Love Story escrita por Lady Rogers Stark


Capítulo 60
Capítulo 60 (depois edito o título)




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Steve se recuperou com uma rapidez impressionante. Em uma semana ele estava bem e andando sem mancar. Eu já podia me jogar em cima dele sem problemas quando começava a série e eu ainda estava fazendo a pipoca na sua cozinha, claro que fazia uma bagunça danada, mas valia à pena.

Sua costela melhorou, seu braço não precisava da tipoia, só sua perna que não era uma das melhores, ainda. Steve disse que o médico recomendou ficar com a perna para cima algumas horas por dia. Em pessoas normais seria uma semana, mas como Steve é diferente de mim e Andrew, por exemplo, o médico quase não sabia o grau acima de recuperação dele.

E então, quando recebi um SMS desesperador da organização do concurso que estou participando, significava que não haveria nenhum problema para o Steve ir comigo. O único problema era eu.

Com os ferimentos dele, o meu trabalho exigindo bastante de mim e contas para pagar num banco inútil e lento, eu não treinei nada em um mês. Corro o risco de nem saber tocar quando eu for lá amanhã. Minha mãe estava furiosa comigo, disse que fui irresponsável por deixar de treinar por tanto tempo assim. Meu pai foi mais compreensível, sabe que tenho uma vida de adulta agora.

Alicia apareceu na minha casa exasperada, com cabelo para cima e olhos arregalados e tudo. Andrew também não estava diferente. Treinávamos músicas diferentes, ele treinava no box do banheiro com porta fechada, e eu no cantinho da cozinha, o mais distante um do outro. Mas não daria para mais um tocar no mesmo apartamento outra música totalmente diferente. Mas Alicia explicou que nem seria necessário, seria algo diferente dessa vez.

—Vocês idiotas esqueceram do e-mail que enviaram para vocês no começo? Como que funcionará cada fase do concurso? – perguntou irritada Alicia, furiosa. Estávamos treinando fazia três horas para nada então? –Precisamos treinar uma música de quarteto, juntos. Agora! – ela avisou apressada enquanto tirava uma partitura da mochila que carregava, além da capa do violino.

—Eu nunca vi essa antes – Andrew comentou enquanto foleava a partitura, e eu também não, e a letra de Alicia também não ajudava. Ainda bem que as partituras eram imprimidas, se ela tivesse escrito, meu deus...

—É Lago dos Cisnes! – ela gritou furiosa e até me afastei um passo assustada. Ela bufou e retirou o suporte para partituras e regulou o tamanho, colocou os papeis de forma que todos pudessem ver. Mas para mim não é Lago dos Cisnes. Toquei minha infância inteira, mas não é Lago dos Cisnes.

—Tem certeza que é mesmo? Porque eu sei como se toca de cor – aviso abaixando o arco, mas o violino ainda em posição. Alicia bufa, mais uma vez e espero que a última. Deixo os dedos posicionados e o arco também. Alicia começa e Andrew e eu vamos logo em seguida.

Acontece que era mesmo a música, mas com diferentes notas. Eu até poderia ter tocado melhor, mas eu errava por não seguir a partitura bem na minha frente, o que irritava Alicia pelo fato do concurso ser amanhã de tarde. Aposto que a organização fez isso de propósito para cortar os mais desleixados que tocam bem, como a gente. Preferem os que tocam todos os dias e não tem vida social.

Mas até Andrew errou bastante, ele até desafinou, coisa que eu não fiz. Alicia implorava por um pouquinho de foco, apenas um pouco. Todos nós precisávamos vencer esse concurso por diferentes motivos. Eu para realizar um sonho de infância, Andrew para provar aos pais que pode conseguir sim e Alicia para... Bom, ela só quer mesmo e está muito mais focada do que a gente.

Mas acontece que eu não estou conseguindo me focar. Estou irritada com a organização por ter adiantado em quase duas semanas o teste, o penúltimo de todos eles. E sei que nesse terceiro vai ser uma matança e vou poder nadar com as lágrimas de quem não passou.

