Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 32
Capítulo 31


Notas iniciais do capítulo

#VaiTerCopaSim
#VaiTerCapítuloSim
#TeveBolãoSim
#LaLaLaActivia
~Leggo~

Murilo me disse 3x1 e eu duvidei! Ficou sambando a música da Shakira/Activia no repeat até eu vir aqui postar.

Eis então. Enjoy!



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– O que você fez?

Fui pega.

Não por Murilo – na realidade, meu irmão não quer nem sair de seu quarto. Aline quando chegou, só passou direto, não perguntou quando eu disse isso.

Tinha falado com Iara no celular, perambulado na sala, inquieta por não ter notícias, a agonia tava me dominando, o celular de Filipe dava fora de área, resolvi ligar pra ela mesmo. Deixei Vini dormindo na minha cama, ele apagou primeiro que eu, que nem consegui fechar os olhos direito. Também precisava descansar, só que não conseguia. Aí descobri que Iara estava também no mesmo barco quase, num silêncio de informações. Mantive-me então atenta ao que acontecia ao ambiente online, buscando qualquer indício, e vi que tinha mais comentários, mais fotos surgindo e... entrei em pânico.

Não era esse o plano. Luciano não estava cumprindo conforme meu pedido.

Desde muito cedo, tenho acompanhado as redes sociais, fuçando tudo que pudesse me dar alguma luz sobre o que acontecia. André não tinha mesmo postado nada, e isso me assustava como nunca, porque ele é sempre o primeiro a ladrar merda por lá. Não que eu siga ele em qualquer perfil ou site, mas ele tá no grupo da faculdade e dali já dá pra ver um começo. Fucei, fucei tudo. Vi que seus amigos tinham comentado algumas coisas, que brotou gente de tudo que é canto falando sobre a coisa toda, porém, nada muito concreto. Até que... achei fotos upadas. Então vídeos upados. Cenas da briga, a bagunça, o alvoroço, os seguranças, Murilo tinindo de raiva, André todo quebrado, os funcionários dispersando. Tudo.

Eu surtei.

Tinha que tirar todo aquele material de cena, só não imaginava como.

Até me vir a ideia.

Eu não me orgulho bem disso, foi o que deu pra fazer apenas. Contatei o Luciano e pedi um novo serviço. Ele estava bem a par da situação para entender meu lado, contudo, sabia que era uma coisa delicada e por isso, mais cara. Não me liguei nisso, só fiz o pedido, expliquei o que queria, ele me deu uma noção do que era possível e fiz a transferência do dinheiro. Paguei um bocado mais que a quantia já uma vez solicitada, pela causa do vídeo do Murilo quando eu quis me vingar, e não liguei. Só precisava urgentemente tirar todo aquele conteúdo do ar e não parecer que estava envolvida.

Só que mais coisas estavam pipocando, e quem se descontrolava era eu.

Assim liguei pra Luciano e exigi respostas. Afirmou-me que estava cuidando do caso, mas, como era bem complicado, e tinha que fazer parecer que era um erro do site hospedeiro, não poderia tirar logo de cara todos os conteúdos postados. Na verdade, ele ia tirar, só que sem os usuários saberem. Quem clicasse para baixar ou salvar, não seria o conteúdo, mas sim um vírus qualquer, o que já impedia de compartilhar mais. Era como um controle comedido. Fazia-se de conta que as coisas estariam lá, mas elas realmente não estavam.

Luciano também monitorava isso. Afinal, testemunhas era o que não faltava. Tinha lá suas manhas para descobrir perfis e fazer o serviço. Ele tentou me acalmar, mas enquanto aquilo estivesse no ar, mesmo que como uma nuvem, me assustava.

E foi bem aí que Vini me pegou. Quando falava com o outro no celular:

– Eu sei, eu sei, pode ter mil pessoas postando ao mesmo tempo, mas... Droga, Luciano! Troca as imagens, sei lá.

– Aí vai ficar super na cara, né? Não dá!

– Coloca qualquer coisa, de briga mesmo. Só tira meu irmão de l...

