Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 50
Capítulo 49


Notas iniciais do capítulo

Olha olha olha olha esse plano descabido...

Enjoy!

P.S.: tem mais sobre os bastidores de MoE nas notas finais.



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Eu ia conquistar o mundo!

Não, pera.

Eu ia roubar o cassino mais traiçoeiro de Las Vegas, baby!

É... também não. E nem próximo disso.

No entanto, o filme de hoje era sim 11 Homens e um Segredo. Quer dizer, 11 Pessoas e um Esquema. Eu, Murilo, Vinícius, Renato, Aline, Glorinha, Fabiano, minha mãe, seu Júlio, Iara e Gui. Ok, talvez não fossem todos agentes, mas tiveram um conhecimento do plano pelo prosseguir deste dia. Foi difícil no começo, mas quando meu mano e o namorado toparam, as coisas meio que foram se reestruturando por si só e achando mais e mais adeptos.

Para começar, logo que cheguei em casa, apresentei a ideia pro meu digníssimo irmão lindo do coração – sim, eu fui logo toda me querendo pra conquistar seu apoio, mesmo a ideia sendo bem prematura. Pra falar a verdade, não foi muito difícil depois que expliquei melhor sobre o que Renato havia deixado escapar quando me dera carona. Já com Vini, teve um pouco de resistência. Quando liguei, já era pouco mais de meia-noite e só liguei mesmo por necessidade.

O namorado contou-me que Djane ainda ficou um pouco irritadiça por ele ter perguntado mais sobre aquela pequena discussão que ela teve com Renato, algo que lá no fundo, era bem complicado para Vinícius. Isso porque ele ainda se incomodava com o que tinha rolado naquela manhã e então tinha que lidar com a mãe chateada e por causa do professor Renato. Ponderando consigo mesmo sobre o que conversamos no carro, ele tentou ao máximo não tocar ao assunto sobre não ter gostado da situação e quis cuidar do que era a questão central naquele momento: Djane doente.

A mulher não arredou o pé, disse que não estava doente e ponto. E assim se retirou para o quarto, sem dar muita brecha para o filho.

Aí eu espoquei logo o que eu queria dele... Cumplicidade. Que isso implicava em ajudar não apenas o professor, mas a mãe dele também. Precisaria muito do apoio dele para fazer uma intervenção e conhecendo Djane como todos conhecemos, aquilo não seria fácil.

– Mi, acha que é necessário isso? Mesmo? Depois daquele antitérmico, ela melhorou e já tá descansando.

Aí eu tive que apelar um pouquinho.

– Vini, eu não queria ter que recorrer a isso, mas...

– O quê, o quê? Fala, Lena!

– Olha, o Renato me contou várias coisas que Djane anda aprontando e mantendo na calada. E não é só ele não, a secretária e até o diretor estão metidos nisso. O que a gente viu aí na tua sala, foi nada perto do que anda rolando.

– Isso é sério... mesmo?

– Tu acha que eu levantaria isso se não fosse?

– Mas, Lena, o que minha mãe andaria fazendo tanto assim pra de repente todo mundo querer intervir?

E aí eu tive que contar. Ia dar a versão resumida, porque né, já estava tarde e o Vini levantaria cedo, mas se eu tinha me preocupado de não só ligar, insistir naquilo e pedir encarecidamente por um apoio, era bom eu falar tudo timtim por timtim, como me exigiu. Expliquei o plano também.

– Mas Lena, como você pode confiar tanto que Renato está dizendo a verdade? Não tem como você checar essas informações com o diretor ou com a secretária uma hora dessas.

– Eu... apenas confio. Sabe como é, tem coisas que simplesmente sinto. Ele foi verdadeiro, ok? Além do mais, Renato prefere que Djane se remoa de ódio por ele pelo que está fazendo do que ter que lidar com um caso mais sério se tratando da saúde dela. E olha, isso diz muito sobre ele. Não é qualquer um que faria uma coisa dessas.

