Emergency escrita por Mackz


Capítulo 5
Green Sky




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Capitulo IV


Um Anjo. Um anjo sem asas que queria voar. Um anjo que queria ser de alguém. Um anjo humano. Um anjo sem destino ou caminho. Um anjo sem paixão. Um anjo sem esperança. Um anjo desesperado. E por fim, um anjo apaixonado.

Estas e mais outras palavras assombravam a minha mente. Edward não tinha cura, não havia esperança. Não era preciso ser-se vidente para ver o seu destino, ou melhor, a falta dele.

Uma dor aguda crescia no meu peito quando pensava nele. Uma dor psicológica. Uma dor que nem com tortura física passava.

Eu não queria imaginar ou pensar. Mas eu sabia. Depois de tantos, ele não seria excepção. Ele iria… para o outro lado. A palavra que definia melhor essa passagem, não saia dos meus lábios, ou melhor dos meus pensamentos. Era uma palavra cortante, arranhava a minha garganta e despedaçava o meu coração ou o que ainda sobrava dele.

Estava deitada na minha cama e encarava o tecto. Tinha apenas o lençol a cobrir-me até a cintura. Os meus cabelos estavam espalhados pela almofada e as minhas mãos fechadas em punhos. Os meus ouvidos captavam a chuva do lado de fora da janela do meu quarto.

Eu queria distrair-me e encher a minha cabeça com coisas mais concretas. Queria contar todas as gotas de chuva que se espalhavam no chão, mas sabia que não seria capaz de apanha-las a todas. Podia contar as estrelas, podia ver o sol a renascer e o céu a pintar-se de um azul mais claro.

Mas o azul não existia mais em Chicago. Parecia que o clima também estava de luto. O dia era cinzento e a noite escura. Queria encontrar alguma alegria, alguma cor. Mas a única que cor que eu via era o verde dos olhos dele. Sim, o verde afastava o cinzento e o preto, e fazia com que o dia ficasse colorido.

Mas o medo atravessou-me outra vez. Tinha tanto medo de nunca mais ver aquele verde. Tinha medo do dono daqueles olhos, fechasse-os, proibindo-me de os encarar e nunca mais abri-los. Adormecido numa eternidade indefinida, abandonaria este mundo em busca de um melhor.

Eu não acreditava em Paraíso. Mas gostava de acreditar que havia um sítio algures escondido, para pessoas de boa alma, como ele.

A imagem do meu paraíso trouxe-me o cansaço. E o cansaço obrigou-me a cerrar os olhos e entregar-me á sonolência.

Caminhava pelo hospital, vestida de branco. Como um anjo. Não, claro que não. Não era um anjo, como ele dizia, mas sim uma vulgar enfermeira. Senti-me apressar o passo, estava a caminhar para o quarto onde ele se encontrava.

Queria parar e caminhar mais devagar, mas a ânsia de o ver era difícil de controlar.

Cheguei a porta do seu quarto e abri devagar. Eram 17h da tarde. E alguns doentes aproveitavam para adormecer, tirando aqueles que adormecia sem escolha para todo o sempre.

Tinha ficado todo o dia longe dele. Carlisle mostrava-se indiferente á minha presença e isso magoou-me. Pensei que tivesse feito algo de errado. E a única coisa de errado que tinha feito desde que tinha chegado foi aproximar-me de Edward.

Por isso, mantive-me á distância. Mas a ignorância de Carlisle quanto á minha pessoa, não passou. Portanto desisti de manter-me afastada de Edward. E iria agora falar com ele, isto se ele não tivesse adormecido. Se ele estivesse, ficaria parada a encará-lo enquanto o seu rosto angelical estaria inconsciente.

Aproximei-me lentamente, os meus olhos sempre fixados no seu rosto, sem nunca piscar.

Fiquei uns centímetros longe de um dos lados da sua cama e fiquei a encara-lo.

Ele estava com um rosto sereno. Mas surpreendi-me quando um pequeno sorriso brotou nos lábios. Estaria ele a sonhar?

- Só agora, anjo? – perguntou-me ele com a sua voz musical e suave.

Fiquei um tempo… Posso dizer "em transe" ? Primeiro, porque estava surpreendida e segundo… Ele chamou-me de anjo.

Ele abriu os olhos perguntando-se o porquê da demora da minha resposta.

- Desculpa. – murmurei só para ele – Estive bastante ocupada em outros quartos. – acrescentei sentando-me ao seu lado na cama. Ele apenas assentiu.

- Como estás? – balbuciei.

- Melhor agora. – tranquilizou-me com um sorriso maroto nos lábios.

Encarei-o espantada e ele piscou-me o olho. Não consegui segurar o riso.

- Sim, estou a ver. – sussurrei e acrescentei com as sobrancelhas levantadas – Já estás a delirar.

- Oh. – bufou.

Ficamos um pouco em silêncio. Eu tinha a certeza que ele estava-se a perguntar em quê que eu estava a pensar, porque eu também estava assim. Ele interrompeu o silêncio.

- Foi um dia muito cansativo. – suspirou com um olhar distante.

- Sim, muito cansativo. – suspirei também – Então para ti. Deitado numa cama. Ui, que cansativo. – acrescentei irónica.

- Estar deitado não é cansativo. – respondeu com o sobrolho franzido.

- Ai, não? Então o que é que te cansou tanto?

- A minha vizinha. – respondeu com um sorriso divertido.

- Vizinha? – perguntei confusa – Mas tu disseste… - interrompeu-me.

