Love Story escrita por Lady Rogers Stark


Capítulo 62
Capítulo 62 (depois edito o título)




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Jantamos fora num lindo restaurante no centro. Meio caro, mas todo mundo dividiu a conta e saiu um preço mais amigável. O papo foi legal e conversamos sobre tudo, até mesmo Mel contou sobre uma de suas mais importantes reportagens de sua carreira até agora.

E ao sair, lembramos do garotinho, me senti desesperadamente mal por tê-lo deixado na mão por tanto tempo, ele não merecia aquilo. Fiquei de coração partido ao imaginá-lo esperando por mim e pelo Andrew naquela praça por tanto tempo. Me senti horrível, e Andrew não ficou muito diferente.

Mas Steve e Mel foram a voz da razão quando sugeri irmos apenas para checar se ele ainda estava lá, apesar de terem se passado horas e a praça ser muito distante. Eles concordaram que ele já deve ter ido embora e que ele deve ter tocado mesmo sem a gente. E Alicia acrescentou que ele estaria bem. E fomos para casa.

Passei o caminho todo me remoendo imaginando o garotinho tendo que tocar sozinho quando eu poderia ter o surpreendido de novo, seria tão legal. Aquilo foi como uma fonte de inspiração para mim, sinto que posso tocar até para a minha mãe ouvir do outro lado do oceano. E tocar mais uma vez com ele teria sido incrível. Mas não, eu tinha que esquecer!

Alicia se despediu ao cruzar com a rua dela. E Andrew e Mel subiram com a gente. Ou seja, as irmãs de Mel estão em casa e ela não pode levar Andrew para lá, ou seja, eu terei que dormir na casa do Steve para que não aconteça de novo o que aconteceu quando vi Mel pela primeira vez no sofá-cama da minha sala de manhã indo para o trabalho. Todo um protocolo para evitar aquele vexame de novo.

Nos despedimos no corredor e entrei com Steve deixando as sacolas com quentinhas do restaurante em cima da mesa e a bolsa junto, deixei o violino com Andrew para que ele guardasse também. E enquanto Steve abria as janelas, eu belisquei um pedacinho do salmão, estava tão delicioso que mesmo de barriga cheia eu queria mais.

—Vai chover hoje. — Steve comentou olhando para os céus na janela da sala. Pior que ia mesmo, o frio apertou quando andávamos para casa, e muito. Muita ventania. Vai ser uma tempestade daquelas.

—Então melhor fechar. — recomendei o óbvio e ele, claro, concordou. Voltou a fechar as janelas enquanto eu levava as quentinhas para a cozinha e colocar na sua geladeira sempre bem cheia de alimentos saudáveis. As vezes Steve é tão perfeito que irrita o meu lado bagunçado de ser.

—Vamos assistir o quê? — ele perguntou ligando a televisão e acessando o aplicativo da Netflix. Eu não estava muito afim de assistir nada não. Hoje foi bem cansativo e agitado, e a caminhada para casa me deixou exausta com os pés doloridos. Eu só desejava Steve na cama para me abraçar e um garfo com o salmão espetado para eu comer também.

—Eu estou um pouco cansada. Vamos dormir? — perguntei com sono e demonstrando isso. E agora que o corpo arriou de vez. Os ombros caíram e a coluna ficou dolorida. Estalei o pescoço e alonguei os ombros, mas nada adiantava. Eu tinha que cair na cama para isso passar.

—Sim, claro. — Steve desligou a televisão logo em seguida, jogou o controle no sofá e fomos juntos ao seu quarto. Enquanto ele escovava os dentes no banheiro, troquei minha roupa por alguma camisa sua, escolhi uma bem velha para que ele não sentisse falta depois. E claro, pelo fato de eu não ser tão alta como ele, a camisa bateu nas coxas, como um vestido muito curto para mim.

Steve terminou com o banheiro bem rapidamente, e eu fui em seguida. Escovei meus dentes com a escova que comprei só para deixar em seu apartamento, apesar que há algumas coisas minhas que praticamente pertencem a ele agora, como o meu shampoo e o hidratante que esqueci semanas atrás aqui. Mas não levarei de volta, gosto de como a imagem fica.

De alguma maneira estranha, eu me sinto feliz em ver na quantidade de coisas minhas que tem aqui e nas coisas dele que tem na minha casa. Isso demonstra que estamos caminhando juntos, afinal, não um na frente e outro muito atrasado. É como se aquele shampoo dissesse para mim que já estamos praticamente morando juntos. Isso me deixa muito feliz.

Saio do banheiro com esse pensamento na cabeça, e claro, aquele sorriso idiota não saí, nem quando o rímel escorreu para dentro do olho quando fui tirar a maquiagem. Fechei a porta e me deitei na cama ao seu lado, fechando os olhos e abraçada com o homem responsável por toda essa felicidade.

