Vingardion High escrita por Patch, Luna Bizuquinha


Capítulo 4
Noite em claro.




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Após o toque de recolher, consegui dar um pequeno cochilo na enfermaria, porém a dor da maldição lançada por Pietro ainda estava me incomodando muito e ficar deitado ali não ajudava em nada.

– Sr. Owteman, não adiantará tentar achar uma posição melhor. Você sofreu um efeito da maldição da dor. Já utilizei o contra-feitiço, mas demorará algum tempo para que suma completamente. – Disse uma senhorinha baixinha e gordinha, vestindo roupa de enfermeira.

– Ah que ótimo, já estou nesta droga de escola e agora terei de sentir dores pelo corpo por tempo indeterminado. Até quando vou ter que ficar aqui, senhora?

– Pelo menos até o amanhecer. O toque de recolher já foi dado. Vim verificar se estava tudo bem por aqui, afinal, só temos um paciente esta noite! – disse a senhorinha em tom de ironia.

Boa Andrew, seu primeiro dia de aula e conseguiu ir para a enfermaria. O que será do próximo? – pensei comigo mesmo.

– Boa noite, sr Owteman! Preciso terminar de organizar toda a enfermaria para o ano letivo. Descanse e amanhã, creio que estará bem melhor e poderá seguir com suas aulas! – concluiu a senhorinha em tom simpático.

– Que seja! – respondi entediado.

Quinze minutos depois, eu já não aguentava mais ficar naquela cama sentindo aquele incomodo. Levantei-me decidido a fugir daquele castelo e a me encontrar com alguém que me ajudasse a voltar para casa.

Levantei-me da cama e saí de fininho em direção ao corredor. Do lado de fora da enfermaria, havia um corredor largo e deserto. Tochas o iluminavam em uma iluminação fraca, o que fazia com que eu pudesse enxergar em um raio de dez metros a minha frente. Saí andando em direção a ala norte do castelo, pois eu havia chegado por ela e talvez poderia sair por lá também.

Em meio a tantos corredores e a pouca luminosidade, passei por uma porta grande, que se diferenciava das outras, pois tinha uns vinte metros de altura e lá em cima, uma estátua de livro presa à parede.

Resolvi entrar para ver se encontrava um mapa ou algo que me desse noção de onde eu estivesse. Claramente, consegui notar que a enorme sala, com uns dez quilômetros de extensão, era uma biblioteca.

Ao olhar para as mesas – todas de madeira negra e grossa – , notei uma menina sentada com sua atenção virada para um livro grosso e de aparência antiga.

A menina era baixa, com mais ou menos um metro e sessenta, branca, com cabelos dourados e cheios de cachos. Seus olhos eram castanhos, continha uma cintura fina, pernas grossas, um belo bumbum e seios pequenos.

– Hey! Sabe me dizer como chegar até a ala norte do castelo? – Perguntei alto para que me escutasse.

– Ora, ora. Você de novo? Achei que ia ficar com medo de mim quando te ameacei mais cedo. – respondeu a menina em tom irônico.

Na hora me lembrei que ela era a garota que estava próxima à linda Margot, na aula de artes terrestres.

– Olhe, não quero confusão. Quero apenas sair daqui! – tentei falar em tom amistoso.

– Garoto, você ainda não percebeu que só sairá daqui quando completar seu ciclo?

– Que diabos de ciclo é este de que tanto falam? – perguntei irritado.

– Você realmente não sabe nada sobre Vingardion High? – a menina perguntou surpresa.

– Sei, claro que sei. É exatamente porque sei que estou perguntando para você! É burra ou o que? – respondi com raiva.

– Ah, eu vou te explicar... Tem sorte de eu estar com paciência hoje. – disse a menina me olhando seriamente, devido eu te-la respondido mal.

– Vingardion High foi criada pelos anciãos do reino, com a finalidade de ensinar aos jovens de cada família existente, a utilizar seus poderes de forma segura e sem burlar as leis que existem em toda a nossa dimensão. Após a guerra...

– Guerra? Mas que guerra? – Interrompi.

– Uau, você não sabe nada mesmo! – falou surpresa por minha falta de entendimento sobre o assunto. – Seiscentos anos atrás, houve um clã de uma dimensão paralela a esta, que tentou dominar o nosso mundo. Os cristais do poder, que criaram todo o mundo de Vingardion, tomaram o poder de todos aqueles que tentavam tomar o poder e baniram-os para uma dimensão a qual não existe mágica.

– Como estes cristais fizeram isto? Eles são pedras, certo? – Perguntei tentando entender sobre o que se passava naquele mundo.

