As mãos dela também entrava pela minha camiseta, as unhas me arranhavam de leve, marcando minha pele. Brincava comigo, me deixando arrepiado. Senti o tecido subir, ela tirou minha blusa e jogou em qualquer lugar.

–Eu quero você.

Ela falou baixinho, no tom mais atraente que eu já tinha ouvido na vida.

***

Eu joguei baixo, eu sabia disso. Mas eu aproveitei a situação: a roupa, o pedido, a reconciliação, o tom de voz...

Suas mãos agarraram minhas pernas, me erguendo contra a bancada. Levantei os braços enquanto ele tirava minha blusinha de flanela do pijama, o tecido leve passou pelo meu rosto bagunçando meu cabelo. Nos divertíamos rindo com aquilo, mas os olhos mostravam outra coisa.

Prendi minhas pernas no seu corpo, e ele andava com meu corpo preso no dele, tropeçando em todos os lugares. Os beijos davam espaço para as risadas. Eu sabia no que ia dar, e não me importava, simplesmente curtia o momento.

***

Depois de quase destruir a casa, conseguimos chegar no quarto.

Ela ainda ia me deixar doido um dia.

Soltou suas pernas, dando um pulinho ao alcançar o chão. O beijo agora estava voraz, faminto! Ela se permitia fazer o que desse na telha no momento, e eu estava amando isso. Mexia seu corpo, colando no meu, mexia nos meus cabelos e me provocava.

–Espera – me afastei do seu beijo – você...?

–Sim, e eu sei que você não! Agora não me interrompe mais se não eu começo a pensar direito e acabo desistindo. E ah! Só pra ficar claro, isso é um aceito!

Ela mordeu o canto da boca sorrindo, e veio de novo com tudo pra cima de mim.

***

–Foi o melhor aceito que já recebi na vida! – tive que rir, ele também, mas as risadas pararam.

Ouvi o barulho da campainha. Olhei pro Edu. Quem seria? Digamos que nenhum dos dois estava em condições de abrir a porta, e muito menos receber visitas.

–Sera o Gus? Ou a Laura?

Ele não respondeu.

–Fica ai – levantei me enrolando na coberta, o que não foi uma boa ideia – vou ver quem é.

Fui arrastando o lençol pelo corredor como em um vestido de noiva, deixando o Edu com um sorriso bobo na cara.

Alguém tocava a campainha de forma frenética, quase desesperada. Eu já estava ficando desesperada. Larguei o lençol no canto e vesti a camisa do Edu, que tinha ficado largada no chão. Era como um vestido pra mim, com a barra batendo no meio da coxa.

Andei na ponta dos pés para não fazer barulho. Olhei pelo olho mágico e um alivio enorme bateu.

–Desculpa Laura... - falei baixinho abrindo a porta.

–Desculpa é a mãe! – ela me interrompeu gritando – Eu deixo você aqui toda depressiva, quando chego na casa do Gus o Eduardo sumiu e quando chego aqui ninguém atende a porta! Pensei que você tava morta, ou ele, tanto faz! Mas o que... – então ela reparou na minha roupa. Seus olhos quase saltaram do rosto, as bochechas ficaram vermelhas que nem pimentão – Ai minha nossa senhora, me desculpa se eu interrompi é... – ela esticou o braço puxando alguém que estava fora do meu alcance visual – eu fui atrás do meu primo pra ele esclarecer a historia do bilhete...

Senti meu rosto corar, e me xinguei por ter não mais o lençol por perto para me cobrir.

–Oliver... Oi.

–E ai Manu?

Ele pareceu não se importar com minha falta de roupa. Parecia estar acostumado com situações constrangedoras.

–Vai tirar mais alguém pra me matar de vergonha?

–Na verdade – ela esticou o braço de novo, me pedindo mil desculpas com o olhar – o Gus também ta aqui.

Ele botou a cabeça no portal da porta, dando um sorriso sem graça.

Pra me deixar com mais vergonha ainda – se é que isso era possível – o Edu me aparece vindo do corredor só de cueca. Mas pelo menos, ele não apareceu por completo, colocou o corpo a mostra só até abaixo do peito, pra ver o que tava acontecendo.

–Uou, quanta gente – sua voz tinha um tom divertido.

Virei a cabeça, lhe repreendendo com o olhar.

Todos entraram e algum tempo depois, eu e o Edu tínhamos nos vestido e já estávamos sentados na sala também.

Laura me lançou um olhar “huuuuuuuuuuum danadinha”. Puxe ver o Gus lançando um olhar de “eita cara” pro Edu. Isso só me deixou mais corada.