Lembro da bagunça e a multidão de quem foi tentar no primeiro teste. No segundo não estava nem a metade, mas ainda tinha bastante gente. Agora no terceiro, acho que se cortar 2/3 ainda vai ser pouco. Agora imagina no último teste? Vão cortar quem ousar abrir a boca para respirar com nervosismo.

Pedimos uma pizza para relaxar apenas por quinze minutos, Steve passou aqui para dividir o refrigerante que ele tinha, já que aqui acabou e só me dei conta quando o entregador já estava com a pizza na minha porta.

Meus dedos doíam muito, ardiam. Eu fiquei muito tempo sem tocar, um tempo que provavelmente deve ter me feito descer vinte níveis, se caso pudesse ser medido em níveis igual a jogo. E o pior, eu estava mal.

Mal porque eu poderia desperdiçar a maior chance da minha vida por pura acomodação, por protelar algo que amo fazer e pela simples mania de não organizar a minha vida. Porque francamente, ela é uma bagunça!

Vim para cá com um objetivo, e acabei descobrindo outros e sendo desviada do principal. Conheci o Steve, conheci a Alicia e depois o Andrew, arranjei um trabalho que exige da minha atenção, arranjei hobbies que jurei largar quando vim para cá. E agora, esse é o resultado: Totalmente despreparada para algo que sonhei toda a minha vida. Parabéns, Laura, atingiu um novo nível de burrice.

—Pega logo isso e vamos Andrew! – grito com o moreno que só colocou tudo dentro da capa do violino, colocou debaixo do braço e começou a correr para descer as escadas comigo. Steve estava esperando na portaria para ir com a gente.

Não estávamos atrasados, na verdade tínhamos ainda quase meia hora de sobra. Eu estava apenas estressada, por isso que quase dei um infarto no Andrew de tanto que o apressei. Eu já estava pronta e fazendo o café quando ele acordou, até Steve pediu um pouco de silêncio deitado no meu quarto.

O caminho era pequeno, mas tinha um agravante, hoje era feriado estadual em Nova Iorque. Só me liguei quando Steve comentou sobre isso ontem durante a pizza. Nem Alicia e nem Andrew sabiam disso também. E isso, claro, forçava um sacrifício a mais para quem vai fazer o teste. Imagino quem nem mesmo recebeu a mensagem.

Parecia que toda a cidade estavas nas ruas agora. Mas aqui, na minha rua, no Brooklyn já tem gente demais, imagina na Times Square mais tarde? Vai estar um horror de tão cheio, aposto que tanto quanto no ano novo.

Andamos com uma certa pressa, passamos uma, duas e três ruas, na quarta tinha uma praça pequena e simples com uma estátua de algum personagem histórico importante, Steve deve saber quem. Mas o que atraiu a minha curiosidade foi um piano colocado na frente da estátua para quem quisesse tocá-lo.

As pessoas andavam e nem olhavam para ele, o que me dava uma certa pena de um piano tão bem ilustrado e bonito. Não era nenhum piano de cauda, mas era ainda assim um belo instrumento. Não entendo como alguém teve a coragem de deixar ele aqui tão desprotegido. Sei que aqui não é o Brasil, mas e se alguém quiser tomá-lo para si?

—Gente, olha – aponto para o piano e os dois olham curiosos também. Atravessamos a rua e ficamos da calçada o observando. Estava frio e ventando, por isso abracei o meu casaco segurando a alça da capa. Ninguém ainda tomava a coragem de sequer tocar uma tecla.

—Tá vindo alguém – avisou Andrew discretamente. Como eu não queria que ninguém fosse desmotivado pela timidez por ter três pessoas assistindo, agarrei o braço dos dois e nos escondi, ou pelo menos disfarcei. Mas ainda dava para ver e ouvir, por mais que o barulho dos carros fossem incomodar.

Era um menino, devia ter uns oito, nove anos. Andava tímido e sob os olhares cuidados dos pais. Usava óculos e seu casaco azul estava caído em um dos ombros. Sorri animada e o menino se sentou sob o banquinho, chegando a poder olhar todas as teclas. Seus pés não chegavam aos pedais, mas ele conseguiria apertar as teclas mais graves e mais agudas.

