Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 112
Capítulo 111


Notas iniciais do capítulo

É bom estar de volta ♥



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As buzinas soam altas lá fora, mas não tão ensurdecedoras quanto o carro-propaganda à frente do busão em que estou. Felizmente, já sentada. Encosto a cabeça no ombro do Gui, também sentado, ao lado. Nosso trânsito parado do dia.

— Ah, é você.

— Eu o quê?

— Parecia que tinha um cheiro de chiclete me perseguindo desde cedo e... É você.

— Ah, troquei de xampu. Gostou?

— Tem cheiro de chiclete.

Gui e seus comentários. Reviro os olhos, mesmo que ele não possa ver. Sou educada de não mais zoar seu corte de cabelo, afinal, já faz dois dias. Flávia disse que tem hora que não reconhece o próprio namorado. É que ele quase nunca cortou desse jeito, do tipo bem baixo mesmo, meio exército. Vai demorar bastante pra crescer os cachos de volta. Até Iara passou por ele na empresa sem notá-lo. Ele pensou que ela tava fazendo charminho.

— Contanto que você não coma cabelo.

— Tô pobre, mas ainda posso comprar um chiclete, tá?

— Tem gente realmente pobre na vida, sabia? Mas, deixa, se você não se recuperar nos próximos semestres, te levo no meu carro.

— Carro de mão, só se for.

— Meus pais querem me dar um carro de presente, te falei?

Ele coloca a mão fecha sobre a boca e finge tossir.

— Cof, RICA, cof.

— Ainda não sei se aceito.

— Porra, Milena, só tu mesmo pra negar um carro da tua família!

— Seria presente de formatura. Só acho que eles vão ter muitos gastos.

Mas quando penso no tanto de ônibus que ainda vou ter que pegar... Melhor dizendo, trânsito desse jeito, até que considero. Agora só falta achar hora pra fazer aula de direção. Não sei de onde.

— Caraca, formatura. Ainda nem pensei no tema da minha monografia!

— E tu acha que eu pensei? Cogitei uma vez ter o professor Carvalho de orientador, só que agora ele tá em outro departamento... Não sei se ele volta. Não sei se vale eu pegar alguém de fora.

— E o Sanches?

— É uma possibilidade. E você?

— Com certeza não é o Max!

Quase solto um “quem disse que Max vai ficar até a época da monografia?”, daí rio um riso meio sem graça, porque sabe-se lá quando isso vai acabar. Será que a operação ainda vai demorar muito? Não conversamos desde a última aula dele que marquei presença. Ele tampouco me aporrinhou esses dias. Anda mais... centrado. Não sei dizer.

— Ok, talvez o Paulo.

— Ou Silvana.

— Vou ficar de olho na linha de pesquisas del...

Um moço de pé se segurando nas barras de metal do ônibus nos tira a atenção quando bate repetidamente no próprio relógio de pulso. Ao que parece, falhou. Gui me acotovela pra averiguar as horas, já que ele esqueceu o seu celular hoje, e puxo meu aparelho – novo! – já constatando que vamos chegar atrasados de novo. Estamos perto, mas contando com descer do busão, atravessar a avenida, correr pra instituição, subir as escadas, são pelo menos uns 20 minutos pra pedir desculpa na porta da classe.

Demoro um pouco pra consultar porque ainda tô me acostumando com os novos comandos do aparelho. Meu falecido ao menos tinha um botão pra gerenciar o menu, esse nem isso. Modernidades.

— Oi. São 19h20.

— Obrigado.

O moço esboça um sorriso gentil de agradecimento e logo faz sinal para descer. Guardo o celular de volta e noto meu amigo me observando. Quando o encaro de volta, ele manda de pronto, com um sorrisinho meio sacana:

— Você vai aceitar o carro da mesma forma que aceitou esse celular.

Gui conhece bem minha resistência. Aponto para onde guardei o aparelho, entrando no jogo dele:

— Isso aqui foi engenhosidade do Vini pra me dobrar.

Quando chegamos na segunda-feira, era cedo, umas 17h, daí Filipe deixou Vini em casa, depois eu e Flá na casa da minha amiga. Como essa criaturinha a quem chamo de melhor amigo estava doido para ver suas garotas, a gente se encontrou mais tarde para lanchar e contar alguns dos babados da viagem. Quando chegamos, quem estava lá? O Vini.

De pé pra cima, numa cadeira.

