Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 67
Capítulo 66


Notas iniciais do capítulo

Eu sumida? Imagina! Depois desse capítulo, vocês nem vão pensar em sumiço.
Pq tem hoje tem REVELAÇÕES. Bora ver se acertaram em suas teorias sobre certa pessoinha que badalou nessas últimas temporadas.

Enjoy!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/453816/chapter/67

Aquele era um caminho pouco conhecido, as casas eram muito parecidas e eu buscava pelos pontos de referência que já havia visto antes em outras visitas. Fiz trabalhos diversos período passado sendo o Sávio meu parceiro, assim algumas vezes eu fui até sua casa para atividades e outras variedades. Era um bairro um pouco comercial demais e talvez por isso eu às vezes custasse me situar ali.

Mas nada era mais estranho que o fato de ser o Murilo quem está no volante do carro e muito menos ele ser o mais tranquilo. Ele é outro que está me cobrindo nessa empreitada. Até Aline entrou no esquema de esconder isso do Vinícius. Não era por simples esconder, era uma mera questão de realmente resolver logo tudo e não ter que envolver-me noutra briga por tão pouco.

Para o Vini, eu estaria organizando roupas para doação na casa da Aline. Que era o que ela estava fazendo, só que eu não estaria lá junto. Que Vini me matasse depois, gritasse, esperneasse, eu iria dar fim nisso de um jeito ou de outro, como me dizia a Flávia, outra que me apoiou na decisão. Nas palavras dela, que o Gui engolisse logo essa torta de climão.

– Mu, você tá mesmo me levando pra casa... do cara que me beijou na viagem que você “proibiu” e que agora... tá ficando com a Iara?

Murilo dá uma pequena freada na rua em que entramos. Entendo totalmente sua reação. Ele bufa um pouco, sem jeito e sem como proceder. Juro que eu também não entendia bem por que eu perguntava ou por que insistia em questionar. Era estranho processar sobre isso.

– Colocando dessa maneira... Eu não pensei bem.

– Pensou como então?

Avisto a oficina do tio de Sávio e dou a dica de por onde ele deve seguir. Muito do calmo e prestando atenção nas crianças que brincavam na rua para não atingir ninguém, meu mano se mostra bem paciente e compreensivo. Digo, quanto à Iara com Sávio. Isso me impressiona um pouco.

– Ah, sei lá... Pensei em como a Iara... ah, ela andava feliz esses últimos tempos. Pensei também que esse tal Sávio não deve ser esse fdp todo. Quer dizer, ele pode ter sido só... mal entendido?

Mal entendido? Murilo acredita nisso?

Acho que não faço a melhor das expressões, pois meu irmão trata de explicar por si só.

– Mi, ele me defendeu... Sendo eu culpado. Eu devia tá preso. E ele me ajudou a me safar. Ele fez isso pra te compensar, você mesma me disse. Então talvez ele não seja um cara tão mal intencionado? Também não quero censurar a Iara, nem me descontrolar por algo que não tenho certeza. Se há chances de resolver isso, que seja. Aí a gente vê se vale a pena bater ou não...

Acho que finalmente ele havia deixado para trás o método de “bater primeiro e perguntar depois”. Eu ficava muito feliz por ele rever esses “conceitos” e, além de pensar melhor sobre suas ações, pesá-las.

Se era estranho, eu tentava passar por cima dessa sensação.

– Mas o que eu mais quero de verdade é controlar meus impulsos.

Essa última parte sai num sussurro para ele mesmo, que parece de repente envergonhado. Não sei dizer se sobre aquele seu descontrole com André ou se apenas por estar se abrindo o bastante para eu ver suas “maquinagens” funcionando. Assim que indico a casa certa, adivinhada com a ajuda da moto de Sávio na porta, dou a meu irmão um voto de força. Melhor, dou-lhe fé.

– Você vai conseguir, mano, eu confio.

– Mas ainda posso dar uma dura no cara, não posso?

Sorrio, gentil.

– Pode. Acho que pode.

Logo que descemos do carro, Sávio aparece atravessando a rua, vindo da oficina. Ao ver meu irmão, percebo que ele toma um pouco de cautela e não se aproxima muito. Até porque Murilo lhe lança um olhar bem sério, apesar de calmo. Aquele calmo suspeito, claro. Sávio faz que iria cumprimentá-lo se não fosse a mão suja de graxa. Mesmo com um pano em mãos, a mancha negra não parecia querer sair de sua palma, então ele pediu umas meras desculpas.

– Acho bom ela voltar inteira. E acho bom respeitar a Iara também. Não vamos querer nos exaltar, certo?

