A Lenda da Lua escrita por Paola_B_B


Capítulo 41
IX. O fim do reino dos perseverantes


Notas iniciais do capítulo

Não preciso nem dizer que sinto muito pela demora né? Capítulos finais gente... Eu sempre me enrolo. Perdão por isso. Espero que gostem do capítulo.



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IX.O fim do reino dos perseverantes

O dia amanheceu ensolarado, parecia zombar da tristeza que pairava na cidade. A notícia dos acontecimentos da tarde do dia anterior já corria todo o astro. A noite havia sido longa para os Defensores que trabalharam duro para retirar pelo menos os destroços da praça e mais longa ainda para os curandeiros que buscavam incansavelmente uma solução para seu rei.

A doença de Argos também já era de conhecimento da maioria do povo. Os lunares aguardavam o desenrolar da tragédia com angustiante expectativa. Alguns moradores das vilas mais distantes iniciaram pela manhã uma peregrinação até o Monte Sagrado da Lua.

O Monte Sagrado tratava-se de uma montanha localizada a extremo leste da cidade. Partindo do Portal levava pelo menos 12 horas para chegar até ele, este tempo calculado em um caminhar normal, os velocistas conseguiam fazer o percurso em pouco mais de três horas.

O local fora consagrado pelos primeiros monarcas da Lua após os primeiros exploradores retornarem com a notícia que algo muito especial acontecia naquele monte. Curiosos com a falta de adjetivos dos tão criativos desbravadores a Rainha Agnes junto de seu companheiro, Rei Argos I, partiram até lá. O rei compreendeu imediatamente o porquê do instantâneo fascínio dos pesquisadores, ele podia sentir em sua pele aquela estranha e pacífica energia. Seus olhos foram inundados por uma beleza quase ofuscante. A natureza era vívida e estranhamente ardilosa, como se possuísse sua própria e distinta alma. Ao pé do morro havia uma delicada cachoeira contrastando com os pedregulhos que a formavam e o profundo rio que seguia com águas escuras como a noite quase rodeando toda a montanha. Subindo o olhar notou uma pequena planície bem no meio do morro, ficou maravilhado com as diversas flores que pareciam cobrir por inteiro o lugar. Observando ainda mais para cima teve seus olhos inundados pela ilusão do cume compartilhar um espaço no céu junto das estrelas. Foi então que se assustou ao notar sua companheira ajoelhada ao seu lado.

Os olhos azuis de Agnes brilhavam esbranquiçados enquanto ela olhava para o céu. Ele tentou chamá-la, mas a rainha continuou na mesma posição por incontáveis minutos. Quando o desespero do rei estava a ponto do descontrole Agnes se mexeu. Olhando emocionada para seu companheiro contou-lhe.

– É o ponto de contato com o lugar de onde viemos. O lugar antes do planeta azul. – sussurrou. – Aqui é o lugar onde podemos nos conectar com o criador. Eu posso sentir a esperança dele despejando sobre a Lua. Ele não desistiu de nós. – chorou. – Esse é o lugar onde a vida é criada.

Desde então o local foi considerado sagrado e não foram poucos aqueles agraciados com milagres após alguma promessa ou reza feita ao pé do monte. Portanto não foi surpresa para a rainha Isis quando soube da multidão rezando pela melhora de rei Argos.

Isis sorriu para Asuka, que foi quem trouxe a notícia, e voltou a cuidar de seu amado. Ela revezava as toalhas ora para secá-lo de tanto suor ora para tentar esfriar sua pele ardente. Argos respirava ruidosamente e contorcia-se na cama. A cada novo grunhido ele quebrava o coração de sua companheira.

O enfermo fora visitado mais cedo por Aurora. A curandeira tentou, mesmo com poucas esperanças, curá-lo. Como já esperava não houve resultado. A elementar teve que engolir o gosto amargo em sua boca. Muitas eram as doenças as quais poderia sanar, todavia as doenças causadas por parasitas não faziam parte do grupo. Não era a primeira vez que passava por aquela situação e nem seria a última, ver um ente querido definhar e não poder fazer nada a deixava em um estado tão depressivo que nem mesmo seu alegre e piadista companheiro conseguia alegra-la. Aurora não queria sorrir, ela queria encontrar a cura para o pai de sua querida amiga Anita.

