“Você me disse que eu não estaria mais sozinha

e sorriu mais uma vez.”

Ela está deitada em sua cama teclando com dedos rápidos em seu celular. Ele quase ri da forma desleixada na qual está disposta sobre as fronhas, com o cabelo estirado como uma manta por cima de sua cabeça e os óculos vermelhos que ele tanto adora quase que tombando de encontro à sua testa.

É engraçado como Mirai pôde entrar em sua vida em tão pouco tempo e já ter a permissão de roubar o único espaço confortável de seu quarto, obrigando-o a sentar no chão. Não é que ele esteja reclamando, claro – ela é a melhor coisa que já aconteceu em sua vida, de longe.

Akihito volta a olhá-la de soslaio, observando como ela morde o lábio inferior e digita furiosamente no pequeno teclado, e se pergunta o que ele exatamente fez para merecê-la.

Ao invés de fazer essa pergunta, no entanto, ele prefere endireitar-se para o lado – agora a alguns centímetros de onde a cabeça dela encosta-se a seu travesseiro – e assoprar delicadamente em um de seus ouvidos.

Ela solta um grito agudo de surpresa, sentando na cama e deixando o pequeno aparelho cair de suas mãos enquanto tenta se endireitar para encará-lo mortalmente.

– O-o que você pensa que está fazendo?! – Sua voz, mesmo irritada e alta contra seu rosto, é música para seus ouvidos. Ele se afasta um pouco, rindo, enquanto ela pega o travesseiro em que estava deitada e joga em sua direção.

– Desculpa. – Akihito sorri de maneira debochada enquanto a garota apanha seu celular e checa por algum arranhão. Seus óculos estão pendendo para um dos lados, e ele ajoelha-se para poder alcançar o rosto dela e ajeitá-los. – Te assustei muito?

– Não! – Ela apressa-se em responder, corando um pouco. Mirai podia ser um pouco menos óbvia nessas horas. – Quer dizer, só um pouco... Isso foi muito desagradável, Senpai.

– É? – O loiro aumenta seu sorriso, pressionando-se contra a cama para poder chegar mais perto. Até de baixo ela parece adorável. – Quer que eu faça algo para compensar, então? – Sua voz assume um tom leve de provocação, e ela reposiciona seus óculos da maneira que ele acha fofo de propósito.

– Hmm, agora que você diz... – Mirai é sempre sutil quando decide participar desse pequeno jogo de flertes que ele induz de vez em quando, então seu tom é quase igual ao que usa usualmente. Quase, ele diz para si mesmo, pois a conhece suficientemente para distinguir. – Tem mesmo algo que eu quero, sim.

Antes que ela possa dizer mais alguma coisa, porém, seu estômago começa a roncar, quebrando completamente o clima de antes. Akihito não consegue controlar sua risada, apoiando sua cabeça na cama enquanto Mirai coloca as mãos no estômago e cora que nem um tomate.

– S-senpai, para de rir! – Ela exclama, comprimindo as mãos na sua saia vermelha. Ele olha para ela novamente, sorrindo feito um idiota, e se apoia na cama para levantar.

– Bom, se é isso que você quer, eu acho que posso fazer algo para o jantar. – Ele comenta e faz menção de sair do quarto, mas é parado por uma mão na borda de sua camisa.

Mirai está o encarando um pouco aborrecida, com os lábios comprimidos e o rosto corado. Ela é adorável, ele pensa para si mesmo instantaneamente, não conseguindo lutar contra o vermelho que se apodera de seu rosto.

– O que foi, Mirai? – Usar de nomes assim não é algo comum entre os dois, reservado só para momentos íntimos quando estão sozinhos. Por esse motivo, ela cora mais ainda ao ouvir isso e desvia os olhos para o travesseiro esquecido no chão do quarto.

– Não é... Exatamente isso que eu queria. – Sua voz é hesitante ao murmurar as palavras, e ele se vira por completo para encará-la.

– Hmm. – Akihito senta-se ao seu lado na cama, esperando. Ele poderia fazer isso agora; inclinar-se para frente e acabar com os últimos centímetros que restam entre seus rostos. Mas ele quer ouvi-la pedir primeiro.

– Você não vai fazer nada...? – Ela murmura, fitando-o por cima dos óculos. Ele chega mais perto.

– Fazer o que, Mirai? Você não me disse nada ainda.

Ela cora mais, franzindo a testa, e murmura algo parecido com “desagradável” antes de enfim segurá-lo pela camisa e puxá-lo de encontro a seus lábios. Um beijo se tornam dois, três, quatro. Ele já está pressionando-a contra a colcha e deslizando uma mão para sua cintura quando a barriga dela ronca outra vez.

Akihito se afasta alguns centímetros e sorri ao vê-la com o rosto corado e levemente ofegante. - Acho melhor cuidarmos disso primeiro. – Ele comenta, e a garota apenas assente timidamente, retirando as mãos que antes vagavam pelo cabelo loiro do garoto e usando-as para levantar-se depois dele.

No caminho para a cozinha, eles entram em uma pequena discussão sobre o que fazer para o jantar. Akihito acaba cedendo no final, já que é Mirai que está pedindo e ele faria qualquer coisa por ela, não importa onde e quando – e ela sabe disso, depois de tudo que passaram juntos.

– Senpai?

Os olhos cor de mel dela estão o observando, interrogando-o silenciosamente. Ele sorri levemente, pegando uma de suas mãos pequeninas e entrelaçando seus dedos.

– Vamos? , é o que ele diz, mas Eu te amo é o que quis dizer. As mãos dela comprimem as dele levemente e Mirai sorri, e Akihito sabe que ela entendeu.

– Vamos.

Ele não precisa ouvir em voz alta para saber o que está escondido nas entrelinhas.

xxx

“Então, tudo o que me faz inteiro

oferecerei agora a você

eu sou seu.”