—Porque esse sorriso? — ele perguntou num tom curioso depois de um beijo na testa e me puxar para mais perto. É claro que ele ia notar, isso é obvio. Ele nota tudo, não deixa escapar nada. Até mesmo quando cortei três dedos do meu cabelo, nem eu notava a diferença, mas ele notou. Steve é tão... Apaixonante. Como eu consigo ficar triste por qualquer coisa perto dele?!

—É só o meu shampoo no seu banheiro. — brinco e rio ao ver a sua cara confusa. Eu disse algo totalmente sem sentido, mas que faz para mim. No final das contas, graças a esse shampoo que estou feliz assim —É que isso mostra o quanto sérios nós estamos. — explico olhando em seus olhos e de alguma forma, me apaixonando por ele ainda mais. Pois ele não se assusta, não recusa e nem muda de assunto. Não. Ele sorri de uma forma linda que nunca irei esquecer.

Sim, ele captou o meu raciocínio. Ele sabe que aquele shampoo não é só um shampoo no lugar errado e na casa errada. Não. Ele sabe que o vidro está ali porque eu fico tanto tempo na casa dele que praticamente vivo aqui. Praticamente, não completamente, ainda.

Sua mão me toca com tanto carinho que só fecho os olhos para sentir ainda mais, de maneira mais intensa. Porque quando amamos, quando beijamos, fechamos os olhos para o mundo e abrimos o coração para não deixar nada escapar.

Ouço meu nome e vou acordando aos pouquinhos. Ainda estou com sono, muito sono. Lembro que estou na casa do Steve e ouço a chuva forte lá fora, os trovões e o barulho dos pingos batendo na janela. Resmungo baixinho acordando finalmente. Steve me olha ansioso e animado com alguma coisa.

—Olha o que eu encontrei. — ele anuncia se sentando na cama e colocando alguma coisa em cima. Me sento segurando o cobertor sobre o peito e passando a mão sobre os olhos primeiro. Olho para a tal coisa, mas está embaçado, aos poucos posso ver a figura se mexendo e olhando para os lados com tanta graça que um sorriso enorme explode no meu rosto.

É um gatinho! De pelo felpudo e macio, escuro com lindos olhos verdes. Ele me olha e depois olha ao redor do quarto. Quero tocá-lo e segurá-lo, abraçá-lo mesmo que seu pelo esteja levemente molhado pela chuva.

—Ai meu Deus! Que coisa fofa! — é um gritinho de animação agudo e fino, como se eu estivesse frente a frente com o meu presente de natal que ganhei com seis anos. Não esqueço a minha felicidade com aquele violino cor-de-rosa na minha frente. Perfeito para uma garotinha que tinha todo o seu quarto dessa mesma cor. E me sinto essa garotinha agora.

—Achei ele na janela da cozinha. — Steve avisa e acaricio as costas do gatinho, que mia baixinho e começa a descobrir a nossa cama, sempre com o focinho cheirando tudo. Percorre todo o espaço livre e olha para o chão, eu sabia que ele ia sair da cama e descobrir todo o resto, mas não agora. O pego com cuidado e o deixo no lugar de antes.

—Na na ni na não.  — cantarolo em português ao coloca-lo novamente no mesmo lugar. Ele queria o resto do quarto, mas eu não poderia permitir. E além do mais, eu o queria comigo. Até mesmo para sempre —Ah, eu quero ficar com ele! — aviso num suspiro triste. Eu quero, mas não sei se devo. Eu conseguirei cuidar dele? E Steve? E se ele quiser ficar com ele?

—Ele não tem coleira. Deve ser um gato de rua. — Steve observa e concordo. Não tem coleira. É assim que os donos deixam bem claro que o bichinho já tem dono. E isso me empolga! Eu posso ficar com ele! —Andrew não é alérgico nem nada, não é? — pergunta o loiro enquanto brincava com as orelhinhas do bichano, que se senta com muita elegância, quase com classe.

—Andrew que se exploda. — brinco com um sorrisinho corrigindo o lençol e acariciando o pelinho macio do gatinho, que me olha com seus grandes olhos verdes, lindos e lindos. Apaixonantes.

—Alergia a gatos é horrível, Laura. Eu sei porque eu tinha. — Steve explica e passa a brincar com o gato, que caminha de um lado para o outro, e Steve mexendo no seu rabo —Bom, antes do soro. — ele se corrige e agradeço por ele não ser mais, assim eu não poderia ficar com ele.

