Stay escrita por Paanic


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

ROU ROU ROU!!!
Feliz Natal gente!! Como foram as festas?? Eu to aqui empanturrada e morrendo de sono, então decidi postar, tomara que gostem :D
To super decepcionada porque o papis Noel não me entregou o Peeta que pedi pra ele, acho que não fui uma boa garota! hahahah :x



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Quando abro os olhos posso ver a noite. Vou até a janela, abro-a, deixo a brisa fria entrar e junto com ela o cheiro da Evening Primrose. Sinto meu coração se apertar, mas logo em seguida vem uma paz me reconfortando, é como se de alguma forma ela estivesse aqui, me abraçando em uma noite fria.

Com tudo no automático eu entro no banheiro, tomo uma ducha rápida, desço para a cozinha e coloco a caça do dia em cima da pia e começo a limpá-la. Isso me distrai por alguns minutos e quando percebo já estou cantando:

Você vem, você vem

Para a árvore?

Onde eles enforcaram um homem que dizem que matou três.

Coisas estranhas aconteceram aqui

Não mais estranho seria

Se nos encontrássemos no meio da noite na árvore forca?

Paro quando ouço um barulho e a faca cai de minhas mãos com susto. Viro rapidamente e me deparo com Peeta parado na entrada da cozinha. Seus cabelos loiros estão molhados e com pequenos flocos de neve. Eu ainda estou parada encostada na pia, ofegante pelo susto.

— Vi uma agitação aqui e vim saber se você precisa de ajuda — ele parece receoso. Penso de imediato em dizer não, mas é quando percebo que tudo o que menos quero é ficar sozinha.

— Você pode me ajudar com o jantar — digo me dando conta do quanto minha voz sai engasgada.

Peeta apenas concorda e vem para o meu lado. Eu continuo a cortar os pedaços da carne, enquanto ele procura por algumas plantas e temperos nos armários.

— É bom te ouvir cantar de novo. Eu tinha esquecido o quanto sua voz é bonita — ele solta sem me encarar, concentrado na tarefa de picar alguns manjericões que havia encontrado.

— Minha voz não é bonita — eu digo não a fim de contradizê-lo, mas sim porque é a verdade. Peeta se limita a rir.

— Você realmente não sabe o impacto que causa.

Ele me encara de verdade pela primeira vez, um arrepio percorre meu corpo porque foram palavras muito semelhantes das que ele disse quando estávamos conversando na nossa primeira edição dos jogos vorazes. Mas ele não é mais aquele Peeta, o alarme soa em minha cabeça, embora se pareça tanto... Os mesmos olhos azuis vívidos, o mesmo sorriso quente e as mesmas feições gentis.

— Você me disse isso uma vez — falo, sem encará-lo, tentando normalizar minha respiração.

— Eu sei.

Me surpreendo um pouco. Ele está se lembrando, e lembrando rápido, então como se para responder minhas indagações internas ele diz:

— Algumas coisas estão vindo, sabe? Algumas recordações.

— Então quer dizer que você já sabe quando uma lembrança é real ou não? — Pergunto sentindo uma centelha de esperança queimar dentro de mim. Talvez Peeta pudesse voltar a ser o que era antes, talvez antes mesmo do que pensávamos.

— Sim, bem a maioria — ele diz, e ergue uma sobrancelha. — Você parece surpresa.

— É que parece que eu parei no tempo.

— Você não tem culpa por isso de qualquer jeito.

Acho que entendo o que ele quer dizer com isso. Não tenho culpa de não prestar atenção em nada mais além da minha dor porque ela é grande demais, mas a sua frase pode ter tantas aplicações, ser tão ambígua no meu caso que o que se sucede a isso é o silencio.

Me sinto incomodada e meu estômago se embrulha de uma maneira ruim, então Peeta, como que para quebrar o clima ruim, diz:

— Então você ainda não sabe de Haymitch? — ele pergunta com o sorriso já brotando em seus lábios.