Eu esperava que ele fosse brincar, eu estava animada para ouvir alguém descobrindo um instrumento tão belo, até porque eu nunca vi algo assim antes, mas o som fez meus ouvidos derreterem e fechar os olhos sentindo as notas macias chegarem até mim e escorregarem feito gotas de água de chuva num para-brisa quente.

Andrew e Steve ficaram impressionados, e eu também estava, mas por dentro, por que por fora eu estava aproveitando a doce música que esse menino tão pequeno tocava e despejando talento pelo ar.

Fui a primeira a sair do nosso “esconderijo” e me aproximar. Tinham algumas pessoas também escutando agora, maioria desconhecidos que também foram seduzidos pela música do menino. Steve abraçou a minha cintura e Andrew ficou do meu lado assistindo comigo.

Mas aí, me toquei, o que Andrew e eu tínhamos em mãos agora? Instrumentos que combinariam perfeitamente. Mas eu confesso que estou com vergonha, não sei como esse menino conseguiu, mas se ele consegue com tanta facilidade, porque eu não? Mas por fim das dúvidas, cutuco o ombro do Steve.

—Vou ou não? – pergunto ao loiro sussurrando perto do seu ouvido e levantando a capa para mostrar o que eu me referia. Eu estava nervosa, queria uma segunda opinião. Se ele achasse que era melhor não, eu não iria. Mas se dissesse que não tinha nada demais... Minha timidez queria e rezava para ele dizer não, mas meu entusiasmo era ao contrário.

—Você quer ir? – ele pergunta com um sorriso carinhoso e caloroso, acenei com a cabeça e seu sorriso aumentou, depositou um selinho nos meus lábios e deixou um sorriso em mim –Só não esqueça de levar o Andrew, acho que ele vai querer ir também – ele lembra e dá uma pequena olhada para o meu amigo, que assistia impressionado o menino tocar com tanta habilidade.

—Obrigada – sorrio animada e vejo a timidez abaixar e a animação por tocar novamente aumentar, como aconteceu ontem. As vezes esqueço que tocar violino me faz tão bem quanto Steve.

Agarro o pulso do moreno distraído, que tropeça para frente enquanto o puxo determinada. Ele se recompõe e percebe o que vamos fazer. Mas ao contrário do que eu esperava, ele abre o maior sorriso do mundo e abre a capa com uma agilidade já tocando e acompanhando o menino na música. Fiz o possível para tirar o meu e joguei a capa para o Steve.

O garoto abriu um enorme sorriso no momento em que Andrew começou a tocar, porque ele nem havia nos percebido antes, estava concentrado nas teclas. Era impressionante o nível de concentração dele, e mesmo agora com nós dois tocando com ele, sua concentração não foi nem um pouco prejudicada.

A música agora era outra, antes era clássica e melodiosa, mas agora é animada, um country, eu acho, daqueles bem de raiz e bem do interior. Andrew deve conhecer a música, eu apenas tento acompanhar suas notas e até que me saio bem para quem nunca tocou esse tipo antes na vida!

Nem olho para ninguém enquanto toco, estou envergonhada. Por mais que eu esteja amando tocar para tanta gente perto de uma pessoa tão jovem e tão talentosa, não consigo deixar de me sentir tímida. Toco com emoção, energia, mas ainda não é o suficiente. Me sinto fazendo isso por obrigação já que comecei, não por prazer.

Continuo a tocar ouvindo o bater palmas das pessoas ao nosso redor, os dedos do menino apertando as teclas com uma energia impressionante, as notas energéticas de Andrew e o seu ritmo com os pés. Estava algo muito legal, e talvez, se eu me soltar mais, eu consiga aproveitar mais.

Abri os olhos e dei um enorme sorriso. Alguém começou a cantar e eu não sabia quem. Procurei e vi um senhor abrindo espaço com sorriso no rosto. Era de meia-idade, cabelos brancos e roupas elegantes. Tem uma voz afinada e levemente rouca. Eu adorei e olhei para Andrew, que também tinha o mesmo olhar do que eu.

