Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 81
Capítulo 80


Notas iniciais do capítulo

Neuras de professor? Ou suspeitas?

Novos mistérios rodam nessa da faculdade...

Enjoy!



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Essa quarta-feira estava se saindo muito bem.

Sem mais neuras, consegui estudar beleza para o seminário do professor Max. As apresentações na verdade iriam rolar na quinta e na sexta e ao aleatório. Teríamos somente mais uma aula de apoio hoje e posso dizer que minha equipe estava preparada. Depois daquele papo que levei com Gui, ele se consertou em algumas coisas. Mais prestativo, ele deu mais atenção ao trabalho que à sua picuinha com Sávio.

Contudo, permanece evitando contato ademais com ele. Não era algo que poderia mudar da noite para o dia, né? Não acrescentamos mais nada após esse segundo chega-pra-lá, nos atemos ao trabalho. Já havíamos trocado de resumo e concordamos todos em fazer uma rotativa de assuntos, porque o professor havia mencionado que seria um seminário diferente. Não era pra cada um falar sua parte designada. Acho que ele queria era diminuir o tempo de apresentações, pois se todos fossem apresentar, levaria mais de dois horários. Enfim, tem hora que acho esse professor é meio maluco.

Mas que professor não tem um quê de sem noção, né?

Conversava sobre a mensagem de Vinícius que veio essa tarde com Gui. Na verdade, sobre como às vezes os homens são péssimos em especificar algumas coisas. Vini avisou que haveria uma premiação ou homenagem ou apenas recepção, ele não sabia dizer, para militares e tal, ou seja, Wellington havia nos convidado. Gui queria tirar o dele da reta da minha acusação e eu argumentava que ele era outro que também já tinha me enganado por causa de detalhes, oh, meros detalhes.

Ele me disse sobre o traje de uma festa a que fomos uma vez era fino. Era, na verdade, despojado. E lá fui eu toda arrumadona. Eu destoava do próprio aniversariante, que era uma criança de 7 anos, que tava até sem camisa, correndo pelo parquinho da casa de eventos quando chegamos. Gui me deu a desculpa de que no ano anterior, tinha sido uma festa chique. Eu não sabia se eu tinha mais pena de mim, trajada daquele jeito naquele festão, ou do guri, que não merecia uma festa chata de gente grande. E só fui descobrir que era festa de criança quando saltei do carro do Gui.

– Você tava bonita, oras.

– Não importa.

– Importa. Se não você ficaria anos reclamando “e eu ainda tava toda desarrumada, Aguinaldo Villaça!”. Pensa que eu não te conheço não.

Ele imitou minha voz. Quer dizer, quis imitar. Porque aquilo não era nada como eu costumo dizer ou falar. Eu me ouço, viu! Tenho uma voz tão linda que até já me arrastaram pra cantar num palco. Já fui famosa dentro dos ônibus. Ainda sou reconhecida por aí.

– E você adorou aquela festa. Não deu meia hora, tava toda descalça pulando no pula-pula e piscina de bolinhas com a gurizada.

No mesmo instante eu paro, dramaticamente, claro, no começo do corredor das salas dos alunos. Como não havia ninguém por ali, me ponho na frente dele e bem concentrada, começo. Melhor, encerro o assunto.

– A gente fez um acordo. Nunca mais mencionar aquela noite. Eu já perdi OUROS com pessoas; sua excelentíssima namorada, inclusive, me ofereceu de tudo. E de vez em quando menciona como quem não quer nada.

– Ela pergunta, é?

– Principalmente depois daquela rodada no bar na viagem, que VOCÊ revelou a história da faca. Eu devia soltar alguma coisa tua só pra compensar!

Rindo, Gui passa na minha frente e resmunga sua defesa. Só volta-se quando refaço a ameaça daquela pós-festa.

– Negativo. Eu não disse nada demais. Eles nunca vão descobrir.

– Eu acho melhor que não. Senão coisas podem acontecer.

– Que tipo de coisas?

– Coisas.

– Faz assim, você leva minhas COISAS pra sala que eu vou no banheiro, valeu?

Ele pendura a mochila dele no meu ombro e me passa a pasta. Mereço não.

Ando com esse bando de tralha pra classe. Mal entro e encontro uma criatura loira, surtada, quicante e de sorriso do tamanho da galáxia pra mim. Lá vem! Me livro de um, logo vem a Flávia com as maluquices dela. Ela tinha o celular no ouvido e chego a ouvir um “obrigada, obrigada, obrigada”. Aí a louca corre e pula em cima de mim num abraço.

– Miiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

– O que é, coisa? Ai de ti se derrubasse minhas coisas. Mas as do Gui, pode.

– Ai, Miiiiiiiiiiiiii, eu tô tão feliz.

– Isso eu já vi. Agora espoca logo antes de a prof. chegar.

– O Eric conseguiu uma vaga pra mim!

Me desvencilho da criatura loira e faço carinha de quem não tá entendendo nada. Porque não tô mesmo. De que Eric ela tá falando? Que vaga?

– O Eric, Milena! O Eric, do salão de dança? Meu Deus, pra quem tem uma longa história com ele, você apaga ele da memória é rápido.

– Hey, a gente conhece vários Erics, tá, como eu ia adivinhar? E eu ainda converso com ele, não perdemos mais contato depois de... de... você sabe.

Ô se sabe!

– Mas que vaga? Do que você tá falando?

– O salão da mãe dele abriu turmas para exercícios para grávidas. Eu fui com minha irmã pra ver sobre isso no sábado, mas pelo jeito a novidade se espalhou rápido e já tava tudo cheio. Aí ele me reconheceu quando estávamos na recepção. Disse que ia tentar algo e agora ele ligou e, aiiiiiiiiin, ele conseguiu!

Gui então surge ao nosso lado, percebendo a animação da namorada.

– Quem conseguiu o quê?

– O Eric, aquele do salão de dança, lembra? Ele conseguiu aquela vaga que eu tava esperando numa aula de dança pra grávidas!

E outra pessoa surge na porta da sala, ouvindo justamente essa última declaração. Era a professora Silvana, entrando em sala antes da hora.

– Mas já a engravidou a menina, senhor Aguinaldo? Eu esperava mais de você.

Já disse que todo professor tem um quê de maluco? Pois é, o espantoso é que Silvana não é dessas liberdades. Eu num sei se os dois pombinhos ficam de cara pela autora do comentário ou pelo comentário em si. Num minto não, é um pouco hilário assistir meu amigo corar. E gaguejar, todo sem jeito. Já a Flávia prefere ficar na defensiva, escondendo o rosto da tirada da professora.

– Não, professora, e-eu... a gente... errr... É a irmã dela quem está...

– Não tá melhorando, senhor Villaça.

Pra salvar a pátria, lá vou eu interferir.

– A irmã dela é casada, professor. Agora que foi abençoada com a gravidez.

– Hum, bom saber.

A professora vai para sua mesa e chama atenção da galera que estava presente. Apesar de reservar um ouvido pra ela, fico de olho nos meus dois amigos, que ficaram tão desconcertados que fez o Gui até tropeçar no pé do William na hora de irmos nos sentar. É, sempre foi um caso complicado entre os dois.

Mas me dá orgulho em saber que pelo menos sobre isso, Aguinaldo é um perfeito cavalheiro. Ok, talvez um pouco desconcertado cavalheiro. Isso, no entanto, não me impede de ser meio cretina com ele.

Logo que sentamos, sussurro pra meu melhor amigo:

– O que vai, volta, bonitinho. Coisas acontecem.

Eu até paguei com minha calça essa semana por isso!

~;~

Tem. Algo. Super. Errado. Com. Esse. Professor.

Max.

Serião.

A aula tava muito esquisita. Tive a oportunidade de ler o material antes, assim como a muitos de meus companheiros de turma, e todos nos olhávamos sem dizer uma palavra. Porque nada daquilo que estava sendo mostrado e professorado naquele quadro branco tava direito. Tinha conceito trocado, métodos desregulados, uma confusão de anotações, esquematizações estranhas, enfim, uma bagunça. Nunca vi uma coisa dessas.

Deveríamos reportar isso ao diretor?

Tinha até coisa ressurgindo das cinzas, coisas que estudamos em outras disciplinas e nada tinha a ver diretamente com o assunto da vez, não como o professor Max apresentava. Agora sim o cara parece ter ficado maluco e, pior, visível para todos.

Ele começou tão bem. E agora...

– Alguma pergunta, pessoal?

O senhor perdeu algum parafuso, professor?

Marcinha levanta a mão, hesitante.

– Professor, esse esquema não bate com o material disponibilizado.

Max olha para o quadro, põe a mão na cintura, titubeia consigo mesmo e volta-se para nós.

– Você está certa. Estava testando vocês!

Não tava não! Apostaria minhas economias nisso.

Não que eu tivesse muitas.

– Queria ver até que ponto vocês iriam.

Sei. Para durar a aula quase toda assim...