—Eu converso com ele. — finalizo e o loiro concorda. Observo os dois brincarem, até o bichano se zangar e pular na mão do Steve com suas garras afiadas. O loiro recua depois de uma careta de dor. Eu sei que dói, por isso não o provoquei —Você não vai querer ficar com ele não? — pergunto acariciando o queixo do bichinho, que volta a se sentar e levantar a cabeça para receber mais carinho.

—Não posso. Ele vai ficar sozinho se eu tiver uma missão. — Steve explica e ele está certo, eu havia me esquecido disso. Mas sugeri porque Steve fica meio sozinho aqui enquanto estou fora trabalhando, e o gatinho ficando com ele poderia servir de companhia, e eu poderia vê-lo sempre que eu quisesse.

—Está certo. — concordo voltando a brincar com o bichinho, que esfrega suas costas na minha mão, acho que pedindo por mais carinho. Ele gostou de mim!

Domingo foi um dia preguiçoso e relaxado. Passei o dia inteiro na casa do Steve reivindicando sua camisa para mim. Almoçamos e jantamos as quentinhas do restaurante. E passamos o tempo assistindo Netflix e brincando com Joey. Sim, demos um nome para o gatinho, até demos um banho nele!

Joey depois de um banho descobrimos que estava coberto de sujeira! Muito sujinho, mas bem alimentado. Seu pelo depois do banho é cinza claro com manchas brancas e grandes nas patas traseiras, nas costas e no pescoço, parecendo uma nuvem de chuva bipolar. Steve riu do meu comentário.

Mas tínhamos um problema. Onde ele ia dormir e onde ia fazer suas fezes? Descobrimos da pior maneira que ele gosta do tapete para servir de banheiro, que adora a pia para fazer um lanchinho e ama o sofá para deitar e tirar uma longa soneca, justamente onde nós sentamos ou deitamos para assistir televisão.

Joey é muito sapeca, mas já o amo. É doce e amoroso. Gosta do meu carinho e implica com Steve de vez em quando. Também descobri que ele não gosta de leite, achei que todos os gatos amassem. Ainda bem que não dei o meu precioso salmão para ele, vai que ele não gosta?

E enquanto Steve tirava uma soneca do meu lado, eu acessei a internet e li tudo o que eu precisava saber para cuidar bem dele. As refeições, os tipos de ração, sobre a areia de gato, os banhos, até sobre as vacinas. Se depender de mim, banho só quando estiver muito sujo, deve ser uma tortura esses perfumes para alguém que tem um olfato muito mais apurado do que o nosso.

Segunda-feira chegou, me despedi de Joey e Steve, e aproveitei e apresentei ao Andrew nosso mais novo colega de apartamento. Ele não foi contra, mas avisou que é melhor seus pais ficarem sem saber disso. Lembrei que os pais de Andrew são superprotetores, apesar de frios feito um icerberg.

Trabalhei de bom humor, com um sorriso no rosto e rindo de algumas mensagens engraçadas de Steve perguntando porque Joey fugia quando o loiro se aproximava para dar ração. Eu não entendia e prometi que ia tentar alimentá-lo para ver se ele fazia a mesma coisa comigo também quando eu chegasse em casa.

Jhones estava chateado, não sei porque, mas toda vez que eu o lembrava de algum compromisso, ele resmungava e ia, apesar de chateado. Comprei na máquina de doces do refeitório seu doce favorito, chocolate com cobertura de marshmallow, coloquei em sua mesa, ele devorou por completo, mas nada adiantou, continuava chateado por alguma coisa. Garanto que não foi por minha causa.

Pensei em ligar para Barbara e perguntar, mas deve ser algo particular, algo entre os dois ou da família, não devo me meter. Mas por ironia, a mesma liga no meu telefone, apesar que poderia ter ligado para o celular de Jhones, mas não ligou, porque?

—Escritório do senhor Jhones. Boa tarde, em que posso ajudar? — fingi que eu não sabia quem era, entrei em pânico com a surpresa e coincidência. Mas me arrependo e fecho os olhos arrependida aproveitando que Jhones estava no banheiro.

Laura, como vai? É Barbara. — ela avisa com seu sotaque forte e espanhol. Ao contrário de Jhones, ela estava de bom humor, foi simpática comigo, como sempre é, mas imagino que ela seja boa em disfarçar seu descontentamento perante as outras pessoas, ao contrário de seu marido.

—Oi Barbara! — odeio fingir e mentir, mas finjo que estou surpresa por ela estar ligando, e a cumprimento animada, feliz em falar com ela —Quer falar com o senhor Jhones? Ele está ocupado agora. — aviso quase que adivinhando o motivo da sua ligação.

