Avatar: A Lenda de Zara - Livro 2: Terra escrita por Evangeline


Capítulo 19
Cap 18: Um Ombro Amigo




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No dia seguinte, Zara despediu-se emotivamente de seu Mestre. Depois de um ano tendo apenas a Roen como amigo, despedir-se não era fácil. Ele também havia se apegado bastante a sua jovem pupila. Sozen parou diante de Roen como se o encarasse e fez uma reverência elegante para o homem, que a fitava cada vez mais encanado pela beleza do animal.

Airon ainda achava Sozen muito estranha, e estranhava ainda mais o nome que Zara dera ao animal. Decidiram que iriam voando em Aeore – a ave de Airon – e quando ele se cansasse iriam por água, com Zara dobrando.

Partiram ao amanhecer e conseguiram chegar ao Polo Norte no final da tarde. Por fim Zara sequer precisou dobrar água, Aeore era forte o suficiente para tal viajem. O problema começou quando chegaram à Tribo da Água do Norte.

Ao chegar no palácio, Yue não queria permitir que um Tenente da Nação do Fogo estivesse entre eles, muito menos aquele malandro que tentou sequestrar Tuí.

– Yue, quando você encontrar outro dobrador de fogo tão habilidoso quanto Airon, eu o mando embora. – Declarou Zara, e a Princesa deu-se por vencida. Os dobradores de fogo estavam extintos, ainda mais um tão bom quanto Airon.

O segundo problema veio pela boca de sua mãe.

– Filha, hoje a tarde aconteceu algo terrível... – Explicou a mãe com os olhos marejando. Zara arregalou os olhos e olhou para Airon, que estivera o tempo inteiro andando ao seu lado desde que chegaram. – Você precisa encontrar Gumo. – Completou por fim.

Não demorou sequer dois segundos para que a menina saísse correndo em busca do amigo. Perguntava para todos os lados onde era a casa de Gumo, onde ele morava, mas ninguém sabia. Até que ela lembrou que o menino disse que iria viver no orfanato.

Zara já estava desesperada quando encontrou o orfanato. Entrou na pequena construção com tamanha pressa que mal Airon conseguia a acompanhar. Quando estava dentro do local, as senhoras que cuidavam do orfanato tinham um olhar deprimido.

– Gumo. – Disse Zara, revelando o que procurava.

Uma das senhoras apontou para uma porta nos fundos, para onde Zara correu sem pensar duas vezes. Tratava-se de uma espécie de quintal com um lago congelado no centro. Havia uma figura alta em pé diante do lago.

Airon preferiu ficar dentro do orfanato naquele momento, deixou Zara a sós com Gumo. A menina pisou na neve dos degraus da porta, certamente chamando a atenção do amigo.

– Gumo. – Sussurrou Zara. O menino virou-se para ela com o olhar no chão e tal expressão de sofrimento que Zara jamais esqueceria. As lágrimas lhe desciam pelo rosto e quando o olhar dele encontrou os olhos de Zara, o menino caiu ajoelhado no chão. Seu corpo inteiro tremia, as mãos cobriam o rosto.

Zara correu até o rapaz e o abraçou como pôde. Ele soluçava num choro sem fim, fazendo com que Zara chorasse junto. O menino a abraçou com força, buscando no abraço um conforto que jamais teria sem sua pequena Lyn.

Gumo gemia de dor, chegava a gritar de revolta. Ela nunca fez mal a ninguém. Pensava o menino no meio de um turbilhão de pensamentos confusos e tristes. Zara o apertava como podia, o acolhia.

Ambos ajoelhados, Gumo quase deitado no abraço de Zara. A menina alisava seus cabelos ondulados e abraçava seu corpo o máximo que podia.

– Por quê? – Perguntou ele num gemido de dor que esfaqueava o coração da menina. – Ela nunca fez mal a ninguém Zara! Nunca! – Começava a gritar em meio aos soluços.

– Sei que não. – Disse a menina, sentindo-se mais impotente que nunca.

– Então por que ela, Zara? Por que a minha menininha? – Perguntava mais para ele mesmo do que para Zara. – Por que o mundo sempre me tira o que mais amo? Por que? O que foi que eu fiz? – Chorava molhando a roupa da menina sem cessar.

– Gumo. – A menina segurou nos ombros do amigo, afastando-o para olhar em seus olhos azuis. – A vida só desafia quem tem força para ser desafiado. Ela só machuca quem aguenta ser machucado. – Disse Zara. – Eu estou aqui, Airon voltou. Vamos continuar juntos. – Tentava consolá-lo. – E Lyn... – O menino fez uma careta de dor ao ouvir o nome de sua irmãzinha. – Lyn sempre vai estar aqui. – Disse colocando a mão no peito do rapaz. – Ela sempre vai estar viva aqui, e lá. – Falou apontando para o céu.

O menino fungou mais algumas vezes antes de cair em prantos novamente. Ele sabia que ela tinha razão, sabia que as coisas poderiam melhorar. Mas era injustiça para o pobre Gumo, era como uma maldição.

– Zara. – Chamou o menino num gemido triste e a menina afastou-se dele, fitando-o em resposta. – Você não me deixar também, certo? – Perguntou passando a mão trêmula no rosto dela. A menina estremeceu com a pergunta.