Foi quando me virei para verificar novamente a tela do meu notebook, com a rede aberta, uma chuva de comentários, aquela coisa toda pairando, eu entrando em pânico de novo, que percebi Vinícius. Pela sua expressão, era claro que não sacava bulhufas do que via ou ouvia, mas era certamente... algo errado.

Não era como horas trás em que ele apareceu à porta me procurando e eu desliguei a ligação com Dani, não era como antes eu estava apenas chateada, eu era tava pirando e praticamente gritando. Ele me pegou bem no auge.

Não tinha noção de quanto tempo estava ele ali. Quando se aproximou mais e o vinco em si foi o tomando de vez, deu pra sacar que era mais tempo do que eu queria. Afinal, Vini via que eu tinha feito algo. Desliguei a ligação com Luciano antes de qualquer coisa. Isso infelizmente foi minha entrega.

No entanto, iria sondá-lo primeiro.

– O-o que quer dizer?

– Levantei pra te procurar e ouvi parte da sua conversa. Você pagou um hacker, é isso? Por quê?

Não saberia dizer se estava com raiva ou não de mim, então só me recolhi um pouco, tentei inspirar algum ar e abaixei a tela do note. Não era que não queria lhe revelar o que fazia, mas também que ele não descobrisse daquele jeito.

Sem mesmo o olhar, me apoiei ao alto de uma cadeira do conjunto da sala e expirei:

– Foi necessário.

– Poxa, Mi, não sai fazendo essas coisas sem avisar ninguém. Por que não falou comigo?

Pronto, ele estava chateado. Indignado talvez fosse a palavra certeira. Tanto que nem chegava mais perto de mim, passou que achei melhor nem olhar para trás. Que me odiasse, pensei, eu fiz e faria de novo se fosse o caso. Nem que fosse queimar todas as minhas economias, não importava se era certo ou errado. Era só isso que eu deveria dizer. Mas os nervos em frangalhos... eles preferiram outra abordagem. Me voltei para Vini, quem estava mais perto do que eu podia imaginar então.

– Porque a porra toda tava se espalhando, eu que não ia lutar contra o tempo. E não havia mais, Vini, ou o Luciano tirava aquilo ou... sei lá! Você sabe como são essas coisas na internet.

Eu mesma já havia sofrido algo do tipo uma vez pela droga da foto que Denise postou. Mas nada se comparava ao que seria para meu irmão.

Vinícius questiona, ainda atordoado pelo que era a situação:

– Mas um hacker, Lena? Quem é esse cara? Ele pode ser perigoso! Isso tudo pode ser perigoso, já pensou?

Pensei. Pensei até demais. E novamente, me forcei a ficar centrada.

Com um fio de voz, afirmei, cabisbaixa:

– Eu conheço ele... e o trabalho dele também.

– Tá me dizendo que essa não é a primeira vez?

A surpresa dele me parou, porque vi que basicamente me entreguei de novo. Me sinto acuada. Dali viria um julgamento e eu seria apontada. Acabo que me afasto dele tombando mais para o lado do sofá, segurando-me lá, pois sentia que já não havia muita força para me sustentar. Estava fraca demais para aquilo já e ainda assim continuava lutando.

– Vini, você não entende!

Ele não me segue, mas, de onde ficou, exclama:

– Se você não me explica, eu não sei o que pensar! Estou do seu lado, Lena, não contra você, ok? Mas preciso que me fale as coisas. Não tome essas decisões desse jeito, sozinha!

Mesmo de costas para ele, respondi. Cheguei até a apontar para minha máquina disposta na mesa, vendo, por visão periférica, que ele então levantava a tampa e observava a tela. Só que ao final de meu discurso, a fraqueza me bateu mais forte e senti que ia cair.

– Você nunca iria concordar e eu não tinha tempo. Tem gente cuspindo comentário a cada segundo que se passa, tem gente postando e upando o Murilo em rede enquanto estamos discutindo. A polícia vai bater aqui e...

– LENA!

