She'd Fly escrita por Meggs B Haloway


Capítulo 16
Capítulo 15 — Mártir.


Notas iniciais do capítulo

Genteeee, vocês foram muito legais comigo no capítulo anterior, por isso que me desdobrei em duas pra postar a continuação! Sei que não respondi ainda os reviews pftos que vocês me mandaram, mas eu vou o fazer no domingo e sábado ou depois... Mas responderei, ok?
Antes de ler esse capítulo, lembrem-se de que:
1. Em diversas partes, o Edward parecia ficar com a Tanya apenas por obrigação.
2. Tanya é esposa do Tenente Foxyn.
3. "Sair" sempre parecia ter um significado a mais para Edward e John, em diversas conversas
4. A sinopse vai começar a fazer mais sentido a partir desse capítulo.
Por favor, me digam o que vocês acharam assim que terminarem de ler, ok? É muito importante saber todas as opiniões, ideias, dúvidas e tudo isso. E lembrem-se de que críticas construtivas são as melhores!



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Março de 2013.

Edward.

— Isso é… Uau! — Emmett exclamou.

Eu assenti.

Emmett, por alguma intervenção divina, havia batido na porta de meu carro quando eu estava prestes a ligá-lo para voltar a minha casa e pedir explicações a Isabella, aos gritos. Eu estava exasperado nos primeiros minutos, dizendo que ela não tinha o maldito direito de me esconder uma coisa daquelas porque, porra, o bebê carregava o meu material genético também. Era meu filho também. Não só dela.

Até que eu me dei conta com uma espécie de baque mental de que, se eu não tivesse vindo para a Califórnia, ela provavelmente não teria tido um aborto espontâneo. O nosso filho estaria com quatro anos e, embora fossemos muito novos na época, eu tinha certeza de que tudo daria certo. Tudo dava certo, eu não pediria para Bella abortar, ela sequer pensaria na hipótese. Tudo estaria em seu lugar.

Eu suspirei quando percebi que eu não podia culpar ninguém senão eu mesmo e passei uma mão por meu cabelo. Ficar sem saber sobre o filho perdido era… reconfortante, eu não me culpava por nada, não tinha nenhum arrependimento em minha mente. Agora, eu quase me odiava por tudo que acontecera na vida de Isabella desde que eu fora embora.

Tudo bem, eu sabia que ela era forte e podia se recuperar em segundos. Mas eu a superestimava: Achava que, com uma mãe depressiva e um namorado que preferiu ir para Califórnia a ficar com ela, tudo se acertaria no final das contas. E tinha o bebê sem pai também. Era coisa demais para uma pessoa encarar sozinha… até as mais fortes.

No Ensino Médio, eu costumava me orgulhar de nunca ter participado de nenhum trote nos alunos novatos ou nos “perdedores” assim eu podia dizer que eu nunca tinha acabado com a vida de ninguém. Mas eu tinha, sim. Eu tinha acabado com a vida da garota que eu mais protegia de tudo e de todos quando fui embora.

Menos de mim mesmo.

Você poderia não ir, Edward. Tem uma Academia de Policiais aqui também… Ela propôs, abraçada as minhas costas. — Não vá. A Academia é mais importante do que eu? O tom de sua voz estava risonho, mas eu não interpretei a pergunta com jocosidade.

Eu não respondi, apenas me levantei da cama e rumei para o banheiro. Bella pensava que já sabia a resposta. Ela sempre interpretou o meu silêncio como uma confirmação para alguma coisa, porém aquele silêncio foi confuso. Nem eu mesmo sabia a resposta para aquela pergunta que ela havia feito e estava colérico por me dar ao direito de ainda estar duvidoso. Bella, daquela vez, não me seguiu para o banheiro e quando eu terminei de tomar meu banho, ela já estava dormindo enrolada em um lençol. Ela vai ficar bem, eu pensei ao olhá-la.

— Pela sua reação presumo que ela nunca tinha lhe falado nada sobre isso, não é? — Emmett perguntou, estendendo a carta para mim e me tirando dos devaneios.