– Gumo, eu vou cuidar bem de você, tá? – Falou querendo mudar o tom da conversa. – De você de Airon. Parecem duas princesas. – Falou rindo um pouco, um riso triste. – Sempre precisando de proteção. – Completou. O menino havia entendido o recado. Amigos.

– O que houve com seu cabelo? – Perguntou depois de algum tempo, sempre com a voz chorosa.

– É uma longa história... Vamos, vamos para o palácio. – Falou a menina ajudando-o a se levantar. Entraram no orfanato de volta, onde Airon esperava sentado num canto, excluído como sempre. Quando viu Gumo, se levantou apressado e foi para perto do garoto.

Eles se entreolharam um pouco até que Airon abraçou o colega que não via há um ano.

– Sinto muito, cara. – Sussurrou. Ambos deram algumas batidinhas nas costas um do outro e se soltaram. Airon nunca pensou que veria o colega tão triste, e Gumo realmente estava péssimo.

Manteve o mesmo corte de cabelo, usava o mesmo tipo de roupa. Mas estava mais alto e tinha adquirido um corpo um pouco maior. O rosto mais quadrado, os olhos menores. Gumo havia mudado mais do que Airon.

Chegaram ao castelo onde Yue deu seus pêsames a Gumo, e o menino logo trancou-se no quarto que lhe foi dado. Zara sabia que demoraria um pouco para o menino recuperar-se.

Já era tarde, afinal, assim que chegara de viagem estada escurecendo, e o tempo de falar com sua mãe, encontrar Gumo e leva-lo ao palácio havia sido demorado demais.

Zara foi ao Jardim de Gelo, onde costumava treinar sua dobra d’água. Parecia fazer tanto tempo... Mas havia sido há apenas um ano. Ajoelhou-se diante do lago e ficou observando as águas escuras iluminadas pela Lua. Iria visitar Tuí e La, mas não agora. Zara sentia que ainda tinha muito a aprender com a água.

Decidiu deixar as perguntas que faria a Airon de lado. Não queria se estressar e nem afastar o menino de si. Precisava dele para aprender dobra de fogo. E só isso. Repetia para si mesma.

Mas se perguntava se Airon a levaria para a Nação do Fogo para aprender a dobra de fogo. Rezava para que não, era perigoso. Alguém estava dando um fim em dobradores de fogo, e Zara não entendia ainda como esse alguém fazia isso.

Pensando melhor, talvez eu deva ir para a Nação do Fogo. Conluiu.

– Zara? – Chamou Airon dois metros atrás da menina. Ela virou o tronco para olhá-lo.

– Senta aí. – Ofereceu gestuando com a cabeça para o lugar ao seu lado esquerdo. O Rapaz sentou-se confortavelmente – tanto quanto possível- no gelo ao lado de Zara. - Então? – Perguntou.

– Bem, achei que você iria querer me perguntar algo. – Falou escondendo a vergonha em palavras frias. Zara ignorava aquele personagem rígido que Airon adotara, e ignorando a frieza do menino, ela suspirou profundamente.

– Eu quero perguntar muitas coisas para muitas pessoas, Airon. – Falou compreensivamente. – A maioria das perguntas nem sei a quem fazer. – Sussurrou falando consigo mesma. – Mas ter perguntas a fazer não significa que seja prudente fazê-las. – Concluiu um tanto surpresa consigo mesma por estar voltando ao normal tão rápido. Estar em seu lar a trazia de volta ao juízo perfeito.

O menino pensou um pouco nas palavras dela.

– Então não quer saber porque eu fui embora? – Perguntou ainda confuso.

– Quero. Mas isso não significa que você vai me dizer, certo? – Perguntou Zara em resposta.

Ela estava completamente certa. Se perguntasse a Airon o motivo de sua partida, ele esconderia aquele segredo mais uma vez.

– Certo. – Confirmou. – Mas ainda não entendo. – Concluiu consigo mesmo.

– Airon, se você não me contou há um ano atrás, porque agora me contaria? – Perguntou impaciente a menina. – É assim que eu penso.

– Se importam? – Perguntou Gumo aproximando-se dos dois.

– De jeito nenhum. – Falou a menina com um sorriso simpático ao amigo, que sentou-se ao lado direito de Zara. Gumo suspirou ao sentar-se.

– Então, qual é o plano? – Perguntou Gumo tentando parece animado.

– Vou para a Nação do Fogo aprender dobra de fogo e observar melhor os desaparecimentos. – Informou Zara.

– O quê? – Perguntou Airon irritado. – Não, nada de ir à Nação do Fogo, eu posso te ensinar aqui mesmo. – Falou cruzando os braços, irritado.

– Airon, eu preciso entender como os dobradores de fogo estão sumindo, ou você tá afim de ser o último dobrador de fogo do mundo? – Perguntou Zara impaciente, quando as ideias começaram a fazer sentido na cabeça dela. Para quê alguém sumiria com todos os dobradores de fogo? Para ser o único. Respondeu mentalmente, logo ficando horrorizada com a resposta.

Não, Airon não faria algo assim.


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Notas finais do capítulo

Chegando ao fim de mais um livro, vejo vocês no livro do fogo! Ainda estou devendo um desenho da Sozen (é fêmea, ein?).