A Volta de Bianca di Angelo

capítulo IV

Percy dormiu como uma pedra depois da noite agitada. Teve um sonho estranho, no qual Nico di Angelo conversava com a irmã, Bianca. Os dois pareciam felizes, rindo à sombra das árvores. O filho de Hades aparentava ainda ter doze anos, antes de Bianca di Angelo morrer. Ela afagava os cabelos dele carinhosamente, e dizia:

—Sei como se sente, irmão. Sei como é difícil. Desculpe-me por tudo. Acho que sabe a razão de eu não ter respondido você. Às vezes, é necessário passar por provações; eu queria que você seguisse em frente, mas eu sempre estive com você. Entenda Nico: nunca te abandonei. Fiz de tudo para que existisse mais uma chance de vigiar seus passos, porque te amo muito. Porque prometi a nossa mãe que sempre cuidaria de você. Agora mesmo, estou mais perto do que você imagina. Nós sempre estaremos conectados.

(…)

Percy acordou intrigado. Esfregou os olhos sonolentos. Tomou um banho de água fria, aquilo sempre o revigorava. Sentia que seus pensamentos fluiam melhor assim. Naturalmente, funcionava com qualquer pessoa. Mas com um filho de Poseidon, funcionava -melhor-. Vestiu suas roupas e foi tomar café da manhã.

Ninfas serviam o café. Torradas, queijo, geléia e bolachas apareciam istantaneamente no seu prato. Ele estendeu seu copo e pediu suco de laranja. O copo se encheu na mesma hora. Estava tão acostumado àquilo que nem se surpreendia mais com as coisas encantadas do acampamento. Mas ainda assim era muito legal.

Após o café da manhã, Percy foi treinar um pouco com a espada. Gostava de se distrair assim. Poderia apenas arrumar um jogo de tabuleiro e ficar horas tentando entender como funciona, mas ele passou a vida treinando. Não importava se fazia alguns anos que não tinha uma batalha de verdade, aquilo fazia parte dele. E de vez em quando aconteciam surpresas, como campistas sendo seguidas por Empoisai sanguinárias. Percy pensava que era bom estar em forma. Decepou a cabeça de alguns espantalhos. Ele nem tinha notado a presença de Annabeth até ela falar:

—Nada mau, Cabeça de Alga.

Ele riu e sentou do lado dela:

—Normalmente não tenho platéia. O que te trouxe ao meu cemitério de espantalhos?

—Estava te procurando. Sabe as campistas novas? Acho que talvez você poderia dar algumas aulas para elas.

—Professor Jackson. Taí, gostei da ideia. Modéstia a parte, sou muito bom.

—Espero que as coitadas não sejam ensinadas a empunhar a espada errado.

Eles riram durante alguns momentos, mas Percy ficou sério:

—Tive um sonho. Bianca di Angelo estava lá. Não sei se é exatamente importante mas sempre conto tudo a você, então...

Ele contou o sonho a Annabeth. A menina era uma boa ouvinte, não perdeu nenhum detalhe. Os olhos cinzentos mal piscavam. Por fim falou:

—É curioso...mas não faz muito sentido para mim. Como alguém morto pode vigiar um vivo? Não é permitido. Mesmo no Elíseo, onde ela está, há regras que proíbem as pessoas de fazer isso. A não ser que...

—O quê? Ahn, conta.

—Nada. Foi uma ideia que tive. Não seria bom iludir Nico, não é mesmo?

—O que que deu em você?

Mas ela se levantou, piscou para ele e saiu:

—Acho que devo uma visitinha ao nosso Oráculo.

—Rachel? Annabeth, o que você está aprontando? Eu não consegui acompanhar o seu raciocínio...

—Percy, você nunca acompanha meu raciocínio. É por isso que você é meu cabeça de alga. Mas depois eu posso contar.