Vinícius ficou diversas vezes em dúvida antes de aceitar, mas viu que não tinha pra onde senão concordar e participar do complô. Receio era outro ponto que marcava nossa conversa e suposto plano.

– Sabe que ela vai te matar, né?

– Sei. Mas também prefiro que ela se remoa de ódio por mim que algo mais aconteça e piore o caso. Que me odeie a vontade.

– Eu te amo, sabia?

– Sabia, mas adoro ouvir. Principalmente se estamos para dar partida juntos num plano maquiavélico.

– Acho que te amo mais ainda por isso. Obrigado por ter me comunicado, Lena.

Ele realmente apreciava o fato de eu ter aberto logo o jogo.

E assim acertamos. Vinícius ficou de verificar a temperatura de Djane pela madrugada e pela manhã, cedo, cedo. Prestando bem atenção sobre como sua mãe estaria, ele lhe daria uma chance única que cancelaria todo nosso plano, mas se ela não aceitasse, seguiríamos com ele. Vinícius ia pedir para que Djane permanecesse em casa para descansar, mesmo se estivesse “melhor”. Se ela fosse para a faculdade, era hora de intervirmos.

Essa manhã cedo acordei, minhas coisas estavam no ponto só esperando notícias. Logo que Vini emitiu seu alerta, comuniquei Murilo e assim demos partida a mais um passo do plano. Repassamos a informação para outros cúmplices mais, Glorinha, a secretária de Djane, Renato, e o diretor Fabiano, e tivemos confirmação e participação especial de um dos seguranças lá da faculdade. O circo estava armado.

O diretor foi na entrada de trás nos receber, chamou o guardinha para nos acompanhar naquela missão: arrancar Djane do departamento e levá-la pra casa. De fato, a mulher só saiu de lá escoltada. Ia começar a brigar comigo e com o Murilo por aquele ultraje se Fabiano e Renato não tivessem aparecido pra dar razão pra gente. Vinícius escapou dessa, já que no horário da manhã ele ia para o escritório. Mas uma fera o esperava para o turno de vigilância da tarde, isso eu podia garantir.

Djane estava sob a lei do silêncio conosco, não nos dirigia a palavra, não nos dirigia nem o olhar. Zangada, ela ia de muita má vontade. Tipo, MUITA. O que não era por menos, já que nós não apenas a retiramos do departamento e levamos pra casa, mas também confiscamos seu celular e papeladas do trabalho. Quanto a esses documentos, deixamos com o substituto de Djane, um tal cara que Renato indicou e que Fabiano, já conhecendo, permitiu.

Em casa, ela não nos deixou medir a temperatura. Felizmente Djane cedeu com dona Ana, que era a única ali que não sabia de nada, foi totalmente pega de surpresa quando chegamos de supetão naquela manhã tranquila de serviço. E o Djane fez? Denunciou a gente.

– Veja só, dona Ana, o que esses meninos resolveram aprontar hoje! Me tiraram do trabalho, sumiram com meu celular e querem me trancar dentro de casa! Por uma tosse!

E foi bem aí que Djane própria se entregou, porque até então galera só sabia da febre como sintoma, nada de tosses ou espirros. Murilo olhou pra mim, eu olhei pra ele, ambos afirmando um ao outro que não estávamos sabendo dessa e aí foi como dar razão pra gente de novo.

Se sentindo o maioral e com muito orgulho, Murilo cruzou os braços, muito sabichão, e riu pretensioso pela entrega da mulher.

– Quer dizer que dona Djane anda tossindo agora? Muito bem. Agora que não passa mesmo daquela porta.

Percebendo a gafe, Djane quis retirar a informação, e se atrapalhou toda. De fim, vendo que não tinha mais jeito, optou por outra abordagem:

– Eu cuidei de ti, Murilo! Cuidei de ti no hospital e cuidei na minha casa! Isso é sequestro, cárcere privado e exijo liberdade desse cativeiro de vocês. Tão me ouvindo? E-XI-JO!

Ah, então Djane agora nos dirigia a palavra?