Logo braços me tomaram, eu me sentia mole, como se estivesse pra me desfazer. E uma dor, um dor filha da mãe tomava meu útero, um enjoo me subia à boca e me segurei firme nele. Quer dizer, julguei ser firme, mas não era, descobri.

~;~

Não apaguei.

Mas numa coisa Vinícius tinha razão. Estava muito fraca e debilitada por puro terror do que poderia acontecer. E ele não era meu inimigo.

– Tome.

Movi-me na cama só para levar os comprimidos à boca e aceitar a água que Vini trazia ao copo em meu quarto. Houve um timing "perfeito" da natureza feminina para me atacar. Aline surgiu logo atrás dele com uma bandeja contendo frutas, suco e sanduíche. Me embrulhava o estômago só de ver, mas eu teria que comer se quisesse me manter de pé. Devia ter sido queda de pressão, algo assim, eu mal havia comido ou dormido por um dia inteiro. O outro comprimido era justamente para isso, vitaminas que pudessem me sustentar mais.

– Tenho mesmo que comer?

Vini quem responde, sentando-se ao meu lado e me forçando a sentar também. Cuidadoso, havia penado procurando meu remédio de cólica, que nem eu lembrava onde estava à primeira mão. Foi só o tempo de Aline preparar tudo que ele achou em uma de minhas bolsas, conforme eu ia lhe indicando. Ele estava para ir na farmácia.

– Ou come ou fica de soro no hospital.

Se polícia era uma palavra que me assustava ao momento, hospital era quase uma irmã desse horror.

– Eu como.

Aline e Vini assentiram um para o outro, vendo que eu não ira resistir sob tal argumento, nesse sentido eu era como meu irmão. Eles trocaram mais umas palavras que não cheguei a ouvir e ela saiu, voltaria ao posto de cuidar de meu mano. Ela quem ouviu que estávamos discutindo e foi averiguar o que acontecia na sala. Já me encontrou sendo carregada até o quarto e fez de tudo para o Murilo nem ver.

E eu ali, dando trabalho. Comecei a beliscar as pontas do misto quente que esfriava ao prato pra fazer pelo menos um esforço. A cólica não estava tão forte quanto o ataque que havia dado em poucos minutos, me permitiu que pelo menos pudesse me mexer.

Um pouco sem jeito, começo:

– Desculpe. Pelo trabalho e por...

Vini passa uma mecha de meu cabelo para trás da orelha e me rouba uma uva. Por mim, ele poderia pegar todas. Eu mesma as empurraria para ele.

– Apenas não me tenha por inimigo, Lena. Não estou aqui para te julgar.

Não lhe respondi, mas acredito que minha expressão foi o bastante para cobrir o vácuo de palavras. Ele então complementa:

– Só estava um pouco chateado, ok? E preocupado. Queria que tivesse me abordado. Eu também teria feito algo. Por mais maluca que fosse essa sua ideia.

– Não quis sofrer risco de as coisas se espalharem na rede mais do qu...

Com seu dedo indicador, que pousa sobre meus lábios, ele me pausa antes de terminar a sentença. Novamente cuidadoso, detinha uma calma que eu parecia não alcançar. Conforme me toma a atenção, sua mão acaba deslizando de fato para meu rosto.

– Você não tem que fazer nada sozinha. Isso que quero te dizer. Se eu soubesse hackear, hackearia por você. Mas tem que aceitar que isso tá tomando conta demais de você, amor. Está fraca. Precisa se cuidar.

Dou um suspiro longo. Nem tinha como enfrentá-lo em argumentos, não havia sequer força de pensamento para tanto.

– Eu sei. Só me desesperei um pouco.

– Um pouco é pouco para dizer, não?

Abaixei minha vista, arrependida. Sabia que iria me arrepender, mas não podia imaginar que seria tanto. Que ele não me julgaria ou que discutiria comigo.

– Eu poderia ter feito algo, não precisava se desgastar assim.

– Mas...