Eu já ia falar que não era ainda pra ele dirigir, estando o pé daquele jeito, mas foi Wanessa que lhe dera uma carona. Logo depois ele empurrou uma caixa pra mim na mesa e... era um celular. Todo con-fi-gu-ra-do. Ele armou com a Flá pra pegar meu chip e tudo! Era lindão, preto como eu gosto, fino, não era pesado e... Até o Murilo ligou! Atendi rapidinho pra testar o presente. Ao desligar e olhar a cara de esquema deles, percebi. Não tinha como não aceitar.

Foi tudo armado porque todo mundo me conhece bem.  

— Foi presente.

— Engenhosidade.

— Ele ainda tá mancando?

Gui tenta mudar o assunto, mas, novamente, entro no jogo dele.

— Não exatamente, tá quase normal de novo. Ele diz que agora tem dois pés que estralam. Torceu o outro lado uns anos atrás, com direito a muleta e tudo. Eu torci uns meses atrás numa quedinha e o meu não estrala assim fácil não.

— E tu queria?

— Acho engraçado o barulhinho.

Rio como criança sapeca e ele retoma sua postura de master persuasivo.

— Você vai aceitar o carro.

— Tu já tá pensando na carona?

— Não. Só fazendo mensagem não subliminar.

Era bom estar de volta.

~;~

— Se tu falar mais uma vez que vai reprovar, eu te bato. É sério. A gente combinou de estudar esse fim de semana, poxa.

— Fala baixo, que se a Marcinha descobrir sobre essa roda de estudos, ela e a turma inteira se autoconvida, vira baderna, ninguém estuda e aí que reprovo mesmo.

Minha melhor amiga faz um bico daqueles e quase posso dizer que ela seria uma boa aluna do Murilo. Cruzou os braços e tudo. Eu, Flá e Gui somos os últimos a sair de classe, acompanhando os colegas a descer a rampa para o intervalo. Sei que ela só quer ajudar e sei que eu deveria ouvi-la, é só que eu realmente nunca achei que um dia chegaria a esse ponto de desandar meu curso. Achei que já tivesse aceitado isso, porém, pelo jeito, nem tanto. Mal faltei umas aulas e de repente o conteúdo é a matemática grega, pois fiquei perdidinha nesta última.

Falo isso para meus amigos? Não.

Não ainda.

Gui, com ar sabichão, tenta mediar a conversa.

— Eu só acho que tu tá te assustando antes da hora. Não duvido que depois você passa. Não é como se a matéria tivesse difíííícil.

— Só muito e complicada.

Resmungo por hábito – um que, talvez, penso, tenho de abandonar. Ser mais positiva, digo. Gui ajeita a pasta de documentos que tem nos braços e logo se despede com sábias palavras. Quando foi mesmo que trocamos de lugar?

— Faz a prova primeiro e depois a gente avalia isso. Nada de velório antes da hora. Agora deixa eu correr, porque se eu for no passo de vocês, não consigo ir na secretaria. De novo.

Ao chegar no pavimento de baixo, Flávia saca um fruta de sua bolsa e, antes que a gente chegue nos banquinhos onde nossos amigos e colegas de turma estão e eu possa pedir desculpas por estar sendo tão pessimista com esse lance de provas, o celular dela toca. Caminhamos para os banquinhos enquanto ela atende:

— Oi, Eric. Tudo bem, estou fora de sala. Aaaah! Não, não vou poder ir amanhã, desculpa, semana que vem tenho provas e... É, pode pegar com ela sim. Ah, beleza. Até. Tchau!

Assim que ela me nota a observando...

— O que foi?

— Quem é esse que alarga fácil esse sorriso, hein?

Flá faz que não é nada demais, mas tem algo diferente nela... Um brilho. Não sei dizer. Algo que a anima, assim, simplesmente. É bonito de se ver. E de se implicar.

— O Eric, ué.

— O meu Eric?

— Pensei que você tivesse uma relação monogâmica com o Vini.

— Chata. É só pra saber quais dos Erics das nossas vidas. Podia ser o Eric da xerox... Ou o Eric da papelaria... O Eric da sala da Dani... Tem outro Eric por aí que eu sei.

Durante toda essa semana na casa de Flá tenho a observado mais animadinha. Minha expectativa era de que ela estaria bem triste pela mudança de sua irmã – mesmo morando em um apartamento perto, não é como se viver junto – e, bem, ela está triste, mas tem esses momentos que ela é... ela. Mais animada. Mais... sei lá. Tem algo novo aí e estou sentindo isso cada vez mais. Por isso estou implicando tanto, pois a Flá ainda não mencionou nada. Quando ela quer, guarda algo a sete chaves. Como quando começou a ficar com o Gui.