De qualquer forma, só coloquei minhas coisas, bolsa e mochila, lá no quarto de hóspedes e voltei com a chave no bolso da bermuda. Quando voltei, Djane ainda tava discutindo com as paredes, pois dona Ana se retirou para a cozinha, para fazer o almoço, e Murilo estava todo esticado, de sorriso maroto, no sofá, passando canal. E calado, deixando Djane surtar sozinha.

Quando ela me vê de volta à sala...

– Foi o Renato, não foi? Ele que começou isso tudo! Eu aposto que ele foi correr para você, Milena, aposto. Quero só ver quando... quando o Vinícius chegar e ver o que vocês fizeram.

Um pouco divertida de ver a bagaça, fiz que nem ouvi e só sentei do lado do meu mano. Aquilo poderia durar horas, então antes que achássemos algo na programação.

– Vocês vão mesmo ficar calados? Respondam!

Dando de ombros, Murilo quem responde, para choque da professora:

– Foi o Vini que passou o alerta pra gente. Prefere sentar e ver filme ou ficar aí resmungando sem sucesso, Djane?

E foi assim que Djane deu um gritinho, meio urrado, meio agudo, atrás da gente no sofá e saiu marchando para seu quarto. Ao que tive que acompanhar, afinal, fiscalização nesse momento era tudo.

~;~

– Será que nem posso mais ficar sozinha?

Após esperar que a sogrinha se trocasse, vestindo uma roupa mais leve, embora não fosse exatamente pijama, adentrei seu quarto calmamente, maquinando se aquilo faria ou não parte de um plano seu para fugir. Também tínhamos capturado as chaves de seu carro, embora tivéssemos o deixado lá no estacionamento da faculdade. Djane poderia arrumar outros tipos de transportes, ela era tão geniosa quanto eu.

– Desculpa, Djane, mas tenho que medir sua temperatura.

– Mas de novo?

– Por precaução.

Resistente e revirando os olhos, a mulher senta na cama e deixa que eu verifique como estava. Enquanto esperava uma numeração do termômetro, sentia a testa da mulher e sim, estava febril novamente. Como que me ignorando, Djane fala para as paredes que estava quente por causa daquela agitação. Estava era altamente inquieta.

– Tudo bem, professora, pode me odiar. Eu não me importo.

– Rum. Ódio é pouco, o que tenho agora não tem nem nome.

– Não sabia que a senhora gostava de Clarice Lispector.

– Quem?

– A escritora. Minha avó vivia ou dizendo essa frase ou fazendo paródia dela, como a senhora acaba de fazer.

Mas minha sogrinha ainda estava perdida. Pelo menos por um segundo deixava de birra comigo e conversava, mesmo que fosse por algo tão, àquele momento, banal.

– Eu fiz?!

– Sim. A frase original se não me engano é “Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome”.

– Gostei. Esse nome não me é estranho... Mas ainda estou com raiva.

– Eu sei.

– Muita raiva, Milena.

– Eu sei.

– Quem mais está envolvido nisso?

– Errrr... Acho que só a gente mesmo.

– Sei. Quantos de vocês significa nesse “a gente”?

– Djane!

– Estou muito decepcionada, viu. Não esperava um golpe logo dos meus filhos. Renato vai me pagar!

Parecia era a minha mãe, isso sim.

Eu ia retrucar algo quando Murilo aparece no corredor e bate devagar na porta do quarto, entreaberta, e me chama de canto. Peço licença e com uma última olhadela de vigia, vou até meu mano ver o que ele queria. Murilo só foi comunicar que estava de saída, Armando ligou e houve algum problema no sistema de novo, era melhor que meu irmão estivesse presente quando os técnicos começassem a mexer. Assim, ele queria saber se eu aguentava o tranco de lidar com Djane.

– Não, tudo bem, vai. Por enquanto tá tranquilo.

Aí que ele foi se despedir dela e Djane nem virou o rosto para ele. Na verdade, deixou meu mano no vácuo quanto ele foi dar um beijo na bochecha dela. Dando de ombros, ele sai me puxando para que o acompanhasse à porta. Mas mal saíamos do corredor ouvimos Djane tentar esconder uma tossida e Murilo termina por gritar de volta:

– Eu ouvi, hein!

