Love Story escrita por Lady Rogers Stark


Capítulo 50
Capítulo 50 (depois edito o título)




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Barriga cheia e a vontade de beber uma coisa mais forte do que refrigerante de uva é irresistível. Eu iria na mercearia comprar duas garrafas de cerveja ou vinho apenas para passar, mas eu estava com preguiça, então deixei para lá.

Andrew saiu com Mel, um dos únicos dias em que ela tem folga, e aposto que serviu para contar que vamos todos juntos assistir um jogo de futebol americano na área VIP. Não sei se ela gosta, mas aposto que vai de qualquer jeito, isso se o trabalho não a impedir.

Joguei o controle da televisão para cima e saí de cima do sofá. Saí de casa e bati na porta do Steve. Ele atendeu em seguida com um sorriso no rosto, o mesmo que me faz sentir borboletas na barriga e a felicidade em vê-lo.

—Vamos sair para beber alguma coisa? – pergunto direta e ele dá um sorriso de lado, talvez preguiçoso ou indeciso. Acho que os dois – Você escolhe o lugar – aviso e agora sim o sorriso que quem topa. Sorrio de volta e deixo finalmente seus lábios tocarem os meus. Cerco seu corpo e lhe dou um selinho de leve.

—Boa noite para você também – ele provoca e sorrio sem graça. O beijo levemente de novo enquanto suas mãos tocavam a minha cintura – Qual é a razão da vontade repentina? – pergunta ele e realmente noto que foi estranho, mas não ligo. Não foi repentina, nem tanto assim.

—Barriga cheia – respondo pondo a mão em cima do estomago. Ele ri e desço das pontas dos pés – Tem pizza em cima da mesa se quiser. Vou trocar de roupa – aviso e ele me segue até o meu apartamento. O loiro abre a caixa da pizza e tira um pedaço da de calabresa. Vou até o meu quarto trocar por roupas mais quentes, já que está frio.

—Algum motivo para comemorar?— ele pergunta da sala enquanto tiro a camisa social e a saia fica na quina da cama. Penso se conto agora ou deixo para quando chegarmos ao bar.

—Não, nada não – respondo e coloco a camisa de mangas longas com um dégradé branco ao laranja e a calça vinho, colocando tudo bem rápido para ser ligeira. Peguei um casaco tom de camurça e os tênis azul bebê – Mas e você? – pergunto já caçando aquele colar de triângulos que ficaria perfeito.

Nada demais. Fiquei o dia inteiro em casa – ele conta e não posso imaginar o tédio. Já fiquei em quinze, imagina alguém que não gosta de ficar parado como o Steve?

—Tá precisando de um hobby – brinco tirando o cachecol branco creme de dentro do armário e a touca cinza. Tudo eu usava nos invernos rigorosos da minha cidade no Brasil, tomara que seja o suficiente aqui também – Vou mandar instalar um roteador no seu apartamento e te passar a minha conta da Netflix – continuo brincando, mas é uma coisa que levo a sério.

Prefiro fazer um esporte – ele conta e logo me vem à cabeça ele tentar o futebol americano. Com a violência que o jogo acontece, ele ia jogar os adversários a três quilômetros de distância. Rio com o pensamento pegando a touca e a colocando na cabeça enquanto voltava para a sala.

—Que tal uma maratona? – pergunto e o olhar dele foi de espanto. Acho que ele entendeu que eu fosse participar, mas é claro que não – De séries, seu bobinho – brinco tirando o último pedaço da pizza da mão dele e pegando a bolsa do sofá.

—Achei que você fosse querer correr comigo – Steve conta e rio dele imaginando eu tentando competir com o Capitão América. Ouvi dizer que o Sam tentou e foi feio. “À sua esquerda! ”. Rio disso até hoje.

—Não gosto de ser humilhada, já o Sam... – brinco abrindo a porta e ele busca o casaco dele rapidinho, tranca e descemos as escadas sem pressa. Fomos andando pela rua. Realmente, hoje está frio de verdade. E aposto que ele está sentindo. Eu estou agasalhada e estou quase tremendo, agora imagina ele de camisa, jeans e jaqueta? Tadinho...

Mas por sorte, o lugar que ele escolheu era perto. Era aquele mesmo bar de meses atrás. Quando encontrei Steve por acaso e imaginei que ele estivesse me seguindo. E depois comi hambúrguer com o Logan, Sam e o Steve. E lembro também da ceninha de ciúmes que ele demonstrou. Quase rio ao lembrar.

—Vamos combinar uma coisa? – proponho ao loiro enquanto entravamos e íamos direto ao balcão de bebidas pedir alguma coisa. Ele concorda e me sento com cuidado deixado a minha bolsa na minha frente – Se for para sair mais cedo, me deixa terminar o hambúrguer, ok? – digo e ele ri passando a mão pelo rosto.