– C-certo.

Meu irmão fica alerta até sumir dali, observava-nos mesmo enquanto se distanciava. Sávio me convidou para entrar e a sensação que ali me batia... eu não saberia descrever nem como boa, nem como má, apenas de muita ansiedade sobre o que ouviria dessa vez.

~;~

Encaro o porta-retratos que encabeça a estante para qual me virei, ficando de costas para o outro. Absorvo um pouco da imagem que, imagino, é capaz de ser do pai de Sávio, pois seu tio eu já tinha visto algumas vezes. Lá vejo que há um genuíno Sávio, que sorri um pouco acanhado, mas ainda feliz. Lá está o bom rapaz que o destino me apresentou e que agora descubro que me enganou o tempo todo.

Quer dizer, descubro não, eu SABIA que havia algo, sabia, só não poderia imaginar o que seria esse algo. Que seria isto. Era um tanto chocante e confuso. Era também como estar na viagem de novo. Como estar naquela sala de aula improvisada ouvindo as loucuras e explicações dele e não querendo acreditar que se tratavam daquilo que me dizia, independente de fazer sentido ou não.

E ali eu entendia o que Gui sentia, acho. Não apenas ser enganado, mas de certa forma usado? Se eu já havia me aproveitado de algumas situações, diria Sávio teria abusado um pouco delas. Argh, me bate uma confusão maior. Uma contradição, um furor. Algo que no estômago... era como um queimar. Além de enganada, o direito de fazer escolhas também me foi negado.

Mas eu iria tirar da Iara? Bufo, zangada por esse embaralhar repentino. Quem sou eu no meio disso tudo mesmo?

– Eu não quis arriscar de me entenderem como criminoso. E sabe como essas coisas demoram na justiça... E marcam. Eu fui conhecendo mais vocês... E não tive coragem. Eu não me sentia tão bem-vindo assim há muito tempo. Precisava disso, Lena, mais do que quis admitir. Já quando decidi abrir o jogo, tava complicado demais. Tá complicado ainda. Não era pra ser assim.

Enfim Sávio tirava a máscara e a entregava. A dívida dele com André estava lá, assim como as coisas que geralmente não faziam sentido quando se pensava no suposto companheirismo deles. Era, de fato, uma dívida e grande. Um processo judicial.

Senti que Sávio se levantou de seu sofá e caminhou para mais próximo de mim, meus sentidos conseguiam localizá-lo bem. Ao menos ele se deteve a uns metros, considerando que eu tinha me afastado dele propositalmente. Indignada, não ligo para isso, ainda havia muito para se esclarecer, assim me viro e, firme, o encaro:

– Ela sabe disso? A Iara sabe?

Ele assente, sem me direcionar o olhar. Também enfia as mãos nos bolsos do jeans surrado, sem se importar pelas marcas de graxa que se mantinha nelas, e parece se encolher em si, um pouco envergonhado. Não me comovia, só me indignava mais.

– Ela sabe. De tudo.

– Como?

Detendo-se dessa vez à coluna da sala perto de si, Sávio engole a seco, inspira e toma atitude de levantar a cabeça finalmente, mesmo que um pouco pensa ainda ela permanecesse.

– Eu não quis mentir pra ela.

Ah! Porque pra mim tava beleza, né???

Juro que quis bater nele. Me subiu algo e cerrei forte as mãos, endurecidas e tensas, investidas nos meus braços cruzados e firmes ao peito. Fechei os olhos e fui tratar de abstrair isso antes que fizesse alguma besteira da qual eu poderia me arrepender. Ele era o criminoso, não eu!

Literalmente!

Ante a meu silêncio, Sávio quer tapar o buraco novamente com explicações. Depois de tudo o que já havia ouvido, discernir o que era verdade, o que era mentira, se era dessa vez um surto de honestidade... Argh, minha cabeça só esquentava mais. Ele acaba se aproximando de novo, mas quando dou um passo pra trás, Sávio interpreta melhor minha atitude e fica no ponto que está, bem no meio da sala.

– A gente se encontrava às vezes. A frequência foi maior quando a Flávia terminou com o Gui. A gente ficou amigo, só isso. Aí ela notou que havia algo estranho entre nós... Entre eu e você, Lena... Então abri o jogo. E ela... A Iara entendeu.

Legal, a Iara entendeu. Ela estava mesmo por dentro das coisas, por assim dizer.

Mas eu não!