Mais rápido que pude imaginar – ou acompanhar – ele enfia um pedaço do misto em minha boca com pouca graça. Poderia ser para me forçar a comer ou mesmo para que eu parasse de dizer besteiras. Tanto faz, porque foi aí que percebi que tinha fome e aquilo estava bom, o pedaço não era só de pão como antes beliscava. Não fazia minutos que sentia um terrível enjoo e, de alguma forma, comer estava fazendo passar. No entanto, mastigava devagar.

Sem como protestar, ele volta ao que dizia.

– Precisamos de você inteira. Sã. E o que quer que esteja acontecendo no plano de rede, isso não importa agora. Mas... que saiba dividir também.

Terno, Vini ainda falava de meu plano “maluco”. Era uma repreensão branda, ele realmente não queria discutir. Tanto que quando mencionou “dividir”, ele baixou o olhar para a bandeja na minha cama, entre nós. Eu havia entendido. Vinícius não seria um empecilho para aquilo, basicamente me desesperei a toa e sozinha. Acabei o magoando no processo.

Comendo de pedaço a pedaço, pequenos, me sentia envergonhada de meu feito. Não havia confiado nele quando deveria ser justa. Era compreensível se estivesse chateado por isso. Aquilo tudo tinha me subido a cabeça, e eu deixei. Como uma prova, eu tinha falhado. Se pudesse fazer a repositiva, marcaria certo as questões, pensei.

Assim toquei-lhe no queixo e o fiz subir até que estivéssemos olho no olho. Vinícius resistiu um pouco, mas percebi que se deixou levar logo que viu meus olhos brilhando. Me sentia terrível por aquilo.

– Desculpa. De verdade. E ainda por cima te assustei.

– Tudo bem.

– Não “tudo bem”. Eu não quero mais ser essa pessoa que faz as coisas imprudentes só pra melhorar as coisas e na verdade faz é piorar em outras. Não quero mais guardar as coisas em mim. E eu te prometi que não...

– Não importa, Lena.

– Importa! Droga, eu vivo dizendo que quero fazer as coisas diferentes e eu preciso passar a fazer! Não devia te magoar mais por isso. Confio em você. Tinha achado que seria resistência, mas estava errada.

– Não se exalte, ok?

Vinícius tenta passar a mão em minha cabeça – literal e não literalmente – e o parei ali mesmo. Só porque estava fraca no momento, e tivesse me comportado com pouca sensatez, não devia justificar. Eu o amava demais para desmerecê-lo assim, ainda que alguma vez tenha acreditado que o que fiz era uma ideia boa.

– Posso explicar tudo.

– Sei que sim, amor, mas agora você precisa se cuidar. Me deixe fazer isso, ok?

Teria eu o assustado tanto assim?

Como repentinamente a fome havia aparecido, desapareceu, mas eu comi, me alimentei até onde pude, pois, se eu era a loucura dele naquele momento, o melhor que eu podia fazer era lhe oferecer paz. Sendo assim, pouca resistência.

Levantei a bandeira e deixei que cuidasse de mim.

~;~

Por muito tempo eu queria apenas ficar assim, deitada, junto de Vinícius, a tranquilidade reinando, o papo ameno, nossos corpos encaixados e a preguiça não nos deixando sair do lugar. Mas não era bem isso que pintava nosso quadro atual. Embora estivéssemos juntos, ele em minha cama até, a tranquilidade não era rainha e não era por preguiça que não queríamos levantar, tampouco o papo era ameno. Quer dizer, nem havia muito papo, eu me sentia bastante cansada do dia todo de espera. Espera por uma ligação, uma resposta e até um vírus, que pudesse retirar todo o conteúdo que fosse postado sobre aquela confusão.

Não conseguia dormir, por mais que Vinícius me aconchegasse em seus braços e beijasse-me ao rosto, carinhoso. Parecia que enquanto eu não colocasse aquilo para fora, iria se remexer infinitamente em meu estômago. Precisava, enfim, “vomitar” se quisesse ceder a nós dois pelo menos um pingo de serenidade. Depois de muito tempo em silêncio, que ele dizia ser necessário para me fazer dormir, eu protestei. Quer dizer, comecei logo direta.

– Ele é da faculdade.