Sabendo que não seria de grande ajuda no Posto de Saúde, local para onde sua companheira se encaminhou após a visita ao rei, postou-se a porta do quarto dos soberanos. Seu tio Isaac também estava ali assim como Daniel e Nereu. Os guerreiros sabiam que rei Argos não continuaria deitado em sua cama por muito mais tempo, assim que o parasita chegasse ao sistema nervoso central do rei ele perderia completamente o controle de seu próprio corpo e começaria a atacar qualquer um que estivesse em seu caminho. Eles precisavam ser fortes o suficiente para mantê-lo longe de inocentes.

Não seria fácil.

***

Os olhos acinzentados do jovem justiceiro acompanhavam concentrados as idas e vindas de sua companheira. Anna não parava. Andava de um lado para o outro. Carregava troncos de árvores, os esculpia, os quebrava, os cortava e então os colocava junto aos outros que formariam o novo Posto de Mensagens. Quando não havia mais troncos para buscar passou a ajudar a equipe de limpeza nas salas já prontas. Anita fazia tudo sem dizer qualquer palavra, apenas trabalhava o mais rápido que conseguia concentrando-se inteiramente em seus afazeres.

– Ela está a ponto de desabar. – murmurou Louis para si mesmo, mas Mathias que o ajudava a carregar uma enorme placa de vidro o ouviu.

Após colocarem a placa delicadamente ao chão o Chefe da Guarda voltou-se para onde o futuro rei olhava.

– É de quebrar o coração.

O descendente dos sábios pouco a pouco engolia seu orgulho e deixava admirar-se com Louis. Não conseguia mais negar a si mesmo que o justiceiro era aquilo que os lunares precisavam. Era, obviamente, justo, tinha uma genuína preocupação com a princesa e sabia se impor quando necessário. Sem contar é claro com a humildade com que se portava. Mathias não conseguia se lembrar de qualquer outro futuro rei se sujeitando a trabalhos mundanos como a construção de qualquer casa. Louis agia dando exemplo e não se mostrava superior ao seu povo, muito pelo contrário, na maior parte do tempo os tratava de igual para igual. Ele seria um bom rei... Não que Mathias fosse admitir isso em voz alta.

– Eu vou tirá-la daqui. Tentar fazê-la se acalmar. Você acha que precisarão mais de nossa ajuda?

O chefe da Guarda o observou em silêncio por alguns segundos. Ele realmente estava lhe perguntando aquilo? Céus! Ele era o futuro rei! Ele deveria estar destinando ordens e não se preocupando se seu trabalho braçal seria necessário.

– Acho que o trabalho já está bem adiantado. A praça já está quase pronta e o Posto de Mensagens levará mais um dia ou dois até que todo o trabalho seja organizado. Não se preocupe com isso.

Louis assentiu.

– Pode cuidar das coisas em minha ausência?

– Claro! – respondeu surpreso, talvez a antipatia que sentia pelo justiceiro fosse unilateral.

O jovem rapidamente caminhou em direção a sua companheira, porém antes de chegar a ela foi interseptado por Theodore.

– Senhor?

– Sim?

– Creio que já podemos iniciar a transferência dos arquivos para o novo posto.

– Oh! Isso é ótimo... Ah... Mas talvez... – suspirou e abaixou seu tom de voz. – Não sei se é seguro que caminhem entre o castelo e a cidade. Pelo menos não por agora.

– Eu compreendo. Talvez um grupo pequeno de velocistas?

– Sim. Peça a três velocistas iniciarem as transferências. Na hora do almoço eles devem parar. Verificarei como vai rei Argos e então lhe digo se podemos prosseguir com o trabalho.

– Sim senhor. Ah... Tem mais uma coisa.

– Fale, por favor.

– Estava pensando em criamos uma ala de notícias semanais, para que toda a população da Lua esteja sempre ciente das decisões do reino. Eu... Eu queria ter discutido isso com rei Argos, mas acho que demorei demais para verbalizar minha ideia.