—“Senhor Jhones”. Ainda é estranho isso. — ela comenta e parece ser algo apenas para ela mesma, tanto que não respondo —Eu queria falar é com você. — Barbara avisa e tento relaxar, apesar de eu me sentir nervosa sobre o que ela queria falar comigo. Ultimamente tenho andado muito ansiosa, e isso não é bom —Jhones ainda está de mal humor? — pergunta ela e olho para a cadeira vazia. Isso me faz pensar que foi algo entre os dois, como uma briga ou crise de ciúmes.

—Sim. — confirmo e ouço seu suspiro. Confesso que nunca o vi assim, mas acho que ela sim. Ele está mais seco do que o normal, mais reclamão, o que é horrível para alguém na minha posição, que tem que ouvir tudo o que ele diz e não reclamar.

Ele não aprende. — ela reclama para si mesma, o que atiça ainda mais a minha curiosidade, mas é claro que não sou idiota de perguntar —Hoje nós temos um jantar, com a minha família do México. Preciso que você busque o terno que reservei para ele. — parece fácil, é claro que eu vou fazer, e acho que não sou só secretária de Jhones, sou também da esposa dele.

—Ah sim, claro. É só me dizer o endereço. — alcanço a caneta e um bloco de notas, ela dita o endereço e anoto tudo certinho. Não é perto de ir a pé, mas não devo demorar muito. Ela ainda dita o número da identidade de Jhones para eu ser autorizada a pegar o terno. 

Mas tem uma coisa, Laura. — Barbara avisa e eu sabia que estava fácil demais, nunca é fácil demais, é que nem matemática na oitava série, se tá fácil é porque tem alguma coisa errada ou faltando —Você já deve ter percebido que meu marido não gosta de gastar dinheiro. Preciso que você coloque o terno no guarda-roupa dele para que ele não suspeite de nada. Ele não pode saber que aluguei o terno, tá bom?

Já consigo me ver sendo presa porque alguém viu uma estranha e totalmente desconhecida mexendo nos pertences de Jhones na casa dele. A vida só pode estar me testando para saber se sou realmente merecedora de um grande e enorme prêmio, algo do nível de ganhar na loteria duas vezes.

—Tudo bem. — confirmo pronta para uma verdadeira missão impossível. Depois dessa, a S.H.I.E.L.D pode me contratar para ser uma espiã secreta.

Agora anote que eu vou te falar como você tem que fazer as coisas. — seu tom de voz é firme, tanto que a primeira coisa que faço é pegar a caneta e rezar para ser fácil, fácil quanto dizer “Laura está mais ferrada do que bandido indo para a forca”.

O táxi para na frente da loja, uma loja chique e elegante. Agora entendo porque Jhones não pode ficar sabendo que Barbara alugou um terno. Ele vai surtar! Um terno aqui deve custar no mínimo trezentos dólares por dia! O preço de um terno novinho e que vai ser seu para sempre em outros lugares.

Abro a porta de madeira escura e bonita e sentindo o cheiro de verniz e tecidos novos, sei o cheiro porque minha avó era costureira. Mas também há um cheiro de charutos, bem leve, talvez para dar um ar de masculinidade ao ambiente. Comigo não funcionou, pois quem fumava na minha casa era minha mãe, meu pai odiava.

—Boa tarde, em que posso ajudá-la? — perguntou um rapaz jovem, cabelo preto bem penteado, um terno bonito e de sorriso simpático, magro, mas bonito. Correspondi ao sorriso e me preparei para dizer o que eu queria, mas ele agarrou minha bolsa com uma expressão espantosa —Amei sua bolsa! — ele avisou animado e exaltado, tanto que fiquei com um pouco de vergonha, mas como a loja estava vazia, relaxei e sorri em retorno.

—Obrigada. Comprei em promoção! — comentei e ele riu soltando e voltando a sua posição formal. Gostei desse cara, e não foi porque ele elogiou minha bolsa novinha, mas essa animação toda faz bem. Mas acho que agora é hora de sermos profissionais, e disso eu entendo —Eu vim buscar um terno. — aviso e ele assente caminhando para trás de um balcão ao canto da parede.

—Para você que não é, acertei? — pergunto o moço e confirmei com a cabeça com um sorriso me aproximando e observando as coisas para vender por baixo do vidro do balcão, gravatas, meias, coisas do tipo.

—É para o meu chefe. — respondo com um sorriso torto. Bem que eu queria buscar um terno para o Steve para jantarmos, sei lá, em Paris! Mas como sonho é sonho e a realidade é diferente, só me resta chorar.

—Que chato.  — ele comenta brincando com a caneta e com um sorriso compreensível —Bom, nome e identidade, por favor. — ele é educado e pego o papel que anotei e dito tudo certinho. O rapaz entra nos fundos por meio de uma cortina verde depois de me pedir para esperar que ele voltava já com o terno. Não demorou e ele já estava de volta com uma sacola em volta dele —Tá aqui. — ele avisa me entregando e agradeço simpática.

