Love Story escrita por Lady Rogers Stark


Capítulo 58
Capítulo 58 (depois edito o título)




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O que há na frente da porta é uma parede lisa e branca, o meu cabineiro de madeira com várias bolsas e chapéus pendurados e uma das saídas do aquecedor ao lado. Bom, eu fiquei encarando a parede, o cabineiro e o aquecedor por longos minutos antes de ter uma reação. Eu não conseguia reagir. Não sabia o que pensar. Eu só não consigo respirar.

Eu só queria que as coisas fossem mais fáceis. Que eu não tivesse que mentir e enganar, que eu não tivesse que sofrer com a saudade e pensar em como vou ter um futuro com um homem que involuntariamente me faz mentir para os meus amigos, e futuramente a família também? Se ele não tivesse mostrado o escudo...

Teria sido muito mais fácil se ele não tivesse me contado a verdade. Eu vejo o quanto meus amigos querem me ajudar, eu preciso deles, mas também preciso do Steve. O que eu mudaria para todo mundo viver em harmonia? Que Steve não tivesse me contado o seu segredo!

Eu já discuti isso com ele uma ou duas vezes, e todas elas não resultaram em nada pois não há nada que possamos fazer. Talvez se tivéssemos pensado numa profissão melhor para o Steve, Andrew e Alicia não desconfiariam tanto. Mas ainda assim, eu mentiria para eles toda vez que Steve viajasse.

A maquiagem borrou, estou com várias manchas de maquiagem no rosto por onde as lágrimas escorreram. Não vou mas sair, e nem meus amigos provavelmente. Melhor assim, eu não estava no clima mesmo.

Meu telefone toca e eu queria não atender, mas pode ser minha família, então saio do canto e atendo o telefone.

—Alô? – atendo disfarçando ao máximo minha voz de choro. Não estava muito perceptível, mas meu nariz está entupido.

Sou eu – sua voz faz uma enorme bagunça dentro de mim. Revira tudo e me faz sentir meu peito se retrair novamente, mas de alguma forma e mesmo depois do que aconteceu, eu gosto da sensação –Porque você estava chorando?— como sempre preocupado e carinhoso, e amo isso, principalmente ouvir a sua voz. Mas agora, o que eu digo? A verdade ou minto como faço com meus amigos?

—Eu não sei o que fazer... – sou um fiasco em não chorar mais, esqueço a raiva que crescia e apenas fico feliz por ser ele, aliviada até –Alicia e Andrew descobriram a verdade, Steve. Eu não sei o que fazer – não era o motivo de eu estar daquele jeito, eu estava assim porque de tantas possibilidades, eu tinha que viver a mais difícil e desonesta.

Que verdade? – ele pergunta preocupado e sei que ele imagina que os dois descobriram que Steve é o Capitão América, mas não essa verdade, uma menos preocupante mas tão complicada quanto.

—Que você não é segurança da Taylor Swift – conto me sentando sobre a cama e olhando para a porta do guarda-roupa parecendo me encarar. Suspiro desfazendo o penteado de qualquer jeito e apoiando minhas costas na cabeceira da cama bagunçada.

A gente sabia que mais cedo ou mais tarde eles acabariam descobrindo isso – ele lembra, mas eu não lembro. De forma alguma ele disse algo parecido. Sim, eu sabia que não era uma boa mentira, mas é a que pensamos sob pressão. Ele que deveria ter pensado em uma coisa melhor, afinal, o segredo é dele.

—Eu não lembro que você disse isso – nego com um pouco de raiva, muita até. Como ele pode dizer isso? Tão pouco caso para uma coisa que está em minhas mãos agora.

Eu não quero brigar – seu tom de voz é apaziguador, é claro que não quer brigar, quer aproveitar a única oportunidade que teve em me ligar depois de todas essas missões em que nenhum telefonema era permitido. Me pergunto o que nessa é diferente para ser permitido. E mais, se é permitido –Mas eu vou pensar em alguma coisa. Prometo.

—Quando? – não foi amigável a maneira como pergunto, foi grosseiro. Mas preciso dessa resposta assim que eu decidir sair do quarto e explicar para eles. Precisamos de algo muito bom mesmo. Algo arrasador e certeiro. Não aguento mais.

Eu não posso te ligar todos os dias, Laura – ele avisa e sei que não vai me dizer amanhã, e muito menos hoje –Mas pode dizer que sou agente da S.H.I.E.L.D, é uma verdade e eles não tem como investigar – odeio a maneira como ele propõe isso. Joga de qualquer jeito como se não importasse os meus amigos e no que eles pensam dele. Eu me importo.