~;~

– Mas eu preciso trabalhar, Milena! Vocês ficaram malucos ou o quê?

Ou o quê, eu diria, mas evito, justamente porque Djane estava nervosa de novo.

Ela insistia porque insistia em pegar seu celular de volta. Que pelo menos ela trabalhasse de modo à distância, por telefone, delegando atividades e acompanhando o processo. O notebook havia, felizmente, ficado no departamento, estava nas mãos de Glorinha, que antes, já sabendo do plano essa manhã, consultou a chefa para algumas pendências e por isso saberia se virar. De primeira ordem, tudo estaria sobre controle.

E se desse algo errado, Glorinha sabia que podia me ligar, que eu verificava e tal com Djane. Porém, não lhe digo isso. E também não conto onde o Vinícius havia escondido o telefone de casa. Até porque eu não sabia, mas imaginava. Dei ordens claras para dona Ana nem aparecer com seu celular por ali, que, se a mulher questionasse algo a respeito, que desse a desculpa de que não havia levado ou estava sem aparelho por esses dias.

– Tenho trilhões de coisas para resolver! Papéis a assinar! Relatórios para ler! Documentos para enviar!

– Djane, o departamento sobrevive. Agora senta e vamos assistir série.

– Como você pode ficar tão calma, Milena? Isso é sério! Vocês não podiam ter feito uma coisa dessas. Aquele departamento depende de mim, me ouviu? De mim!

– Não hoje, Djane. Agora senta, toma esse remédio e espera que dona Ana vai trazer aquele seu chá.

Foi com muito custo que a professora confessou que a garganta doía e ás vezes tossia, isso porque eu e o Murilo ouvimos. Djane pediu a dona Ana que preparasse um chá, pois algo morno cairia bem. Logo depois me pediu pelo celular quando, sem querer, me viu mexendo no meu, escondida. Aí o show começou de novo.

Emburrada e impaciente, a sogrinha toma de mim o comprimido para dor de garganta que ainda me sobrava em casa, e engole na raiva momentânea. Ainda que mantivesse uma fachada de tranquilidade e quase divertimento, por dentro eu me sentia mal de ter que apelar daquele jeito. Tinha que permanecer firme ou nada daquilo valeria a pena.

– Não quer descansar? Dormir um pouco?

– Dormir pra quê se eu posso muito bem trabalhar? Sabe-se lá o que estão fazendo essa hora! Deve tá saindo tudo errado, Milena! E a culpa é de vocês.

– Saindo errado por quê? A Glorinha sabe como as coisas funcionam lá. Um dia de falta não vai dar catástrofe, não. A senhora precisa descansar. Quanto mais birra fizer, mais pode ficar ausente.

– Birra, Milena, BIRRA? Eu vou é PROCESSAR vocês! Ainda por cima me ameaçam!

Lá vamos nós de novo. Parecia mamãe. De novo.

– Só colabora, hein, Djane, por favor?

– Vocês que começaram esse desastre todo. Agora que arrumem!

E sai marchando de novo para o quarto.

Seria um longo dia.

~;~

Esperançosa de que a sogrinha estaria mais calma, bato à sua porta, com uma bandeja ao braço. Além do chá, havia biscoitos de polvilho, uma laranja descascada (fonte de vitamina C, claro), bolinhos de tapioca e suco.

– Toc, toc. Serviço de quarto.

Um vozinha fraca que responde.

– Entra.

Manobrando a bandeja ao braço, dou um jeito de abrir e assim entrar ao quarto, escuro por Djane ter mantido as janelas fechadas e as cortinas acobertando mais ainda qualquer entrada do sol. Em meio ao lençol, a professora se levantava um pouco desorientada. Toco-lhe a testa e continuava quente. Resgato o termômetro da cabeceira, onde havia deixado da última vez e coloco sob o braço dela, que nem reclama dessa vez.

– Tudo isso, querida? Não tenho fome.

