Stella

– Então, srta.Richard? – Fury me questionou, acabando com meus devaneios sobre a sua questão. – O que você mais teme?

Mordi os lábios. Não poderia ser uma questão mais simples, não? Eu já tive que falar da minha irmã “vaca”, e agora tenho que dizer qual é o meu maior medo?

Pensando melhor, Fury tem certa razão em querer saber tanto de seus agentes. Ele não parece confiar em muitas pessoas, e tecnicamente seremos os felizardos caso entremos para a S.H.I.E.L.D. Isso é importante para mim, além de que qualquer coisa.

– Acabar sem um lar – respondi, estremecendo um pouco só de pensar no assunto. – Acabar sem ninguém.

Meu retorno não foi bem-vindo por minha irmã, Alice Richard, que praticamente organizou uma festa após meu “funeral”.

Assim que me viu, seus olhos se arregalaram de tal maneira que por um momento pensei que deixariam seu rosto.

Minha mãe, Jocelyn, pulou em meus braços chorando descontroladamente e ralhando comigo por ter aprontado essa, desaparecendo por dias sem dar notícias.

Se ela soubesse de tudo...

– Mas onde você se meteu, maninha? - Alice me inquiriu, com o desdém percorrendo suas palavras.

– Estive buscando alguns vilões causadores do ataque – Dei de ombros, feliz por não ser uma completa mentira.

Alice me fuzilou com os olhos mais uma vez, antes de subir.

– Melhor você ir dormir, querida. – Jocelyn afagou meus cabelos, um fraco sorriso brotando em seus lábios. – Heróis merecem uma hora de sono a mais.

Concordei com certa relutância, e beijei o topo de sua cabeça antes de subir.

Meu sono foi tranquilo, por incrível que pareça.

(...)

Quinze dias após o retorno dos Destruidores às suas tarefas cotidianas, NovaHead anunciou sua reabertura aos alunos. Alguns odiaram a notícia, mas eu preferi ser positiva. Afinal, não há nada melhor do que estar com os amigos.

– Estou indo, mãe – anuncio em voz alta, pegando as chaves de casa na mesinha de centro.

Jocelyn surge à porta da cozinha.

– Se cuide. – diz, enquanto mira o sofá com um olhar tristonho. – Alice, que tal se arrumar e ir para o colégio também?

Mas minha irmã simplesmente aumenta o volume da TV, ignorando completamente a (milionésima) tentativa da sra.Richard. Como se a batalha estivesse perdida, minha mãe volta para a cozinha, em silêncio.

Suspiro, tentando não ir até a Alice e acabar com seu tempo na Terra. Ao invés disso, saio de casa com a mochila em um dos ombros, e meu IPod na outra.

Começo a caminhar rapidamente, sentindo o vento fustigar minha face e balançar meus cabelos escuros.

Um dia tranquilo para variar.

Como se pontuasse este pensamento, o ronco de uma moto ecoa em meus ouvidos, tirando-me completamente de meus pensamentos. Uma moto completamente negra passa por mim, e paro de caminhar no mesmo instante.

Uma sensação ruim atravessa meu corpo e de imediato penso em Clarissa. Com meu celular na mão, a vontade de discar seu número me deixa paralisada por alguns segundos.

Tem de ser ela pilotando aquela moto. Com certeza, esse pressentimento deve ser força do hábito.

Mas para confirmar minha tese e voltar a pensar no meu dia tranquilo, ligo para a Clarissa de uma vez.

Se ela demorar a atender, significa que está a caminho do colégio com sua moto, e que não devo me preocupar.

Agora, se ela atender rapidamente...

Mordo o lábio inferior, extremamente tensa.

“Espero que tenha bons motivos para me ligar”, Clarissa atende depois de vários toques seguidos.

Suspiro em alívio.

“Ah! Ainda bem. Desculpe por ligar, é que pensei uma coisa por um momento, mas não é nada demais... Vem cá, você foi para a escola com sua moto, hoje?”, começo a caminhar novamente, mais tranquila.

Uma longa pausa segue do outro lado da linha.

“Você andou cheirando cocaína?”, Clarissa se mostra impaciente. “Você sabe bem que não uso minha moto para ir ao colégio todos os dias. Além do mais, hoje não vou à escola”, antes que eu possa questioná-la, a Wayne ironiza. “Passar bem, querida”.

Desliga na minha cara, sem deixar que eu fale qualquer coisa. A sensação ruim volta mais forte do que antes agora.

Oh-oh.

James têm de saber disso!

“Querida Stella”, seu tom irônico serve de saudação assim que me atende. “Quanto tempo...”

“Dispenso ironias, James” antes que fale, prossigo. “Ele está aqui!”.

James acaba totalmente com meu momento histérico.

“Que tal você ser mais específica? Tem muitos eles por aí...”

Suspiro pesadamente.

“Acabei de ver a moto do Asa Noturna seguindo na direção do colégio! E você sabe que apenas a Clarissa tem uma moto daquelas...”

“Você ligou para a Clarissa?”, o tom de James se torna sério instantaneamente.

“Sim! E ela não está indo para a escola”, respiro fundo. “Diga que você tem uma solução para isso”.

“Vou pensar. Tempos um dia de vantagem”, um suspiro de cansaço soa aos meus ouvidos. “Se Clarissa descobrir que Charlie está atrás dela...”

“Eu sei”, faço uma pausa. “Estou a caminho do colégio. Nos falamos lá”.

“Ok”, James desliga e faço o mesmo.

Guardo meu celular, sentindo-me mais nervosa e preocupada do que nunca.

Se os caminhos de Clarissa e Charlie Wayne cruzarem-se novamente, duvido que alguém saia inteiro dessa.