–Ta, eu tenho que perguntar, quem é esse? – ele disse apontando com a cabeça pro Oliver.

Enlacei meu braço no seu pra garantir que ele não ia avançar em cima do outro que não estava muito longe.

–Esse – a Laura apresentou com cautela – é o tal Oliver...

Senti seu braço enrijecer na hora, os punhos se fecharem.

–Nem pense nisso...

Sussurrei virando a cabeça, tentando ser discreta.

Obviamente, o Edu percebeu que apesar de passar a noite com o Oliver, não aconteceu nada.

–O que ele faz aqui?

–Quando eu sai daqui Manu, fui atrás dele pra resolver essa treta que vocês tavam. Maaas, pelo visto vocês se resolveram sozinhos... Enfim, isso não vem ao caso. Oliver, quer explicar o que aconteceu?

Olhei no relógio da cozinha, era mais ou menos 8:00 da manha.

–Conheci a Manu no casamento, e sem querer, esbarrei com ela na festa... Na verdade eu derrubei ela – olhei pro meu joelho, o machucado que tinha piorado com a queda na dança estava quase imperceptível – Então entramos, ela descobriu que a Laura tinha ido embora sem ela, e ficou fula da vida! Virou um monte de bebida, dançou e quando eu disse que ia embora, ela disse que já que eu era primo dessa doida – ele deu um tapa no ombro da Laura, que fechou a cara pra ele – era minha responsabilidade deixar ela em casa. Só que eu não sabia onde você morava, então acabei indo pra minha casa mesmo. Ai quando chegamos lá, você disse que tinha que fazer uma ligação, eu deitei na grama do jardim enquanto você falava no telefone, ai você desligou, apoiou a blusa na cabeça e os dois dormiram.

–Foi só isso? Mas e o bilhete?

–Bilhete?

Corri e busquei o bilhete, entregando em seguida.

–Ah! Eu coloquei isso na sua saia não foi? – ele riu, mas eu não achava graça – no carro, a gente veio conversando, e mesmo não estando sóbria, você me deu vários conselhos bons. Não lembro exatamente o que escrevi, mas olhando pro papel... Acho que fica assim sem os borrões “Adorei te conhecer, obrigado por ter passado a noite comigo, você foi uma amiga maravilhosa. Oliver” e acho que esses últimos borrões são meu celular.

–Então foi só isso né? Nós nem ficamos?

–Rolou um clima, mas ai você me cortou na hora! Falou alguma coisa que eu não entendi e disse que ia ligar pro tal Leonardo...

–É Eduardo – o Edu corrigiu, ainda puto da vida.

–Tanto faz, enfim, isso é tudo que eu lembro... Mais alguma coisa?

Ninguem se pronunciou.

–Otimo! Lau, se vira pra ir pra casa, porque eu preciso dormir.

Ele se virou e foi embora sem se despedir de ninguém.

–Acho que isso explica... –o Gus tentou cortar o silencio. Ele tava tão quieto todo esse tempo que eu até tinha esquecido que ele estava lá.

–Então já que ta tudo lindo agora, Manu vem comigo.

Ela me puxou pela mão me carregando pro quarto. Laura sempre sendo discreta...

Me jogou lá dentro e bateu a porta atrás de si e me olhou como uma criança olha o brinquedo novo.

Fingi que nada tinha acontecido e comecei a arrumar a bagunça que eu tinha feito, esvaziando a mala para começar e encher de novo.

–Isso é maldade, não me faz implorar, conta logo...

Ela quase gritava e eu sabia que eles também estavam ouvindo a histeria dela, mas quem ligava?

Todo mundo ali já sabia o que tinha rolado mesmo.

–Eu to namorando.

Seus olhos brilharam, seu sorriso se abriu de ponta a ponta e ela pulou em cima de mim gritando mais. Passamos um bom tempo ali, só jogando conversa fora. Digo, eu falando e ela só ouvindo, e fazendo os típicos comentários da Laura, é claro.

***

–Ta todo feliz... – o Gus tentava me zoar, mas eu não me importei.

–Pedi ela em namoro cara, e ela aceitou e muito bem aceito.

–Argh Eduardo, me poupe dos detalhes.

O Gus era o contrario da Laura, que eu podia ouvir gritar “Conta os detalhes menina!”.

Tinham algumas coisas pelo chão, junto com a minha calça jeans e o short do pijama da Manu. Ah Manu...

Comecei a arrumar minha mala e eu sabia, que não podia ter momento melhor pra tudo estar acontecendo.