Djane boazinha? Sei. Meu trabalho era desconfiar.

– Eu como com a senhora, não se preocupe... Está sentindo algo?

– Apenas uma dorzinha de cabeça chata. Deve ser a raiva.

Sei. Provavelmente.

Enquanto esperamos que o termômetro fizesse sua medição, eu empurrava a laranja para ela, que rejeita. Djane pega a xícara com o chá, morninho, e toma devagar. Convida-me para sentar-se com ela, recostada ao espaldar da cama. Logo estamos lado a lado, e ela deixa a cabeça pender para meu ombro. Uma cabeça um pouco quente, me preocupo.

– Isso não é justo, sabia?

– Sabia.

– Você precisa me liberar, Milena. Só dizer a eles que estou bem.

– Eu estaria mentindo.

– Não estaria não, porque estou bem. Me sinto bem.

– E a dor de cabeça que acaba de mencionar?

– É da raiva, já disse.

Eu diria que a mulher mais parecia uma criança se comportando daquela maneira, mas tinha minhas dúvidas se uma criança seria tão cara de pau assim. Bom, Murilo seria, Vinícius também, e, suspiro, provavelmente eu seria. Mas era necessário, eu voltava a me afirmar. Quando estava na cozinha, há pouco, dona Ana questionou se não era exagero mesmo, por ter caído no teatro da sua patroa, e eu disse que não era só eu que estava no meio, tinha muitos cuidando para cobrir a pausa de Djane, que era uma mulher bruta, mas nem por isso deixava de ser frágil, principalmente nesse momento.

Vinícius enchia minha caixa de mensagens, Murilo, Renato e até Fabiano, buscando notícias. Eles tavam com o trabalho fácil, eu que tinha que enfrentar a fera.

Depois de um tempo, torno a verificar a medição da temperatura.

A febre havia aumentado de 37 para 38.

– Deu quanto?

Minto.

Nem sei por quê.

– 37.

– Viu? Eu não disse? 37 é normal, querida. Agora vou tomar um banho. Falta vocês me impedirem disso também.

Tombo a cabeça no travesseiro assim que ela entra no banheiro da suíte.

Eu não cedia e ela não facilitava.

~;~

Assistia a uma de minhas séries antigas favoritas, Gilmore Girls, quando Djane reapareceu na sala, de banho tomado, sem estar vestida para trabalhar, o que foi um alívio, apesar de não aparentar tão disposta. O dia estava um pouco friento, então eu busquei uma manta no quarto de hóspedes. Logo que Djane se senta, ela pega uma ponta sem mesmo que eu ofereça. Vai ver tinha frio da febre e não queria contar.

Eu tinha lá minha impressão de que ela não tinha engolido a minha mentira de outrora e mesmo assim tentava se aproveitar da situação.

– O que está assistindo, querida?

– É uma série que eu costumava a acompanhar na adolescência. Acho que é algum episódio da primeira temporada pelo que tô reconhecendo. A trama é sobre as garotas Gilmore, mãe, filha e neta, que por eventos da vida, ora estão distantes, ora estão muito próximas. É uma série bem família. A filha e a neta são duas doidas incrivelmente adoráveis.

– Parece muito bom. E parece sua cara.

– Ah, sim. Hoje em dia elas são grandes referências. Esse episódio é sobre o retorno do pai da Rory, que é a neta Gilmore. Os pais dela são separados. É a base de metade do drama da série. Ele vive sumido e quando aparece, é pra atrapalhar alguém.

Checo no relógio da sala que eram 11h30 e agora que iniciava o episódio. Eu tinha basicamente meia hora e aí teria que me arrumar para o estágio. Divagava sobre o que tinha pra fazer e resolver quando noto Djane assistindo e, de repente, suspira triste. Me volto para a cena e entendo sua reação.

O pai da Rory discutia com a ex-mulher, Lorelai, sobre o fato de ele não participar o suficiente da vida da filha, que ele queria estar mais perto e ser alguém com quem ela pudesse contar. Que ele sabia que a vida já tinha corrido e muito e que não havia como substituir a mãe, mas ele só queria uma chance.