—E deixar que eles explodam em cima de mim me chamando de mentirosa por mentir por tanto tempo – murmuro baixo, mas ele escuta, eu queria que escutasse. Isso deixa bem claro quanto ele não liga para o problema que eu estou passando. É algo acontecendo a milhares de quilômetros dele, não vai se preocupar com “coisa boba” quando há coisas mais “importantes”.

Se eles são seus amigos, vão te perdoar por me acobertar – ele explica e até que tem razão, posso dizer que Steve me pediu para mentir para eles, apesar que foi exatamente o que aconteceu. Lembro que ele me pediu isso.

—Mas e você? – pergunto preocupada, eles vão ficar com raiva dele, vão pedir satisfações e podem até dizer que não querem andar por perto de um mentiroso com uma vida que oferece riscos para quem o acompanha. Eu não quero isso, quero que Andrew e Alicia sejam amigos do Steve e vice-versa.

Eu dou um jeito – conheço Steve, sei que ao dizer isso estaria com aquele sorriso bobo no rosto, satisfeito e carinhoso, colocando prioridades nas coisas em relação a mim, e depois pensar nele próprio. Sorrio agora mais calma e nem um pouco nervosa, apenas apaixonada de novo. Mas tem outro estado de espirito que eu possa ficar além desse com ele por perto?

Conversamos sobre o jantar logo em seguida, pedi milhões de desculpas e expliquei tudo direitinho do porque eu ter faltado e esquecido completamente. Claro que ele me perdoou e me desculpou, mas ficou preocupado por eu não ter respondido nenhuma das mensagens que enviou.

Depois me explicou que ele está falando pelo celular dele. Parece que um colega agente estava devendo um favor para o Steve, e esse foi o favor que Steve cobrou, para poder falar comigo de vem em quando. E para ter uma segurança a mais, pediu ao mesmo colega proteger o telefone por meio de tecnologia que não entendemos nada. Tudo porque ele sabe que essa missão irá durar um pouco mais do que as outras.

As passadas duravam uma semana, algumas por quatro dias e ele já estava em casa, não essa. Ele está na Indonésia, combatendo um grupo terrorista perigoso e que planejava explodir lugares importantes de todo o mundo. Entendi a importância assim que ele disse que o meu país também estava na mira desses terroristas. Brasil é tão esquecido que quando acontece algo assim, é porque a coisa é realmente grande e bem espalhada.

Desliguei a chamada depois de uma curta despedida com bastante pressa. Steve tinha que se apresentar ao “comandante” dele naquele momento. Eu tinha aquele buraco no peito toda vez que eu via que ele foi para uma missão de repente e fiquei sozinha. Agora estou sozinha e com a mesma sensação. Nem deu tempo de dizer tchau...

Olhei para a porta fechada e trancada. Eu conversei com o Steve por cinco minutos apenas, e reparei que aparecia número restrito, parte da preocupação com a segurança da ligação. Não poderei ligar para ele, apenas ele para mim. Preciso estar com o celular o tempo todo comigo por precaução.

Saí de cima da cama ainda meio para baixo, mas preciso aproveitar a oportunidade em que Andrew e Alicia estão na minha casa ainda. Devem estar na sala conversando e discutindo sobre o que fazer, ou estão em silencio sem saber o que fazer.

Não arranjarei nada para dizer, vou jogar a verdade finalmente e aconteça o que tiver que acontecer. Mas torço para que não tenha discussão, não quero discutir. Também não quero que eles tentem dizer que ainda assim, mesmo dizendo a verdade, preciso me afastar do Steve. Qual seria a desculpa dessa vez? Péssima influencia? Eles não são meus pais e Steve não é isso. Não sei porque pensei em algo assim.

Troquei de roupa, tirei o vestido e voltei com o pijama confortável de uma hora atrás. A maquiagem desceu com o ralo e ficou no lenço umedecido. Abri a porta com a coragem lá em cima, e ela se manteve até eu ver Alicia no computador com a roupa de antes, Andrew com seu terno novo observando a janela aberta. Eu queria poder continuar com a mesma coragem de cinco segundos atrás.

Eles percebem a minha presença, Alicia observa o meu rosto parando de usar o computador. Acho que está surpresa em me ver em tão pouco tempo depois daquilo. Andrew demora um pouco e suspira retirando a gravata. Eu tenho tanto a dizer com tão pouca coragem agora...

