Os Três Irmãos e o Dragão escrita por Caio Md Castro


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Lembrando que se passa no mundo FEUDAL e FANTASIOSO das minhas histórias sobre a Flor de Fogo e o escambau. Comentem que eu ficarei feliz!



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Há muito tempo, numa grande floresta no leste, no vilarejo de Erinel, viviam três pequenos irmãos elfos de olhos verdes e orelhas pontudas que ficaram famosos por ter escapado de uma horrenda bruxa que devorava crianças. O mundo inteiro conheceu a história, que foi transformada em canção e cantada em todos os castelos e tavernas daquela terra. Mas o tempo passou e mais uma canção sobre os três corajosos irmãos estava para ser escrita.

Algum tempo depois de sua primeira aventura, os três irmãos deixaram de ser apenas crianças para se tornarem jovens rapazes, e então decidiram deixar Erinel para explorar o mundo. Cauron, o guerreiro, tornou-se um cavaleiro forte e destemido, que seguia seu rumo livre de senhores, em busca de glória e honra. Guilior, o músico, mais inteligente dos três irmãos tornou-se um talentoso cantor, que percorria seu rumo em busca de grandes histórias que pudessem se tornar maravilhosas canções. E por fim Ferseos, o astuto, tornou-se um dos maiores ladrões de que se tem notícia, capaz de roubar as calças de um homem sem que ele sequer percebesse.

Após algum tempo em que seguiam viagem juntos, os três irmãos chegaram a uma estrada que se dividia em três caminhos.

Cauron, o mais velho e ainda líder, virou-se aos outros dois e disse-lhes:

– Meus irmãos, cada um de nós busca por coisas diferentes e cedo ou tarde nossos caminhos iriam se separar. Façamos o seguinte, cada um seguirá por uma estrada diferente, buscando aquilo que deseja, e daqui a um ano, neste mesmo dia, vamos voltar a esta encruza e mostrar uns aos outros aquilo que conquistamos.

Assim foi feito. Cauron seguiu pela estrada da direita, Guilior seguiu a do meio e Ferseos seguiu a da esquerda.

Os doze longos meses se passaram e chegou a hora de os três irmãos se encontrarem novamente. Cauron foi o primeiro a falar.

– Neste ano venci muitas batalhas, perdi algumas, lutei em torneios contra cavaleiros menores e servi Lorde Hawen no Solar do Grifo por três longos meses, mas nenhuma grande glória conquistei.

Depois quem falou foi Guilior.

– Nesse ano viajei até Porin, tocando meu alaúde em tavernas pelo caminho, depois fui para as Escolas, aprender a ler runas do passado, conhecer a nossa história e estudar as artes da matemática e da alquimia, sem ter em todo esse tempo encontrado grandes aventuras para narrar em minhas canções...

O último a falar foi Ferseos, o mais novo e mais orgulhoso dos três, que brincava com uma velha adaga que sempre transportava na lateral da cinta.

– Durante esse ano fui até Lira, e lá aprendi com um grupo de ladrões a ser furtivo como um gato na noite, aperfeiçoei a arte de roubar sem ser descoberto e consegui muito ouro, mas infelizmente havia um ladrão melhor do que eu por perto, e agora venho até vocês de mãos abanando.

Felizes por estarem juntos mais uma vez, mas insatisfeitos com os resultados que tiveram, os três irmãos passaram a noite numa taverna próxima, onde corria a notícia de que a princesa Lassália de Angsos fora raptada por um terrível dragão de três cabeças chamado Vrainor, o Terror, que tinha a fama de guardar moças nobres raptadas até que morressem de fome, devorando-as por inteiro se elas tentassem fugir.

Ansiando por honra, belas aventuras e uma recompensa de muito ouro, os três irmãos decidiram que iriam salvar a princesa. Viajaram durante dias até o distante reino, onde a besta se escondia numa antiga masmorra subterrânea entre as montanhas. A única entrada, e também a única saída – além da que era usada pelo dragão – era uma estreita passagem redonda no chão pedregoso do alto de uma colina.

Ao redor da porta nada crescia, e um cheiro horrível de carne queimada saia por ela em lufadas de vento quente. Segundo se dizia, aquele vento era a respiração profunda do dragão. Enquanto permanecesse daquele jeito, significava que Vrainor estava adormecido, mas quando acordasse, o ar ficaria tão quente que seria possível assar um javali sobre a entrada da masmorra.

