's eu consegui. Espero que gostem, boa leitura.

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"Às vezes a vida vai-te golpear a cabeça com um tijolo. Não percas a fé"
— Steve Jobs



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O Vidro no Chão

Quando você chega a uma escola nova, você sempre é alguém. Normalmente as pessoas vão te tratar como um personagem diferente na história errada e você pode até acreditar que é isso mesmo. Eu estou acreditando que é isso mesmo. Meu primeiro e real dia de aula foi assim, mas eu me enturmei rapidamente, porém agora é diferente porque eu realmente sou um personagem incomum tanto para aqueles ao meu redor quanto para mim.

Durante o almoço, eu me sentei com Claire, Leon e Charlie. Segundo Claire eles sempre sentavam na mesma mesa. Charlie tentava fazer eu não me sentir estranha de fronte a aquilo tudo – eu agradecia, mas não funcionava. Por quê? Bom, quando se tem uma audição sobre-humana torna mais fácil descobrir o que as pessoas pensam de você e aquilo que pensavam da Alex Foster não era muito fácil de se ignorar.

Estranha, como todos eles...

– O Sr. Foster deve ter a feito passar por algum ritual...

– Ouviu? Ela era da família Tanner...

– Deve ser mais uma problemática, depois do que aconteceu com os Tanner...

Eu ouvia tudo, desde aquelas conversas até as coisas que eu nem sabia que tinha som como a circulação do sangue pelas veias dos mesmos.

– Ei – Charlie tocou meu braço – Você está bem?

Eu demorei um pouco a responder.

– Só com um pouco de sede – admiti.

Charlie sorriu e ergueu para mim uma latinha de Pepsi, sem hesitar, contornei a latinha em minhas mãos, estava quente como o líquido dentro.

– Beba devagar, certo? – disse ele – Precisamos manter as aparências.

Eu assenti devagar e fiz o que ele disse. O aroma doce invadiu minhas narinas e eu bebi até a última gota.

– Obrigada – eu disse.

Ele assentiu.

– Sem problemas.

– Então – Claire me deu um soco de leve, sorrindo – Como foi à primeira aula?

Troquei olhares com Leon, ele era tão incrivelmente semelhante ao Liam que por um momento eu me perguntei por que ele não estava jogando cadeiras nas pessoas.

– Legal – eu disse indiferente – o Sr. Mason continua o mesmo velho irritante de sempre, mas foi legal.

– O Sr. Varner não fez você se apresentar? – perguntou Charlie – Cara, é constrangedor quando ele faz isso com as pessoas, eu tenho pena de cada coitado que tem que se levantar e dizer...

– Na verdade foi o Mason que fez isso com a gente – eu disse revirando os olhos.

– O que você disse? – perguntou Claire.

Leon sorriu.

– Disse que a biografia dela não estava completa.

Charlie quase riu sangue pelo nariz – o que seria bizarro, bizarro... BIZARRO!

– Você não fez isso – ele disse.

Sorri em resposta.

Coitadinha, presa entre um bando de loucos...

– Soube que os irmãos Tanner fugiram de casa, um a um...

– Dois deles não estavam mortos?

– Alex – novamente, a voz de Charlie me trouxe de volta.

Meu olhar caiu na latinha de Pepsi que estava tremulando em cima da mesa. Era isso o que eu podia fazer, algo como uma força invisível atingir as coisas ou segurá-las, como eu havia feito com a cadeira de Liam.

– Apenas ignore – ele murmurou.

Mas eu olhava fixamente para a latinha de Pepsi, como se fosse uma bomba nuclear prestes a explodir em segundos.

– Vou dar uma volta – eu disse me levantando e apressando os passos em direção a saída daquele lugar, qualquer lugar era melhor do que ali, entre todas aquelas pessoas.

Os corredores não estavam vazios, mas eu passei despercebida. Ninguém falou comigo, eu não falei com ninguém. Tudo o que eu queria era sair dali e ir para algum lugar tão escuro quanto o meu quarto na mansão Foster.

Eu me sentei nas escadas que davam para o próximo andar e deixei-me perder em memórias que hoje pareciam tão distantes que eu tinha medo de falar nelas, tinha medo de que elas evaporassem... Como quando eu tinha cinco anos e colei chiclete no cabelo de Bree – ela ficou uma semana sem falar comigo -, eu sorri com a lembrança e meu sorriso permaneceu ali... Até que eu o vi.

Ele estava bem ali, no fim do corredor, sem expressão nenhuma no rosto.