— Eu não podia sequer imaginar! — Exclamei, deixando o papel branco com linhas azuis no banco do motorista e ativando o alarme do carro.

— Talvez ela tivesse medo de sua reação.

— É, ela sempre foi uma garota esperta.

— E você nunca foi a pessoa mais controlada de todas. Posso até imaginar a sua reação se lesse essa carta junto da Bella…

Eu me permiti sorrir enquanto imaginava a cena, as portas da Academia se abrindo automaticamente.

— Sabe — Ele começou a falar, ponderando bem as palavras antes de deixá-las sair. —, eu estava falando sério sobre o que eu disse ontem. Você tem de tratar a Bella bem, Edward, o que aconteceu com ela foi apenas um…

— Eu sei. — O interrompi.

— Sabe mesmo? Ainda lembro bem de você culpando-a por causa do incêndio em sua casa. — Ele se virou para mim assim que paramos de frente ao elevador, esperando a boa vontade do mesmo para descer. — E sinceramente? A garota que vi ontem me pareceu bastante lúcida.

— Ela está melhor. — Murmurei.

— Ah! — Ele exclamou. — Acho que é você quem teve uma melhora.

Eu revirei os olhos, virando o rosto para a parede de vidro a qual mostrava todo o trânsito do quarteirão, as casas e os prédios. Melhor! Eu! Até parece. Bella quem havia melhorado, voltado a sua lucidez de sempre.

— Isso é um chupão no seu pescoço, Edward? — Emmett perguntou.

— Não. — Foi reflexo negar.

Levei uma mão ao pescoço, tentando achar o ponto dolorido, achando-o somente um pouco acima. Não estava doendo tanto, então presumi que a merca deveria ser pequena e sairia em poucos dias… Ao contrário da que eu havia visto no pescoço de Bella hoje mais cedo. A marca era roxa com alguns pontos esverdeados e era mais ou menos do tamanho de dois dedos. Presumi, com orgulho, que daria trabalho para disfarçar com maquiagem.

Mas ela precisaria o fazer se fosse jantar com Esme que costumava ser bastante observadora e indiscreta — eu que o diga. Eu me dera ao privilégio de me esquecer disso enquanto fazia as marcas como um louco em seu pescoço, clavícula e todo o lugar que eu consegui alcançar. Bella, por outro lado, também não reclamou…

— Parece recente. — Ele refletiu e, quando o olhei, ele tinha o cenho franzindo, confuso. Sua mente ainda trabalhou um pouco mais para finalmente deduzir o que havia acontecido. Ele soltou um sorriso sarcástico: — Nem eu e a Rose, Edward, nem eu e a Rose.

Eu fiquei em silêncio, esperando que a droga do elevador chegasse logo.

— Você está com vergonha? — Emmett parecia descrente.

— Podemos falar sobre outra coisa? — Perguntei raivosamente. Eu detestava aquela curiosidade e incredulidade que Alice e ele pareciam demonstrar quando deduziam que eu e a Bella tínhamos dormido juntos. Que grande novidade! Vamos falar nisso até todas nossas dúvidas estarem saciadas, aposto que eles pensavam com euforia.

Mas Emmett parecia insistir em manter o assunto:

— Não me diga que você broxou!

Com a Bella? É impossível.

— Vá comer merda. — Vociferei

Emmett gargalhou e mesmo quando percebeu que eu não o acompanhei, continuou a rir. Talvez de minha carranca ou talvez de sua piada totalmente sem graça. Talvez ele estivesse rindo das duas coisas, mas eu pouco me importava. Ele costumava rir de bastantes coisas, coisas que chegavam a ser bobas e nem tão engraçadas assim.

— Você deveria crescer. — Comentei quando o elevador chegou. Felizmente estava vazio, um milagre nesse prédio em que pessoas não paravam quietas em um só lugar.

— E aí? Vocês finalmente se acertaram?

— Não. A gente só transou, Emmett. — Eu franzi meu cenho, observando o painel do elevador indicar que já estávamos no segundo andar.

Ele suspirou pesadamente, como se eu tivesse falado algo incrivelmente estúpido.