Saio da loja e entro no mesmo táxi que me trouxe até aqui, que pedi para esperar. Ele me levou até a casa de Jhones, me deixou bem na porta. O dispensei porque eu sabia que ia demorar, ia ficar caro demais.

O bairro é elegante, típico de gente rica, por mais que a casa não fosse desse jeito. Não é um prédio, é uma casa normal, com uma escadinha na frente e janelas e uma porta, mas talvez não seja por isso que eu esteja tão assustada e nervosa. É a casa do meu chefe que a esposa dele está pedindo para eu entrar.

Barbara me avisou que não haverá ninguém em casa. Ela está no salão e a empregada está fazendo as compras para fazer o jantar. Suspiro nervosa e decido entrar. Subo as escadas, aperto a maçaneta e giro com o coração a mil. A porta se abre e olho receosa para o corredor, vazio de gente e de luz.

Ligo a luz, um piso de madeira com paredes beges encantam meus olhos. A casa é linda! Com uma recepção amistosa e aconchegante. Há quadros nas paredes retratando momentos felizes do casal. Não sabia que Barbara pintava, posso saber agora pela assinatura igual em todo quadro.

Há uma mesinha ao lado da parede da escada cheia de objetos culturais, talvez do México, talvez de algum país latino, eu não sei, mas são incríveis. E na frente há um espelho cheio de bilhetinhos fofos e românticos. Acho que não fui a única a ter a ideia de trocar bilhetes assim. Eles são tão fofos.

Quando percebo, estou tão à vontade que não me sinto mais nervosa, apenas ansiosa. Preciso resolver isso rápido, antes que a moça que aqui trabalha volte e me veja.

Subo as escadas com pressa e abro a porta do quarto de casal. Grande, espaçoso, com uma linda vista para a vizinhança típica de filmes. Há uma estante cheia de livros e outra só de filmes. Suponho que os livros sejam de Barbara e os filmes de Jhones. Adorei a ideia.

Abro a porta do closet, e me espanto com a elegância. É lindo. Estreito, mas longo, e cheio de roupas dela e dele. Uma parte para ele, e outra para ela, uma de frente para o outro. Me apaixonei! Quero um igual! Mas agora, preciso me concentrar na minha tarefa.

Puxo a porta com as roupas de Jhones. Há muitos ternos, de vários tipos, mas quase todos são escuros. Não vi como esse é, mas se Barbara quem escolheu, acho que ele vai gostar. Deixo o cabide da sacola pendurada e a abro, e me sinto a pior secretária desse mundo em dois segundos.

Um terno azul claro com babados no peito, gola alta e mangas mais largas é totalmente ao contrário do que Jhones geralmente usa. Ele não vai usar isso. Se ele entortou o nariz com aquele cinto vermelho grená que comprei para ele, imagina isso aqui? Não consigo ver ninguém com um senso de ridículo mínimo usando. E aposto que nem o terno entra, é muito pequeno comparado aos ternos que ele tem.

Chego a rápida conclusão que o rapaz da loja me entregou o errado. E agora? Preciso voltar para trocar pelo certo. Tudo porque eu não chequei na hora. Se eu tivesse, isso não teria acontecido.

Volto com a sacola e escondo esse terno tenebroso do mundo. Saio da casa fechando a porta e chamando um táxi, que aparece na calçada para mim em três minutos. Dito o nome da loja novamente e em quinze estou lá.

—Eu sinto muitíssimo! — o rapaz da loja lamenta e posso ver que está sendo sincero. Consigo entender que foi um erro, e o perdoo —Erro meu, totalmente meu. Deixo eu ir pegar o certo, ok? — ele é educado e leva o terno errado para dentro, e volta rapidamente com uma sacola mais pesada dessa vez —Viu? Corte americano com fenda dupla e lapela peaked. — o rapaz explica coisas que não entendo nada, mas sei que esse é o certo pois é escuro.

—Obrigada. — agradeço e ele retribui com um aceno de cabeça. Saio da loja e volto para o táxi, ele me leva até a casa e peço para esperar mais uma vez, dessa vez será rápido, não perderei meu tempo observando a linda casa de novo.

Subo as escadas e surjo no closet do casal com pressa. Retiro a sacola e a jogo no chão. Guardo o terno elegante bem no meio, onde imagino que fique melhor para ele escolher esse aqui, mas acho que Barbara dará seu jeitinho. Fecho a porta e guardo a sacola do terno embaixo da cama do casal no quarto, como Barbara me pediu.

Desço as escadas e volto para o táxi, acho que bem na hora, pois eu estava vendo uma moça com sacolas pesadas cruzar a esquina e subir as escadinhas da casa que acabei de sair. Minha respiração é pesada e nervosa. Espero que o motorista não pense que foi cumplice de um assalto, pois não foi o que aconteceu!