— O que tem Haymitch?

— Resolveu criar patos.

É a minha vez de rir. Haymitch criando patos? Era uma coisa que eu teria que ver para acreditar, mas já sentia pena dos pobres animais.

Minutos depois o cozido já está pronto, não muito graças a mim. Eu apenas cortei e limpei, enquanto Peeta temperou e deixou tudo pronto.

— Sei que ele é um bêbado irritante, mas tem realmente bastante comida aqui. Deveríamos levar um pouco para Haymitch, o que você acha?

Acho que me sinto mal e egoísta. Peeta está de volta a poucos dias, mas parece disposto a tentar ajeitar a vida de todos, como quando plantou as prímulas no meu jardim, ou tirou sarro do meu cabelo embolado até que eu não pudesse fazer outra coisa além de ajeitá-lo. Eu estou no distrito a meses, morando ao lado de Haymitch e não tinha me preocupado um dia sequer em checá-lo, presa demais na minha própria bolha de dor e sofrimento.

Depois que concordo pegamos as panelas e vamos em direção da casa de Haymitch e assim que chego em seu terreno vejo que, por mais absurdo que pareça, o que Peeta disse sobre os gansos é verdade. Brancos, bonitos e gordos gansos, e um sorriso se forma em minha boca antes que eu consiga evitá-lo, Haymitch é um velho louco.

Peeta tira a neve dos sapatos e bate na porta que não demora a se abrir com um Haymitch bêbado segurando uma garrafa.

— Hey! — ele diz com uma expressão realmente surpresa. — Vocês dois, juntos — tem algo em seu tom malicioso, e algo no risinho que ele solta em seguida que insinua algo e me irrita. Eu não sei porque, já que não devo satisfações da minha vida pra ele, mas sinto a vontade de tornar as coisas claras na sua cabeça bêbada.

— Cozinhando juntos — faço questão em frisar. — E fazendo a boa ação do ano trazendo algo além de bebida para o seu estomago.

— Sendo assim entre, docinho.

Ele nos dá passagem e enquanto Peeta arruma a mesa para o jantar eu tento achar alguma coisa – qualquer coisa – que possamos usar para comer no caos que é a cozinha, e a casa, de Haymitch. Eu aparentemente poderia encontrar qualquer coisa em sua cozinha: Livros, sapatos, folhas, flores, cuecas, meias, mas qualquer coisa relacionada à cozinha é impossível.

— Mas não é possível que você não tenha um prato Haymitch! — Digo exasperada depois de desistir de procurar. — Sério, onde você come?

Ele também parece intrigado com a pergunta, pois franze as sobrancelhas e joga os ombros para o ar como se não soubesse, ou não ligasse. Acabamos comendo de qualquer jeito, Peeta em uma vasilha roxa, Haymitch em uma grande panela, e eu no único prato que consegui encontrar na casa toda.

— Se eu soubesse teria trazido os meus pratos e talheres também, mas esqueci que você é um porco e vive em um chiqueiro — resmungo como um bebê, o que faz Peeta sorrir.

— O que você esperava docinho? Alguma louça fina importada da Capital? — Haymitch diz rude.

— Esperava, no mínimo, não ter que comer com as mãos, mas isso parece demais pra você, não é?

— E educação parece demais para você garota. Será que vou ter que precisar ligar para Effie para voltar a te dar aulas de bons modos, não é possível que...

O que quer que Haymitch fosse dizer além disso foi interrompido pela risada de Peeta. Olhamos os dois para ele, imaginando se ele não tinha enlouquecido enquanto Peeta não consegue se concentrar o suficiente em parar de rir e nos dar alguma explicação.

— Me desculpe, — ele consegue dizer depois de algum tempo — é que isso me soou tão familiar.

Então eu sei do que ele está falando. Eu, Haymitch, brigando sobre qualquer coisa como antes da guerra, e isso de algum modo enche o meu peito também porque dá uma sensação de que de algum jeito, alguma hora, nós três poderíamos voltar a talvez um pouco da normalidade de nossas vidas, e eu me vejo sorrindo para Peeta, genuinamente sorrindo, e até Haymitch sorri.