—Laura, me desculpa – Andrew é o primeiro a dizer alguma coisa, algo que não precisava ser dito. Ele sabia disso, mas é gentil e amável, apenas se preocupa comigo. Não há nada a ser perdoado porque ele não fez nada de errado.

—Me desculpa também – Alicia pede fechando o pequeno computador e o deixando ao lado no sofá, se livrando da sua distração preferida e dando preferência a mim agora. Ela é dura comigo porque sabe que eu preciso de um empurrão de vez em quando para eu funcionar direito, e como ela achava que eu precisava “me livrar” do Steve logo, fazia exatamente isso.

Não tenho nada a dizer, apenas a fazer. Caminho com uma certa pressa em direção aos dois, que se unem e me abraçam com a mesma força que os abracei. Aqui me sinto forte, me sinto unida, me sinto com pessoas que me fazem bem e que querem o meu bem. Onde mais eu conseguiria amigos assim?

—Eu estou uma bagunça – assumo ainda protegida por esse abraço, salva por ele – Minha cabeça é cheia de pensamentos e mentiras que me deixam louca – eu quase sorrio ao dizer isso, pois sai de maneira tão fácil e verdadeira que me faz querer sorrir. Me satisfaz finalmente dizer algo verdadeiro para eles relacionado a mim.

—Mentiras? – Alicia pergunta confusa e assustada, afasta o seu rosto do ombro de Andrew para olhar o meu. Andrew afrouxa o aperto de seus braços unindo nós duas tão preocupado quanto Alicia. Consigo entender porque eles ficaram assim. Eu ficaria do mesmo jeito. Afinal, sou alguém que eles confiam, mentir não é algo que eles esperavam de mim. Nem eu.

—Tenho muita coisa para contar – aviso mantendo meus braços por cima dos ombros de cada um. Olho para o tapete precisando ser aspirado porque eu não quero olhar para o rosto preocupado deles. Eu só deixo eles assim, porque eu não poderia ser uma pessoa normal apenas uma vez nessa semana?! –E muita coisa também que não posso contar – brinco com um sorriso brincalhão, mas sei que eles não acharão o mínimo de graça.

—Senta que o babado é forte? – pergunta Alicia apontando para o sofá e falando uma única palavra em português, a única que a ensinei e ela ficou contente em aprender. Não que eu não tivesse tentando ensinar antes, mas ela nunca foi muito interessada. Mas quando eu a falei em voz alta, ela achou engraçada e quis saber o que era.

—Senta que o babado é forte – afirmo me sentando na mesinha de centro, Alicia se senta no sofá-cama e Andrew fica no descanso de braço do sofá, começando a ceder de tanto que ele senta ali. Já avisei que ele que vai pagar o conserto.

—É sobre o Steve, não é? – ele pergunta preocupado pois ele está, bastante. Ele precisa da verdade tanto quando preciso dizê-la. Estou afundada e aterrorizada com tamanho nível de mentiras que me joguei e criei. Assinto com a cabeça e acho que vejo uma pontada de alivio em seu rosto. Eu não disse que ele queria a verdade?

—Eu menti muito, muito. Me envergonho disso todos os dias e provavelmente por um bom tempo. Odiei cada mentira que tive que contar durante todos esses meses. Odiei Steve muitas vezes por me fazer mentir. Me desculpe – seus olhares preocupados se entreolham para se concentrar em mim em seguida. Não me envergonho de chorar na frente deles, e por isso não me seguro e deixo rolar –Steve não é um homem mal, juro por Deus. Ele é um bom homem, só carrega muita coisa e preferiu dividir esse fardo comigo a ter que continuar a mentir para mim – olho para as minhas pernas enquanto começo a confessar, porque de alguma forma, observar as lágrimas molhares a minha calça moletom me conforta.

—Laura... – Alicia se aproxima e se senta na mesinha ao meu lado e me abraça apertado, tudo o que eu mais precisava no momento. E ela sabia disso. É carinhosa quando acaricia minhas costas e me puxa para mais perto. E Andrew se senta no chão pegando na minha mão e depositando um beijo nela. Me faz sorrir, me lembra quando Andrew flertava comigo antes de saber que eu namorava.

—O que eu fiz não foi para magoa-los ou feri-los, juro! Foi para proteger ele! Eu sinto essa necessidade de proteger ele o tempo todo e de todo mundo. O trabalho dele é algo perigoso, eu não me perdoaria se algo acontece com ele por causa minha boca grande – deixo as emoções falarem mais alto, minha cabeça já falou demais por toda uma vida.

