Acordamos bem cedo com Effie batendo na porta chamando para o café da manhã, fomos para a mesa e eu tive que comer bem rápido pois a equipe de preparação já me esperava no quarto. Quando cheguei lá, Celeste já me direcionou para a cadeira e começou a trabalhar imediatamente em mim, junto com os outros dois da equipe que descobri chamarem Treesh e Samantha.

Passei pelo mesmo processo de sempre: manicure, tratamento de pele, cabelo e maquiagem. Após eu estar pronta Effie entrou no quarto com um cabide envolto de um pano preto, era o meu vestido. Ela abriu o zíper do pano e me passou a roupa, era um vestido vermelho colado no corpo, a única coisa que facilitava a caminhada era um rachado que ia até um pouco acima do joelho, na parte de cima ele era amarrado atrás do pescoço com alguns strass. Por fim coloquei um salto alto preto e enorme. Eu estava totalmente desconfortável com essa roupa, mas sorri para Effie como se aprovasse.

Me olhei no espelho e vi que meu cabelo estava solto e cacheado, a maquiagem era leve, apenas com um batom vermelho. Eu parecia poderosa e sexy, estranhei um pouco pois era apenas a cerimônia de Colheita.

Saí do quarto cambaleante tentado me firmar nos saltos. Cheguei na sala e encontrei Peeta e Haymitch deitados no sofá confortavelmente com seus ternos. Aquilo me deixou bem irritada pelo fato de eu estar usando roupas desconfortáveis.

– Vocês estão prontos? Ótimo, então levantam-se daí e vamos embora para acabar logo com isso. - Eu disse dura e de cara fechada, o que fez eles caíram na risada.

Saí da sala pisando forte e me direcionei para a porta de saída, abri ela abruptamente e levei um susto ao dar de cara com Gale. Acabei dando um pequeno pulo pra trás e enrosquei meu salto na borda do vestido, fazendo eu desequilibrar e por pouco não cai no chão, por sorte Peeta estava lá e me segurou, ele me colocou de pé de novo.

– AI MEUS DEUS! Que susto Gale! Como você surge aqui na porta do nada? Quer me matar?!

– Na verdade eu estava indo bater, mas você abriu a porta antes que desse tempo. - Ele disse calmamente e com um sorriso no rosto, se divertindo da situação.

– Tanto faz, o que você está fazendo aqui? - Respondi irritada.

– Vim dar um recado, de Plutarch. Ele pediu para avisar que voces dois farão o discurso de abertura da Colheita. - Ele assentiu com a cabeça e foi embora.

Olhei apavorada para Peeta, como eles poderiam me avisar alguns minutos antes que eu iria fazer um discurso para uma multidão de pessoas? O que eu iria dizer " Olá, algumas dessas crianças serão encaminhadas para uma morte eminente, boa sorte."? Não, eu não poderia dizer isso. Mas o que falar?

– Katniss, não se apavore. Se você quiser eu faço o discurso e você diz apenas algumas palavras, mas você vai ter que falar alguma coisa pois a população espera por isso.

Balancei a cabeça concordando, ainda apavorada. Logo depois Effie já chegou nos arrastando para sairmos e eu não tive nem um momento para pensar no que ia falar. Entrei no carro da Capital e esperei chegarmos ao destino.

Nós fomos para o local que sempre fora o desfile de abertura dos Jogos Vorazes, nos encaminharam para uma sala aonde se encontravam os outros vitoriosos e símbolos da revolução, nós juntamos a Johanna e esperamos ser chamados. Fiquei revisando em minha mente algumas coisas para falar no discurso, mas nada parecia certo.

Puxei Peeta para um canto da sala.

– O que eu falo nesse discurso? É para a Colheita, pessoas vão morrer, eu não posso fazer isso - Eu estava tremendo da cabeça aos pés.

– Kat, diga palavras consoladoras, é o que as pessoas querem ouvir. - Ele me abraçou ternamente e esperou que eu parasse de tremer um pouco, por fim deu um beijo na minha testa e pegou em minha mão me levando para onde os outros estavam, era hora de entrar.

Subimos em um palco e paramos enfileirados. Abaixo de nós se encontravam milhares de habitantes da Capital, mas ao invés de estarem vibrantes como sempre, estavam sérios. Era estranho ver eles assim. Do outro lado estavam as crianças, separadas pelo gênero, todas com olhares tristes. Percebi , tarde demais, que os Jogos seriam um erro.