O pessoal novamente se entreolha, desconfiados.

– Agora expliquem o que está errado. Quero ver se vocês tão sabendo legal.

Nem me meto nisso, fico só observando. Enquanto Marcinha, William e outros alunos tratam de mostrar serviço, passo a ficar de olho no professor. Ele, em seus gracejos, tenta se consertar. Quando eu desconfio, eu desconfio mesmo e fazia uns tempinhos que ele tinha me chamado a atenção nisso.

Mas algo mais estranho acontece.

– Senhor Aguinaldo, o que me diz desta colocação de sua colega?

Tanta gente já tinha tapado aquele buraco do professor que o Gui teve a ousadia de brincar com isso. Mas o professor Max mudou o semblante garboso e cortês dele. Pôs a caminhar pela sala ignorando-o de repreender-lhe face a face.

– Qual das?

– Se o senhor Villaça não está prestando atenção nesta aula, talvez seja melhor que ele saia de sala, não é, turma? Talvez queira brincar em casa, liberado mais cedo.

– Não, professor, eu só...

– Sei o que você quis fazer, garoto. Que não se repita, está me ouvindo?

– Mas eu...

O professor nem lhe dá ouvidos, volta com aquele seu sorriso espirituoso quando retorna para o centro da sala e reabre o pincel em mãos. Traz ele aquele seu costumeiro charme e mira dessa vez em uma pessoa em especial. Diria eu que o professor está provocando meu amigo. Principalmente com como se refere a ela, que não parece notar a jogada do bendito.

Só eu tô vendo, é isso, produção?

– Senhorita Flávia, meu doce.

Ai, fala sério! Meu doce?

– Sim, professor?

– Explique-nos o caso pela filosofia de trabalho que nossa digníssima Alice mencionou. E certifique-se que seu namorado esteja atento, não quero saber de ninguém dormindo na minha aula.

Mexer com amigo meu é mexer comigo.

~;~

Estava eu na porta da diretoria, indecisa se entrava ou não, se comunicava o episódio estranhíssimo ou não. No semestre passado eu tinha sofrido assédio moral nas aulas do professor Bartolomeu e me sentia impedida de tomar alguma medida a respeito. Por causa de Djane, claro. E agora... agora de frente para a porta de Fabiano, me pego nessa, incerta de minha atitude.

O professor Bart tinha algo contra mim – contra Djane, na realidade – e fazia de tudo para me afetar. Era direto em suas intenções. Mas e o Max? O que teria contra Aguinaldo? Se é que há algo contra. Já havia sondado várias pessoas sobre o professor e ninguém o conhecia. Será apenas cisma? Será que tô implicando por besteira mesmo?

Gui ficou enfezado do mesmo jeito. Dessa vez, calado e quieto. Quando Max saiu de sala, liberando-nos mais cedo, meu amigo olhou de mim para Flávia e novamente para mim, meneando a cabeça.

– Vocês viram, né?

Só que a Flávia não viu não. Ela já foi mais ninja. Só atribuo essa sua cegueira ao deslumbramento para com o professor, deslumbramento este que ainda não quebrara como o meu.

– Do que você tá falando, amor?

– A Milena viu.

Me abstive, fiquei na minha só ouvindo esses dois enquanto guardávamos nossos materiais para sair.

– Ai, vocês dois falando em código. Diz logo, Gui.

– O professor me marcou.

– Ah, bobagem! Impressão sua. Não é, Mi? É só o jeito dele.

Aprontando-me com meu material, saí dizendo:

– Espero que sim, Flá, espero que sim.

Deixei os pombinhos e vim para cá. Fico me perguntando se devo. Teria que ser o Gui o reclamante? Que provas eu teria? Fabiano confia em mim para não precisar; no entanto, acho que preciso de mais. Droga.

E mais mil vezes droga, porque avisto o professor Max se encaminhando na minha direção. Ativo o modo enrolation e espero que não dê na cara minha indecisão perante a diretoria.

– Senhorita Milena, vai entrar?

– Hã, não. É que... vai soar a coisa mais idiota do mundo, eu sei. Meu anel caiu por aqui e não quero ficar de boba procurando-o.

Sou capaz de me abaixar que nem uma tonta e fuçar esse chão mesmo com uma bolsa a tiracolo e uma pasta pesada em mãos, só pra dar mais veracidade ao meu drama.

– Ah, que é isso, você nunca iria parecer uma boba. É um anel muito importante?

– Nem tanto. Mas gostava dele... Oh, desculpe-me, o senhor iria entrar?