Rebato essa história, embora minha cabeça se encha de memórias de quando estávamos juntos todos em prol da Flávia e do Gui, que estavam passando uma barra estando separados e como seus amigos, a gente se unia ou se agrupava de modo a ajudar um e outro. Várias foram as vezes que estivemos juntos por isso e lembro também de outras vezes que vi eles, Sávio e Iara, conversarem bem próximos. Como quando eu fugi e consegui ficar no apê dela. Sávio me deixou lá e depois voltou para se certificar de que eu estava bem. Então não era só por isso, acho...

Mas o que vem também é a lembrança de que tanto eu quanto Iara não estávamos em bons lençóis naquele momento.

– Ela tava vulnerável, Sávio.

– Todos estávamos. Mas o fato, Mi, é que...

Rápido, as imagens vão se encaixando na minha cabeça e tudo se encontra com força que chega a, de alguma forma, apertar as operações do meu cérebro e a raiva consegue atingir um ponto significativo para ser liberada. Aproveito o que ele começa a dizer e o corto no que quer que ele estivesse quase a declarar:

– O fato é que VOCÊ me enganou!

Ele também não fica calado, ele bate de frente finalmente, embora calmo e seguro. Seria esse é o verdadeiro “eu” dele? Pois que permaneça e discuta comigo de igual para igual, porque eu não ia ser a compreensiva com ele não. Não iria mais comprar seu teatro, nem seu show, nem suas mímicas. Chega!

– Você só viu o que eu deixei você ver, ok? Havia muito mais coisas, coisas das quais não me orgulho. Mas eu sou humano e eu posso errar.

Invadir uma loja é uma coisa, se meter com o André é outra. Aí já não é erro, é tragédia mesmo. Pra mim pouco importa agora isso, esse seu ato criminoso, eram suas atitudes de encobrir-se que me enfureciam. Uma suposta e nojenta fidelidade com André, por exemplo. Isso sim era sujo! Sávio se vendeu!

E, sério que ele queria realmente pagar pra mim essa de ser humano e poder cometer erros? Bufo diante disso.

– Você me fez acreditar que vocês eram amigos. E pra quê? Pra quê esse teatro todo, um esforço pra fingir ser quem você não era?

Já um pouco nervoso, Sávio passa a mão nos cabelos e num surto exclama sua agonia, de costas pra mim, que me enfureço mais. Essa história pingada era outra coisa que me importunava muito.

– Você não entende, Lena!

– Então ME FAÇA! Me faça entender! Porque o que eu tô vendo, Sávio, o que eu tô vendo NÃO É coisa boa.

Nisso Sávio para, ainda de costas para mim e posso ver que ele estava bem tenso. Era visível que ele esforçava-se para manter o controle, o seu e da situação. Ele por todo assim se mostra e eu não devia estar muito diferente. O que eu mais queria no momento, no entanto, era que ele explodisse de vez. Meus instintos me instigavam mais e mais para levá-lo ao extremo se possível.

Bom, eu estava bem disposta a ir até o fim por isso.

Mas antes que eu pudesse reclamar esse silêncio dele, Sávio se vira e de repente tudo... tudo muda. Mais agitado, ele exalta-se e libera tudo de uma vez, a voz dura e obstinada. Algo na sua expressão me faz manter a boca calada.

– Eu dependia dele, ok? Eu dependia dele para sair dessa. Não podia pagar um bom advogado e... o André estava lá. Eu tive que me segurar por meses. MESES, Milena, MESES. Infelizmente eu o conheci antes de todos vocês. Você não foi a única coincidência naquela segunda-feira quando pisei na sala de aula, essa é a verdade. Vivi o terror esperando que ele usasse essa informação de alguma forma contra mim e eu perdesse tudo. Até meu emprego.

Ok, eu não tenho uma resposta de prontidão pra isso.

– Foi uma coisa idiota, eu sei, mas isso me manteve ligado a ele. Não por meu querer, te juro, eu NUNCA quis isso. Tive que manter as aparências. Mas eu sempre neguei uma real amizade com ele. Só não podia explicar minhas reais razões.

Me sinto estúpida. Estúpida por estar considerando isso e estúpida por... Tudo.

Sávio se aproxima de mim e eu nem me mexo, confusa pelo que estou ouvindo. Dessa vez ele é mais brando, embora permanecesse em um estado de impaciência.

– Sempre quis te contar, Lena, sempre. Você não imagina o quanto. Por vezes tive que me contentar em te explicar somente na minha cabeça porque, por mais que eu não tivesse sido preso pelo meu crime, eu me sentia preso. Você sabe o que é isso, não sabe?

Sei. Quero dizer que sei, mas não consigo. Minha língua ferina pesa. Engulo em seco e já não olho pra ele. De repente o chão é o mais digno pra mim. Mas não me arrependo ou tenho pena, eu sei que tô no meu direito de exigir isso, exigir algo.