Um tanto desnorteado, Vini não captou a informação de primeira. Me afastei dele um pouco e assisti quando tentava interpretar aquilo e não chegou a alguma conclusão. À meia luz de um dia que prenunciava seu fim, ele conseguia ser lindo com uma mínima expressão de confusão.

– Quem?

– O hacker. É um amigo que trabalha lá. Ele viu o alvoroço, entendeu de imediato o que pedi. Não me importei com o dinheiro.

Atencioso, Vini ajeitou seu travesseiro e se acomodou para melhor se sentar ao espaldar, enquanto absorvia e entendia o que eu queria falar. Mais que espaço e importância em meus pensamentos, já era mais que hora de começar a não guardar tudo. Como a mulher que eu sempre me ditava, deveria deixar aquele comportamento birrento de lado e ser sincera. Havia ele dito “saber dividir”. Podia eu não ser tão boa nisso, e ele também não era, o que importava era mostrar confiança, algo que vínhamos trabalhando faz um tempo e ainda era um pilar de difícil sustentação.

Depois de um tempo, deveríamos estar evoluindo e não regredindo.

– Eu poderia ter contribuído, se fosse necessário assim...

– Achei que fosse necessário.

Brinquei eu com a ponta de meu travesseiro, detinha em mim ainda traços de vergonha por ter sido leviana a ponto de cometer aquela loucura. Quer dizer, o ato em si não era louco, só... talvez drástico demais? Como me deixei levar fácil sem entender que haveria consequências. Sérias até. Luciano vinha me avisando isso e eu o ignorava. Não era a toa que me sentia exausta, aquilo só estava me sugando o resto de forças.

– Quanto foi?

Fiquei sem jeito. Seria eu uma mulher ou uma ratazana?

Momentos ratazana não poderiam me estragar tanto, poderiam?

– Errrr... Alguns trocados...?

Vini, mais uma vez brando, me repreendeu por tentar fugir da questão:

– Milena...

– Vezes outros trocados...?

Ele acaba por entrar na “brincadeira” pra ver se conseguia algo mais, já eu retruquei desviando não sei exatamente por quê.

– Com expoente do expoente, deu quanto?

– Não sei se tinha tanto expoente assim na verdade.

Que tinha, tinham dois, um dois em cima do três e um dois em cima do cinco vezes dois (3²x5²x2). Era de uma matemática simples.

– Quanto?

Suspirei e sussurrei o número.

– Quatrocentos e cinquenta.

– QUATROCENTOS E CINQUENTA?

A voz antes calma e serena de Vinícius sobe umas oitavas quando é tomada pela surpresa e por essa mesma ele levantou-se com brusquidão do encosto da cama. Eu havia fechado os olhos como uma menininha encrencada – e até enfiei o rosto ao travesseiro, porém, podia sentir cada movimento de Vini na cama e por aí mesmo tinha alguma ideia sobre sua reação. Ele veio a repetir a pergunta de “quatrocentos e cinquenta” mais umas duas vezes e em todas eu assenti, o rosto ainda escondido ao travesseiro. Acho que só nesse momento mesmo que minha ficha caiu.

Não tive jeito senão explicar do que se tratava o “pacote” e porque era caro assim. Se pensar bem, não era tãaaao caro em vista da super facada que o Luciano poderia me passar, eu sabia que me dava descontos e sabia ele que podia confiar em mim sobre a questão de não supervalorar seus... serviços. Uma vez esclarecido isso, Vini ainda se mostrava indignado. Como tive que enfrentá-lo para detalhar sobre o que consistia o “trabalho”, não mais me escondia e tal qual ele, me sentei ao encosto de minha cama, assistindo dessa vez sua chateação. Resmungou ele por fim:

– Ele poderia ter cobrado bem mais, eu sei, mas ainda assim... para você é um desembolso grande quando tem de ministrar o pouco que guarda e gasta logo com isso.