Eu me levantei e esfreguei os olhos, ele sumiu.

Olhei para os lados me certificando de que não havia ninguém por perto e corri. Em um segundo eu estava parada no mesmo lugar em que ele estivera há alguns segundos antes.

Quando eu o vi estava de fronte para os banheiros do edifício e depois mais longe ainda e mais longe... E mais longe a cada vez que eu me aproximava. Eventualmente eu fui parar em um corredor escuro e sem vida em comparação aos outros e lá estava ele, diante a uma grande janela de vidro fechada.

Lá estava Edgar.

Você vai ficar bem... Ele disse, sua voz parecia estar apenas em minha mente, mas o prédio tremeu com ela.

– Olhe quem está aqui, rapazes... – disse uma voz atrás de mim, eu me virei no mesmo instante.

Havia três deles. Três garotos. Eu já os tinha visto na minha aula de espanhol fazendo piadinhas e cantando garotas... Bom, pelo menos os dois do canto, pois o terceiro garoto parecia indiferente, como se quisesse estar em qualquer lugar menos ali.

O primeiro garoto – o do outro lado – era moreno e tinha um pircing de argola no lábio e o outro tinha o cabelo loiro com um sorriso malicioso no rosto – Receio que ele acredita que é desejável...

Eu me virei para Edgar, mas ele não estava mais ali. Voltei-me para os garotos.

– O que vocês querem? – perguntei.

– Nathan, você pode ficar de vigia – disse o loiro, e aquilo não me pareceu uma pergunta.

– O que você vai fazer, Logan?– perguntou o garoto que parecia indiferente no canto – Nós não deveríamos estar aqui se alguém vier...

– É exatamente por isso que mandamos você ficar de vigia – disse Logan mais alto ainda para o mais novo.

– C-certo – gaguejou ele indo para a escada.

Um leve “Crack!” Soou atrás de mim, mas os garotos não pareceram notar.

– E o que o novo... Mascote dos Foster faz aqui, há essa hora? – perguntou o cara do pircing.

Eu hesitei. É claro que eu não ia responder algo do tipo: Ah, só brincando de pega-pega com o fantasma do meu irmão mais velho e você?

Mais um ruído.

– Se afaste – eu disse – Eu não quero machucar ninguém.

O moreno deu uma risada de deboche.

– E se quisermos ser machucados? – perguntou ele.

Eu franzi o cenho.

– Porque você iria querer isso?

– Nada disso, Evan, você ficou com toda a diversão da última vez – disse Logan se aproximando.

Evan bufou.

– Certo, vou ficar de olho, não confio naquele pirralho...

Mas Logan não estava mais ouvindo o que o cara do pircing dizia.

Outro ruído, eu recuei.

– Por favor... – eu disse. – Não me obrigue a fazer isso.

– Os Foster tem uma pequena divida conosco, Alex – disse ele diminuindo a distancia entre nós – Não é nada pessoal com...

Eu não havia planejado aquilo, mas aconteceu. Eu fechei minhas mãos em punhos e o vidro da janela atrás de mim explodiu em mil pedaços voando na direção de Logan, o mesmo se jogou no chão se contorcendo de dor e gritando tantos palavrões que se a minha mãe estivesse ali lavaria a boca dele com lustra móvel e amaciante.

Uma poça de sangue começara a se formar ao redor de Logan. Eu estava dentro de um pequeno circulo que era o único espaço livre dos cacos de vidro. Eu corri para a saída.

Charlie surgiu na minha frente, sem pensar duas vezes eu o abracei e ele retribuiu.

– Me tire daqui – eu pedi – Por favor... Apenas me tire deste lugar.

Eu sabia que ele estava olhando para o corredor cheio de cacos de vidro, mas assentiu e atendeu meu pedido.



– Ele tocou em você? – perguntou Charlie depois que eu lhe contei tudo o que havia acontecido.

Já deveríamos estar distantes da Forks High School, sozinhos em algum lugar da floresta, sentados na terra úmida. A chuva fina caia no meu rosto como se fossem lagrimas.

Neguei com a cabeça.

– Mas isso não importa – eu disse. – Acha que eles já sabem?

– A esse ponto? – perguntou ele – Talvez... Você fez Logan chorar que nem uma garotinha.

Eu virei o meu rosto para ele.

– Isso é bom?

Ele sorriu.

– Bom? – repetiu – Você ganhou o meu respeito garota!

Eu sorri pela primeira vez desde o incidente.

