O sinal da ultima aula tocou e todos se levantaram enquanto o professor de biologia estava encerrando sua aula. Fechei e guardei meu caderno na minha bolsa e peguei meu fichário de módulos em baixo da cadeira.

– Bom alunos, encerramos aqui, pesquisem a respeito das divisões celulares, teremos atividade em dupla na próxima aula. - me virei pra chamar Isabelle pra fazer comigo mas o professor continuou - Eu escolherei as duplas de acordo com suas notas da ultima unidade. Estão liberados. - revirei os olhos e saí.

Esperei Isabelle do lado de fora da sala, ela saiu junto do Liam.

– Hey, você nem falou comigo hoje. Como você tá? - perguntei dando um abraço em Liam

– Sentiu saudades, Amy? - ele perguntou com sarcasmo, dei-lhe um tapa no braço, ele começou a rir - Estou ótimo, melhor impossível. Daqui mais ou menos um mês estaremos de férias, poderia estar mais feliz por me livrar dessa escola?

– Vocês tem planos pras férias? - Belle perguntou antes que eu pudesse responder Liam. Já havíamos chegado no pátio do colégio. - Acho que vou pra Gramado, dizem que lá é lindo no natal...

– Meus pais estavam querendo ir pra Bahia, dizem que tem umas praias muito bonitas por lá, e várias gatinhas também... - Liam respondeu com cara de safado, o que fez com que eu e Belle batêssemos nele, uma de cada lado. - Ai, ai! Parem com isso, vocês só são pequenas, mas têm uma mão pesada pra caramba! Tava só brincando, minha mãe quer ver minha vó. Vocês sabem que ela mora lá. E você Amy, para onde vai nessas férias?

– Ainda não sei... Meu pai não comentou nada comigo sobre essas férias, o que é estranho. Quando chegar em casa eu pergunto a ele. - Fui interrompida pelo som da buzina do carro do meu pai, o motorista já tinha chegado. - Tenho que ir meus amores... Amo vocês! - dou um beijo na bochecha de cada um, ia saindo quando me virei e gritei. - Liam, não esquece de estudar! Você tem as mesmas médias que eu!

Comecei a rir quando ele fez uma careta e Isabelle começou a rir dele. Acenei e entrei no carro. O trajeto não demorou muito, já que o motorista do meu pai era bem habilidoso no volante e já estava acostumado com esse caminho. Ele parou na porta da minha casa e eu saí do carro.

– Obrigada Sr. Bones, sabe me dizer se meu pai já está em casa? - perguntei me direcionando pro motorista.

– Está sim Stra. Johansson, deixei-o aqui a cerca de uma hora.

– Obrigada - dito isso ele maneou a cabeça e manobrou o carro em direção a garagem, subi os degraus de minha casa e abri a porta.

Quando entrei em casa vi minha mãe andando de um lado para outro com uma cara muito preocupada. Quando ela percebeu que eu cheguei tentou disfarçar a preocupação com um sorriso deslumbrante.

Se eu não conhecesse bem minha mãe nem suspeitaria que ela estava preocupada.

– Oi querida, como foi na escola?

– Normal, tenho que estudar pra biologia. Acredita que o professor passou uma atividade em dupla valendo ponto faltando apenas um mês pra acabar as aulas?! Ele é doido... - ela começou a rir vendo minha falsa indignação, só porque eu amo estudar. - Tava conversando com a Belle e o Liam, eles perguntaram pra onde a gente vai viajar nessas férias, ela parece que vai pra Gramado e ele pra Bahia, visitar a avó. Pra onde vamos?

– Er... Sobre isso... - ela começou a gaguejar e olhar para os lados, tentando evitar me olhar nos olhos. Sabia que ela estava escondendo algo. Lá vem bomba! - Seu pai disse que vai querer conversar com você, mas só depois do almoço. Então suba, tome um banho, troque de roupa e desça porque daqui a pouco vou mandar que ponham o almoço.

– Tá mãe... - passei por ela e subi para meu quarto.