— Eu pensava que você fosse mais apegado a Bella. Antes, eu digo.

— Eu sou. — Defendi imediatamente, virando-me para ele que mais uma vez estava incrédulo. — Era. — Corrigi-me. — Na verdade, eu vou conversar com ela… quando chegar a minha casa hoje.

— Você vai brigar com ela. — Acusou, pressionando os olhos em minha direção.

— Não vou. — Não estava em meus planos, pelo menos. — E desde quando você virou defensor dela?

Desde a chegada de Isabella Swan em São Francisco, Emmett se tornara mais incrédulo de que eu pudesse ser controlado e fazer bons atos de vez em quando — talvez porque eu nunca os fizesse antes. E, agora, mesmo sem conhecer Bella tão bem, vivia defendendo a garota como se fosse sua irmã mais nova. Eu estava cansado dos conselhos e de todas as acusações, eu sabia o que iria fazer e não precisava de conselhos. Estava bem sem eles.

— Isabella é uma boa garota, Edward. — Ele estreitou os olhos quando me olhou. — Naquela noite… quando eu percebi que a Isabella que estava tentando se suicidar era a Isabella de quem você tanto falava… eu percebi que talvez fosse a sua chance de se reaproximar dela. Você andava estranho, isolado demais.

Eu revirei meus olhos. Emmett dizia que eu andava estranho porque, naquele mês e no anterior, ele perguntou se poderia ir para a minha casa com Rose e todas elas eu negara com uma desculpa que não era convincente o bastante. Eu negava porque todas as vezes que ele queria ir lá Tanya já estava e eles não podiam, de modo algum, saber que eu tinha um caso com a mulher do Tenente Foxyn.

— Eu só não quero que você cometa o erro de deixá-la ir. — Emmett disse, por fim, voltando os olhos para frente, encarando a porta do elevador.

— Ela vai se quiser. — Murmurei.

— Você sabe o que faz da sua vida.

Eu continuei em silêncio enquanto a caixa metálica avançava para o décimo, décimo primeiro, e, então, até o décimo segundo e último andar que era onde ficávamos.

Quando as portas do elevador se abriram, levantei meu rosto e dei de cara com ninguém menos do que os odiosos John e Tanya. Eles pararam de falar qualquer que fosse a merda que estivessem conversando e me encararam como se eu fosse um fantasma. Ignorei a ambos, saindo do elevador e caminhando para a sala de controle ciente de que seus olhares queimavam à minhas costas.

— Edward… — Eu a escutei me chamar, hesitantemente.

— Não, Tanya, vamos embora. — Escutei John a chamar quando eu sequer me virei.

— Eu perdi alguma coisa? — Emmett perguntou para mim, franzindo o cenho com confusão. Amaldiçoei até a milésima geração de John e de Tanya por terem sido tão patéticos a ponto de fazer Emmett vir me perguntar uma coisa que nenhuma desculpa me vinha à mente.

Para Emmett, eu só conhecia John de vista e para ele eu sequer chegara um dia a falar com Tanya, ela era uma das pessoas que víamos de longe e nunca chegávamos a ter um real contato. Ele, pelo menos, o fazia.

— Não que eu saiba. — Me fingi de desentendido.

— Você sabe que John é barra pesada, é bom mantermos distância de pessoas como ele.

— Porra, Emmett. — Explodi, falando baixo. — Você vai ser meu pai ou amigo? Meu histórico paternal não é um dos melhores, se quer mesmo saber.

Ele não falou mais nada e eu pude perceber muito bem que o seu silêncio fora raivoso, exasperado. Quando ele finalmente explodisse — estava surpreso por ele ainda não ter o feito —, diria que eu era um maldito infantil estúpido e que não pensava direito. Totalmente incoerente e patético. Como ele falara quando eu recusei voltar para Seattle e para Bella há quatro anos.

— Sr. Cullen, posso ter uma palavra com você? — Uma voz chamou-me quando eu já havia me sentado na minha mesa, esperando o computador ligar.

