A volta de Bianca di Angelo escrita por Mariana


Capítulo 14
O inimigo oculto




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—Mas...nós não podemos...só virar as costas e ir embora. Pasifae está ficando mais forte, e...

Dayla interrompeu Annabeth. Notava-se que estava aborrecida pelo que aconteceu ainda há pouco, pois não olhava a garota nos olhos.

—Hã...querida? Qual parte do “ se quiserem viver, saiam daqui o mais rápido possível ” você não entendeu? Existem forças aqui que eu sequer me atreveria falar. Malignas. Sombrias. Não tem medo de nada. Eles fazem promessas e depois nos TRAEM. Tomam tudo que a gente tem...tudo... e nos forçam a fazer coisas terríveis, persuadem, usam, tiram de nós quem amamos, e depois de tudo nos aprisionam aqui.

Dayla tinha os olhos marejados e a linda tiara de flores que usava passara de vermelho vivo para um cinza fraco e sem vida.

Melina olhou para as outras ninfas, seus lábios moveram-se silenciosamente formando as palavras “ O que aconteceu com ela” ?

Wendy trocou um olhar longo e triste com Trixie. Esta, depois de alguns momentos, falou :

—Há quatro anos nós vivíamos na superfície. Éramos felizes... e numerosas. Tínhamos irmãs e amigos lá. Quando Ela chegou, tão bonita, simpática, elegante... veja, Ela irradiava um poder imenso; pensamos que era uma deusa. Ela disse que precisava de nós. Disse que precisava que cada uma de nós ensinasse uma magia para ela, e como troca, nos concederia um desejo . Qualquer um.

Wendy começou a falar de cabeça baixa.

—Nós queríamos que os humanos coexistissem em harmonia com a natureza. É o maior sonho de todos os espíritos da natureza: sátiros, ninfas... Pedimos isso a ela. Conforme o combinado, mostramos o melhor que poderíamos oferecer. Trixie a ensinou a manipular a terra. Eu a ensinei a usar a natureza em seu favor. E Dayla a ensinou a dominar a névoa.

A ninfa engoliu em seco:

—Ela nos traiu. Prendeu nossas irmãs e consumiu toda a mágica e as forças que elas tinham, fazendo-as definhar até a morte para tornar-se mais poderosa ainda. Com o que ensinamos, construiu esse labirinto e nos encarcerou aqui. Lançou uma maldição para que nunca pudéssemos deixar este lugar. Teve a misericórdia ou a crueldade de nos manter vivas.

Uma atmosfera pesada caiu sobre o lugar, como se uma flecha imaginária tivesse atravessado seus corpos. Nico e Melina pareciam abalados. Percy engoliu em seco ao ver que Dayla estava em prantos, sussurando que era uma idiota e que a culpa era dela. Chorando tanto que o coração dele doía. Annabeth o abraçou forte enquanto as ninfas tentavam consolar a irmã.

Percy levantou-se e o som de suas palavras ressoou no salão.

—Nós ficaremos aqui. Vamos lutar contra Ela. Quebraremos a maldição. E faremos isso mesmo que seja necessário até o fim das minhas forças para vencê-la. Vocês verão a luz do sol novamente. Eu prometo.

Uma voz trêmula, quase inaudível falou:

—Quanta bravura e coragem...Você é o verdadeiro herói, Percy Jackson.

O verdadeiro herói. Percy lembrou da Grande Profecia, onde todos diziam a ele que o herói seria ele e na verdade era Luke Castellan.

Do outro lado da mesa, Nico desviou o olhar. Tudo bem. Estava acostumado a ser o segundo plano.

Ela acenou para a parede escura no fim do salão e uma porta de carvalho enorme apareceu e se abriu.

—Não sei para onde querem ir, semideuses, mas tenho certeza de que esse caminho guiará vocês aonde quer que precisem seguir. E...Annabeth, quero muito perdir desculpas pelo meu comportamento ainda há pouco. Não tive a intencão de lhe desrespeitar em momento...

Annabeth abraçou a menina.

—Não precisa pedir desculpas. Eu que agradeço por ser a única coisa boa nesse lugar horrível. Obrigada. Manteremos nossa palavra. Vão voltar para a superfície. Eu moverei os céus e a terra para cumpri-la.

—Tão sábia...que os deuses a abençoem, Annabeth Chase.

Os semideuses atravessaram aquela porta cientes que agora tinham mais uma causa pela qual valia a pena lutar.

(…)

As paredes estavam diferentes. Eram feitas de pedra, pedras grandes e de um tom distinto, marrom, quase púrpura. O ar tornara-se rarefeito, era difícil andar mais do que algumas centenas de metros sem cansar. As tochas lançavam um pouco de luz que guiava os quatro naquele ambiente.