Ela estava me escondendo alguma coisa. E eu fiquei imaginando o que seria enquanto tomava um banho morno e colocava uma roupa pra ficar em casa. Escolhi um short jeans e uma camiseta folgada branca, peguei minhas havaianas no closet, passei desodorante e perfume e desci. Encontrei meus pais já sentados à mesa comendo, me juntei a eles. Eles conversavam animadamente sobre os avanços na empresa.

Meu pai é dono de uma empresa milionária conhecida por todo o Brasil, o maior sonho dele era expandir os negócios para toda a América Latina, se possível o mundo, e ele estava quase conseguindo isso. Pelo que ele e minha mãe estavam conversando se o presidente da Argentina e do Paraguai assinassem os contratos para abrirem filiares da empresa dele por lá seria apenas uma questão de tempo para que os países vizinhos assinassem também.

Eu sempre gostei muito de ajudar meu pai com a empresa dele. As vezes passava a maior parte da tarde com ele ajudando na diretoria da empresa. Todas as decisões difíceis que meu pai tinha que tomar a respeito da empresa ele falava comigo. Ele confiava em mim pra conseguir tomar as decisões corretas na hora certa.

Fui a primeira a terminar de comer. Juntei minhas talheres e pedi licença enquanto levantava e ia levar meu prato até a cozinha quando meu pai pausou a conversa com minha mãe e se direcionou para mim.

– Amy, quero falar com você mais tarde, você pode passar no meu escritório daqui a mais ou menos meia hora?

– Claro pai, algum problema?

– Não, quero apenas conversar com você e lhe dar uma ótima notícia. - os olhos dele brilharam quando falou sobre a noticia, e eu percebi o quão animado ele estava com tudo isso. Será que era por causa dessa notícia que mamãe tinha ficado tão tensa?

– Tudo bem, vou pro meu quarto terminar minha atividade e já desço pra falar com o senhor.

Ele assentiu e eu sai. Fui para a biblioteca procurar um livro de biologia pra estudar, assim que achei peguei ele e subi para o meu quarto. Minha bolsa com meus livros ainda estava em cima da minha cama como eu havia deixado. Meu quarto era enorme, mas ainda era o menor da casa.

Era todo pintado de um tom claro de lilás e com borboletas brancas e roxas entalhadas na parede. O teto era rebaixado com gesso e todo branco. Minha suite possuía uma cama king-size de casal no centro, forrada com um edredom roxo e com vários travesseiros em cima dos mais variados tons de lilás ao roxo. Em cima da cama tinha algumas prateleiras embutidas na parede com meus livros favoritos. Ao lado da cama tinha uma estante que eu usava para estudar, onde tinha um abajur e um estojo com grafites, canetas e marcas-texto de variadas cores e um notebook.

O chão era forrado com tapete aveludado azul celeste, e de frente para a cama tinha uma cômoda e uma televisão LCD de led 50'', nessa cômoda ficavam todos os meus livros de estudo, CDs, DVDs e álbuns de fotos. Toda a parede oposta a da porta era de vidro, onde tinha a entrada para a varanda, que tinha uma linda vista para o jardim da casa. Era fechada com uma cortina toda branca com bordados roxo. Na varanda tinha uma espreguiçadeira e uma pequena mesa. De frente para a varanda tinha um puffy com alguns ursos de pelúcia espalhados por cima e envolta dele.

No canto oposto ao da cama, ao lado da porta ficava a entrada para o meu closet e para o banheiro. De um lado do closet ficava minhas jóias, sapatos e acessórios, e do outro, minhas roupas. O banheiro era todo trabalhado nos tons de preto e branco, com um grande espelho em cima da pia, uma banheira de hidromassagem, o sanitário e um box com o chuveiro.

Eu achava tudo aquilo em um quarto um exagero de coisas, meu pai insistira muito para que tivesse de tudo, mas mesmo assim não exitei ao escolher ficar com o menor da casa.