— Tem o Eric da padaria também.

Eu devia lhe congratular por entrar no meu jogo. Menina esperta.

Só por isso, decido deixar quieto. Ela sabe que implico por implicar, e que quando a for a hora, o que quer que seja ela vai cont...

— Só pensando em fazer umas aulas de dança. Ele dá aulas, você sabe.

— Sério? Que máximo!

Insegura, ela dá uma pequena mordida na fruta.

— Acha mesmo? Tenho um pouco de vergonha.

— De quê?

— De dançar em grupo assim. Eu queria mesmo era pra diminuir o estresse... Acompanhando as sessões para grávidas com minha irmã, acabei espiando algumas aulas e achei bacana. Mas... Ainda não tenho certeza.

— Não é como se você fosse se apresentar amanhã, né? E não quer dizer que vá se apresentar. Ou competir. Dá pra fazer dança só por diversão. Acho que a Ananda fazia, não? Podia ver com ela umas dúvidas... Ou com o Eric, claro. Experimentar. Acho que, de verdade, você iria gostar.

Flávia ri um pequeno sorriso enigmático enquanto mastiga mais de sua fruta. E eu sou a observada da vez.

— O quê? Que foi?

— Você tá me dizendo pra não fazer o velório antes da aula.

Sem graça, percebo o mesmo.

A gente sempre trata a melhor amiga melhor que a nós mesmos, né?

— Relaxa, não vou te bater. Bem, não por isso. Você tem boas notas, Lena. Pode se dar o luxo de cair um pouco. E vamos estudar esse fim de semana.

Desarmada, assinto. Por um segundo apenas. Pois Marcinha passa nesse exato momento e ouve esse final de conversa.

— Opaaaaa, vamos estudar esse fim de semana? Tô den...

— GENTE! PARA TUDO!

Nunca amei tanto as extravagâncias da Dani quanto agora.

Não que eu pudesse dizer isso a ela.

~;~

Não acredito que nessa altura do campeonato vou ter que assinar um termo de sigilo. Se bem que em alguns anos de amizade, nunca assinei e estou pensando seriamente em bolar uns documentos pro tanto de informação que o Gui deixa vazar.

Não seja vingativa, Lena, eu penso.

Flávia já tinha me contado por alto que seu namorado demonstrava amor pelo carro todo fim de aula, quando ele o encontrava no estacionamento. Mas desde que voltamos de viagem, que ele também me dá carona para a casa dela, assisto suas declarações, que vão de “oi, meu bebê” a abraços demorados ao volante.

E eu sou a doida da turma. Sei.

Mas também não julgo. Ou tento.

Mais uma vez no estacionamento, damos espaço pra mais uma das demonstrações de Gui. Quando ia fazer uma piada usando o que Flá me falou mais cedo sobre relações monogâmicas, Bruno surge na saída.

— Ah, Lena. Já que te encontrei aqui... Queria ver um... errr... lance com você.

— Um lance?

— É... Tava pensando em umas coisas e...

Ele olha sem jeito pra Flávia ali ouvindo. Minha amiga percebe o tom reticente e pede licença, indo até o carro ali perto. Gentil, ela também leva minha pasta.

— ...e quero conversar com você, quando puder.

— Pode adiantar o assunto?

— Sobre o comportamento da Dani. E o meu. Em relação a... você sabe quem.

Voldemort.

Não, o Sávio não tem nada de Voldemort. Como tem outros alunos saindo, Bruno não fala nada por exato, pro caso de alguém ouvir. O que menos queremos é mais fofoca e ainda sobre certo assunto delicado.

Sem graça e chateado, Bruno olha pro chão enquanto suspende a alça de sua mochila. Parece muito cansado.

— A gente discutiu um pouco sobre aquilo de hoje do pátio.

Aquilo do pátio foi ela pulando de felicidade por ter sido chamada para uma entrevista – sobre cantar na pizzaria – por um jornal local de grande circulação, o que é ótimo pra divulgação da banda. Daí que todo mundo foi pra perto dela dar os parabéns, elogiar, se animar e tal. E do nosso “lado da galera”, só a Flávia mesmo foi abraçar a Dani. Não é como se eu estivesse dando gelo nela, é só que nos últimos dias que interagimos (como no aniversário das meninas), ela foi extremamente rude, não se desculpou e não respeitou nem minhas decisões quanto de outras pessoas, como de Bruno ou Gui.