Eu estava me divertindo, divertindo outras pessoas e contaminando todos também. Eu estava amando essa emoção, de estar fazendo algo que eu mesma duvidei que faria! Isso para não falar do garoto, que ria e tocava cada vez mais forte e rápido, o homem cantava cada vez mais alto e Andrew e eu tocávamos com mais vibratos até que pum! Acabou e todos acabaram juntos.

As palmas eram altas, a respiração ofegante e o sorriso no rosto enorme e escandaloso. Meus dedos doíam, mas esse era a menor coisa que eu sentia agora. Olhei ao redor e todos aplaudiam, até Steve que sorria e aplaudia, até assobiava bem alto. Ri desacreditada com tudo aquilo.

—Nossa! Isso foi...! Incrível! – o menino se virou para a gente e sorri concordando completamente com ele! Ele ajeitou os óculos e vi os pais se aproximarem.

—Foi muito legal o que vocês fizeram – comentou o pai com um sorriso no rosto e segurando a mão de seu esposo e depois abraçando seu filho. Era uma linda família.

—E foi tão espontâneo que nem acreditei quando vocês começaram a tocar – o outro pai comentou também e sorri envergonhada, mas também orgulhosa. Andrew que responda pois nem sei o que dizer.

—Nem a gente acredita! A Laura só me puxou e adivinhou o que eu queria fazer desde o inicio! – Andrew conta e assinto com a cabeça sem saber o que dizer. E levo um pequeno susto ao sentir um belo de um beijo na minha bochecha e dois braços fortes em abraçando por trás.

—Vamos fazer de novo?! – perguntou o menino animado por mais uma música, seus olhos brilhavam – Só mais uma – seu pai tocou seu ombro enquanto esperava pela nossa resposta, mas eu sabia que eu não podia, tínhamos ainda o teste para fazer, e acho que Alicia vai querer nossa pele para fazer casacos de pele humana depois por causa do atraso.

—Desculpa mesmo, mas a gente precisa ir – aviso com o coração partido por não poder atender aquele menino tão doce e talentoso. Tínhamos que correr para chegar a tempo agora. Não que eu me arrependa, mas odeio por não poder tocar mais – Talvez se vocês ainda estiverem aqui quando a gente voltar... – proponho e olho para os seus pais, que se entreolham com receio.

—Duas horas está bom? – pergunta o pai e assinto com a cabeça, era dez horas ainda, dava tempo, Andrew bate na mão do menino de brincadeira e assim fica combinado, eu estava pronta para ir, mas alguém me chama e vejo outro homem correndo até a gente.

—Oi, New York Times. Charles Woods. Posso tirar uma foto de vocês? – pergunta ele e é claro que o choque foi claro. Como assim New York Times? O jornal mesmo? – Eu sei que vocês estão com pressa, mas é bem rápido, prometo! – ele garante com a câmera pendurada no pescoço em mão e pronto para tirar uma foto.

—Ah, claro – comenta Andrew e olho para ele, que por mais que eu fosse me arrepender mais tarde, eu não estava muito confiante se eu queria aparecer no jornal. Mas meu amigo me levou até o piano e o menino ainda estava lá. Uma moça nos posicionou e vi os pais dele sorrindo orgulhosos e Steve assistindo encostado num banco de madeira vazio.

—Onde está aquele homem que cantou? – perguntou o fotografo no momento em que ele ia tirar a foto, mas abaixou a câmera e olhou para a moça perguntando. E ele tinha razão, onde ele estava?

—Ele foi embora, eu vi ele indo – o menino respondeu e não pude deixar de ficar triste. Era uma pena mesmo, eu adoraria conhecê-lo. Mas o repórter sabia da nossa pressa, tirou a foto e conferiu se estava legal. A moça pegou os nossos nomes e idades e nos liberou. Steve me abraçou de lado e começamos a andar mais rápido assim que Andrew nos alcançou.


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