Viro de lado para ficar frente a frente com ele e abraço meu travesseiro ao peito. Ele tinha razão. Eu não soube o que era razão quando pensei estar sendo lógica, eu só vi consequências e... droga, eu via a desgraça quase por inteira. Ter a imaginação fértil nesse caso era uma tortura, pois se o que apresentava para mim podia ser ilusão, eu que não queria ver a versão toda se concretizar perante minhas vistas sem ter como lutar contra.

Só que eu também não calculei os números certos, só o tempo, tempo que corria e lógica social online carregava aquilo em piscares de olhos, pulando de rede em rede sem eu ter como alcançar, senão fazer parar. Meti a cara e não me importei com o preço. Mal tinha sido contratada para um estágio com remuneração e boa parte de minha ajuda de custo já se negativava. Era o jeito se quisesse cobrir aquele vácuo de 450 reais. Ainda que também indignada por isso – não contava com esse gasto emergencial, daria um jeito com o que me restasse – eu, por outro lado, tento amenizar a situação.

– É capaz de o Murilo se divertir com um balão, então dá pra disfarçar se ele ficar sem presente de Natal esse ano.

– Mi, isso é sério.

Marcas de expressão de chateado se mantinham firme à testa de meu namorado, assim como por todo o rosto e firmes como seus braços cruzados, em conformidade à negação que sua cabeça fazia. Ele era contra aquilo tudo.

– Eu sei. Acabei de terminar de pagar a viagem, que tive ajuda de custo dos meus pais e demorei uns meses ainda pagando as últimas parcelas do último presente que dei a ele.

De fato, Vini era contra. Porém, como ele comentara, teria se envolvido se fosse necessário, chegando a rachar o dinheiro se fosse o caso. Por isso mesmo, ainda mais chateado, ele retruca. E retruca baixo sabendo que sobre aquilo em especial quem era contra era eu. Principalmente se detinha um bico com isso.

– Eu podia ter pagado.

Minha resposta foi simples.

– Não.

– Por que não?

– Digamos que eu preferiria deixar de pagar a ter que pagar com seu dinheiro.

– Com meu dinheiro? Qual seria o problema afinal?

A gente vem discutindo isso faz um tempo, ele querendo me encher de coisas e eu as achando desnecessárias. Se era pra me mimar, que fizesse de outra forma, menos com dinheiro envolvido, porque... bom, pelo menos quanto a isso eu devia manter meu orgulho, não?

– Ainda tenho orgulho. Ninguém mais deve arcar com as besteiras que faço.

– Mas Mi...

Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa mais, eu o interrompo. Como ele mesmo fizera mais cedo, pousei um dedo sobre seus lábios e mais uma vez sua testa se franziu, por saber esperar bem o que seria minha justificativa.

– Apenas não, ok? Isso não se trata de... três cds.

Mencionei três cds por falar, sem ter alguma referência em si, só que para Vini, aquilo bateu de outra forma. Mais precisamente sobre algo que estava já um tanto longínquo em nossa história. Sob meu dedo ainda lá, tocando-lhe os lábios, Vini não deixou de responder. Logo mais, delicado, segurou-me pelo pulso e abaixou meu braço. Eu quem não saco de primeira. Quer dizer, sobre sua menção.

– Cinco.

– Cinco?

– Foram cinco cds virgens, uma barra de chocolate e uma caixinha de chicletes. E você tomou meu cartão.

Aí sim o quadro foi pintado na minha cabeça.

Sorrio mais pela lembrança de nós discutindo por causa de compras poucas numa loja de conveniência do que pelo sorriso que ele mesmo me abre nesse instante, um tanto saudoso também, percebo. Não havia passado um ano desde aquele dia e ainda assim, me parecia séculos atrás. Vini “estava” com Becca, eu tinha conseguido o vídeo do Murilo, o enfermeiro bonito ainda era um “cafa” e minha melhor amiga seria aniversariante.

No quadro atual, eu quem estava com Vini, o enfermeiro bonito ia casar e minha amiga queria ir de penetra. Como as coisas mudam sob nossos olhos e perspectivas. Tão agridoces quanto o título que levou a foto minha com ele, em referência à música que dançamos no aniversário de Flávia. Por uns segundos me detive apenas a essa lembrança e aposto que levava um sorriso bobo ao rosto.