Eu suspirei ao virar-me para trás, observando o terno cinza do Tenente Mason ao invés de seu rosto incrivelmente indiferente. Quando eu ainda era novato aqui, eu costumava me indagar o porquê ele vestia um terno quando poderia ser chamado para uma Operação a qualquer momento. Correr ou atirar de terno era superdifícil, eu sabia disso por experiência própria.

Um dia, dois anos atrás, invadiram uma festa que o Tenente Foxyn estava dando, com a sua equipe e as pessoas mais próximas — o que no caso, são as pessoas do décimo andar para cima. Aparentemente, queriam matá-lo por uma operação de resgate que ele participara anos antes, ele matara um homem que tinha um irmão bastante descontrolado e pronto para executar sua vingança.

Eu estava na festa para ficar de olho no Tenente, assim como o resto de sua equipe — que consistia em Emmett, Laurent e Irina. Os dois últimos estavam bêbados demais para conseguir pegar a arma que estava no coldre de sua cintura e Emmett tinha ido ao banheiro. E só restava eu que estava com um paletó preto que não facilitava em nada a agilidade.

— Solte a arma. — Eu ordenei, apertando a arma escura em minhas mãos. — E levante as mãos.

Mark, eu descobrira depois, ainda ousou rir com sarcasmo.

— Mas é claro que o Tenente de merda não daria uma festa sem guardas. — Sua voz não demonstrava o pânico que ele deveria estar sentindo por estar em uma missão claramente suicida. Ele fora estúpido em vir sozinho para a festa de um Tenente.

— Solte a arma. — Eu mandei mais uma vez, destravando o gatilho. — Agora.

Quando Mark atirou no chão, bem perto do pé do Tenente Foxyn, o olhar de pânico disfarçado que ele mandou para mim confirmou o que eu deveria fazer.

Ele se recusou a soltar a maldita arma e eu fui forçado a atirar quando ele fez menção para disparar o gatilho — dessa vez para o peito. Minha mira costumava ser melhor naquele tempo, eu sabia disso porque eu estava a mais ou menos três metros de distância dele e a bala atingira bem a parte de trás de sua cabeça. Foi a primeira vez que matara alguém e aquilo me rendera uma promoção definitiva para o grupo de Operações Especiais.

Só depois de um tempo eu percebi que o Tenente Mason não participava de nenhuma operação, ele colocava outras pessoas para ir em seu lugar caso fosse chamado para alguma. Era simples para ele, ele mandava e desmandava aqui e poderia recusar quantas operações ele quisesse. Até três meses atrás eu não sabia o porquê de ele recusar.

— Pode vir até a minha sala, por favor?

— Claro. — Eu respondi.

Eu já sabia o que ele queria falar e amaldiçoei mais uma vez John e Tanya em minha mente durante o curto caminho. A sala dele era espaçosa, ele tinha janelas grandes e brancas contrastando com a sua mesa escura e a estante cheia de livros que eu tinha certeza serem apenas decoração, uma televisão que eu nunca havia visto ligada e tantas outras coisas que nunca prestei ou prestaria atenção quando estivesse lá.

— Edward. — Ele começou a falar, olhando-me como se eu tivesse matado alguém inocente na sua frente. — Soube que você colocou fim no seu relacionamento com a Sra. Foxyn.

Eu reprimi um suspiro exasperado e um revirar de olhos impaciente.

— Quando você entrou nisso eu deixei claro que você não poderia ter nenhum relacionamento romântico com ninguém a não ser Tanya. — O Tenente Mason continuou.

— Eu não tenho.

— Ah, não? — Ele sabia que eu estava mentindo. O Tenente Mason sempre sabia quando uma pessoa estava mentindo e sabia usar aquela merda a seu favor. — Quem é Isabella Swan, Sr. Cullen?

Ele empurrou para mim várias fotos que eu não demorei a reconhecer como sendo eu e Bella andando despreocupadamente na rua de minha casa após Tanya ter surtado. Não estávamos nos tocando na maioria, mas sempre há uma exceção. Tinha uma foto em que eu estava tocando o ombro dela e, na próxima, ela estava pegando a mão que outrora estava perto de seus cabelos, olhando-me com olhos grandes e azuis. Se eu tivesse observando apenas a foto eu poderia dizer sem nenhuma dúvida que seu olhar poderia ser carinhoso.