Antes de entrar, os três irmãos fizeram uma prece aos seus antigos deuses da floresta e se certificaram de ter todas as provisões que dizia-se necessárias para chegar até o ninho da besta. Precisavam ter cuidado, pois a velha masmorra era cheia de falsas portas, e cada uma delas os levaria a uma morte horrível se não estivessem preparados.

Diziam as lendas que para cada uma das princesas roubadas pelo dragão, dez mil guerreiros morreram dentro das montanhas, em busca de recompensas prometidas por reis que jamais conseguiram ter suas filhas de volta.

Carregando suas provisões, Cauron, Guilior e Ferseos adentraram na Tumba de Vrainor. Desceram escadarias longas por muito tempo, até encontrarem o primeiro par de portas, iluminadas por um archote que o fôlego do dragão quase apagava.

– São exatamente iguais – disse Cauron, e entendeu que se fosse ele a abrir uma das portas, a sorte decidiria por ele.

Antes que tomassem uma decisão, uma sequência de letras surgiu sobre as duas portas. Eram runas muito antigas, que Cauron e Ferseos desconheciam, mas Guilior – que conhecia muitas línguas e suas letras – era capaz de lê-las.

– Aqui diz: “se escolherem bem, apenas três salas os separam do ninho do horrendo monstro, mas, se o rumo errado tomarem não haverá volta, e muito menos saída. A morte estará atrás e à frente, de um lado e do outro, acima e abaixo”.

Ao terminar de ouvir, Cauron começou a girar a tranca que segurava a porta da esquerda, mas Guilior o deteve.

– Temos somente uma chance, então precisamos ter certeza. Deve haver um sinal.

Então esperaram.

O segundo irmão se sentou pacientemente, olhando e ouvindo atentamente as duas portas. Quando os demais estavam ficando impacientes, Guilior se levantou e riu, pois tinha descoberto a resposta.

– O vento! A porta certa nos levará até o dragão, e o seu fôlego chega até a entrada da masmorra, então a porta certa é aquela por onde o vento quente passa!

Depois de pouca observação, os três passaram pela porta da direita, por onde as lufadas de ar e o cheiro de carne queimada chegavam mais fortes.

A primeira sala era um quarto cavernoso com teto alto, por onde entrava um feixe de clara luz do sol, e onde um gigantesco leão com a força de sete homens caminhava exibindo suas presas e garras.

O leão rugiu, mostrando as presas aterradoras, e os três irmãos ficaram imóveis. Por sorte, Cauron lembrou-se de que levava em sua mochila dois suculentos pedaços de carne de veado como provisão para a viagem de volta. Tomando cuidado com seus movimentos, jogou um deles para o leão, que entretido com a comida, deixou que os irmãos passassem para o corredor que os levaria até a próxima sala.

– O outro pedaço deixaremos para apaziguá-lo na volta – disse o irmão mais velho.

Quando chegaram às portas seguintes, havia um total de quatro, e Guilior novamente escolheu aquela por onde o ar passava mais forte.

Assim como no quarto com o leão, a segunda câmara tinha um teto alto e um feixe de luz incidia suavemente sobre o centro, onde um fogo colorido nos tons da aurora queimava numa pequena pilha de galhos secos. Uma placa de granito repousava à frente do fogo, e nela se lia:

ALIMENTE-ME COM O INFINITO

– É uma charada – disse Ferseos – Temos que jogar alguma coisa no fogo... Alguma coisa que represente o infinito?

– E se jogarmos a coisa errada? – perguntou Cauron, bem quando Guilior virava a placa de granito, observando um desenho esculpido no verso.

A figura era uma caveira.

– Acho que isso responde a pergunta...

Assim os três começaram a pensar em conjunto, tentando resolver o enigma, sem conseguir solução alguma.

Um bom tempo depois, quando já estavam quase jogando uns aos outros nas chamas, Guilior finalmente entendeu.

– Temos que apagar o fogo – ao ouvir isso, os outros se assustaram – Era óbvio o tempo todo. Nada é infinito, porque todas as coisas que existem tem um fim, tanto em espaço como em tempo.

Os outros irmãos se olharam com dúvida, e Guilior continuou.

– Logo, se as coisas infinitas não existem, o infinito é o próprio nada, que é a falta de alguma coisa. E como se reduz o fogo ao vazio?

– Apagando-o – disseram os irmãos.