- Vizinha de quarto. Esta aqui ao lado. – apontou com a cabeça para a cama ao lado.

Inclinei-me para a frente e olhei para o lado. Deparei-me com uma loira adormecida na cama ao lado de Edward. Não sei porquê, mas fiquei com… ciúmes.

- O que tem? – perguntei um pouco brusca e isso não passou despercebido a ele, já que franziu a testa em sinal de confusão.

- Namoriscar. – disse-me com outro sorriso rasgado – Comigo.

- Namoriscou contigo? – perguntei tentando manter a minha expressão serena.

- Sim. – afirmou enquanto me encarava divertido. – Chama-se Tânia. Mas não é do meu tipo.

Levantei as sobrancelhas.

- Do teu tipo?

- Sim, não gosto de loiras. – respondeu - Estou mais virado para morenas. – acrescentou.

- Pois. – murmurei enquanto o encarava nos olhos com o sobrolho franzido e com uma expressão séria. Mas senti os meus músculos faciais a contraírem-se e a formar um sorriso.

- Deves estar mesmo a delirar. – provoquei-o.

Bufou de novo.

- Bella – o meu nome dito por outra voz suave. Olhei para a porta e deparei-me com Carlisle com uma expressão séria.

- Sim? – murmurei. Esquecendo-me que estava a alguma distância dele. E apenas Edward teria me ouvido. Mas estranhamente, ele conseguiu-me ouvir.

- Vens comigo? – perguntou-me.

- Claro. – voltei a sussurrar. E ele apenas assentiu e saiu do quarto. Que estranho, pensei.

Virei-me para Edward que agora também estava sério, enquanto me encarava.

- Fica bem. – sussurrei-lhe.

- Vou tentar. – sussurrou de volta. Virei-lhe as costas e caminhei até porta. Quando cheguei até esta, voltei-me para Edward, que continuava a encarar-me e mandei-lhe um sorriso. Ao qual ele retribui.

Saí do quarto, encostei-me á porta e encarei Carlisle nos olhos. Não pude evitar e declarei.

- Carlisle, ando preocupada contigo. – disse-lhe num tom baixo. É, estava virada para os sussurros agora.

- Preocupada comigo? – perguntou e o seu rosto iluminou-se com um sorriso divertido.

- Sim. Os teus olhos. – balbuciei e o seu rosto ficou novamente sério. – Eu já tinha reparado. Eles mudam de cor. A uns dias estavam mais escuros, depois mais claros. E agora estão de um castanho diferente. Sente-se bem? Eu li alguns livros de medicina e há doenças que provocam a mudança na cor dos olhos.

Parei o discurso quando o rosto de Carlisle passou de sério a surpreendido. Fiquei preocupada em ter falado algo que não devia. Achava que Carlisle andava demasiado sensível. Talvez por causa destas mortes todas. O seu humor mudava muitas vezes durante o dia e deixava-me sempre com um pé atrás.

- Eu disse algo que… - interrompeu-me.

- Não! – gritou. Respirou fundo e acalmou-se. – Eu… Está tudo bem comigo. – eu apenas assenti.

- Desculpa. Tu tinhas-me chamado… O que querias? – perguntei.

- Nada… Esquece. – virou as costas e caminhou para longe de mim. Pensei em voltar para perto de Edward, mas quando abri a porta do quarto, ele já estava adormecido. Sorri de felicidade sabendo que ele estava bem.

Voltei para o meu serviço e atendi outros casos que não eram de gripe espanhola. Passei o resto do dia na pediatria, e o meu lado maternal ficou desperto. Apanhei-me a passar a mão na minha barriga e a imaginar um ser lá dentro. Afastei os meus pensamentos e continuei a trabalhar.

Cheguei em casa totalmente exausta mas feliz. Não completamente, mas ainda feliz. A conversa com Edward não me tinha saído da cabeça durante o resto do dia. Ele a chamar-me de anjo. Era como um sonho que nunca se iria concretizar, de tão bom que era. Mas era real. Suspirei e fui jantar com os meus pais.

Subi para o meu quarto, ainda mais exausta e atirei-me praticamente para minha cama. Estava quase a adormecer quando me lembrei que ainda estava vestida, levantei-me e mudei de roupa.

Ouvi pedrinhas na janela do meu quarto, e percebi que estava a chover. Mais um dia cinzento. Mas para mim, não. Seria mais um dia verde. Ou melhor, uma noite verde. Não me importaria se o céu antes azul, agora virasse verde.

Suspirei mais uma vez naquela noite e deitei-me na cama. Recordei tudo mais vez. Lembrei do seu sorriso, do seu piscar malicioso, da loira, dos meus ciúmes, da minha estupidez por ter tido ciúmes e de Carlisle. O caso de Carlisle fazia sair fumo pelos meus ouvidos de tanto pensar nas respostas que ele tanto escondia.

Será que ele era daqueles doentes que tinham cancro e não queriam dizer. Ou porque achavam que tinham que aproveitar em vez de se preocuparem ou porque simplesmente não acreditavam. Não. Carlisle não era assim. Ele não estava doente. Deus queira que não. Não conhecia nenhuma doença que fazia que a cor dos olhos mudasse. Teria que passar por uma biblioteca. Aconcheguei-me na cama e adormeci.

Adormeci pensando que era tanto anjo dele, quando ele era o meu anjo. Num mundo apenas verde.


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Notas finais do capítulo

Vou postar dois capitulos seguidos. Este e o que vem aseguir, "Principio do Fim".

bjsbks



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