– Eu gosto da ideia. – Louis assentiu pensativo. – Vá amadurecendo a ideia Theodore, verifique tudo o que será necessário para realizá-la, prós e contras, depois conversamos com calma sobre isso. Se o criador permitir será o próprio rei Argos a inaugurar a nova ala.

Theo assentiu com um sorriso contido e deu espaço para Louis seguir até Anna.

– Anita?

A princesa puxou o ar longamente para os seus pulmões enquanto limpava suas mãos em um pano surrado só então se virou para seu companheiro.

– Eu... – sua garganta parecia fechada e sua voz saiu esganiçada. – Não... Consigo Lou.

– Venha. – estendeu a mão com um sorriso bondoso nos lábios. – Quero que me mostre os pomares do castelo e depois o jardim em que sua mãe lhe mostrou ontem.

– Eu não...

– Não discuta querida. – pediu suavemente.

Anna finalmente rendeu-se aos braços do jovem guerreiro e os dois seguiram abraçados para os pomares do castelo.

Sentaram-se embaixo da mais antiga macieira do pomar. Louis tinha suas costas apoiadas no tronco enquanto Anita se colocou confortavelmente entre as pernas do amado com suas costas apoiadas no peito dele.

– Eu posso até enxergá-la correndo entre as árvores quando era uma menininha. – comentou Louis beijando-lhe a têmpora esquerda.

Ela suspirou sentindo a paz, pouco a pouco, aquietar seu coração.

– Até meus oito anos era exatamente isso que eu fazia. – sorriu nostálgica. – Eu costumava acordar cedo e saía explorar as dependências do castelo antes mesmo do café da manhã. Eu não ficava sozinha por muito tempo, em meio às histórias criadas pela minha imaginação papai chegava para participar como o personagem mais divertido. Quando eu brincava que era uma excelente cozinheira ele era um cliente exigente, quando eu era uma exploradora corajosa ele era a criatura mística descoberta no fundo do misterioso lago... Duelávamos com espadas de galhos de árvores ora ele sendo meu inimigo ora meu fiel aliado.

– Minha infância também foi cheia de aventuras fantasiosas. – riu Louis. – Porém muitas vezes meus pais eram os que inventavam as histórias para acobertar alguma real aventura devido às incumbências da família dos justos. Foi com vovô que aprendi a duelar, assim como você, nesta idade, era apenas tudo uma grande brincadeira, foi só quando completei meus treze anos que pude segurar uma espada de verdade.

– Acho que seria uma melhor espadachim se minhas brincadeiras com papai tivessem continuado. – as sobrancelhas da princesa quase se uniram. – Mas depois dos meus oito anos as coisas mudaram. Acho que foi quando meus pesadelos começaram, após papai contar sobre a origem do povo lunar... Eu me introverti tanto. Papai também não era mais tão brincalhão, nas vezes que saíamos do castelo ele se portava tão sério e tenso. Depois de tudo o que ele me falou, acho que o entendo melhor agora.

Louis franziu o cenho com o pensamento que lhe surgiu. Sem conseguir se conter acabou por compartilhá-lo com a princesa.

– Quando você tinha oito anos eu tinha vinte e três... Foi quando eu recobrei minha memória.

– Acha que isso tem ligação?

– Não sei meu bem, o que sei é que temos uma forte ligação. Talvez quando me lembrei do passado as suas memórias também despertaram, ou talvez quando seu pai contou-lhe a história de nossas vidas passadas ele tenha apertado o botão das suas lembranças e consequentemente eu lembrei-me também... Eu realmente não sei. Isso me parece confuso, mas é intrigante como o tempo foi o mesmo.

Anna suspirou e ajeitou-se para olhá-lo diretamente.

– Eu apenas estou feliz que esteja aqui.

Louis sorriu com a declaração e beijou sua amada com lentidão. Era a primeira vez que realmente aproveitavam a simples companhia um do outro. Desde o dia em que suas almas se reencontraram tudo ocorria, eles realmente precisavam de um pouco de paz.