—Você lembra... – ele comenta e reviro os olhos. Ele acha mesmo que eu ia esquecer? Meu deus...

—Foi naquele dia que você me beijou – lembro com um sorriso bobo na boca – Ou eu te beijei. É. Acho que foi isso – me corrijo rindo, um pouco sem graça – Você não fazia nada! Eu tinha que fazer! – justifico e fica aquele sorriso idiota na cara ao lembrar do nosso primeiro beijo. Ótimos tempos...

—E eu deveria ter ido no jogo com vocês – ele lamenta e reviro os olhos num grunhido irritado. Ele ia mesmo lembrar disso agora? Não poderia dizer outra coisa? Qualquer coisa!

—De novo isso não, Steve. Passou! – o lembro tocando a sua mão e tentando fazê-lo pensar em qualquer outra coisa que não fosse aquilo – Agora, vou pedir uma cerveja, e você? – pergunto mudando de assunto antes que fosse tarde demais. Quando o loiro lembra de algo, um erro, ele não para de pensar até esquecer, o que demora.

—Vou querer também – ele avisa pegando a carteira do bolso, atrapalhado, enquanto eu tinha a minha na minha mão. Entreguei o dinheiro ao barman, que nos entregou duas garrafas abertas e geladinhas. Brindo batendo a minha garrafa na sua de leve, vendo a cara fechada dele. Continuo a sorrir e ele amolece brindando de volta e dando o primeiro gole.

Esqueci o quanto era bom sair um pouco e beber ou comer alguma coisa que seja fora de casa. Com o trabalho, eu fico cansada, chego em casa exausta e a televisão se torna uma companhia inseparável, algo que eu duvidava que fosse acontecer no primeiro mês aqui. E quem diria que eu fosse contaminar o Steve também?

Nesse momento estamos discutindo se a série do Daredevil é real, baseada em fatos reais ou é apenas algo da imaginação dos produtores? Eu estava imaginando e contando ao Steve que alguém próximo do vigilante tenha dado a ideia aos produtores e eles concordaram em fazer uma série sobre ele. Mas Steve afirmava que não era real, era só Hollywood mesmo.

Eu continuava a manter o meu ponto, afinal, não é impossível, mas imagino que a S.H.I.E.L.D ficaria sabendo e mandaria uns agentes para acabar com o Rei do Crime e tudo mais. E talvez tenha acontecido, e nem Steve ficou sabendo. Deve ser legal ser uma agente da S.H.I.E.L.D.

—O que você quer dizer com isso, Laura? – Steve pergunta desconfiado e reviro os olhos terminando com a cerveja e a colocando junto com a garrafa vazia do loiro. Ele cruzou os braços e me olhou com aquela cara. A cara que diz para eu não me atrever a dizer o que ele não quer ouvir.

—É só um comentário! – justifico, mas isso não o convence – Você acha mesmo que eu? A pessoa que te chama para matar uma aranha vai se interessar em se tornar uma agente? Se meus pais ficam sabendo eles me matam e mandam me deportar! – brinco e só assim Steve ri. Finalmente!

—Você sabe que eu me preocupo com você, só isso – ele garante tocando a minha mão com um olhar carinhoso. É claro que eu sabia, por qual outro motivo seria?

—Que continue assim – brinco de novo levantando o dedo positivo. Ele ri e já estou com o dinheiro na mão para mais uma rodada, algo que ele não percebeu – Barmen, duas tequilas, por favor.

Os meus planos de contar ao Steve sobre o jogo de modo delicado e sutil, foram por água baixo assim que a segunda dose de tequila passou pela minha goela. Me surpreendia que Steve estivesse disposto mesmo a beber comigo, mas aposto que vai querer fazer mais vezes isso quando eu estiver escondendo alguma coisa.

—O quê?! – ele pergunta surpreso e com um sorriso enorme. Sorri de volta e estendendo os braços para um abraço apertado. Ele quase me derrubou do banquinho de tão feliz. Quero ganhar mais sorteios apenas para ganhar mais abraços assim.

—E pode preparar o cofrinho para quebrar, pois vou querer apostar com você – aviso brincando e um pouquinho tonta. É melhor ele parar de me balançar tanto antes que eu vomite tudo o que coloquei para dentro nas últimas duas horas.

—Combinado – ele apertou a minha mão, animado me deixando paradinha em cima do banco. Peguei a terceira dose e tomando de uma só vez, e depois chupei o limão, como eu fiz quando bebi com Alicia naquele dia. Não quero ficar com uma ressaca daquelas, então é melhor eu parar por aqui.