Com a respiração em desacordo à harmonia, Sávio busca tomar alguma calma novamente, noto. Tão próximo de mim dessa vez, ele apela para meu senso. Aquele que tende a codificar as verdades mais intrínsecas e ver através de atitudes, coisa que ele sempre me barrava em sua timidez, eu quase nunca conseguia avaliá-lo, não dessa maneira, porque Sávio se fechava demais. Ele bem sabia como eu investigava as coisas.

– E você... Você sempre se mostrava a pessoa certa... A pessoa certa com quem eu poderia contar. Só que eu também não ia jogar meus problemas quando você mesma tinha uma dúzia nas mãos, Lena. Se foi egoísmo, se foi altruísmo, eu não sei... Eu só me afastei e esperei.

Isso me faz levantar a cabeça. Amasso um lábio no outro e fico sem ação, um peso caindo sobre mim. Ele também não para, parece uma metralhadora, continua jorrando verdades como balas, e não sei bem dizer se elas me atingem ou me machucam.

– Nunca quis te enganar, Lena, acredite em mim. Nunca quis tampouco te perder... Porque, droga, você significa algo pra mim sim. Sei que posso resgatar nossa relação, nossa amizade. Sim, amizade, não pense em outra coisa. Aquilo da viagem... Vê como as coisas podem fazer sentido agora?

Estava tão atenta a ele e à confusão em minha cabeça que mal noto meu próprio estado. Passo um dedo nos cantos dos meus olhos e inspiro, tomando controle de mim.

– O que você q-quer dizer?

– O que eu fiz na viagem foi de uma estupidez sem tamanho. E foi mesmo motivada pelo André e sua trupe e meus... meus maiores medos. Droga, Lena, eu tava aterrorizado por achar que André iria me entregar na mesa com os caras. Porque ele chegou muito próximo disso, sabe? E aí eles continuaram falando e falando e falando bobagens até que tocaram no seu nome. Já tinha discutido várias e várias vezes com André por causa do modo que ele falava de você, mas ali eu tava sob risco e André tava me torturando, porque ele sabia que me tinha nas mãos e tava me pedindo pra fazer coisas das quais eu não queria participar. E o álcool fez tudo subir, Milena.

Mordo a parte interna da bochecha e me sinto mais estúpida ainda. Porque faz sentido e ao mesmo tempo não e tem tanta coisa me embaralhando as ideias. Era fácil de acreditar nisso considerando o próprio caráter do André, eu sei que era a cara dele de fazer isso. E nunca vi uma expressão tão convicta em Sávio, não dessa maneira. Ele que costuma ser tão evasivo, falar coisas com coisas... bom, ele me pega de surpresa com essa. Ele não inventaria tanta barbaridade, inventaria?

– Ali eu... Eu apenas confundi tudo. Me deixei levar pelo que nem entendia.

Sávio leva uma mão ao seu rosto e fica cabisbaixo, novamente envergonhado pelos seus atos. Uma vergonha diferente de timidez, vergonha por ele ter chegado ao extremo mesmo quando se tratou de mim e dele naquela viagem.

– Ali eu te cobicei, não nego, Lena. Mas foi por pressão. E te cobicei porque é essa pessoa maravilhosa e que eu temia perder. Você sabe bem que eu não conseguia me relacionar bem com as pessoas, não gosto da maneira como me veem. Eu não me abria pra elas porque não valia a pena. Mas com você... Foi sempre diferente. Eu cogitei ter algo a mais e... não tinha, era só... Argh. Tudo ficou distorcido naquela noite, só foi isso. E eu sei que você odeia ser protegida, mas eu te protegi o quanto eu pude. De André, dos outros e até de mim mesmo.

Sacrifício?

– S-sávio...

Dou um passo para me aproximar dele, e logo ele dá um para trás para se afastar. Fico parada, um pouco chocada, pois não esperava isso dele. Aos poucos a mão que lhe cobria o rosto vai escorregando e revelando mais de sua expressão dolorida.

– Gosto de você sim, mas não do jeito que você ou outra pessoa tenha pensado. E como explicar isso simplesmente para as pessoas?

Se até pra mim essa explicação era difícil, que dirá os outros, penso por um segundo. Após ter aceitado seu erro – seu avanço sobre mim na viagem – e então suas investidas para reconquistar minha confiança, vez e outra eu me pegava balançada sobre as questões que o envolviam. Agora era a hora da verdade e mais do que nunca essa profusão de coisas remexia comigo, e remexia de um modo quase paralisante, pois as (supostas) verdades estavam me deixando sem ação e sem resposta.