Sentei na ponta da minha cama e peguei minha bolsa. De dentro dela eu tirei minha agenda e meu caderno. Peguei meu fichário e tirei meu módulo de biologia, fui para a cômoda e peguei o Guia de Estudos do Corpo Humano que minha irmã tinha me dado de presente quando descobriu que eu iria fazer vestibular pra medicina. Juntei todos os livros e fui pra minha estante de estudos e comecei a juntar todos os tipos de informação que eu consegui encontrar sobre as divisões celulares.

Me envolvi tanto nos estudos que me assustei quando meu celular tocou com a chegada de uma mensagem. Desbloqueei e vi que era da Isa, abri.

"Iai amiga, já sabe pra onde vai nessas férias? Se souber me liga! Xoxo"

"Ainda nn sei miga, mas meu pai quer conversar comigo, acho q eh sobre isso, ele parecia tenso (e mamãe nem se fala :/ )... Assim q descobrir te ligo.."

Enviei a resposta e olhei a hora na tela do celular, já marcava 15:27. Resolvi fazer uma pausa no estudo, já sabia o suficiente de biologia, então me levantei e já estava na porta do quarto quando chegou outra mensagem de Isabelle.

"Vixii, lá vem bomba.. Pra tia Scar e tio Alex ficarem tensos deve ser problema.. Boa sorte, e me avisa qq coisa.."

Sorri com a resposta dela. Guardei o celular no bolso do meu short e desci. A casa estava silenciosa, mas eu sabia que encontraria meu pai no escritório dele. Primeiro fui na cozinha, peguei uma banana e fui encontrar meu pai.

Cheguei na porta do escritório dele, bati e esperei que ele me permitisse entrar. Assim que ele o fez eu entrei, ele estava conversando em espanhol com alguém pelo celular. O escritório do meu pai parecia mais uma biblioteca de direito e administração do que um típico local de trabalho, era cercada por livros dessas áreas, tinha apenas um sofá preto no canto, abaixo da janela, que era coberta por uma cortina pesada branca. No centro do escritório ficava a mesa do meu pai, com uma cadeira grande atrás dela, onde meu pai estava sentado, e com duas outras poltronas de frente pra ela, me sentei em uma e esperei meu pai terminar o telefonema. Assim que ele o fez começou a falar.

– Emily, pedi que viesse aqui hoje porque queria lhe dar uma ótima notícia. - a animação era visível na voz e nos olhos do meu pai, que brilhavam. - Como você sabe, estou conseguindo expandir minha empresa por toda a América Latina. Estava falando agora mesmo com o presidente da Argentina e ele vai assinar o contrato com a minha empresa, e já aconselhou que outros cinco países fizessem o mesmo. - a cada palavra que meu pai pronunciava ele ficava mais animado e eu ansiosa. - E hoje cedo eu recebi uma ligação muito importante, com uma proposta irrecusável. - ele fez uma pausa, não estava aguentando mais de curiosidade

– O que pai?! Fala logo!

– O governador da Carolina do Norte me ligou dizendo que queria que eu me mudasse com toda a minha família para lá pra abrir um filial da minha empresa. - aquela notícia fez com que minha mente trabalhasse a mil. Eu estava muito feliz pelo meu pai, mas uma pergunta não saia da minha cabeça.

– E o senhor aceitou? - perguntei temendo a resposta. Mesmo eu estando feliz pelo meu pai, sempre gostei de morar em Belo Horizonte e tinha muito medo de ter que deixar tudo pra trás e recomeçar uma vida nova em outro país. Demorei muito para encontrar amigos de verdade, que não estivessem apenas interessados no dinheiro do meu pai, sempre fui muito fechada, e só depois de estudar quatro anos seguidos com Isabelle que começamos a ser amigas inseparáveis. Meu pai me olhou nos olhos e sorriu timidamente. Alguma coisa nos olhos dele diziam que não viria boa coisa, então ele desviou os olhos pra gaveta da estante e tirou alguns papeis de lá e me entregou.

– Vou na próxima semana com sua mãe, você vai no fim do mês quando suas aulas acabarem. Vamos nos mudar para os Estados Unidos. Eu aceitei a oferta.