– Temos que alimentar o fogo com algo que o mate. A própria caveira era uma pista. A morte reduz as coisas ao nada. Cauron, me dê o seu cantil!

Em segundos a água verteu sobre o fogo, apagando-o. Pouco depois, uma porta surgiu no final da câmara e os irmãos continuaram sua jornada.

Dessa vez, haviam oito portas para serem escolhidas, e o aviso sombrio continuava. Depois de fazer a escolha, Cauron, Guilior e Ferseos passaram para a terceira e última sala. Era exatamente igual às duas anteriores, mas não havia ali leões ou fogueiras, somente uma pequena árvore com galhos tão emaranhados e cheios de espinhos que somente olhá-la por muito tempo já parecia machucar.

Do outro lado da sala, a porta podia ser vista, mas sua fechadura estava a muito tempo trancada e não havia sinal de chave. Quando a contemplaram, letras surgiram na madeira surrada.

Onde nada pode entrar
Nem muito menos sair
Sem o calor acalentar
E se por acaso cair
E por azar se quebrar
Nem um deus o poderá consertar

– Outra charada – disse Cauron – Aposto meus dedos que diz onde encontrar a chave.

– É um ovo – disse Guilior – A resposta da charada é um ovo.

Naquele momento, o som de uma ave chegou aos ouvidos dos irmãos e eles se voltaram para a árvore espinhosa. Lá dentro, incrivelmente intocada pelos espinhos estava uma gorda codorna sentada em seu ninho, e sob o seu ventre, três pequenos ovos.

Cauron desembainhou a espada, pronto para cortar ao meio ave, árvore e ovos, mas Ferseos o segurou.

– Não é tão fácil quanto parece irmão. Em Lira havia certas armadilhas em torno de tesouros que as pessoas temiam perder, e já vi muitos ladrões perderem a vida por subestimá-las. Olhe para cima.

Quando o olhar de Cauron e Guilior chegou ao domo de pedra mais acima, a tênue luz que entrava revelou uma grade de aço com centenas de lanças apontadas para baixo, prontas para despencar sobre aqueles que não resolvessem a charada da maneira correta.

– Prefiro que a ave não perceba que seus ovos foram roubados – disse Ferseos – Não sabemos que tipo de magia oculta controla essas armadilhas.

Esperaram então, com a morte flutuando gentilmente acima de suas cabeças. Ficaram em silêncio por horas, até a manhã do dia seguinte, quando a codorna finalmente se acostumou com as suas presenças e adormeceu.

Já preparado, Ferseos envolveu parte da mão em um pedaço de pano rasgado de sua roupa e o encharcou com óleo de lanterna, exceto pelas pontas dos dedos. Devagar e preciso, deslizou o punho entre os espinhos da pequena árvore e o retirou com os três ovos entre seus dedos. A codorna nem sequer chegou a acordar.

Após tirar alguns espinhos da mão, Ferseos quebrou os ovos e encontrou três pedaços de metal dentro deles que, combinados, formavam a chave para o refúgio de Vrainor.

Assim eles chegaram ao ninho da besta.

O corredor que se seguiu à porta da terceira sala era mais cavernoso e irregular que os anteriores, e terminou numa imensa gruta, onde o grandioso e terrível dragão dormia profundamente, com suas três cabeças esguias enroladas sobre o resto do corpo. Era uma criatura gigante e bela, com um par de chifres curvos em cada cabeça e inteiramente coberta com escamas azuis, vermelhas e douradas. Não o tipo de beleza que encanta, mas o tipo que causa arrepios e faz as pernas tremerem.

De cada uma das narinas, violentas lufadas de ar quente eram sopradas, e o lugar tinha um cheiro tão forte de carne queimada que lágrimas escorreram dos olhos dos três irmãos.

Eles procuraram por toda parte, mas não encontraram sinal da princesa Lassália até que o dragão mexeu-se durante o sono, levantando por um curto momento uma de suas asas e revelando a princesa – de cabelos vermelhos como sangue – aninhada entre seus braços.

Impressionados pelo tamanho da fera, os três irmãos começaram a discutir como fariam para roubar a princesa, e claramente foi Ferseos quem assumiu a tarefa de tirá-la dos braços de Vrainor.

Furtivo como um gato na noite, o terceiro irmão rastejou entre as cabeças do monstro, tomando cuidado para não acordá-las e se enfiou por baixo da asa do dragão, desaparecendo da vista de Cauron e Guilior.

