Acordei na floresta, enquanto Tábata me encarava com seus lindos olhos vermelhos, bravos e com uma cara de quem não entendeu o porquê do meu estado.

– Poderia me explicar o motivo do desmaio, imbecil?

– A cobra me picou, digo, a menina, a loba, ah, aq-quela infeliz me picou! – respondi atônito.

– E você perdeu a chance de pegarmos a bandeira deles, imbecil! Morgana não estava como uma cobra venenosa, ela apenas se transformou em uma cobra inofensiva que só ataca com mordidas, sem veneno algum! – disse Tábata em tom severo – Mas você, donzela indefesa, teve que desmaiar!

– Pare Tábata! Não seja tão dura com ele! – Interferiu Dulce.

– Cala a boca, chatinha, não aguento mais seus comentários defendendo este inútil! Só porque ele é como você, um imprestável, não significa que tem de montar um grupo!

– Chega, gente! Estamos nos desviando do foco!!! – Interrompeu Arrow.

– Está certo! Vamos focar na bandeira dos Quinque! – falei levantando-me do chão, ignorando Tábata severamente – A propósito, onde está Margot?

– Ficamos contra atacando as maldições de Pietro e quando pudemos notar, Margot havia sumido! Acho que ela está meio que chateada contigo por causa da pequena discussão entre vocês dois hoje mais cedo! – Advertiu Dulce.

– M-mas, ela é estranha! Ela só se importa consigo mesma, tudo pra ela é Margot, Margot, Margot, fala sério, acho que ela é meio dementinha!

Todos me encararam como se não entendessem minha revolta contra a menina.

– Você já está em Vingardion a um bom tempo, já deveria ter ouvido algo sobre a família Tenebrarum pelos corredores de Vingardion High… – disse-me Arrow.

– Ouvir o que, gente? Só sei que parecem ser uma família de bastante influência! – respondi.

– Influência não, de grande poder! Na guerra de seiscentos anos atrás, eles participaram meio que, negativamente no meio dessa confusão toda. – explicou-me Arrow.

– Meio que não, né? Eles foram a confusão toda! – comentou Tábata.

– Ai, fico arrepiada só de pensar! – exclamou Dulce.

– Ai gente, conta logo!!! – exclamei.

– Então, – continuou Arrow – a família Tenebrarum iniciou a guerra contra os cristais, eles simplesmente quase acabaram com toda a harmonia de Vingardion!

– Como assim gente, eles eram tantos assim? – falei atônito.

– Na verdade, eram quatro! O senhor Tenebrarum, a senhora Tenebrarum, Margot e Pietro!

– O queeeee???? Como assim? Está me dizendo que a Margot e o Pietro tem seiscentos anos? Como assim? Eles são tão novos!!!

– Eles são de outra dimensão, Andrew, assim como você! Por causa disso, eles não envelhecem como os que nasceram em Vingardion! – explicou-me Dulce.

– M-mas, se ela é tão poderosa assim, por que ela não mostra seus poderes? Aliás, eu soube que quem ficou contra os cristais perdeu todos os poderes!

– Não todos Andrew, os cristais não tem o conhecimento sobre a magia da dimensão oculta, é muito poder para se absorver! Ao contrário de onde você veio, que não tem magia alguma, a dimensão de onde os Tenebrarum vieram tem muito poder, o qual nem imaginamos o quanto. – disse Arrow.

– Mas porque ela não utiliza poder algum? – perguntei.

– Margot, a mãe dela e Pietro, ficaram durante quinhentos e noventa e sete anos presos em uma prisão elaborada pela magia dos cristais, onde cristais de magia neutra sugavam seus poderes. Depois de sugarem todo este tempo, eles foram libertos para viver em nossa sociedade e cumprir com todos os deveres de Vingardion, inclusive Vingardion High!

– Caraaca, to bolado agora! Mas o que isso tudo tem haver com ela ser assim? Tantos anos de prisão deixaram-na doidinha?

– Não, Andrew, Pietro e a mãe ficaram contra o pai dele, mas Margot, apoiou o pai até o último instante! Os cristais então alteraram suas lembranças, modificaram seus sentimentos e ela acabou ficando assim!

– Cara, to com medo dela agora! – indaguei.

– Fique tranquilo, ela é um zero a esquerda agora! – disse Tábata.

Arrow soltou um suspiro – Margot agora é uma simples menina bonita, metida que sabe lançar feitiços de proteção! Ela teve suas memórias embaraçadas, não é mais quem foi um dia – disse Arrow.

– Preciso me desculpar com ela… Não sabia que ela havia passado por tanta coisa! – disse sentindo-me culpado pelo que havia dito a ela mais cedo.

– Nem ela sabe direito de sua história cara, fique tranquilo! Toda vez que tentei falar algo sobre o assunto, ela sentiu uma enorme dor de cabeça tentando se lembrar e desmaiava, indo parar na enfermaria!

– Gente, precisamos encontra-la! Arrow, faça um feitiço de localização! – exclamou Dulce

– Posso tentar, mas pode não dar certo quando ela estiver se movimentando! – disse Arrow.

Arrow repetiu todo o feitiço feito poucas horas atrás e setas apareceram no chão. Após horas de caminhada encontramos enfim Margot caída no chão, com os braços machucados, joelhos ralados e não parecia respirar. Dulce gritou histericamente quase me ensurdecendo temporariamente. Corri e abracei Margot gritando por seu nome, esperando que ela me respondesse com um sinal. Tábata juntou as duas mãos e pressionou os pulmões de Margot com tamanha força que ouvi ossos estalando, mas nada adiantava.

– Não escuto o coração dela!

– Usque!!! – recitou Arrow gritantemente.

A fumaça roxa nos envolveu e em menos de três segundos estávamos todos dentro da enfermaria, com um bando de enfermeiros mobilizando Margot para uma sala interna, onde não tínhamos contato com ela.

– O que será que vai acontecer com ela? – perguntou Dulce com os olhos cheios de lágrimas.

– Ainda não sabemos Dulce – falou Arrow abraçando-a.

– O coração dela estava parado, eu acho que ela morreu, mas podem alimentar esperanças! – disse Tábata virando os olhos.

– Não é possível que não se importe com ela, Tábata? – indagou Dulce com a voz trêmula e chorosa.

– Eu não preciso ficar me fazendo de frágil para me importar com alguém! Deixe-me em paz e vá chorar longe daqui! – disse Tábata com uma serpente saindo de seu cabelo.

Eu estava perplexo o bastante para não conseguir ajudar Dulce, responder Tábata à altura, mas eu apenas estava pensando que a ultima coisa que fiz por Margot foi fazê-la chorar.

– Espero que tenhamos boas notícias em breve! – disse uma enfermeira baixa e gordinha que se aproximou suavemente do grupo.

A porta bateu e Pietro entrou rapidamente na sala, passando por nós e querendo entrar na sala onde Margot estava, mas os médicos o impediram de passar. Por seus olhos azuis, corriam lágrimas e ele trancava sua boca para que ela não estremecesse.

– Deixe-me ver minha irmã! – ordenou Pietro levantando as duas mãos, fazendo toda a sala estremecer.

Tábata pôs uma das mãos em seu ombro, e ele parou com aquele feitiço. Tábata abraçou-o dizendo algo que o fez abraça-la forte e chorar em seus braços.
Dulce sugeriu que saíssemos para descansar um pouco dos jogos, pois estávamos sujos e cansados. Eu, Dulce e Arrow então, fomos descansar e Tábata ficou estranhamente ali junto ao Pietro, aguardando notícias sobre nossa querida Margot.