Tire essa mão de perto de mim, eu me lembro de ela ter dito. Eu a escutei gritando, ela tinha falado depois com um tom enojado. Aquele evento parecia ter sido há anos atrás, no entanto fazia apenas dois dias que havia acontecido.

— Minha prima. — Eu disse, por fim. — Bella é minha prima.

— Não minta para mim. Seus primos são apenas por parte de pai e estão todos no Alasca.

Droga, eu vociferei em minha mente.

— Não esse tipo de primo. — Eu falei calmamente. — Bella é… prima de consideração. Ou devo dizer irmã? A mãe dela morreu em um incêndio… e antes disso, o pai também faleceu… Então, minha mãe a tratou como uma filha.

Ele respirou fundo, passando os olhos pelas fotos.

— Consideração é uma coisa muito relativa, Sr. Cullen. — O Tenente Mason murmurou, pensativamente. — Sei que você e a Srta. Swan já se envolveram romanticamente antes, há fotos de vocês dois no Anuário Escolar.

Eu desviei os olhos, suspirando contidamente. Por que eu era tão malditamente estúpido?

— O amor é uma coisa resistente, você não acha? — Era uma pergunta retórica e eu estava cansado de toda aquela besteira. — E surpreendente também. Quando você salvou aquela garota de tentar se suicidar eu, em nenhum momento, achei que vocês fossem se reconciliar. Soube que ela tinha enlouquecido e, você, impaciente como é, nunca achei que fosse ficar com uma garota descontrolada mentalmente.

Ela não é descontrolada mentalmente, pensei e reprimi a minha voz de reproduzir o pensamento.

— Mas Isabella não me parece nem um pouco descontrolada, sabe? — Ele olhou para mim, os olhos pretos mais cruéis que nunca. Ele não sabia nada sobre amor. Mas quem era eu para julgar? — Ela me parece uma garota muito bonita. Bonita o bastante para atrapalhar os nossos planos. Aliás, diga-me… ela sabe de suas atividades extras?

Eu neguei com o rosto.

— É admirável que esteja tentando protegê-la de tudo isso, entretanto você, Sr. Cullen, sabe que não há nada que possa fazer para esconder o seu envolvimento com ela. Nada nos passa despercebido, você sabe disso. Principalmente um Agente tão importante como você…

Trinquei meu maxilar. Eu já sabia aonde aquilo iria dar.

— Deixe-a em paz. — As palavras saíram antes que eu pudesse me interromper.

— Deixaremos. — Ele garantiu. — Só queremos saber o porquê de Tanya não ser o suficiente para você.

Eu fiquei em silêncio.

— É por que Isabella apareceu? Podemos dar um jeito nela por você! — Ele falava aquilo com uma raiva e letalidade que, se eu não tivesse paciência acumulada, me descontrolariam.

Apertei meus dentes uns contra os outros com tanta raiva que daqui a pouco eu não controlaria meus punhos ansiosos para bater no rosto autoritário do Tenente Mason.

— Eu não quero que vocês deem jeito algum nela. — Eu disse, mais alto. A raiva aqueceu as minhas veias, mas depois, percebi que era eu que estava apertando meus punhos com força em minha perna. — Quero sair.

— Ah. — Ele se recostou a sua cadeira de couro preto. — Eu imaginei que diria isso.

— Pois bem.

— Sr. Cullen. — A voz do Tenente claramente me desprezava. — Você deveria saber que cisnes não voam, você não perderia o seu enquanto estivesse fazendo um trabalho para nós. Tenho certeza de que você conseguiria lidar com a raposa* e cisne ao mesmo tempo.

— Eu recuso, obrigado. — Minha voz foi firme e impaciente.

*Tanya Foxyn = Fox significa raposa em inglês.

— Tudo bem, então. — Ele suspirou.