Olhei para o céu, era possível ver pouco das nuvens cinzentas acima de nós graças às folhas escuras dos pinheiros. Ambos estávamos sentados lado a lado na mesma pedra.

– Tem uma coisa que eu ainda não entendo – eu disse cortando o silêncio. – As pessoas me olham estranho, Charlie. Quer dizer... Elas estão me olhando com pena. Os professores ficam dizendo que sentem muito pelos meus pais. Você acha que Xavier tem alguma coisa haver com isso? Ou Claire?

Charlie hesitou ao responder.

– Eu não queria ser eu a te contar isso – disse ele sem olhar para mim, pela primeira vez eu notara a cicatriz em seu rosto, uma linha reta esbranquiçada que descia pela sua bochecha – Alex, os vampiros podem ser bem insensatos quando com sede.

Eu continuei olhando para ele. Charlie suspirou.

– Seus pais estão... – ele hesitou ao dizer a palavra. – Estão...

– Mortos? – eu sugeri.

Ele não respondeu e eu considerei isso como um “sim”.

– Certo – eu falei sem expressar nenhuma emoção – Não sei por que não estou surpresa com isso.

Ele franziu o cenho.

– Não sente nada?

Eu lhe dei um sorriso triste.

– Claro que sinto – falei – Mas é assim que as coisas são não é? O que você esperava? Porque você acha que eu fugi de casa, Charlie?

Charlie olhou para as nuvens novamente sem me dar uma resposta direta.

– Os Volturi os mataram não é? – eu perguntei sem me importar com a resposta.

– Pelo o que apontam as possibilidades, sim – disse ele.

Por quê? – eu me aproximei dele exigindo.

Mas Charlie tinha um olhar distante, claro que naquela época eu não imaginava o que ele poderia estar pensando.

– Pelo mesmo motivo de sempre – ele disse – Sede.

Eu assenti e desviei o olhar.

– Sabe de uma coisa Alex Tanner? – ele disse sorrindo novamente.

– O que?

– Eu sei por que você está tão preocupada – ele disse.

Franzi a testa.

– Porque você fez borrada – ele falou simplesmente se levantando – Mas não deve se preocupar com isso, tudo o que você fez foi se defender. E eu te disse não é, o Clã Foster é um dos mais problemáticos que existe.

Eu ri repetindo o gesto.

– Eu vou me lembrar disso na próxima vez.

Eu não sei Charlie, mas eu podia ouvir o barulho das sirenes perto da Forks High School. Quando eu sinto a mão de Charlie pegar a minha, minha mão perto da dele parecia a mão de uma criança.

– Vamos sair daqui – ele disse sorrindo.

Eu forcei um sorriso e assenti.

E no momento não estávamos mais lá, mas o sentimento de vazio permaneceu dentro de mim, eu odiava mentir para Charlie, mas não queria nenhum aconselhamento. Eu me lembrei de como as coisas costumavam ser. De como eu sorria mais antigamente. De como minha mãe sorria mais. De como meu pai sorria mais. Dos olhares de onça numerados de Bree. De todas as pegadinhas que eu já havia aprontado com Edgar... E aquela foi à última vez que eu me permiti lembrar a vida que eu não poderia ter de volta.

Eu mal tinha noção de onde estava indo, mas estava ciente da mão de Charlie segurando a minha. E de como eu me sentia naquele instante... Sentia-me como se estivesse caindo em pequenos pedaços, como aquele vidro no chão.


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Notas finais do capítulo

Edgar estava realmente lá? Eu não sei... Olhando do ponto de vista de uma mente que está perdendo sua sanidade é difícil saber. E vou deixar uma coisa clara desde já, quando perguntei a Alex sobre seus sentimentos vi que eles estavam completamente bagunçados, um quebra-cabeça de mi peças com algumas delas faltando. Se ela gosta de Charlie? Nem isso eu recebi uma resposta direta, mas é provável que ela goste dele - pelo menos eu acredito nisso - só ela que não sabe disso ainda. Se Charlie sabe se gosta dela?
Hum...
Quer saber? Os vampiros são doidos, mas de uma coisa eu tenho certeza, quando Alex conheceu os Foster pela primeira vez achou que eles eram loucos, completamente insanos, mas ali entre eles ela acho um lugar.
"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música." disse um cara ai que eu não sei escrever o nome.
Espero que tenham gostado, pois acontecimentos nada gostáveis estão por vir.
Prepare-se Alex... Prepare-se.



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