Trahe Futurum escrita por Amy Jack


Capítulo 1
Abra os olhos




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O bloco de desenhos está intocado na escrivaninha. O terrível hábito de mordiscar a ponta da caneta de Clary está se manifestando; ela pousa a caneta do lado do bloco, desistindo de ter uma ideia para desenhar.

O quarto de hóspedes de Luke está o mais arrumado e confortável possível. Clary havia decorado-o com fotos dela com os amigos e Jace ao redor da moldura do espelho.

A lembrança dela e de Jace em Paris - mesmo que não fosse oseuJace - a atormentava. Clary estava se coçando para não acabar ligando para Jace e implorar para que os dois viajassem até Paris para reviver tudo aquilo e subir a Torre Eiffel como Sebastian sugerira da última vez que haviam estado lá.

Sebastian. O nome dele lhe trazia más recordações e um gosto amargo na boca. O rosto dela se contorceu em uma careta ao se lembrar do irmão.

Um batida na porta assustou Clary e, por um segundo, ela poderia jurar que tinha visto um par de olhos observando-a pela janela. Antes de dizer que a pessoa poderia entrar, ela se inclinou com cuidado até a janela e olhou para baixo. Nada.

-Entra. - disse e se sentou na beirada da cama.

Jocelyn entrou carregando uma caixa de papelão que parecia pesado para ela. Clary levantou-se e a ajudou, colocando a caixa na cama.

-O que tem aqui? - perguntou.

Jocelyn foi até a porta e fechou, sem dizer nada. Quando voltou, estava sorrindo. Era a primeira vez que Clary a via sorrindo desde que se mudaram de vez para a casa de Luke - Jocelyn teve dó dele porque Luke dizia a ela que estava se sentindo solitário na própria casa.

-Meu vestido de noiva. - respondeu satisfeita consigo mesma.

Jocelyn colocou as mãos na caixa e a abriu, tirando um branco gigante da caixa. O vestido parecia brilhar aos olhos de Clary.

Enquanto estendia o vestido longo na cama, Jocelyn murmurava para si uma canção que a banda de Simon tocava com frequência. Clary teve uma súbita vontade de rir, mas não o fez. Apenas sorriu com a delicadeza do vestido.

Ela percebeu que o decote estava enfeitado por um brilho prateado. Tinha umas camadas na saia e a cintura era marcada por glitter prateado. O vestido em si era maravilhoso e Clary sentiu uma vontade enorme de desenhá-lo no corpo da mãe.

-O que você achou? - perguntou Jocelyn, com as mãos na cintura apreciando.

-É magnífico, mãe. - ela viu a mãe arquear uma sobrancelha, ainda com um sorriso no rosto.

-Você achou mesmo?

-Claro. Posso... Desenhar você vestida nele? - confirmou e perguntou em seguida.

Jocelyn soltou uma risada breve e pequena. Seu peito subia e descia com os risos e ela olhou para a filha.

-Lógico. Mas vai ter que esperar até o casamento para fazer isso, meu bem.

-Tudo bem. - tentou soar decepcionada, mas não conseguiu. Sorriu, e para a sua surpresa, verdadeiramente.

As duas dobraram o vestido com delicadeza e o colocaram na caixa de novo. Depois do trabalho, elas ouviram Luke gritar para Jocelyn ir ajudá-lo com os ovos se não estivesse ocupada.

-Já vou. - ela depositou um beijo rápido na testa de Clary e se virou para ir, mas logo recuou uns passos e virou-se - Você pode guardar o vestido aqui para escondê-lo de Luke? Os mundanos dizem que o noivo ver o vestido da noiva dá azar. - as duas riram, mas Jocelyn encolheu os ombros como se dissesse "É o que dizem por aí".

-Claro, mãe. - Jocelyn piscou para ela e fechou a porta, correndo para ajudar Luke na cozinha.

Clary fechou a caixa com fita adesiva que estava por ali e deixou a caixa debaixo da cama, onde cabia perfeitamente. Provavelmente, Luke não sabia que a noiva já havia comprado o vestido e se ele perguntasse o que era a caixa - se reparasse algum dia - ela diria que era umas coisas velhas dela, que guardara de recordação.

O celular vibrou dentro do bolso da calça jeans; Clary o pegou com cuidado e viu o nome de Jace estampado no visor. Ela atendeu a chamada.

-Jace? - foi até o armário e remexeu em algumas roupas, procurando algo para ir até ele. - Ah, sim. Claro. Não vi, não. Tá bem. Ah, acho, sim, claro, Jace. - ela revirou os olhos sorrindo - Taki's? Só nós dois? Ah, entendi - mesmo que não quisesse, era impossível esconder a decepção na voz - Certo. Não, sem problemas. Simon vai estar lá também? Jura? Tudo bem. Te encontro lá. Ok. Te amo. Também o quê? Vai pro inferno. - ela sorriu ainda mais - Eu sei disso. Porque eu queria ouvir você falando. Tá. Beijo.