Eu saí da sala sabendo que, não, não estava tudo bem. Nos três meses que eu passei nessas atividades extras eu vi pessoa atrás de pessoa simplesmente desaparecendo por querer sair. Ninguém dava falta delas. O Tenente Mason arrumava desculpas impressionantes para o sumiço, abafava o desaparecimento e fazia todo mundo esquecer o caso em apenas dois dias. Eu sabia daquilo, eu havia presenciado e ficado momentaneamente chocado com a habilidade.

As pessoas que queriam sair normal e naturalmente sabiam mais do que pessoas comuns sabiam, desse modo elas eram um risco ao esquema mafioso em que eu me envolvera por pura burrice e estupidez. Eu era uma dessas pessoas que sabiam mais do que o normal, eu sabia coisas que pessoas nunca imaginariam estar acontecendo embaixo de seu próprio nariz. E poderia muito bem denunciar.

Mas não iria fazer. É claro que não iria. Eles tinham fotos de Bella em sua mesa, e isso não era um bom sinal.

Era culpa minha que ela estivesse correndo perigo. Tudo seria malditamente fácil se eu não tivesse sido um curioso de merda e seguido John para o lugar que ele ia todas as quintas, após o trabalho — se ele estivesse dando serviço no dia. Eu era um novo recruta — tornei-me por insistência de todas as pessoas — em um esquema que, basicamente, superfaturava contratos e obtinham informações importantes, apagando-as ou exagerando-as quando era conveniente.

Tudo que eu precisava fazer era comer a esposa do Tenente Foxyn, obter informações dela e ainda ganhar um dinheiro extra. Apenas isso. Era tão fácil quanto respirar.

Ou era. Até Bella aparecer.

Passei o resto do dia alheio a tudo que acontecia a minha volta, fazendo logo tudo que tinha que fazer e escapando para a minha casa assim que deu a minha hora. Emmett, é claro, perguntou-me o porquê de eu ter ficado tão calado de repente e até supôs que era por causa do que ele tinha falado sobre Bella hoje mais cedo.

— Não, claro que não é. — Neguei. — Eu tinha até me esquecido disso até agora.

Eu tinha me esquecido também era que, bom, precisava conversar com ela sobre o bebê perdido.

— Ah, sim, certo. — Ele murmurou. — Rose está louca para ver Bella mais uma vez.

— Marcaremos outro dia para elas se verem. — Disse eu, aéreo. — Tenho que ir agora, tudo bem? Até depois de manhã!

Era cinco e meia da tarde quando eu estacionei o carro na garagem de minha casa, percebendo que a luz da casa de April estava acesa. Droga. As coisas estavam indo muito bem sem ela lá para distrair Bella e roubar o tempo raríssimo que eu tinha com ela. Quero dizer, tudo bem, Bella preferia a presença de April a minha, mas mesmo assim… sem aquela velhinha amigável ela não tinha nada que escolher.

Esperei que as coisas tivessem mudado.

Para a minha total surpresa, Bella estava em casa, estava girando distraidamente nas cadeiras giratórias que ficam no balcão e estava concentrada em uma revista qualquer. Ela se encontrava tão distraída que sequer percebeu a minha entrada em casa.

— Bella? — Eu a chamei.

Ela não olhou diretamente para o meu rosto quando virou a cadeira para mim, olhou para a mão que carregava a carta de Alice. Sua expressão caiu e ela estava quase chorosa quando finalmente fixou os olhos em meu rosto.

— Você já sabe, não é? — Ela desviou os olhos para outro lugar.

Eu assenti.

— Você deveria ter me contado. Eu iria… Sem dúvida alguma, eu iria atender uma ligação sua, caso me ligasse.

Bella disparou os olhos para mim e depois os desviou para a cozinha novamente.

— Por que você não me contou? — Eu perguntei, após ter tirado a arma de minha cintura e jogado o casaco em cima do sofá.

Ela apenas balançou o rosto, abaixando os olhos.