—Batata frita, por favor – peço ao barman que concorda e me entrega um pratinho pequeno dois minutos depois. Steve e eu dividimos enquanto ele explica porque estava tão ansioso pelo jogo. Ele torcia para os Yankees desde antes de ser congelado, quando ainda era um menino do Brooklyn. Já vi que se eu ganhar, vai ficar marcado para o resto da vida dele.

Me levar para casa foi um pesadelo para o Steve. Primeiro que inventei de parar numa lojinha de doces e levar para casa vinte dólares só de açúcar. Fui comendo no caminho e dividindo com Steve. Depois eu quis parar e comprar aquele sapato bonito da loja, mas não percebi que estava fechada e bati de cara no vidro (ainda bem que dessa vez não quebrei nada). E depois eu quis visitar a Peggy, mas ela não morava tão perto assim de onde estávamos. Ou seja, até Steve me convencer a voltar para casa que estava tarde, foi todo o percurso de volta.

Eu não estava bêbada, estava só meio tonta. Não queria cama, queria apenas que aquele pacote de balas recheadas de gosma de morango não acabassem. Essas balas me lembravam casa, que me faziam querer chorar de saudade. Steve percebeu que eu estava quieta demais e pegou uma do pacote preocupado.

—O que foi? – ele perguntou olhando para mim no momento em que tirei o meu cachecol dentro do seu apartamento. Joguei em cima da mesa junto com a touca revelando a trança que fiz no bar.

—Saudade de casa – respondi cabisbaixa e desanimada. Beber me faz ficar mais alegre, principalmente depois daquela comemoração linda que ele fez. Eu nunca vou esquecer, até prometi para mim mesma comprar qualquer ingresso em que os Yankees estejam jogando apenas para vê-lo sorrir daquele jeito de novo para mim. Mas lembrar de casa foi um golpe duro.

—Porque você não liga para os seus pais? – ele sugere carinhoso e jogando a trança para as minhas costas, observando a minha bochecha e depois me olhando nos olhos. Seria bom ligar para eles, eu não fazia isso desde três dias atrás, o que para mim era muito tempo. Mas eu nesse momento, não são os meus pais que mais me fazem falta agora.

—Steve, é saudade do meu país – explico tocando o seu rosto, talvez querendo que ele fosse o mais compreensível comigo, como ele sempre é. Mas eu tenho um medo que ele se magoe por eu não me sentir em casa aqui, com ele. É confuso. Eu sei que ele sabe que eu nunca vou me sentir no Brasil aqui, não é o meu país, é o dele.

—O jogo te fez sentir isso? – perguntou tirando o meu casaco com carinho e o deixando em cima da mesa, junto com a minha bolsa e o pacote de balas. Confirmo com a cabeça e me jogo no sofá sentada.

—Eu nunca fui a um jogo de futebol americano antes, mas me faz me sentir como se eu tivesse quinze anos de novo e...

Paro de falar quando chega a um ponto que se explode na minha cabeça. Um enorme e destruidor Big Bang dentro de mim. Lembranças ruins e a nostalgia são devastadoras. Quero sair do apartamento dele e ficar sozinha. Esquecer que dia é hoje e esquecer o que significa.

—E no Brasil de novo? – pergunta Steve já que deixei a minha frase jogada no ar e sem termina-la. Foi ruim lembrar disso, mas foi ainda pior quando deixei o olhar preocupado do loiro em seu rosto. Aquilo não era justo.

Me faz me sentir de novo no Brasil, sim, mas não só isso. Ontem foi meu aniversário, ou seja, exatos sete anos atrás e eu conhecia o cara que eu achei que fosse ser O Cara. Mas não era. Era só um sapo disfarçado de príncipe, como quase todos são.

—Um pouco – assumo, mesmo não sendo a verdade absoluta, era o que eu deveria dizer. Quer dizer, Steve não sabe que Emanoel existiu, nunca contei. Ele também nunca perguntou. Eu já havia perguntado se ele tinha tido uma namorada antes de mim, nem que fosse antes do gelo. Ele disse que só Peggy.

—Vem cá... – ele me puxa para mais perto e fecho os olhos abraçada e ele, sentindo um conforto muito bem-vindo, mas que só me faz sentir como se eu não estivesse sendo totalmente sincera com ele!

Meu deus! Eu não sou sincera com ninguém. Não sou sincera com Andrew, com a Alicia, com o Sam, nem com os meus pais! Quem dirá eu mesma?! Mas o que eu não achei que eu fosse ter a coragem de fazer fosse omitir coisas do Steve. Não dele. Qualquer outra pessoa, menos ele.