– Mais ou menos. Estes cristais, são aparentemente pedras revestidas de poder. Eles deram o poder para o povo, mas também podem tira-lo se quebrarmos as regras. Estes cristais criam uma aura mágica, que governa toda Vingardion. Esta aura é quase uma pessoa. Tem todo o poder dos cristais, mas depende deles para tudo. Se esta aura for corrompida, é destruída e os cristais criam outro guardião de aura, que será o governante. – explicou-me a menina.

– Mas, se estes "cristais" são tão poderosos assim, porque deixaram haver a guerra?

– Os cristais não podem interferir na vontade das pessoas. Seria interferir no livre arbítrio, que é uma regra sagrada deles. O líder dos guerreiros que nos atacaram, era de uma outra dimensão, ou seja, os cristais não previam o que ele fazia lá. Ele simplesmente conseguiu a confiança do guardião, e quando o guardião parou de vigiá-lo, eles atacaram utilizando a desculpa de que o povo se voltava contra os cristais.

– Mas os cristais não viam o que acontecia? – perguntei indignado.

– Os olhos dos cristais são o guardião, se ele for persuadido a não ver, eles não saberão. O plano deles, era utilizar da magia negra para trancar o santuário dos cristais e poderem dominar este mundo e a todos que nele vive.

– Como os cristais descobriram que estavam sendo enganados? – Questionei.

– Simples. Cada estado tem seu ministro. Este ministro tem um anel, que consegue transmitir todo sentimento do ministro e tudo o que ele vê para os cristais. Os ministros só podem utilizar este anel quando estão em sua sala, pois isso é uma regra dos cristais. Com a guerra rolando, os ministros foram capturados e mortos. Um único ministro conseguiu escapar e sua habilidade mágica era a de criar portais. Ele se transportou para dentro do seu escritório e conseguiu por o anel antes de que o pegassem.

– Mas isso demorou quanto tempo? – Indaguei.

– Foram quatro anos de guerra. Muitos clãs foram quase extintos. Os ministros foram capturados, morrendo de um a um. Não mataram todos de uma vez pois cada mês, um ministro precisa aparecer para prestar contas do que acontece na economia de seu estado. Com o tempo, os cristais estavam convencidos de que estava tudo bem. Por fim, quando o último ministro conseguiu colocar o anel, os cristais acessaram sua mente e entraram em ação. O guardião ficou enfurecido por ter sido enganado, mas a fúria de um guardião não é algo bom, pois ele destrói tudo o que ele quiser. Por isso, este guardião foi destruído e foi colocado imediatamente outro no lugar dele. Esse processo leva mais um ano. O novo guardião, agindo com sabedoria, retirou todo o poder dos rebeldes e também dos que se aliaram a eles. Como exemplo, o líder deles foi banido para uma dimensão paralela à nossa, a qual não existe mágica. Os outros foram presos em masmorras até que suas vidas acabassem. Algumas famílias perderam completamente sua magia e foram destinadas a viver utilizando apenas a força braçal.

– Nossa! Mas o que aconteceu com o líder deles?

– Como eu disse, foi mandado para uma outra dimensão. Mas dizem que ele prometeu voltar e terminar o que havia começado.

– E como este maluco voltaria? – perguntei achando que já sabia da resposta.

– Olhe, acho que só há uma forma! – a menina me respondeu séria.

– Pera, tá me dizendo que há uma forma? – perguntei surpreso.

– A família do ministro que salvou o reino, tinha o dom de abrir portais. Eles foram incumbidos de serem guardiões do véu entre as dimensões. A tarefa deles é não permitir que ninguém daqui passe para lá, e vice e versa. Para isso, eles conseguem dominar agora os quatro elementos.

– Mas eu atravessei este véu. De onde eu vim, não existia magia!– respondi surpreso.

– Então você teve a ajuda de algum guardião. Ou melhor, você pode ser do clã dos guardiões! – respondeu-me em tom sério.

– Mas o que essa escola tem com toda essa guerra? – perguntei lembrando-me do por quê o assunto havia começado.

– A escola foi feita para ensinar a dominação dos poderes. Mas após a guerra, os cristais decretaram que toda geração precisaria passar pela escola quando completasse quinze anos. Se algum clã se negar, ele perde os poderes para sempre.

– Nossa, uma simples pessoa pode tirar o poder de toda a família? Depois dizem que eu sou mal humorado... Esses cristais deviam estar de TPM quando fizeram isso. – respondi sarcasticamente.

– Isso foi uma forma de ordem no reino, mostrando que os cristais tem o poder para retirar o bem mais precioso dado a um clã, que é seu poder.

– Bem mais precioso? Não amam uns aos outros não? Acho que ouvi em algum lugar que o bem mais precioso é a família. – falei em tom sério – Depois meu pai diz que eu sou um menino egoísta...