Isso sem falar do modo totalmente grosseiro, sem limites e humilhante que ela tratou o Sávio no dia anterior, quando ele foi tentar ajudar-lhe com o material que caiu no pátio. Eu tava chegando em cima da hora da aula e ainda assim o Gui foi na secretaria resolver umas pendências, daí, enquanto passava meu cartão de identificação da instituição na entrada, deu pra assistir de camarote a cena.

O pátio estava praticamente vazio. Ela tava em uma das mesas, falando com alguém no celular. Ao finalizar a ligação, Daniela levantou apressada e algumas papeladas caíram de uma pasta, se espalhando pelo local. Frustrada, ela foi arrumar as coisas de novo, daí o Sávio surgiu, vindo, imagino eu, da biblioteca, não disse nada, e foi ajudar a pegar as folhas que foram mais longe.

O que ela fez?

Gritou com ele. Puxou as folhas e jogou tudo no chão de volta. Expulsou ele dali. Expulsou, cara! Não deu pra ouvir bem o que ela falou, mas pela linguagem corporal, deu pra perceber. E foi notório o desconforto do Sávio.

Foi como chutar cachorro morto.

Ao ver o Sávio subir a rampa e ver a Dani juntando suas coisas e partir logo atrás, fiquei muito decepcionada. Nem consegui sair do lugar. Logo o Gui apareceu, perguntando o que houve, e eu ainda estava tão... sabe? Que nem consegui dizer de primeira. E pro Bruno, também demorei a dividir. Ele ficou tão envergonhado que mal conseguiu pedir desculpas pela namorada.

Só que ela era quem devia pedir.

Eu sei que Dani pode ser bem tempestuosa, mas isso... É demais até pra ela. Nem a Flávia tá assim. Não posso dar de uma babá pra cada surto da Dani, mas também já não sei o que fazer. Passei quase pela mesma coisa com Gui e não tenho energia pra mais um bate-boca que não vai funcionar. Me dá um grande aperto o bastante por estar de mãos atadas.

Imagino que a discussão com o Bruno foi por seus amigos não terem lhe dado tanta atenção quanto ela queria. Dani ainda foi cara dura de perguntar se não estávamos felizes por ela. Eu soltei um “claro” bem xoxo, Gui também um “aham” e não levantamos para parabenizá-la ou curtir aquele momento.

Há maneiras de discordar das pessoas sem agredi-las.

Suspiro, solidarizando o cansaço.

— Pode ser amanhã de manhã?

Ao ouvir o Gui me chamando e apontando para o carro ligado, me despeço de Bruno com um beijo e abraço rápido. Ele segura minha mão quando estou me distanciando.

— Você é muito boa pessoa, sabia?

— Diz isso pra Dani.

Ele ajeita a mochila no ombro, um risinho sem muita vontade, quando diz:

— Estou mentalmente gritando pra ela.


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Notas finais do capítulo

Trechinho do próximo?

"- Queimando neurônio pelas provas?
Bruno surge logo atrás de mim, prolongando um pouco da pequena fila que eu iniciei. Até que o movimento tá bem baixo, é só a atendente mesmo que parece estar demorando.
— Queria eu!
— Murilo?
— Graças a Deus que não! Acho que agora que tô me acostumando ficar longe dele. Saudades da minha criaturinha. E você?
— Vim devolver esses livros.
Bruno enfatiza os livros ao mostrá-los pra mim. Leio rapidamente os títulos dos três que ele carrega, um sobre gestão da diversidade, outro sobre diversidade de gênero nas organizações e mais um de recursos humanos. Quando ele me contou sobre o que andava pesquisando, por um motivo em especial, fiquei impressionada por sua iniciativa. Despertou um lado tão bom nele.
— Você foi a fundo a mesmo. "

S U R P R E S A S vindo aí!

Obrigada por não desistirem da fic!
Entrei rapidinho pra postar e vi que pelo tempo que passei off, tá bem movimentado de leituras! Fico de coração quentinho por saber que tem gente acompanhando ainda e querendo mais capítulos sobre essas criaturinhas... Agora que vi tbm quem mandou dm no twitter. Sorry, pessoal, quase não vejo essa conta! Vou ativar as notificações no celular. Pra quem não sabe, é @Alexi_sK

Até!

A.



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