Estou em uma total escuridão, sinto que estou subindo para algum lugar. Passo as mãos pela parede envolta de mim, parece um vidro. Raios de sol começaram a surgir acima de minha cabeça, ergo-a e logo sou inundada pela claridade. Observo ao redor e finalmente descubro aonde estou: na arena. A contagem começa, todos estão tensos, e então todos correm em disparada para o Cornucópia. Eu continuo parada, ao meu redor é só morte, sangue suja o gramado verde de vermelho, ouço pessoas gritando, armas se chocando uma com a outra. E um grito de pavor ecoa ao fundo, o meu grito.

Acordei com um pulo, Peeta já estava do meu lado me abraçando. Me soltei de seus braços e corri para o banheiro com a mão na boca, vomitando na privada logo em seguida. Peeta chegou rapidamente do meu lado e segurou meus cabelos e afagou minhas costas. Fiquei sentada no chão ainda me recuperando do pesadelo.

– Kat, meu amor, o que aconteceu? - Peeta perguntou com a voz cheia de preocupação.

– Eu estava... na arena de novo. Pessoas estavam morrendo, Peeta. - Respondi já sentindo as lágrimas invadirem meus olhos.

– Era só um pesadelo. Isso não vai acontecer novamente, nunca mais.

Balancei levemente a cabeça e me levantei, deitamos novamente na cama, um colado no outro e voltei a dormir. Por sorte, sem pesadelos dessa vez. Acordei já me sentindo melhor, fiz um esforço para ignorar totalmente o pesadelo e me preparei para ir a padaria trabalhar com Peeta.

O dia seguiu normal, Peeta ainda me olhava preocupado, mas como não aparentei estar doente, não demorou para ele relaxar. Na hora do almoço eu estava extremamente cansada e Peeta decidiu me liberar. Fui para casa, aproveitando para passar um tempo com Claire.

Almocei na casa de Claire, colocamos o assunto em dia e passamos um bom tempo, mas o cansaço me dominou e resolvi voltar para casa. Quando cheguei já deitei no sofá e dormi ali mesmo.

Acordei com Peeta me chamando, já era quase de noite, ou seja, tinha dormido a tarde inteira.

– Você está bem? Parece bem cansada e ontem passou mal... - Peeta perguntou preocupado.

– Sim, eu estou bem. Foi só aquele pesadelo terrível. - Respondi de uma vez, já me levantando.

Quando levantei uma ânsia subiu em mim e corri para a cozinha que era mais próxima, vomitando na pia.

– Katniss, o que está acontecendo? - Peeta perguntou firme, querendo uma resposta.

Mas nem eu sabia, eu estava me sentindo normal e de repente, fiquei enjoada.

– Eu não sei Peeta, sei lá, devo estar doente. Quer dizer, eu vomitei algumas vezes e estou cansada, isso só pode ser alguma virose ou...

Algo dentro de mim se encaixou na hora. Gravidez. Mas é claro! Fazia 3 meses que eu e Peeta estávamos tentando, porém eu nem tinha parado para pensar nisso. Mas, analisando agora, isso era óbvio... Cansaço, vômitos, e bem, eu estava atrasada.

– Gravidez - sussurrei, quase inaudível.

Peeta me olhou assustado, os olhos azuis arregalados e com um brilho diferente. Antes de ele mostrar alguma animação ou ansiosidade, perguntou para confirmar:

– Você acha que está grávida?

– Preciso que você vá na farmácia comprar um teste, só assim posso ter certeza. - Eu soava calma, mas por dentro estava uma pilha de nervos.

Peeta correu para a porta imediatamente. Não me movi do lugar enquanto ele foi para a farmácia. Minha mente fervilhava de pensamentos, sentimentos. Desde que eu aceitara ter um filho eu apenas ignorei e esperei até o momento que acontecesse, e agora havia chegado e eu poderia estar nesse exato momento carregando uma criança.

Não demorou muito para que os cabelos loiros de Peeta surgissem pela porta. Ele veio até mim afobado e nervoso, eu me concentrei apenas em fazer o teste e depois deixaria os sentimentos falarem mais alto.

Fui direto para o banheiro e segui as instruções que dizia no pacote. Coloquei o palito em cima do balcão e fiquei aguardando os minutos necessários. Finalmente deu a hora, meu coração batia acelerado, minhas mãos suavam mais que o normal. Criei coragem e olhei: dois riscos. Positivo.

Minha mente virou a maior confusão. Um lado de mim se sentia feliz, o outro estava morrendo de pavor. E bem, o lado com medo estava falando mais alto. Passei a mão pela abdômen, não sentindo nada de diferente, eu poderia muito bem dizer que não estava grávida, a não ser pelo fato de o teste dizer que sim.

Peeta bateu na porta me chamando e então me lembrei que tinha que contar a ele. Segurei o palito em minha mão e abri a porta, Peeta estava parado na frente, ansioso, ele perguntou:

– E então?

Apenas estendi a minha mão, revelando o palito com os dois riscos.

– Isso significa... positivo? - Ele perguntou já sabendo a resposta.

Balancei a cabeça afirmativamente e Peeta explodiu em pura emoção. Me beijou várias vezes e segurou minha barriga, me deixei levar pela animação dele, beijando-o de volta e sorrindo. Mas o medo ainda martelava no fundo. Peeta percebeu isso e após um tempo ele simplesmente me abraçou.

Ficamos por um tempo abraçados, deixei meu medo fluir de mim. Peeta não falou nada, apenas me abraçou. Depois de um tempo, ele me envolveu em seus braços e me levou até nossa cama.

– Obrigada por me entender. - Eu falei baixinho.

– Obrigado por me fazer tão feliz. - Ele respondeu me dando um beijo na testa.

– Peeta... Eu estou feliz com a notícia, de verdade. Eu só... - Senti a necessidade de falar isso para ele, mas não conseguia colocar em palavras o que eu sentia.

– Eu sei, Kat. - Ele disse sorrindo levemente. - Agora você descansa, está bem?

Apesar de eu ter dormido a tarde inteira, ainda estava cansada. Além disso os primeiros sintomas da gravidez, como dor de cabeça e enjoos, estavam acabando comigo. Então eu concordei e caí no sono. Um sono cheio de pesadelos de crianças sendo tiradas de mim, meus filhos, sendo levados. Como minha irmã, e milhares de outra pessoas.