Atrasados meia hora, eles finalmente conseguiram chegar ao local onde o show seria apresentado naquela noite para começar a passagem de som. Todos se dirigiram diretamente para o camarim, mas Matt não os seguiu. Ele ficou impressionado no momento em que viu todos aqueles instrumentos juntos e o primeiro lugar ao qual se dirigiu foi para o palco. Aquela foi a primeira vez que ele viu um palco e tantos instrumentos assim. Apesar do pai ser músico, sua mãe nunca permitiu que ele fosse aos shows pois ela os achava muito perigosos para ele, então o show que eles fariam naquela noite seria o primeiro show ao qual ele assistiria em sua vida. Impressionado com tudo o que via, ele se sentou no banquinho ao lado da bateria e esqueceu do mundo ao redor enquanto tentava tocar alguma coisa mas, por falta de sorte, o primeiro que saiu do camarim foi o Chuck e ele estava sozinho.

“O que é que você pensa que está fazendo?”

“Desculpa, eu só estava brincando.”

“Brincando?!? Isso aí parece um brinquedo pra você?”

“Não, mas eu…”

“Então sai daí.” Ele gritou o puxando pelo colarinho e empurrando para longe “E não ouse começar a chorar de novo porque você vai chamar toda a atenção para você de novo e dessa vez eu não vou ter explicação.”

Ignorando a presença de Matt, ele se sentou e começou a tocar algumas músicas enquanto esperava pelos outros. Ainda assim, Matt não conseguia tirar os olhos dele e, logo que Chuck percebeu isso, ele parou de tocar e começou a encará-lo também.

“O que é que foi agora?”

“Nada, eu só estava te escutando tocar.”

“Por quê?”

“Porque bateria é o meu instrumento favorito e eu queria aprender a tocar, então eu achei que talvez se eu ficasse observando como você faz…”

“Eu não dou aulas e nem toco shows de graça. Se quiser me assistir tocando, compre um ingresso. Se quiser aprender a tocar bateria, pede pro seu pai te ensinar.”

“Eu queria mas a minha mãe disse que eu vou ser médico e que ela não vai me deixar perder tempo com música, então ela nem ao menos me deixa conversar sobre música com o meu pai. Ela me manda cortar o assunto com outra coisa se meu pai puxar algum papo sobre música comigo. Se algum dia ela pega meu pai me ensinando qualquer coisa desse tipo ela vai me bater e brigar com ele.”

“É uma pena pra você, doutor, mas o problema é todo seu. Agora some daqui e vai encher o saco do seu pai, não o meu!”

“Meu pai não me acha chato.”

“Pelo menos é isso o que ele te diz. Você destruiu os planos e toda a adolescência dele; claro que ele te acha extremamente irritante. Ele simplesmente se acostumou com você, mas ele seria incapaz de amar alguém que destruiu toda a vida dele. Ele sente pena de você, mais nada. Mas amor? Não me faça rir. Mas eu não o culpo por isso. Eu não te amaria se estivesse na pele dele. Ninguém ama um erro ambulante.”

Lutando contra as lágrimas que sentia em seus olhos, ele saiu do palco encarando o chão e secou os olhos no momento em que parou em frente a porta do camarim. Quando se sentiu melhor, ele abriu a porta e entrou, porém encontrou todos menos a pessoa que procurava…

“Cadê o meu pai?”

“Tomando banho. Ele não teve tempo de fazer isso antes de chegar aqui.” O Jeff respondeu “Mas ele já vem.”

“Quando é que você vai perguntar ‘Cadê a minha mãe?’? Fui eu quem te carregou dentro da barriga por nove longos meses e não o seu pai, sabia? Você deveria pelo menos ser agradecido a mim, não acha?” a Amanda perguntou “Por que é que você prefere o seu pai e nem ao menos tenta esconder isso de mim?”

“Porque você nem ao menos gosta de mim e nunca tentou esconder também.”

“Escuta aqui, seu maldito…”

“Amanda!” a Alex gritou a interrompendo “Ele é seu filho, sabia?”

“Se algum dia você tiver a chance de descobrir o quanto uma criança pode ser irritante, você finalmente vai conseguir me entender.”

“Não, eu não vou. Sinto muito mas eu tenho certeza de que jamais vou conseguir entender como uma mãe pode ser como você ou por que…”

“Por que o meu pai não te abandona!!!”

Ouvindo isso, Amanda simplesmente deu um tapa no rosto do Matt com as costas das mãos sem perceber que…

“Amanda!” que o Pierre tinha acabado de sair do banho “Matt, você está bem?” ele perguntou se ajoelhando em frente ao garoto em lágrimas e o abraçou sem receber resposta alguma “Amanda, você ficou louca? Por que você bateu nele?”

“Ele estava me provocando.”

“Te provocando? Como?”

“Perguntando pra gente onde você estava.” O Seb respondeu “Aí ela teve um surto de loucura e começou a discutir com ele.”