Preciso dizer que existiu alguém antes dele e que me fez sentir como ele me faz sentir. Ele foi o meu mundo assim como Steve está sendo o meu. Quero ser sincera com ele, 100% apenas uma vez nessa época de omissões e mentiras. É o mínimo que eu devo a ele.

—Mas não é só saudade de casa... – começo a dizer, com muita dificuldade. São palavras difíceis de se colocar para fora, mas irei tentar. Preciso tentar – É saudade da época em que eu passei com alguém... – Será que deixei muito claro que foi um ex? Ou deixei muito em vago? Seja lá o que for, Steve presta atenção em mim.

—De quem? – ele pergunta curioso, mas também preocupado, posso sentir isso no ar. Seus olhos procuram os meus e desvio sentindo um pouco de vergonha. Até pioro as coisas me sentando e saindo do abraço de seus braços. Não estava tão confortável mais como antes.

—Um cara, chamado Emanoel. Ele foi o meu namorado.

Não sei como eu disse aquilo. Eu sou covarde sim para dizer coisas. Travo, tento fugir, tento mudar de assunto e até mesmo me recuso a deixar a tal coisa sair da minha boca. Mas não agora. Saiu limpo e tranquilo. Mas Steve não encarou da mesma forma.

—Eu tinha dezessete quando eu o conheci. Na verdade, eu o via desde os quinze, mas só de vista. Mas começamos a namorar exatos sete anos atrás, no dia seguinte ao meu aniversário.

Continuo a explicar, talvez as coisas melhorem com as minhas palavras, ou talvez não. Steve continua encarando o meu rosto, mas não nervoso, intrigado eu diria.

—Porque está me dizendo isso? – ele pergunta, e posso sentir o receio nela. Ele estava pensando que eu sentia a falta do Emanoel? De quando ele me beijava e me abraçava? Como Steve estava fazendo? Claro que não.

—Porque eu sinto falta dos momentos em que passei com ele – explico e tento lembrar que estou bêbada. Pronto! É isso! Estou bêbada, é por isso que estou dizendo tudo isso! Não estou sóbria e Steve não pode me culpar!

Quem eu quero enganar?

—O que você está querendo dizer com isso? – mais uma pergunta, e dessa vez um pequeno calafrio passa pelo meu pescoço e me sinto nervosa, aquela sensação de nervosismo na barriga, em que você está sentindo algo que deveria fazer, e está fazendo mas ainda se sente mal. Meu deus...

—Não estou dizendo que vou acabar tudo com você e voltar para ele. Deus, nunca! – sou firme em dizer isso, encarando os seus olhos e me aproximando de novo, deixando que eu me apoie no seu peito – Steve, Emanoel foi tudo para mim, o meu primeiro namorado, o meu primeiro amor. Você não pode pedir e esperar que eu o esqueça por completo.

Suas mãos tocam os meus pulsos, os segurando e continuando a encarar os meus olhos. Me sinto horrível falando isso. É quase uma crueldade para quem só me deu amor na forma mais pura e límpida possível. Mas o que seria pior? Continuar sem ele saber ou contar?

—Eu não sei o que dizer, Laura... – é o que ele diz, e o entendo completamente. Eu não esperava que ele fosse fazer um enorme discurso sobre qualquer coisa. E darei o tempo e o espaço que ele precisar.

—Eu sei. Eu só estrago tudo – concluo com um sorriso triste. Eu poderia ter evitado estragar um dia tão legal. Foi ótimo sair com ele e sentir o quentinho que é os abraços, a proteção que me dá, o modo ciumento como ele encara quando dei mais atenção as balas do que a ele na volta para casa. Mas eu poderia ter evitado se eu tivesse contado tempos atrás. Mas talvez eu não estivesse pronta.

—Não, não estraga – ele me corrige de modo gentil, como sempre faz. Será que eu o magoei? O que eu posso ter dito que faria isso? Porque sinto que eu o magoei? –O que aconteceu no final?

Ele quer saber porque eu e o Emanoel não dermos certo. O que eu digo? Digo a verdade ou... Toma jeito, Teixeira!

—Ele era um babaca, com B maiúsculo. Você não iria gostar dele, acredite – respondo de modo desleixado, como se não importasse, como expliquei para Alicia sobre ele. Sim, ela sabia, menos o Steve – Mas eu tinha dezessete. Rebelde. Sabe como é – tento justificar com a mesma desculpa que os meus pais usam.

—A verdade, Laura – Steve é sempre carinhoso quando me pede as coisas, com cuidado com tudo, e agora não é uma exceção. Ele sabe quando minto e escondo as coisas. Mas não penso em mentir para ele, não agora.

Então eu conto.


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