Melina não desviava o olhar do Fio de Ariadne.

—Por que não funciona desde que entramos aqui?

Nico olhava para as paredes de rocha púrpura.

—Esse lugar é estranho. Deve ter alguma interferência sobre esse tipo de arterfato. É difícil saber. Mas de qualquer forma, não é o tipo de caminho que eu gostaria de seguir. Tem algo ruim aqui.

—Pode ser o tipo de caminho que indica que estamos mais próximos da parte mágica do labirinto.

Annabeth disse com tanta convicção que eles quase pensaram que Piper estava presente ali, usando seu charme, induzindo as pessoas a concordarem com suas ideias.

Percy assentiu, quase que involuntariamente.

—Isso significa que estamos mais próximos dEla também. E é melhor estarmos prontos.

Nico continuava sem desgrudar os olhos da parede. Melina também o acompanhava. Talvez os dois nem tivessem escutado Percy.

Annabeth deu um passo à frente, desconfiada.

—Nico? Melina? O que houve?

Melina virou a cabeça, desconfortável. Annabeth podia jurar ter visto um brilho incomum nos olhos da garota.

—Nada...é que só...tive a impressão de que estávamos sendo observados. Hã...bem; não há como, não é?

Annabeth mexeu nervosamente na faca.

—É...acho que não. Talvez não.

Mas no primeiro turno de vigília, o de Annabeth, olhos vermelhos contrastando com o fundo escuro, espreitando por entre as brechas das pedras, desmentem essa ideia. A garota deu um grito agudo e recuou, tropeçando na mochila de Nico e caindo no chão.

A essa altura, Nico e Percy já estavam à sua frente, espadas em punho, encarando a criatura que se recusava a mostrar a face. Houve um estalo, e os olhos escarlates desapareceram.

—O que era aquilo? Estava nos espionando? Como pode ter sumido tão rápido?- Melina estava ofegante.

—Calada, Melina! Nós não sabemos e não me importa mais saber!

A garotinha olhou assustada para Annabeth, como se não tivesse ouvido direito.

—Annabeth? O que é isso? Por que você gritou com a Melina? -Percy pareceu chateado com a namorada.

—Porque eu quis! Ninguém manda em mim!

Percy segurou sua mão delicadamente.

—Annie...o que está acontecendo?

Raios faiscaram nos olhos tempestuosos da garota.

—O que está acontecendo? Essa missão estúpida está acontecendo!! Acabo de ter um choque de realidade! Isso está nos levando para a morte certa! Estou cansada de ser mais uma pecinha no jogo dos deuses, que pode ser manipulada a cada instante, arriscando a vida mais uma vez para salvar o mundo! Não entendo como só fui perceber isso agora! Não aguento mais, estou cansada de ser idiota! Vou ter uma vida normal, bem longe de vocês, longe de qualquer herói estúpido que possa me fazer correr para a morte! Especialmente longe de você, que causa todos esses problemas SEMPRE!

Com um movimento rápido, se desvencilhou das mãos de Percy e o empurrou. Empurrou forte. Ele olhou para ela, no chão, absolutamente incrédulo. Com passos firmes, a garota caminhou até sua mochila, seguindo na direção contrária à do túnel.

—Espere...aonde você... vai?

—Para um lugar onde não me tratem como uma escrava que tem de servir as leis dos deuses! Para um lugar em que não haja Percy Jackson!

Nico assistia a cena, indiferente. Sabe-se lá o que estaria pensando...

Percy correu até ela, seus olhos da cor do mar estavam confusos.

—Annabeth?

Ela arqueou uma sobrancelha, num gesto de desprezo. Percy ficou aos seus pés num gesto desesperado.

—Você não é assim, Annabeth. O que aconteceu? Volte... precisamos de você. Eu...preciso de você. Por favor, fique. Jurei que nunca te perderia outra vez...

Durante um breve momento, os olhos dos dois se encontraram. As feições de Annabeth pareciam em conflito. Hesitou. Seus olhos foram do cinza a um vermelho vivo e assustador em uma fração de segundo, para voltar ao tom normal com a mesma velocidade. A cor sumiu da face. Caiu nos braços de Percy, como se estivesse morta.

—Annabeth! Nico, faça alguma coisa!

Mas o garoto não se mexeu.

Uma flecha prateada voou acima de suas cabeças, acertando um alvo escondido nas rochas.

Um alvo cujos olhos eram tão vermelhos quanto os de Annabeth ficaram.


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