Um tanto rude, Lorelai retruca que nunca o barrou de ser pai de sua filha, Christopher era quem não usava bem aquela “porta”, e agora ele afirmava que iria. Que queria. Aí a filha Rory interrompe o momento convidando o pai para um jogo, onde ele poderia conhecer o namorado dela, e o cara meio que se assusta, pois a filha já estava na idade de ter namorado. Era uma cena tensa e ao mesmo tempo bonita.

Aí começou a tocar a música de entrada da série e foi tão saudoso que cantarolei baixinho, de modo que Djane abriu um sorrisinho meio sem graça e se aconchegou mais comigo. Logo após a música entrou para a propaganda e Djane aproveita a oportunidade para tocar no assunto.

– C-como vai... hã... Filipe e aquela investigação?

– Por enquanto um pouco parada. Murilo tem... tem conversado com Filipe sobre isso, tentado convencê-lo de ir em frente.

Djane apenas assente e torna a ficar quieta. Nisso, passava uma propaganda sobre uma loja de computação e, putz, a memória me dá um pequeno susto. Dou até um tapa na minha própria testa.

– Eita que eu esqueci!

– Esqueceu o quê?

Levanto de supetão.

– Eu... hã... Preciso ir ao banheiro.

Antes que eu avance pela sala em direção do quarto e não do banheiro, Djane resmunga, como me dando um belo de um flagra. De fato, a quem eu queria enganar?

– Não precisa se enfiar no banheiro, no quarto ou na cozinha toda vez que tiver que usar o celular, Milena. Eu já saquei tudo. Pode usar aqui, sem problema, eu não vou roubar de você, tá bom?

– Desculpa, Djane. Eu só não quero te incomodar.

– Não me incomoda. Agora senta aqui de novo e me conta o que esqueceu.

Obedeço, acanhada. Sento e suspiro.

– Esqueci que tinha marcado de ver o Anderson hoje.

– Meu filho sabe disso?

– Tanto sabe quanto ele e Murilo iam mediar. Seria um encontro importante.

Termino por contar que havia entrado Anderson na semana passada, conto sobre seu estado, revelação e a proposta que me fez. Ela também exclamou que era um baita absurdo aquela situação, começando a compreender que não dava pra esticar mais história, e sim nosso dever era de conversar com Kevin a respeito.

Abri o jogo com Murilo e Vinícius, que me ajudaram a decidir. Iria me encontrar com Anderson e com ele fazer contato com seu primo, porém, sob algumas condições nossas. Teria de ser em minha casa, Murilo e Vinícius tinham que ficar próximos e não seria a conversa definitiva ainda, pois planejávamos chamar Eric também como testemunha e até então ele que estava com o caderninho da Hello Kitty. Esse primeiro encontro seria como uma prévia para preparar Kevin. E seria essa noite.

Agora teria que desmarcar.

– Por quê?

– Ora por quê, né, Djane? A gente não tava contando com você doente.

– Mas eu não tô doente!

– Não vamos começar de novo, ok? Eu só preciso mandar uma mensagem para ele, avisar que houve um imprevisto. Não tem problema, podemos remarcar.

– Eu não estou doente! E esse garoto precisa saber a verdade!

– E ele vai saber, te garanto. Só não hoje.

– Isso não se faz com as pessoas, Milena, não se faz.

– Ele aguenta um dia ou dois.

– Tô falando de mim. Mas vai... vai. O que vai volta, minha querida.

Apesar de resmungona, Djane estava uma graça birrenta daquele jeito. Nem parecia ela mesma, que sempre preza pelo bem-estar e cuidadosa com todos. Menos com ela mesma.

Ok, eu também faço isso.


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Notas finais do capítulo

Eita que Djane tá brava! Muito brava.
Tbm, né, "sequestrada" desse jeito... quem não iria dar uma surtadinha hahaha

Procurei o trecho do episódio citado legendado ou dublado, mas como não achei, vai o original mesmo: https://www.youtube.com/watch?v=suWDVVoBeow (2:43) O episódio, para quem tiver interesse de ver, é da primeira temporada, ep. 15 (1x15). É o trecho antes da entrada musical.