– Sim, vou sim. Tenho que falar urgentemente com o Fabiano...

Provavelmente por essa aula esquisitíssima da qual acabamos de sair!

– ... Mas sem problema, posso te ajudar a procurar esse anel.

– Obrigada, professor. De verdade. Acho melhor aceitar que não vou ver mais esse anel. Pode ter ido pra qualquer lugar.

Para o mundo do faz-de-conta, por exemplo. Sorrio graciosamente, resignada deste oh, destino cruel, de um anel que nem existe.

– Vou avisar à Glorinha depois, ela toma conta da caixa de achados. Ali aparece até camisinha. Não usada, claro. Quer dizer, acho. Ouvi uns papos na sala dos professores e... hum... É melhor que eu entre. Vejo você amanhã, senhorita Milena. E preparada. Para a apresentação, digo. Hum. Até.

Assinto, mostrando que compreendi o que ele quis dizer, apesar do que parecera. Assisto ele entrar na sala de Fabiano e fico paralisada por um momento, digerindo e tentando não ir pelo caminho fácil. Talvez ele só quisesse ser engraçado, não? Não?

Aí do nada, alguém me toca no braço. Como o Murilo no outro dia, eu pulo.

– Milena?!

– Puta merda!

Vivo falando que o que vai, volta, e me esqueço de aplicar isso a mim. O sentimento de pedir desculpa se estampa na face de Renato e tranquilizo-o.

– Você parecia tão concentrada. Te chamei umas três vezes.

– Foi nada, professor Carvalho. Eu... estava tentando me lembrar de uma seleção de números e parei por aqui. É melhor eu ir esperar o Brun...

– Espera, Milena. Foi bom ter te encontrado, quero te perguntar algo.

Ih, não gosto desse tom.

– Tudo bem. Pergunte então.

Ele não manda a tal pergunta de imediato. Primeiro avalia a área em que estamos, vigia com olhos baixos quem estava por perto – alguns funcionários e alunos, variados e dispersos – e me segura levemente pelo braço, levando-me para um local mais reservado dali. Depois eu que sou aquela cheia de mistérios!

– Você sabe se... se tem algo rolando?

Nem comento mais as impressões de trambiqueira que as pessoas têm de mim.

– O senhor vai ter que ser mais específico.

– Falo de Djane e Fabiano.

Ó, céus, o que eu falei de mistérios? Eles não acabam.

E só porque às vezes o universo me mostra umas realidades, não quer dizer que ele entregue tudo e de mão beijada como pensam. Eu não tenho ideia sobre esse novo rolo. Se é que é rolo.

– Essa sua carinha é de que quer me contar algo?

– Essa minha carinha tá avaliando sua pergunta. Por que acha que algo tá rolando?

Renato fica um pouco sem jeito, enfiando as mãos nos bolsos de sua bata de professor. Presto mais atenção nele e noto que há um cansaço nele, a voz um pouco arranhada, coisas de professor mesmo, que sacrifica um pouco de si todos os dias para as turmas. Se ele ainda estivesse no departamento de Administração, talvez pudesse ter assumido as turmas de Djane, penso um pouco longe. Ou não, já que não é uma disciplina muito pro lado dele. Renato é mais cálculo do que medidas sociais.

Mas é a prova de que existe bom humor no profissionalismo.

Sei que ele não me tem por trambiqueira ou coisa do tipo, é de sua natureza mesmo ser companheiro e gentil, coisas que muito admiro nele. Infelizmente não disponho de respostas concretas para lhe aliviar o coração.

Embora tenha sim notado algumas coisas de diferente em Djane. Nada alarmante, no entanto.

– Djane anda diferente... Fala umas coisas desconexas. Quando pergunto, ela desmente, desvia. E Fabiano tá no meio como sempre.

– Hum. Desculpe-me, prof., não estou sabendo de nada no momento.

– Tem certeza, Milena?

– Olha, professor, se tiver algo... ela eventualmente vai contar. Melhor que ela escolha, não? Além do mais, acho que Djane já aprendeu essa lição. Ela não faria de novo... o senhor sabe.

Ele coça a barba feita, de repente menos desconfiado e com cara de quem se arrepende do seu feitio. Fica um pouco acanhado na verdade.

– É, você pode estar certa. Devo estar vendo coisas.

Dou uns tapinhas em suas costas e sorrio brevemente antes de me retirar dali.

Só não deixo de pensar... sobre estar vendo coisas: Bem-vindo ao clube.


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Notas finais do capítulo

Teorias????????

Meu doce não dá! (2)



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