Ela desligou o celular e foi tomar um banho rápido. Levou uma toalha e uma blusa justa branca, uma jaqueta de couro marrom, meias curtas, botas marrons e uma calça jeans.

Ela tirou a roupa de cima e depois a de baixo também e abriu o box. A água correu rapidamente pelo corpo todo e ela se sentiu refrescada.

Clary ouviu o celular emitindo o som de mensagem e imaginou que fosse da operadora. Ignorou. Minutos depois estava saindo, o espelho estava embaçado por conta da temperatura da água.

Ela enxugou-se e colocou a roupa o mais rápido que pôde. Chegaria atrasada se demorasse muito. Pegou o celular e viu que a mensagem não era da operadora, mas de um número desconhecido.

Enquanto ia até o quarto para secar o cabelo ruivo, ela abriu e leu o conteúdo. Ela congelou no lugar - o portal do quarto para ser mais exata - e deixou a toalha que segurava cair no chão.

Enquanto se recuperava, se beliscava e relia a mensagem para ter certeza de que não estava sonhando com uma coisa terrível, as palavras de Sebastian ecoaram em seus ouvidos.Você pertence a mim.

Clary, irmãzinha

Falar por mensagem de texto é bem mais fácil do que eu imaginei. Não sou esperto pra usar essas porcaria de telefone e internet e essas modernidades que os mundanos inventam.

Mas cá estou eu, não? Me comunicando com você. Ainda bem que está lendo. Não precisa responder, irmãzinha. Eu estou te vendo.

Olhe para si mesma no espelho; diga que não parece comigo. Você é fria com quem odeia, Clary. Traiu pelo seu namorado e pelos seus amigos. Por que se importa tanto?

Aposto que Jace não consegue aproveitar você? Ah, mas eu conseguiria aproveitá-la... E aposto que você gostaria.

Não se preocupe. Vai encontrar seus amiguinhos no Taki's? Eu estarei lá, em todos os lugares que você vá, Clary. Não adianta fugir de mim.

Jonathan Christopher.

O coração de Clary se apertou. Ele estava vendo-a. Há quanto tempo estaria sendo vigiada? O que Sebastian sabia? O par de olhos que vira... Imaginação ou realidade?

Suas mãos tremiam enquanto o cabelo secava. Tinha total consciência de que chegaria bem atrasada no encontro no Taki's. Todos iam. E iriam mesmo para alegrar Alec, que terminara tudo recentemente com Magnus, explicara Jace. É claro que ela iria. Alec era seu amigo, mesmo que nenhum dos dois se falassem muito. E ele eraparabataide Jace.

Ela consultou o horário e avisou para Jocelyn e Luke que estava indo, discando rápido o número de Jace. Mas sabia que isso só o preocuparia mais. Ela não arriscaria deixá-lo preocupado. Ainda mais com ela.

Manteria tudo em segredo por enquanto.

**

Isabelle estava com Alec e Jace na porta do Taki's. Jace estava tentando confortar Alec, mas o parabataiestava pior do que eles imaginaram antes.

Alec estava com olheiras profundas e parecia que não comia há dias. Sua pele estava mais pálida do que de costume e Isabelle se deu conta de que o irmão emagrecera uns bons dois quilos desde a batalha com Sebastian.

Ela estava impaciente. Queria ver Simon; mais do que queria conversar com Clary. Depois de tanto dias que passaram saindo juntas com Jocelyn, Clary e Isabelle haviam se tornado próximas demais. E a garota confiava na filha de Jocelyn agora - e isso era bastante raro.

Clary havia aconselhado-a sobre Simon, e ela não poderia estar mais agradecida. Mas ainda estava tentando achar o melhor momento para se declarar a Simon, desde que não demorasse muito. E se o vampiro estivesse interessado nela e não avançasse porque achava que ela não estava a fim? Isabelle não se perdoaria se isso acontecesse.

Agora que a Marca de Caim não está mais na testa de Simon, onde costumava ficar, era estranho vê-lo quase desprotegido.

Mas ele era ele. O Simon. O Simon que com o tempo ela passou a gostar e talvez, até mesmo amar; não. Sabia que estava exagerando se chegasse a esse ponto. Ela era Isabelle Lightwood. Não amaria um garoto ou deixaria seu coração ser partido.

Mas valeria a pena se seu coração fosse quebrado por Simon? Isabelle supunha que sim.

Em um segundo, ela viu um vulto ao longe e parecia que seu coração tinha saltado dentro do peito. Ela ouviu um som quase imperceptível de passos rápidos - muito rápidos (até demais - no chão e em um segundo Simon estava na frente deles.

As mãos estavam enterradas nos bolsos da calça jeans rasgada no joelho. Ele estava com um tênis preto misturado ao branco e uma camiseta cinza justa.

-Tenho más notícias - anunciou e parou de sorrir imediatamente.


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