Plutarch subiu em um palanque com um microfone e começou a falar:

– Bem-vindos 76º edição dos Jogos Vorazes. Este será o último Jogo e apresentará regras diferenciadas que depois serão passadas aos tributos. Agora teremos a oportunidade de ouvir Katniss Everdeen e Peeta Mellark.

Peeta me pegou pelo braço, eu agradeci pois não confiava em mim mesma para firmar nos saltos. Como prometido, ele começou a falar:

– É um privilégio para mim ser escolhido para discursar para todos voces, apesar de não ser uma ocasião feliz. Os Jogos irão trazer paz para o nosso povo novamente e justiça. - Percebi que era difícil para Peeta falar essas coisas, afinal ele tinha votado "não".

Ele continuou falando de justiça, coragem e paz. Não consegui mais prestar atenção, a única coisas que ouvia era meu coração martelando em meus ouvidos. Observei as pessoas da Capital, tudo o que Peeta falava elas retrucavam, discordavam. Igual ao que eu sempre fizera quando era eu na Colheita.

Quando percebi Peeta já tinha acabado de falar, me posicionei na frente do microfone mas nada saia de minha boca. Eu não tinha o que falar, eu não poderia falar alguma coisa para essas pessoas. Me virei para Peeta procurando por ajuda, ele chacoalhou a cabeça e me puxou levemente, acho que ele sabia que isso aconteceria.

Me agarrei em seus braços e voltei para o meu lugar, as pessoas me observavam, algumas decepcionadas, outras curiosas e outras até com raiva. Mas eu não me importava, então apenas continuei abraçada a Peeta.

Uma mulher que eu não conheço subiu no palanque, ela iria anunciar os nomes das crianças.

– Sofie Trentrak - Uma menina de aparência de 14 anos e cabelos curtos de um loiro quase branco se encaminhou até o palco, ela usava roupas rosa shock totalmente ao estilo da Capital.

A mulher continuou chamando os nomes, subiram várias crianças de diferentes estilos, tinha algumas grandes, outras pequenas, algumas com roupas escandalosas e outras discretas, mas todas sem exceção pareciam frágeis e despreparadas. Eu não aguentava ver isso.

No fim tinha 24 crianças apavoradas no palco. A Presidente Paylor subiu no palco para começar as homenagens, ela disse coisas como Peeta: coragem, justiça e paz. Nada daquilo se encaixava muito bem no momento.

Foi chamado cada um dos vitoriosos para frente do palco para receber uma medalha de honra. Era por ordem de chamada, começando com Annie, ela foi para frente meio perdida, parecia não entender a situação. Depois foi Beetee, que foi para o palco, recebeu a medalha e apenas meneou a cabeça em agradecimento, ele também não concordava com isso.

A próxima foi Enobaria, ao chegar lá na frente ela ficou congelada, olhando fixo para o nada, parecia até apavorada. Não estava entendendo a reação dela, até ver em seu peito um faca cravejada na altura do coração, e então ela caiu no chão com um baque surdo. Após um minuto de susto Peeta começou a me tirar dali, estava uma confusão, todos correndo apavorado buscando aonde se esconder.

Saímos pelos fundos em direção a uma porta, o corredor em que entramos estava vazio e mal iluminado. Escutamos uma menina gritando por ajuda próximo de nós e completamente apavorada, lancei um olhar para Peeta que saiu correndo em direção aos gritos.

Fiquei no corredor esperando ele voltar, quando ele chegou estava com uma garota pequena, devia ter 12 anos, ela usava uma saia azul escuro e uma blusa rosa, seus cabelos pareciam uma cortina loira por sobre seu rosto. Reconheci ela dentre os tributos que haviam sido escolhidos, era a garota que chorava sem parar e que agora chorava mais ainda.

Subimos uma escada que ficava na curva do corredor e entramos em uma salinha. Peeta ficou tentando consolar a menina enquanto eu ficava na porta tentando escutar algo, mas estava um silencio perturbador.

Decidimos ficar lá por um tempo, era mais seguro. Comecei a revirar a sala para ver se encontrava algo de interessante, encontrei alguns panos, mas nenhuma bebida e comida. Nos enrolamos nesses panos e esperamos algo acontecer.