“Isso já é bem típico. Você sempre briga com ele sem motivo nenhum. Sabe, Amanda, você não tem motivos pra odiá-lo tanto assim; você não seria uma boa médica nem se tivesse concluído a faculdade. Médicos têm que se importar com as pessoas e querer ajudá-las e isso não se encaixa no seu perfil.” Ele disse pegando o menino no colo e caminhando em direção a porta

“Pierre, onde é que você vai? A gente tem passagem de som!” David recordou

“Me dá pelo menos uma hora com ele, tá bom? O show não está para começar. Ainda temos um longo dia em frente antes dele. Bateram nele duas vezes só nessa manhã por, aparentemente, nada. Ele precisa de mim agora mais do que vocês então eu vou levá-lo para sair um pouco e vocês não vão me parar e nem vir com a gente pra tentar apressar.”

“Se você atravessar essa porta ainda bravo comigo, eu juro que vou te fazer se arrepender.” Disse Amanda

“Então faça. Faça com que eu me arrependa.” Ele disse saindo e fechando a porta sem nem ao menos olhar no rosto dela

“Tá bom, foi você quem pediu por isso, Pierre.” Ela sussurrou para si mesma e começou a se aproximar da porta

“Amanda, onde você vai?” o Jeff perguntou se levantando pronto para impedi-la de segui-los

“Posso pelo menos assistir a passagem de som do Chuck? Pelo menos tem alguém nessa banda que não é tão preguiçoso e incompetente quanto o meu marido.”

“Não é preguiça e nem incompetência. Não há motivos pra que a gente ensaie se o Pierre não está aqui e ele não está aqui porque está fazendo uma coisa que era você quem deveria fazer: conversando com o seu filho e se desculpando por você.” Respondeu David “Ele não está errado por se preocupar mais com o Matt do que com o ensaio e nem sendo preguiçoso, incompetente, irresponsável ou seja lá o que mais você queira dizer dele então é melhor que você não faça nada contra ele porque todos nós estamos do lado dele.”

“Não se preocupe, eu não vou fazer nada com ele. Infelizmente eu não tenho uma arma pra explodir a cabeça dele.” Ela disse saindo

Depois de sair do camarim, ela caminhou na direção oposta de onde viu Pierre levando o filho, ela caminhou em direção ao palco. Depois de olhar bem no rosto da pessoa com a qual queria falar, ela parou na frente dele com um sorriso nos lábios até o momento em que ele largou as baquetas e, com o mesmo sorriso, se aproximou dela e a abraçou ao redor da cintura.

“Você não pode continuar vindo aqui quando eles sabem que estamos sozinhos. Eles vão começar a suspeitar.”

“Eu sei mas eu preciso falar com você agora. Eu preciso de ajuda.”

“Ajuda com o que?”

“Com o Pierre. Eu briguei com o Matt e dei um tapa no rosto dele e o Pierre acabou vendo.”

“E daí? Ele sabe que você odeia esse pivete.”

“Tá, mas dessa vez é diferente. O Matt está começando a me odiar também e ele até me disse que não sabe por que o pai dele não me abandona e nesse momento ele está sozinho com o Pierre…”

“Você acha que ele vai convencer o Pierre a te abandonar?”

“Talvez. Ele é a única coisa que está prendendo o Pierre em casa, se ele disser pra ele que é melhor que ele vá embora…”

“Amanda, o Matt nunca iria mandar o próprio pai embora. Talvez ele até faça isso agora já que ele pensa que tem alguma chance de ficar com o pai, mas, quando ele descobrir a carta que a gente tem escondida em baixo da manga, ele vai se arrepender e vai implorar para que o Pierre fique e ele não vai simplesmente ir embora sabendo que nunca mais vai poder ver o Matt. Você tem o Pierre nas suas mãos. Ele nunca vai poder terminar com você porque se ele fizer isso ele nunca mais vai ver o filho.”

“Chuck, está ficando mais difícil de segurar ele. Eu acho que ele está se apaixonando por uma garota que eu nem ao menos sei o nome.”

“Como você pode ter tanta certeza assim?”

“Meses atrás, ele me falou sobre uma garota que deveria ter ido com ele na formatura e como a vida dele teria sido diferente se ele não tivesse se atrasado para buscá-la. E aí, ontem a noite, quando eu voltei para o nosso quarto, eu o vi dormindo com um sorriso nos lábios e sussurrando um nome tão baixo que eu não consegui reconhecer, mas não era o meu, disso eu tenho certeza. Eu tenho certeza que essas duas garotas são a mesma pessoa e eu quero descobrir o mais rápido possível quem ela é pra me livrar dela e ter certeza de que eles nunca mais se vejam de novo, nem que eu tenha que deportá-la pra Guatemala e sumir com o passaporte dele.”

“Ai meu Deus, Amanda!” foi a única coisa que ele conseguiu dizer soltando-a e começando a ficar pálido

“O que foi, Chuck?”

“Eu acho que é um pouco tarde pra querer evitar que eles se encontrem de novo. Eles já se encontraram.”

“O que você quer dizer com isso?”

“A garota que ia com o Pierre na formatura… era a Alex!!!”