Pode ficar para você, Laura. — Barbara responde no telefone quando liguei para avisar que deixei o terno no lugar certo e sobre a pequena confusão que o rapaz fez ao trocar os ternos por um de péssimo gosto. E agora estou falando sobre o vale de cem dólares que o rapaz da loja me deu depois do pequeno mal entendido. Eu iria entregar para ela, mas Barbara diz que eu posso ficar com ele, quem sou eu para contrariar? —Você merece. — ela acrescenta e me sinto orgulhosa disso. Foi um sufoco terminar essa tarefa que ela me deu.

—Obrigada. — acrescento dando uma pequena olhada nele de novo. Era bonito e não tinha data de validade, então eu posso usá-lo quando eu quiser? E cem dólares por aquilo? Acho que o terno custou muito mais do que trezentos como imaginei no começo.

Bom, vou desligar, vou fazer minha escova. Tchau, Laura. — ela se despede e retribuo e desligo a ligação. O motorista do táxi para e vejo que cheguei finalmente, apesar de mais tarde do que imaginei, mas eu voltei. Pago ao motorista e saio do carro entrando na empresa e indo direto para a minha sala e encontrando Jhones no computador e no telefone, ao mesmo tempo. O que me preocupa, ele estava precisando de mim! Droga!

—Onde você estava? — pergunta ele atrapalhado, repleto de tarefas para fazer tudo ao mesmo tempo, e se eu estivesse aqui para fazer o meu trabalho... Ah, droga! E agora? O que eu digo?

—Sua esposa me pediu para levar o cartão dela para o salão. — respondo me lembrando como um tapa da desculpa que Barbara me pediu para usar. Ela explicou que ela costuma esquecer o cartão em casa e dizer isso ao Jhones que ele ia acreditar, mas acho que isso não é suficiente para me poupar de seu descontentamento.

—Senta na cadeira. — ele ordena nervoso e baixo, por causa do telefone. Ando em passos rápidos e me sento na cadeira da minha mesa. Jogo a bolsa no chão enquanto recebo o email que Jhones estava escrevendo no seu computador no meu com um simples comando.

Eu li rapidamente o que ele havia escrito para continuar enquanto ele discutia com outra pessoa sobre o produto. Eu não prestei atenção, mas assim que terminei, percebi que a situação estava no nível emergencial.

—Eu não quero saber da desculpa que você vai usar. Não pergunte isso a mim. Você é o responsável pela propaganda do produto, pela imagem dele. Se vira! — ele grita com a outra pessoa e desliga logo em seguida com raiva. Nem ouso tirar os olhos da tela para olhar para ele, quero que ele pense que estou pensando em o que escrever, quando isso só está em segundo plano.

O e-mail estaria sendo enviado para um jornal que, pelo o que eu entendi, criticou duramente e negativamente o projeto da mochila antibullying, e o pior, era um jornal grande e famoso. Jhones tentava explicar que a mochila não oferecia nenhum risco sério as pessoas ao redor, sejam os valentões, ou aqueles que não tem nada a ver com o bullying.

Mas eu não posso deixar de concordar com o jornalista que escreveu a reportagem (mesmo que eu não tenha lido ainda), a mochila pode ser perigosa. Choque? Uma criança não é um policial treinado para usar uma arma de choque. E óleo? E se os valentões baterem a cabeça em algum lugar? Certamente essa não é a melhor solução para o problema.

Continuo escrevendo o que Jhones provavelmente diria. Sobre o produto não oferecer riscos ao usuário e as pessoas ao redor, que foi testado várias vezes em laboratório, e que está sob os testes do INMETRO para ser aprovado e comercializado em todos os estados do país. Mesmo que eu não concorde.

Não me sinto bem fazendo isso, mas é o meu trabalho. Não gosto, mas preciso. Posso me recusar a fazer uma tarefa porque não condiz com meus ideais pessoais, mas acho que não se deve misturar essas duas coisas.

Jhones agora está conversando com outra pessoa, mas tão nervoso quanto a última. Posso ver daqui o cuspe escapulindo da sua boca enquanto fala, não é uma visão nada bonita. Mas enquanto ele não terminar com o telefone, não tenho nada para fazer.

Vejo no meu lixo um jornal amassado, foi socado até estar bem no fundo, acho que foi Jhones. Deve ser o mesmo jornal que ele leu a matéria criticando seu produto. O pego querendo ler também. Passo pelas folhas sentindo aquele cheiro tão familiar e a sujeira nos meus dedos até encontrar, mas acabo parando em uma página que não tem nada a ver.