Hoje vou ser má de não ceder trechinho do próximo, só digo que tá muito bom :)

E qnt a desvendar a trilha sonora de MoE... Eis a última parte, um passeio por cenas e algumas músicas paralelas que valem a menção. Vamos ver o quanto vocês lembram ;)

— Please Stay With Me (Yui) - não sei se ficou estranho ter uma música japonesa na trilha, e é a única até então, mas gosto dessa cantora e ela traz nessa música um toque delicado sobre receios, que bateu bem com o que era a carga emocional da cena - de Filipe finalmente reencontrar Vinícius após o tempo fora e de ter sabido do acidente. A Milena tinha achado o "tio" então, que foi um pedido do Vini.
— Take a Look Around (Limp Bizkit) - simplesmente a trilha perfeita para as tramoias da Milena quando se trata de esconder evidências, como o famoso vídeo do Murilo, uma missão "impossível". E de quebra, ela acha as evidências que ele guardava dela. A música é mesmo do filme Missão Impossível II.
— Everywhere (Michelle Branch) - é uma das antigas, que calha de enfatizar como alguns amores tomam de conta dos pensamentos e rápido, o que andava acontecendo muito com a Milena, distraída demais para lidar com o serviço de uma monitoria.
— Under Pressure (The Used Feat. My Chemical Romance) - na hora de arrumar tudo do evento que ocorria na faculdade, os monitores se deixaram levar (uns até demais rs) com a trilha sonora que rodava no auditório. Todo mundo faltou morrer quando o diretor apareceu pra "acabar" com a festa XD
— Mr. Brightside (The Killers): essa foi pra os ciumentos! Mais precisamente para o Bruno, quando ficou um tantinho alucinado em certa festa, mas não arredou o pé de suas convicções. Sabem de quem foi aniversário?
— Where Have You Been (Rihanna): só lembra a temporada de fim de ano que Milena e Murilo estavam na casa dos pais e Rihanna foi uma implicância de Lucas para perturbar a Milena.
— We Found Love (Rihanna): acho que o apelido “Djane-we-found-love” explica tudo, não? Rs
— Look After Your (The Fray): original do filme Jumper, que tem os atores que imagino ser Milena e Vinícius, a música marca bem o momento íntimo deles, tanto em Jumper, quanto em MoE.
— Euphoria (Loreen): quando Bruno e Daniela brigam feio na pista de dança. Foi quando seus sentimentos afloraram de súbito e a coisa desandou de vez entre eles.
— Almost Lover (A Fine Frenzy): após uma trágica briga com a família de Gui, Flávia quer quebrar a ordem do mundo e pensa em terminar o relacionamento. A música calma embala esse exato momento de indecisão.
— Loco De Atar (Pablo Alborán): simplesmente um Murilo com a cara da felicidade por ter firmado um compromisso sério com a Aline. Um momento de descontração ;)
— Abrazame/Coleccionista De Canciones (Camila): não entraram oficialmente na trilha, mas inspiraram muito as cenas do término Flá/Gui e a fase de não aceitação. Principalmente do Gui.
— But I Do Love You (LeAnn Rimes): é uma música linda, delicada e leve, bem a cara da Milena com o Vini. Representou um break feliz no meio de tanta confusão.
— Clarity (Zedd Feat. Foxes): foi indicação de uma leitora e pega bem a vibe Milena/Vinícius na letra. Curti muito.

Como veem, com o tempo as músicas foram ganhando mais espaço e até personalidade.
Das fics que li e gostei, algumas indicavam músicas para cenas e geralmente eu as adotava – acho que ainda lembro as cenas se as ouvir.

Espero que vocês tenham gostado desse especial sobre a trilha sonora e, quem sabe (?), adotado -várias- algumas. Se tiverem alguma indicação, não se acanhem, adoro novas músicas.

Até breve!

Alexis.



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