Apesar de querer muito conseguir o fazer nenhuma parte de minhas perguntas foi acusadora. Não para ela. Não tinha sentido algum culpá-la por uma coisa que fora totalmente involuntária e espontânea, ela tinha tentado ficar com o bebê. Eu reconhecia isso. Seria um maldito cego se não o fizesse. A culpa era minha por ter sido um tolo ao não atender as ligações de Alice ou, ao menos, tê-la ligado pela mínima consideração que fosse.

Fui para o outro lado do balcão, notando que as coisas outrora caídas já estavam em seu devido lugar antes de olhar para cima e encará-la.

— Bella, eu sinto muito. — Disse com gentileza, procurando os seus olhos.

Ela inspirou profunda e tremulamente, mantendo os olhos baixos. Pelo modo que suas bochechas estavam coradas eu podia dizer que seus olhos já estavam marejados.

— Foi culpa minha.

— Ah, vamos lá, Edward, você nunca foi um mártir. — Ela sussurrou.

— Por isso que eu estou falando isso. Não é por ser um mártir.

— Não foi culpa sua. — Bella disse, passando a mão raivosamente pela bochecha direita quando a primeira lágrima caiu. — Você não poderia imaginar…

— Sim, eu poderia imaginar muito bem. Nós não usamos camisinha durante aquele mês todo.

Bella puxou o longo cabelo para o ombro direito e passou as duas mãos pelo rosto, limpando as lágrimas que deslizaram por sua bochecha. Não tinha ressentimento nenhum em seu olhar quando ela o levantou para mim — segundos depois, hesitando — e me olhou indecifravelmente. Nem mesmo se eu passasse dez anos a mais com ela, nunca conseguiria entender o olhar que ela me mandou naquela hora. Eu gostaria de saber de verdade o que ela estava pensando.

— Não foi sua culpa. — Ela murmurou, por fim.

— E foi de quem? Sua? — Indaguei incrédulo com a possibilidade de ela ter chegado àquela conclusão. — Bella, por favor, não seja uma mártir agora.

Nem ela nem eu esperávamos que eu atravessasse o balcão e a puxasse para um abraço, mas foi exatamente o que fiz, desajeitado. Eu não estava raciocinando direito — ultimamente eu não estava o fazendo — quando envolvi meus braços ao redor de sua cintura e a puxei para o meu peito, afundando meu rosto dentro de seus cabelos. Ela estava cheirosa. O cabelo dela tinha o cheiro do meu xampu e a fragilidade que ela demonstrou ao tremer e chorar com o rosto enterrado em minha camisa foi demais para mim.

— Você pode imaginar como ele seria? — Ela perguntou com a voz abafada.

— Seria um bebê lindo, com certeza.

Perguntei-me o que diabos eu estava na cabeça ao chamá-la de louca em minha mente várias vezes. Incontáveis, até. Era incoerente as vezes as quais eu cheguei a pensar que a odiava, o meu “ódio” era baseado em uma coisa totalmente supérflua e que não fazia sentido nenhum agora que eu via depois de algum tempo.

Eu fui estúpido com Isabella Swan. Eu só fingi que parei de ser porque queria respostas às minhas indagações e somente agora, enquanto ela chorava controladamente em minha camisa, percebi quão cruel eu fui com uma garota que passava longe de merecer.

Isabella nunca enlouquecera. De jeito algum. Ela só havia passado por coisas demais para uma pessoa só, em pouco tempo. Era totalmente compreensível que quisesse acabar com a sua vida, tendo em vista que, na noite em que eu a encontrei, ela não tinha ninguém no mundo.

Mas agora ela tinha.


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Notas finais do capítulo

Comentem, pls? Os "bons" tempos de beward já chegaram! E, sim, o Edward participava de um esquema mafioso dentro de seu trabalho, ele foi levado pelo John. Ele dormia com a Tanya para "tentar" arrancar informações que eram passadas para ela pelo Tenente Foxyn (seu marido).
A Bella e o Edward vão se acertar, sim?
E o próximo capítulo que é narrado pela Bella é sobre como ocorreu a despedida deles e tudo o mais.
Beijos, não me odeiem, hein?
Por favor, me deixem saber o que vocês acharam!