Sou eu, Andrew, o menino do piano e seus pais na praça, naquele mesmo dia do teste que deu muito errado, no sábado. O céu ao fundo estava azul e sem nuvens, havia crianças brincando atrás, e o piano atrás da gente. Uma foto grande e estampada no canto superior direito, junto com um pequeno texto sobre o projeto de uma ONG que leva música a crianças.

Eu havia me esquecido completamente dessa foto, na verdade, eu havia me esquecido até do menino, me sinto mal agora. Esse jornal é de ontem, sinal que publicaram no jornal de domingo. Tenho que mostrar ao pessoal, Andrew vai adorar. Mas será que Jhones vai me deixar ficar com o jornal? Que ele com tanta raiva socou na minha lixeira.  

Mas se ele jogou fora, é porque não quer mais. E por isso, escondido, “roubo” apenas aquela página a enfiando dentro da bolsa e voltando a procurar a matéria que criticava o primeiro produto que tive participação indireta.

Achei. Leio de maneira rápida, porém concordando que Jhones tem toda a razão para ficar bravo daquele jeito. “Inútil” e “ineficaz” são palavras bastante citadas no texto que ocupa metade de uma página, com direito a uma foto exclusiva da mochila na festa, provavelmente feita sem ninguém ver por um celular.

O repórter não poupa criticas negativas a mochila. Concordo em partes, mas discordo em outras. Concordo que não é a forma mais eficaz de todas de combater o bullying, mas também não acho um desperdício de dinheiro e tempo. Fico na dúvida se o repórter realmente sabe o que está dizendo ao citar que não adiantaria de nada uma mochila que dava choques quando se tem punhos. Exemplo bastante idiota.

Olho para Jhones depois de terminar de ler. Entendo a reação dele, decepcionado e estressado. Ele investiu muito tempo nesse projeto para ajudar, e que agora deve estar praticamente manchado para as pessoas que não conheciam antes da matéria ser publicada, inclusive para quem poderia comprar alguma hora.

Olho para Jhones esperando ele terminar para mostrar como terminei o e-mail antes de enviá-lo. É uma explicação importante, que provavelmente não vai servir de nada porque a editora não vai publicar esse e-mail, ninguém vai ficar sabendo dos detalhes mais a fundo, apenas o lado negativo que foi aumentado em 300% pelo jornalista.

No canto da dela do meu computador avisa de um compromisso de Jhones, o jantar que Barbara me avisou mais cedo. Mas pelo pouco que conheço do meu chefe, ele não vai sair da cadeira tão cedo. O que me faz pensar se Barbara irá me culpar por isso. Não, ela tem a cabeça no lugar, sabe que não tenho culpa alguma e conhece o homem que casou.

Jhones mais uma vez desliga o telefone batendo com uma força desnecessária. Sua cabeça caí para frente apoiada pelas mãos e cotovelos na mesa. Cansado e mais cansado, deve estar sendo muito difícil suportar a ideia que seu projeto não irá poder ajudar mais ninguém porque um jornalista idiota manchou sua reputação e sua ideia.

—Senhor. — o chamo com a voz baixa e mansa, não é a melhor hora mas preciso fazer isso —Você tem um jantar com a sua família em uma hora e meia. — o lembro e o vejo sacudir o rosto e bater de leve nas bochechas, para despertar.

—Nem me lembre disso. Cancele. — ele diz determinado e sério, mas Barbara vai me matar! E nem para falar no que eu fiz para alugar o terno certo para ele e agora ele vir com cancelar?!

—O que eu digo para a sua esposa? — pergunto a ele antes que eu pudesse impedir, eu não precisava de uma desculpa, eu diria a verdade, mas eu estava me referindo da decepção que ela vai sofrer quando eu contar.

—Ela vai entender.  — ele responde e eu sei que vai, mas nenhuma mulher gosta de se preparar toda para no final, o homem nem notar ou cancelar. Barbara deve ter se esforçado bastante para esse jantar.

Eu queria dizer que ela não merecia isso, que os problemas dele não deviam ser descontados nela e que ela merecia um jantar decente com a família dela e o homem que ela ama, mas é claro que eu não digo. Ao invés disso, apenas ligo para Barbara e aviso que Jhones não vai ao jantar. Não gostei de fazer isso, não mesmo.

Passe para ele, por favor. — ela pede com uma calmaria fingida, tenho certeza disso, ainda mais depois de ouvir seu longo e profundo suspiro. Daqui eu podia ouvir sua oração pedindo mais paciência.

Obedeço sem dizer mais nada. Passo a ligação para o telefone fixo da mesa do meu chefe. Ele atende com a mão sobre o rosto, sei que, assim como ela, não estava com saco para suportar aquilo agora. Nenhum dos dois estão.