– Claro que amamos. Mas cada dom foi dado inicialmente para um clã que precisasse dele para sobreviver. Quem domina a terra teve seus antepassados dominadores de terra e estes utilizavam disso para construir suas cidades e alimentar o povo do reino.

– Okay. Eu acho que vocês tem um reino bastante estranho – afirmei.

– Bem vindo a Vingardion – risos – a propósito, me chamo Sophia Saga.

– Obrigado, eu acho! Sou...

– Andrew Owteman. Ouvi o sr. Johanes dizer seu nome. – Sophia falou interrompendo-me.

– Porque me atacou daquela forma hoje mais cedo? Eu não te fiz nada! – indaguei.

– Você faria o mesmo se visse um menino branquelo, louro, com o cabelo liso, com um metro e oitenta de pura magreza te olhando pervertidamente! – ela me respondeu em um tom simpático.

– Meus olhos cinzas costumam funcionar com as meninas... – retruquei em tom de ironia.

– Ah, claro. Elas devem ser bem desesperadas. Poupe-me! – ela respondeu com um sorrisinho maldoso – Já vai amanhecer. Amanhã será o dia da escolha de grupos anuais. Geralmente são escolhidos no quarto dia!

– Sabe bastante sobre isso aqui hein?! – Questionei.

– É, acho que quando já se está a dois anos em um lugar, fica fácil saber o que acontecerá de evento! Vejo você por aí. – ela falou acenando e saindo da sala.

A biblioteca era imensa e agora estava vazia. De acordo com a história, eu precisaria de um guardião para voltar para casa, ou tentar explicar aos cristais que não desejava ter poderes, ou ficar naquele lugar. Ouvi passos que pararam atrás de mim com rapidez.

Ao me virar, vi uma senhora com cabelos curtos, com um metro e sessenta, vestida com uma saia preta que ia até os pés, um blazer com a marca da escola por cima de uma blusa branca e sapatos de salto alto pretos.

– Acho que não deveria estar aqui sr...

– Owteman... – respondi depressa – ...Andrew Owteman!

– Ah, claro! Um aluno novo! Bem, creio que nos veremos bastante aqui na biblioteca, mas isso será em um horário fora do toque de recolher! – falou-me em um tom frio.

– Volte até seu dormitório agora, ou chamarei o sr. Custos para lhe punir por estar acordado fora do horário permitido! – falou-me em um tom severo.

– Sim senhora! Agora mesmo!

Corri para fora da biblioteca e notei que no fim de um dos corredores, após uma curva havia uma claridade maior. Andei até lá e saí em uma varanda que percorria toda a volta do castelo. Já amanhecia quando reparei em uma placa indicava que os dormitórios masculinos eram para o norte dali.

De repente ouvi uma voz saindo das paredes do prédio, como se existissem auto falantes escondidos nas paredes.

– Toque de recolher retirado. São cinco e meia da manhã. Bom dia Vingardion High! disse a voz eletrônica.

– Ótimo, tive insônia e agora só terei duas horas até minha primeira aula! – pensei sarcasticamente em voz alta.

Continuei andando até os dormitórios. Entrei em meu quarto, tomei um banho e me vesti. Pietro e Hugo ainda dormiam. Saí do dormitório e fui em direção ao pátio perto da torre.

Lá, vi mais uma linda menina. Tinha o mesmo tamanho de Margot, era branca, cabelos negros ondulados, cintura fina, um belo traseiro, seios grandes e vestia o uniforme da escola. Seu olhar era profundo e seus olhos eram da cor vermelha.

– Bom dia! Acho que somos só nós dois acordados por enquanto! – tentei uma abordagem simpática.

– Oi. Os alunos em geral não acordam antes das sete. – disse a menina.

– Tem um nome? – continuei tentando ser simpático.

– Todos temos, se não me engano!

– Uau, acho que já consegui meu primeiro fora desta manhã! – tentei ser brincalhão.

– Tenho certeza disso! – respondeu em tom frio.

– Hey, qual o seu problema? O que eu fiz para você? Seus pais não te deram educação não?! – falei perplexo.

– Não tenho pai. Apenas mãe. Não me fez nada ainda e não fará se continuar a me importunar.

– Ah, sinto muito se perdeu seu pai! – tentei me desculpar.

– Não o perdi. Ele está em algum lugar na coleção de minha mãe.

Sem entender, resolvi deixar pra lá.

– Qual o seu nome?

– Tábata.

– Sabe onde é servido o café da manhã?

– É servido no salão A. Siga o varandão até o sul do castelo. Lá você verá placas indicando onde deve ir.

Saí de perto da garota, pensando que eu era a pessoa mais desprezível do mundo e segui para o lugar indicado por ela para tomar meu café em paz, já que a dor que eu sentia antes acabara de sumir.


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