— É que Katniss consegue me tirar o sério garoto, ela realmente consegue — Haymitch resmunga.

Nós terminamos de comer e estamos prontos para ir quando uma coisa realmente, realmente estranha acontece.

Haymitch nos acompanha até a porta, se despede de Peeta dando-o um abraço e sussurrando um “Obrigada por tudo garoto” realmente profundo e cheio de significados. Até aí tudo certo, porque Peeta e Haymitch sempre se deram bem, e porque Peeta é o tipo de pessoa única que se dá bem facilmente com qualquer um, mas é quando eu estou quase escapando por sua porta que Haymitch me captura e me abraça, de verdade, me apertando entre seus braços e seu peito cheirando a bebida, e depois me afasta para olhar nos meus olhos. Ele gruda seus lábios na minha testa e me diz:

— É bom ter você de volta docinho.

E depois Peeta e eu estamos na minha casa.

— Eu estou te dizendo Peeta, o tempo, ou a bebida estão mexendo com a cabeça de Haymitch. Daqui a um tempo teremos que internar o velho louco.

— Ele gosta de você Katniss, sempre gostou. Até mesmo um cego veria isso.

E sei que ele está certo, Peeta e eu somos tudo o que Haymitch tem, mas ainda assim não consigo ficar menos surpresa pela atitude dele.

Peeta me ajuda com as panelas, com a limpeza da cozinha, mas quando sinto que o silêncio entre nós já se prolongou por tempo suficiente anuncio:

— Vou dormir — falo respirando profundamente, me preparando para outra noite difícil.

— Sabe Katniss, apenas se você não for se importar é claro, mas será que eu posso dormir aqui hoje? — Há muito receio em sua voz, e Peeta parece constrangido. Eu não me importo dele dormir aqui, nunca me importei, mas ele parece ver em minhas feições mais do que elas realmente exprimem pelo modo apressado em que ele tenta se explicar. — Eu me arrumo aqui mesmo no seu sofá, é óbvio, eu só não aguento dormir naquela casa enorme sozinho — ele admite encarando suas mãos.

Na verdade tudo o que eu quero é perguntar se ele não quer dormir comigo, porque com ele do meu lado era muito mais fácil aguentar os pesadelos. Não, eu me refreio. As coisas não são como antes e eu preciso me acostumar com isso.

— Claro — falo, percebendo o quanto somos parecidos, quebrados, ambos querendo desesperadamente fugir da solidão e do vazio.

Depois de deixá-lo com alguns cobertores e travesseiros dou as costas para ele e começo a subir as escadas em passos pesados. Cada passo parece me afundar ainda mais na escuridão. Hoje com certeza foi um dia melhor, mas eu não sou ingênua o suficiente para esperar que essa sensação dure. A tristeza está impregnada em mim e temo que um dia ela nunca me deixe.

— Katniss — a voz dele me faz parar no degrau, ouço seus passos vindo logo atrás de mim. — Eu me lembro, mas ainda não tenho muita certeza...

Peeta aparece na minha frente, na base da escada e respira profundamente antes de subir alguns degraus.

— Nós dois na praia, estamos em algum tipo de discussão e eu disse que era melhor eu morrer, porque ninguém precisava de mim, e você disse que você precisava.

Seu sussurro bate em meu pescoço, me causando um arrepio.

— Olha pra mim — ele diz enquanto minha mão aperta com força o vão da escada. Ainda com os olhos baixos, devagar, eu o encaro. — Real ou não real?

Estamos a poucos centímetros de distancia e eu sinto meu corpo estremecer quando seus olhos miram rapidamente os meus lábios. Será que ele se lembra? Não me refiro à conversa que tivemos na praia, que ele claramente se lembra, mas sim de tudo o que se seguiu naquela noite e de como eu calei seus argumentos.