Barbara conversa com ele, falando mais do que ele, dizendo algo que nem me importo em ouvir, não é da minha conta, mas quando Jhones diz “ela fez?” em tom de surpresa e descrença e olhando para mim, eu sabia que tinha a ver comigo.

Imaginei que estivesse falando de outra pessoa, e ele apenas tinha olhado para mim, talvez falando que a empregada havia feito um prato favorito dele. Mas eu sabia que no fundo não era isso. Jhones continua com o telefone sobre o ouvido e escutando tudo o que Barbara falava, e olhando para mim. Era constrangedor, mais porque ele agora sabe o que Barbara me mandou fazer.

—Te vejo aí. — ele se despede rapidamente e desligando o telefone na base. Respiro fundo enquanto ele desliga o computador e pega o paletó da cadeira e se preparando para ir embora. Barbara conseguiu fazê-lo ir então —Você pode ir para casa. — Jhones avisa e assinto com a cabeça. Não estava na hora, faltava uma hora ainda, mas não irei contestar, é claro.

—Tudo bem. — assinto me preparando também. Pego minha bolsa e o celular, desligo o computador e fico pronta na hora, afinal, eu nem havia feito muita coisa aqui hoje, passei mais tempo na rua.

—E Laura. — ele me chama da porta —Obrigado. — assinto com a cabeça entendendo o que ele quis dizer. Jhones agora sabe o motivo de toda a minha demora. Não foi para levar o cartão de crédito que Barbara esqueceu, mas sim algo que ela pediu a mim e que fiz lindamente, claro com uma confusão enorme. E ele sabe disso.

—Disponha. — rebato com um leve sorriso no rosto. Ele acena e vai embora sem dizer mais nada. Não foi nada demais, mas porque eu me sinto tão orgulhosa disso?

O ônibus estava quase vazio. Cheguei em casa bem melhor do que das outras vezes que cheguei aqui. Já cheguei exausta, acabada, me rastejando, quase dormindo, e uma vez sonâmbula porque não me lembro de ter subido as escadas daquela vez. Mas cheguei em casa sorrindo.

Andrew ainda estava no trabalho. Ele me avisou que terminando aquilo, ele iria para casa, mas sei que foi apenas uma desculpa para acalmar meu estomago nervoso de fome, sua expressão era estressada, estava atolado. Mas entendo bem. Por isso irei para a casa do Steve, que sempre tem alguma coisa para comer. E outra, Joey ainda está na casa de Steve.

Troquei por uma roupa confortável e leve. Desmanchei o rabo de cavalo apertado e retirei a maquiagem. Bati na porta do loiro, que gritou um entra de algum cômodo. Abri e o encontrei saindo do seu quarto enquanto vestia uma camisa. Deve ter acabado de tomar banho. Mas não encontro Joey.

—Como foi o dia? — Steve pergunta, como sempre, e faço aquela mesma expressão de mais ou menos, ele sorri e joga uma toalha molhada para a cadeira da cozinha. Continuo esperando por Joey, mas não o vejo em nenhum lugar —Laura, tenho algo para te contar. — Steve avisa e me sinto preocupada, seu tom não é animado e nem feliz, é triste e receoso.

—O que é? — pergunto ainda mais preocupada por pensar que pode ser algo relacionado a Joey. O que houve com o gatinho?

—A dona dele apareceu. — Steve avisa e quase que levo um susto. Dona? Joey tem dona? Não parece ter. Não tinha coleira e estava coberto de sujeira. Como um gato assim pode ter dona? —Ela ouviu os miados dele. Ela mora no segundo andar. Sinto muito. — Steve explica puxando minha mão e me envolvendo num abraço. Ele sabe que não gostei de ouvir isso.

—Tudo bem. — concordo o abraçando de volta tentando disfarçar que não fiquei magoada, eu imaginei toda uma cena de mim cuidando de Joey, com Steve ajudando e Andrew reclamando que ele atrapalhava na hora dele assistir televisão. Joey adora o quentinho da tela. Agora percebo que isso não vai acontecer.

—Podemos adotar um no centro de zoonoses — Steve sugere, mas recuso logo de imediato. Soou infantil, mas não quero outro gato, pelo menos não agora. Me apeguei ao bichinho, mesmo que em tão pouco tempo.

Steve parece entender e me beija, leve e carinhoso. Consigo sorrir um pouco, mas acabo aceitando o seu ombro para assistir televisão com ele, mesmo que não prestando tanta atenção assim.


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Notas finais do capítulo

Isso é tudo o que eu escrevi dessa fic até agora. Não há mais coisas. Ando mais focada em outra fic. Não sei se irei continuar. Já faz anos que não escrevia ela. Mas é isso gente. Se um dia eu voltar a escrever, postarei aqui. Apesar que demorei dois anos para postar o que já estava pronto KKKK Tenham paciência



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