Sávio volta a se sentar no sofá e, inquieto, continua sem nem mesmo me fitar.

– O preço que paguei a André pela minha liberdade judicial pelo semestre foi alto, alto demais para meus princípios. Não sabia no que eu tava me metendo, quando vi, ele já estava no comando, por assim dizer. E eu lutei para me livrar disso, só que não foi nada fácil, principalmente pra um cara sem recursos que eu era... Ainda tinha umas dívidas pelo tratamento de meu pai e... Eu não tive muita escolha.

Acho que depois de tanto tempo, Sávio só queria desabafar. Como ele disse, ele só pôde me explicar as coisas em sua cabeça. Mais uma vez, por isso, permaneço calada e me permito baixar a guarda para ouvir o resto. Não era hora de gritar, de espernear, nem de brigar. De entender, quem sabe.

– Tive que arcar com as consequências, fossem quais fossem. Eu realmente tava dando minha cara a tapa pra quem fosse – o Gui, o Vini – porque eu merecia. Me afastei como você pediu, Lena, mas não consegui ir tão longe. E por isso mesmo eu precisava me reanimar de algum modo, sabe? Porque eu me livrei daquela porcaria toda com o André e aí achei que poderia seguir em frente. Eu podia respirar novamente, mas do que adiantava ter conseguido a liberdade se não podia estar com aqueles com quem me importava?

Finalmente eu via entre as brechas e as coisas que Sávio dizia era de um sentido absurdo, embora um sentido ainda. Ali meu senso captava bem as palavras e como eram ditas, as nuances e até mesmo os mínimos gestos. Contudo, era muito para digerir num mesmo instante. Pisco os olhos, um pouco emocionada, e me forço a dizer algo ao menos.

– Sávio... é de fato muito complicad...

– Eu sinto muito sobre como as coisas aconteceram conosco, Milena. De verdade. Sinto muito por ter enganado, por ter te desrespeitado, por ter... enfim. Sinto também terrivelmente a falta da galera. Me afastei e vou continuar afastado se é o que querem, mas, por favor, não me tirem a pouca esperança que me resta.

Meu cérebro trava de novo e é por essa última que não passa despercebida, embora não tenha compreendido bem o motivo de ter sido citada. Acho que estava tão ligada na nossa história que por um momento tinha mesmo esquecido meus reais motivos de estar naquela sala.

– Como assim?

Sávio levanta o rosto de repente e me olha diretamente, sustenta esse olhar e posso ver que eles brilhavam por receio. Quando ele engole seco, reconheço sua fragilidade. Acho que estava dando sua cara a tapa de novo.

Aí ele desvia e volta a estudar as mãos e o chão, como se falar direto a mim fosse algo demais para si. Em seu tom confessional, me surpreende é o quão frágil ele se revela ao falar de Iara.

– Não me tirem a Iara, é só o que peço. Sinto muito sobre tudo isso, e já venho me conformando em seguir em frente, vou me manter afastado, só não me afastem dela, ok? Eu sei que o Gui tem muita raiva de mim e... as coisas nunca serão as mesmas, já aceitei.

Não tenho resposta para isso.

Quer dizer, bom, as coisas mudaram de novo. O quadro todo, as perspectivas. Forço-me a respirar umas vezes mais, respirar fundo, pra arejar bem a cabeça antes de qualquer coisa. Ainda me encontro bem confusa. Preciso de um tempo para digerir e tomar um bom ar sobre tudo que já ouvi.

Antes, eu tinha que perguntar. Branda e mais controlada, não hesito. Tampouco ele logo que questiono:

– Você realmente se importa com ela, não se importa?

– Sim.

Pensar em Iara fora meu propósito desde o começo, assim eu não a abandonaria. Mesmo que nossas histórias tivessem se cruzado e se apertado de tal maneira. Agora consciente e com todo esse quadro diante mim, acho que posso lidar com ele. No fim das contas, Sávio tinha razão em uma coisa: Iara precisava muito da gente e foi somente uma péssima hora para toda essa bomba estourar.

– Vamos ter que dar um jeito, Sávio. Vamos ter que fazer isso funcionar.

Incrédulo ele me fita e, que me chamem de louca, eu realmente ia dar um jeito nisso, custasse o que custasse. Ainda havia muita água para passar debaixo dessa ponte. Águas essas que não seriam nada fáceis.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Wooooooooooooooow. E agora, como faz, Milena?
Gente, e o Sávio! :OOOOOOOOOOOO

E vêm muitas surpresas mais!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mantendo O Equilíbrio - Finale" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.