– Foi engraçado. Realmente achei que aquela chateação toda era porque tinha tomado o cartão de você, ferido algum ego, sei lá.

– Acho que não tive melhor maneira de dizer que gostava de você. E não foi engraçado não, fiquei achando que aquele enfermeirozinho tinha tentado algo além com você. O Murilo tinha dado a entender que...

Ele mesmo suspira, mexendo aos cabelos e aos olhos cansados, como se dissesse “por que estou falando disso mesmo?”.

– ... deixa pra lá.

Só que aqueles fios macios dele já tinham me chamado a atenção. Estavam no ponto que eu tanto gostava, curto pelos lados e bagunçados ao topo, ele devia ter cortado faz não muito tempo. Estiquei assim o braço a fim de alcançá-los e acabei me aproximando mais dele.

– Ciumento desde o começo.

– Prefiro o status de apaixonado, pega menos mal. Mas então é isso? Você “toma” meu cartão de novo?

Estava eu caindo nos encantos dele quando me apercebi da pergunta e “acordei”:

– Pode se dizer que sim, acho. Era um plano meu e não quis você envolvido. Como antes, era necessário, mas idiota. E isso você não merecia. Não precisa provar mais nada, sei que ama e quer fazer as coisas. Mas de verdade, não precisa. E nem ter ciúme do Luciano.

Cerrando um pouco os olhos e sendo lindo nesse seu aspecto desconfiado, acho que Vini tentava puxar alguma imagem do cidadão citado.

– Ainda tô tentando me lembrar quem é esse cara.

– Acho que não vá se lembrar dele... ele trabalha na recepção.

– Tenho a vaga impressão que minha mãe já comentou algo sobre ele.

E eu tenho uma viva lembrança sobre um servicinho que Luciano prestou à sua querida mãe em um ato de desespero.

– Luciano é conhecido como um cara um tanto atrapalhado. É incrível como sempre a burocracia de atendimento demora mais quando com ele. Mas para esse outro... serviço... até que ele é bem jeitoso.

Brincalhão, Vini quer explorar mais o assunto já que abordei.

– E o quê? Ele tem uma placa de “hey, sou hacker, faço bons preços”?

– Acho que quase ninguém sabe, já joguei verdes entre a galera e ninguém disse nada. Ele não deve propagar muito.

– Como você descobriu, afinal? Ele quem ofereceu?

A pergunta de um milhão de dólares simplesmente saiu de sua boca e... Bom, eu já tinha decidido que ia até o fim com esse assunto, agora como eu diria, me vi sem tempo de como planejar.

– Errrrrr... não. Eu soube de... uma fonte segura. Soube por acaso.

Por acaso enquanto você estava internado e Djane teve que se sair para evitar a presença de Filipe a rondando. Como dizer isso da melhor maneira possível? Não tinha noção se sua mãe teria lhe dito algo. Droga.

Com aquele mesmo tom de “o que você já aprontou”, ele me lança a pergunta que eu não tinha bem como ter certeza se podia falar. Porque, claro, não se tratava de mim. Mas se tinha começado aquilo, iria terminar a missa. Não ia?

– Que fonte segura, dona Milena Lins?

– Errrr...

– Meu Deus, eu conheço?

Meu Deus digo eu, ele fez a mesma expressão de Filipe!

Até parei de brincar com os fios dele e voltei a abraçar o travesseiro ao peito. Inspirei e contei, sob aquele ar de expectativa. Um, dois, três.

Não o olhei diretamente quando, ao expirar, lancei a bomba e me tapei a boca.

– Djane.

– MINHA MÃE? O que...? O que minha mãe teria a ver?

Quer dizer que ela não disse mesmo? Oh, Senhor, onde fui amarrar meu burro.

– Ok, vamos rebobinar um pouco mais nossa história.


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Notas finais do capítulo

Milena não facilita, hein. A gente puxa a orelha dela e ela puxa de volta.
Uma hora ela aprende.
Eu espero, né XD



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