– Eu estou com tanto medo Lou. Não quero perder meu pai.

O jovem apenas a apertou em seu peito. Um gosto amargo atingiu sua boca, ele queria consola-la e dizer que tudo ficaria bem, mas isso seria uma mentira, pois ele sabia que as coisas não seriam como ele desejava.

Anna não precisava que seu companheiro lhe dissesse o que estava pensando. Naquele rápido segundo em que a expressão dele mudou ela soube... Apenas soube. Sentiu seu coração se quebrar e então chorou desesperada.

– Eu não quero me tornar rainha... Eu não sei o que fazer... Eu vou estragar todo o trabalho de meus pais... O povo irá me odiar!

– Anita! Calma! – Louis segurou-lhe o rosto entre suas mãos. – Você pensa que também não me sinto apavorado em assumir o posto de seu pai? Céus! Ele é adorado e respeitado pelo povo. Além do mais ele é experiente. Eu sou apenas um garoto aos olhos do reino. A única coisa que posso fazer é me apoiar na reputação de minha família, apoiar-me em minha vida passada... Mas isso é...

Fitaram-se por alguns segundos com olhos tão esbugalhados quanto possível então pouco a pouco suas expressões suavizaram.

– Acho que se algum súdito nos escutasse agora teria certeza da nossa futura incompetência.

– Com toda a certeza. – Anita soltou um risinho.

– Se é o passado e o renome de nossa família que temos é neles que nos apoiaremos.

Anna não teve tempo de concordar com as palavras de seu companheiro, pois gritos e rosnados vinham do castelo.

Levantaram-se rapidamente e correram para o prédio. Encontraram metade do corrimão da escada principal destruída. Daniel estava ensanguentado no chão respirando com dificuldade. No topo da escada Isaac e Max seguravam Argos que se debatia e rosnava descontroladamente.

Perto da porta principal estava Isis. Tinha cortes por seu corpo e seu braço direito estava em uma posição estranha pela recente fratura.

Não houve tempo para explicações. Em um momento o jovem casal entrava no ambiente, em outro momento Argos livrava-se de seus captores e corria furioso em direção a sua filha.

– Corra! – Louis a empurrou em direção à rainha e chocou-se contra o sogro.

Mãe e filha simplesmente correram para a fora, mas logo pararam quando chegaram em frente aos portões, pois o corpo de Louis voava com o golpe poderoso que recebeu bem em no meio do peito. Anna correu até o companheiro que puxava o ar com força, por alguns instantes ele ficou completamente sem ar.

Ninguém conseguia parar Argos. O rei era naturalmente um guerreiro poderoso, o único que talvez tivesse uma chance de ganhar uma luta era Louis, mas ele tinha medo de machucar seu sogro e ainda tinha que ter cuidado para não ser mordido. O excesso de preocupação com os dentes do rei deixava-o negligente com os outros membros.

Anna tinha seu coração acelerado, nunca tinha visto seu companheiro ser abatido em tão pouco tempo. Puxou-o sobre suas pernas e o abraçou tentando infantilmente protegê-lo.

Isis engoliu em seco. Se ao menos Argos fosse atrás dela... Mas agora ele olhava fixamente para a princesa. Argos estava irreconhecível. Seus dentes estavam amostra e de sua boca a saliva escorria. Os amáveis olhos castanhos estavam agora injetados em fúria. A rainha notou que já havia perdido seu companheiro, mas não podia permitir perder sua filha. O momento havia chegado.

Então quando Argos correu em direção a sua filha Isis interceptou-lhe o caminho. Sentiu uma fisgada em seu estômago ao mesmo tempo em que sua própria mão esquerda atravessava o corpo de seu amado.

Os brilhantes olhos azuis transmitiam apenas o mais puro amor enquanto em suas últimas forças segurava Argos contra o seu corpo. Pouco a pouco o casal escorregou até o chão até perderem a consciência.

Anna rugiu em dor enquanto abraçava com ainda mais força Louis.


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Notas finais do capítulo

Juro que não tenho nenhum prazer em matar personagens :x



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