— Real — respondo rápido demais me sentindo tonta. — Ainda preciso.

Sua mão vai até o meu rosto me trazendo para mais perto. Peeta sorri, mas não é um sorriso genuíno, ele não chega aos seus olhos. Ele está triste e de algum modo isso me quebra ainda mais por dentro.

Só preciso descer um degrau para colar os nossos corpos e por um segundo eu espero um abraço tenso, como sempre acontecia quando ele estava telessequestrado, mas, ao contrário, ele me envolve ternamente no primeiro abraço real que damos depois de um longo tempo. É quente e me conforta e eu consigo sentir suas mãos agarrando minhas costas enquanto eu apoio a cabeça no seu peito e percebo como senti falta dele.

Acaba rápido demais quando ele desliza seus braços para longe de mim. Eu subo um degrau como se recebesse um choque.

— É melhor eu ir dormir — falo indo direto para o meu quarto.

Me jogo na cama e sinto meus olhos arderem. Eu tenho tanta vontade de chorar e é tão sufocante que por um momento acho que não posso mais respirar. Isso acaba rápido, contudo, as minhas pálpebras estão pesadas e quando elas começam a se fechar eu ainda consigo distinguir algumas coisas.

A luz da lua entra no meu quarto, onde minha janela e as cortinas estão abertas, por isso quando ele entra é fácil enxergá-lo em meio à escuridão.

— Você ainda tem os pesadelos.

Não é uma pergunta, então eu não sinto a necessidade de respondê-lo, apenas confirmo com a cabeça já sentindo meus olhos encherem de água e deturparem sua visão. Meus pesadelos só ficam piores e piores a cada dia, mas isso não é algo que eu queira discutir agora com ele.

Peeta entra, anda em passos calmos e receosos e sem receber um convite se deita ao meu lado. Eu me afasto um pouco, apenas para deixar tanto confortável para ele quanto para mim, mas ele se aproxima, colocando seus braços em minha volta.

— Você se sente mais segura assim — ele afirma.

O respondo agarrando a sua camisa desesperadamente entre os meus dedos trêmulos e inclinando minha cabeça sobre o seu peito.

Temos alguns minutos de paz, minutos onde eu não escuto mais nada – não mais as vozes na minha cabeça, não mais o meu choro agoniado – além das batidas do seu coração e a sua respiração calma, mas então o sinto se retesar, seus músculos ficam tensos como aço e seus dedos pressionam a madeira da cama. Eu me afasto, alerta.

— Desculpa — ele pede depois de uma alucinação de trinta segundos.

Ele está com os olhos fechados, e respira profundamente algumas vezes. Suas pálpebras se abrem, revelando orbes ainda mais azuis naquela luz do luar.

— Está tudo bem — Digo tanto para ele, quanto para mim.

Peeta me puxa novamente para os seus braços, me deito em seu peito e sua mão começa a acariciar meus cabelos. As minhas mãos acariciam o seu peito, meus dedos traçam desenhos sem padrão quando ela para encontrando as batidas de seu coração disparado.

Olho para Peeta, ele está encarando o teto, e por mais que não pareça mais fora de controle ele não parece tranquilo tão pouco, está aborrecido com alguma coisa, e eu sei que são os flashbacks, porque ele odeia tê-los, e odeia ainda mais quando os tem perto de mim porque ele sabe que me assusta.

— Você sabe, nós vamos dar um jeito nisso — eu murmuro.

Seus olhos deixam de encarar o teto e me encaram intensamente. Peeta faz um sinal com a cabeça, como que confirmando e eu desvio o meu olhar quando sinto meu coração disparado demais.


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Notas finais do capítulo

E aí?? O que acharam?? Deixem reviews!! Eu quero saber o que vocês querem e esperam ver aqui.
Amoo a canção da árvore-forca, então coloquei aqui e achei um vídeo lindo no youtube da música http://www.youtube.com/watch?v=uKrCE1aYz7o
Bom final de natal :*:*:*



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