Olhei pra trás e dei de cara com Peter que fez um sinal para que eu ficasse calada. Fiz que ‘sim’ com a cabeça e então ele começou a andar me puxando junto com ele.

Ele me levou até o corredor que reconheci sendo o da biblioteca. Só quando chegamos lá que ele decidiu largar a minha mão.

O corredor estava vazio como sempre. Não havia um aluno se quer. Poderia ter alguém dentro da biblioteca, lógico, mas mesmo assim não daria pra ver ou ouvir nada mesmo que esteja dentro ou fora da biblioteca já que a grande porta-dupla de madeira vive muito bem fechada, abafando qualquer tipo e volume de som.

–Qual é o seu problema? – Perguntei um tanto irritada.

Peter me encarou com aqueles olhos azuis. Sustentei o olhar dele até que ele decidiu falar alguma coisa.

–Como assim? – Por fim disse.

–Como assim? Como assim? – Indaguei indignada. – Você é muito sínico. – Reclamei. – Assim que cheguei nessa escola você fez a mesma coisa, pegou a minha mão, do nada, e saiu me puxando pela escola...

–E... – Tentou falar. O interrompi e continuei falando.

–... Depois daquele dia você simplesmente sumiu. E agora você decidiu me sequestrar de novo.

–Nã...

–... E outra! Como sabe que hoje é meu aniversário? – O interrompi novamente, pois me lembrei de hoje de manhã quando Luzia deixou bem claro que foi ele quem contou pra ela que hoje é meu aniversário. – Luzi...

–Posso falar? – Depois que levantou a mão em frente ao meu rosto como num gesto para que eu me calasse, perguntou calmamente e pôs um sorrisinho sínico naquele rosto lindo.

–Pode - Respondi irritada.

–Primeiro: O que você chama de 'sequestrar', eu acho de 'a melhor maneira de poder falar contigo já que você sempre está com alguém' ou com a Lucy, ou o babaca ou os dois. Segundo: Em relação ao seu aniversário eu simplesmente digo que tenho os meus meios de conseguir informações.

–Subornou a secretária? - Perguntei com sarcasmo.

–Tipo isso. - Respondeu sínico e com o sempre presente sorrisinho de canto de boca. - Parabéns, respondona.

Vi quando Peter afundou sua mão num dos bolsos de seu casaco comprido mas recuou quando ouvimos som de passos. Um aluno que aparentava ter treze anos passou por nós e foi em direção da biblioteca e entrou na gigantesca sala. O silêncio constrangedor tomou conta de nós.

–Bem, eu, eu vou indo. - Disse nervosa. - Até.

–Até. - Falou.

Senti que ele também ficou um pouco envergonhado assim como eu.

•••

Assim que me despedi de Peter depois daquele momento um tanto constrangedor, fui direto ao encontro de Lucy. Achei ela no campo aberto, sentada sozinha numa das arquibancadas.

Aproveitei que estávamos sozinhas e que não tinha ninguém por perto e contei pra ela o que aconteceu.

–É... Imaginei... - Respondeu Lucy com um sorriso safado. - Peter adora te sequestrar né... - Falou cinicamente.

–Engraçadinha.

–Não estou brincando. - Fez cara de ofendida. - Só estou falando a verdade.

–Ele disse que o que eu chamo de sequestrar, ele chama de 'a melhor maneira de poder falar comigo já que sempre estou com alguém', ou seja, com você ou com Adam.

–Ui ui. Depois dessa vou começar a te deixar sozinha de vez em quando. O que acha?

–Não. Você não vai.

Lucy apenas riu. Então mudamos de assunto e ficamos conversando até que o sinal que marca o fim do intervalou tocou.

•••

São 19hrs e estou na sala de minha casa conversando com papai, Madame Blue e Lucy.

Como hoje é meu aniversário, papai e Blue queriam fazer alguma coisa pra mim. Por isso vamos fazer uma pequena comemoração aqui em casa com papai, Blue e meus dois amigos, Lucy e Adam. Este último está um pouco atrasado.

Quase 20hrs e a campainha tocou. Madame Blue foi atender a porta.

Blue reapareceu e ao seu lado está um garoto com quase o dobro de seu tamanho. Adam.

Como sempre, Adam me deu aquele abraço forte.

–Parabéns de novo. - Riu. - Aqui. Espero que goste.

Peguei a caixa de tamanho médio de suas mãos e a abri. Dentro da caixa havia um porta-joias.

O porta-joias é lindo. Ele é preto e todo trabalhado em pérolas.

No meu sonho, Adam me deu um buquê de rosas negras. Me senti angustiada e amedrontada. Mas rosas negras não exitem. Não de forma literal...

E aqui estou eu. Segurando uma caixa e dentro o presente de Adam enquanto subo as escadas em direção do meu quarto para guardar o presente.

Cheguei no meu quarto, fui até o criado-mudo ao lado de minha cama e guardei o presente de Adam ao lado do de Lucy.

Lucy me deu um porta-retrato azul com detalhes brancos com uma foto que Adam tirou de nós duas no dia que nós três fomos ao show da banda formada por uns colegas nossos da escola.

Voltei para a sala e fui em direção de meus dois amigos que estavam sentados no sofá conversando e me sentei ao lado de Lucy.

Nossa conversa que começou sobre escola mudou para filmes e terminou sobre coisas pra fazer ao ar livre como arvorismo e só não mudou de novo porque papai e Blue nos chamou para jantar.

Fomos todos até a sala de jantar e nos sentamos na mesa comprida.

Papai começou a falar o quanto eu estava crescida e Blue não ficou pra trás.

Depois que terminamos de jantar, Blue se retirou por alguns instantes e voltou com um bolo.

Cantamos parabéns, comemos o bolo e conversamos mais até que deu meia-noite e Adam e Lucy foram embora.

Estava morta de cansaço então me despedi de papai e Madame Blue e fui para o meu quarto dormir.

Cheguei em meu quarto, troquei de roupa e fui pro banheiro onde tirei a maquiagem e escovei os dentes.

Sai do banheiro e fui arrumar a bolsa de acordo com as aulas de amanhã.

Dentro da bolsa havia algo além de livros. Uma caixinha.

A caixinha tem um tom de roxo bem escuro. A abri e lá encontrei um anel.

O anel é prateado e nele havia pequenas rosas em alto-relevo interligadas uma a outra em uma linha cravada com espinhos e folhinhas.

Dentro da caixa também havia um papel. O peguei e li:

"Quando vi, achei que foi feito pra você. Desculpe ter lhe dado seu presente dessa maneira, queria ter lhe dado pessoalmente. Te sequestrei pra poder te entregar e ver a sua reação sendo que fui interrompido por aquele garoto.

–Peter.

Ps: Digamos que a secretária tem uma quedinha por mim e foi assim que descobri a data do seu aniversário."

Só depois que terminei de ler percebi que estava esse tempo todo com um sorrisinho bobo no rosto.

Nessa noite sonhei com Peter. Dessa vez não tinha apenas os olhos dele. Ele estava em forma humana com direito ao sorrisinho de lado. Sonhei com ele dando meu presente da forma que ele queria. Com o sequestro e sem o garoto aparecendo do nada.