—Essa é a parte em que você nos conta da verdade? – Andrew pergunta interessado e curioso. Por mais que se preocupasse comigo e estivesse para o que der e vier comigo, eles estão curiosos. “Ela mente tanto porque? Para proteger Steve do que? Porque o trabalho dele é perigoso? E principalmente: O que ele faz que é tão perigoso assim para contar a verdade? ”

—É sim – confirmo e ele assente paciente – Primeiro preciso dizer que Steve não é segurança da Taylor Swift – garanto e estranho ao vê-los sorrirem e rirem um pouco. Não entendo e espero até eles terminarem de rir para me explicar.

—Nós sabemos, sua bobinha – Alicia alisa o meu cabelo com carinho e sorrio notando o quanto foi inútil eu dizer aquilo. É obvio que eles sabem, eles checaram no próprio site dela. Me preocupo se eu dissesse que Steve era agente do FBI ao invés de segurança da cantora. Imagino o que eles fariam para checar isso também.

—Hãm... Ok – sorrio e penso na próxima coisa a dizer. Eu estou enrolando muito? –Ele é um agente da S.H.I.E.L.D. Vocês devem saber o que é. Aquela organização secreta que organizou os Vingadores para proteger Nova Iorque naquela invasão alienígena. Lembram? – pergunto revezando meu olhar entre os dois. Eles precisam saber do que estou falando, se não vão pensar que é algo maligno, e não acho que a S.H.I.E.L.D seja isso, por mais que o diretor deles tenha me dado um susto de fazer xixi na calça.

—Meio difícil de esquecer – Andrew comenta e Alicia concorda. Ambos não estavam aqui durante a invasão, mas o pai de Alicia estava. Ela me contou o que ele fez para se proteger. Ainda bem que nada aconteceu com ele. E acho que por isso que os pais de Andrew estavam tão receosos para permitir ele vir para cá.

—Então, Steve trabalha para eles. É tipo um soldado – explico meio confusa se estou indo pelo caminho certo. Espero que eu esteja, não quero levantar dúvidas nas quais não posso responder sem revelar coisa que não posso dizer – Ele some desse jeito porque ele tem que ir para missões em que a S.H.I.E.L.D só revela quinze minutos antes e ele precisa fazer a mala o mais rápido possível – explico e agora sinto novamente aquele mesmo buraco no peito de antes, só de falar nele.

—E são perigosas? Por isso o trabalho dele é perigoso? – pergunta Andrew ainda segurando a minha mão e se sentando no sofá de frente para mim.

—Sim, são – confirmo com um peso no peito em dizer isso. Sei que são perigosas, mas o que eu posso fazer para não serem? Amarra-lo em casa para não o deixar ir? –E o pior é que não deixam ele ter qualquer tipo de contato durante a missão, que vocês sabem que duram dias – explico com um sorriso triste ao lembrar disso. Mas dessa vez é diferente.

—Porque? – Alicia pergunta curiosa e estranhando isso. Também me pergunto porque, e não sei. Levanto os ombros respondendo a sua pergunta. Eu queria saber porque não deixam os agentes conversarem com suas famílias quando estão fora. Steve é importante para mim, quero saber como está.

—Eu queria que fosse diferente – confesso baixinho e olhando novamente para o tapete, mas não tenho aspirador de pó, só Steve, que não está em casa – Eu não queria ter mentido, mas preciso protegê-lo, vocês entendem isso, não é? – pergunto com a voz embargada e olhando para Alicia que confirma me abraçando. Andrew me abraça assim que Alicia me solta. O que eu faria sem eles?

—É claro que entendemos – Andrew confirma e Alicia também com um aceno de cabeça –Você e Steve tem algo que eu nunca vi antes. É especial – o moreno comenta com um sorriso no rosto. Sinto meu coração batendo mais forte dentro do peito.

—É, é como se vocês fossem duas pecinhas, sabe? Que se encaixam perfeitamente – Alicia explica, o que me faz sorrir envergonhada. Abaixo o rosto com aquele sorriso bobo – Você é teimosa, mas Steve é paciente. Você é engraçada e divertida, Steve é risonho e de bem com a vida.

—E também ele se importa com você, você se importa com ele. Protegem um ao outro, e isso é a prova – Andrew completa o que Alicia dizia e aponta para mim, com o rosto inchado e olhos vermelhos, me sentindo tímida e feliz, apaixonada e mais leve. Ele apontava para mim chorosa pois enfrentei tudo isso por ele e por nós dois. Onde mais se encontra isso além da ficção?


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