Quando Ferseos acordou a princesa, um gemido sufocado ecoou pela gruta, a cabeça da direita abriu lentamente seus olhos e se ergueu, encarando os irmãos com seus olhos brancos como leite.

Congelados de medo, Cauron e Guilior se entreolharam, até que perceberam que aquela cabeça era cega e não podia vê-los.

Então Guilior se lembrou de um pedaço de uma canção que escutara sobre o dragão nas tavernas em que tocou seu alaúde:

Apesar de em três ele tê-las,
Sorte tem as mil princesas,
Pois uma não pode vê-las,
Outra não pode ouvi-las,
E nenhuma pode cheirá-las.

Para a primeira toque uma doce canção,
Para a segunda de você não deixe menção,
e para a terceira, afiado esteja o aço do espigão...

Sem perder tempo, Guilior tirou seu alaúde de sua mochila e tocou suavemente nas cordas, produzindo sons baixos que se transformaram numa forte canção de ninar. As notas encheram o vazio da gruta e os olhos da fera ficaram semicerrados, até que a cabeça cega voltou a esticar-se no chão e caiu em sono profundo.

Guilior então parou de tocar.

Ferseos estava quase saindo de debaixo da asa de Vrainor quando a cabeça da esquerda levantou-se de súbito. Embora não pudesse ouvir, seus olhos se fixaram nos irmãos e ela se preparou para atacá-los, mas quando sua enorme boca se abriu, Cauron lançou no ar o pedaço de carne que restava, e a cabeça o abocanhou. Saboreando o presente, esqueceu-se de Cauron e Guilior por tempo suficiente para que eles se escondessem atrás de uma rocha. Ao ver que não havia mais ninguém ali, a cabeça esticou-se novamente no chão e adormeceu.

Suspirando aliviados, Cauron e Guilior foram até Ferseos, que trazia a princesa Lassália nos braços. Era uma moça jovem e linda, com cabelos rubros e tez bronzeada, mas magra pela fome e machucada pelas escamas afiadas do dragão.

Com pressa, os quatro correram na direção do caminho que os irmãos fizeram, e quando estavam prestes a passar pela porta que levava à sala da árvore, o ar esquentou-se como o inferno e um rugido terrível como um trovão retumbou às suas costas. O dragão acordara.

Ao passar para a terceira sala, eles se dirigiram diretamente à porta que levava à segunda e a abriram com a chave retirada dos ovos de codorna.

Assim que o fizeram, escutaram aquela câmara ruir sob a fúria do dragão e o ar tornar-se mais e mais quente. Sem olhar para trás, os irmãos correram com a princesa para a segunda sala, e Ferseos jogou sua mochila sobre o fogo, apagando-o e fazendo surgir a outra porta da sala.

Correram pelo corredor até a primeira sala, onde o leão saltava de um lado para outro, enlouquecido com a aproximação de Vrainor. Rugindo, a fera saltou sobre Cauron, que empunhou sua espada e escudo, pronto para dar batalha à ela. O primeiro irmão dançou com o felino, e conseguiu acertá-lo no flanco esquerdo, lançando sangue sobre seu pelo amarelo.

Mas o leão era muito mais forte, e derrubou Cauron, ficando prestes a matá-lo.

Nesse momento foi que Guilior quebrou seu alaúde na cara do animal, produzindo um som alto que o atordoou por tempo o bastante para que Cauron se libertasse. Entretanto, o segundo irmão não foi rápido o suficiente e o leão o atacou em seguida, arrancando sua mão direita com um só golpe de suas garras.

Guilior caiu, e então uma das cabeças do dragão irrompeu na sala. Ao ver o sangue no pelo do leão, ela o abocanhou, e terminou de matá-lo entre os dentes.

Outra cabeça passou pelo buraco aberto na parede, e mais uma. Depois o braço esquerdo e o braço direito.

As três cabeças rugiram e labaredas de fogo rodopiaram por todos os lados, com uma delas acertando um dos olhos de Ferseos. Quando este caiu, percebeu que o dragão havia parado de rugir, e a princesa Lassália se apresentava diante dele, levando a adaga de Ferseos escondida atrás das costas.

– Ó terrível Vrainor! – disse a princesa – Sei que trai sua confiança ao fugir com esses homens, mas por favor, deixe-os ir e eu voltarei com você para a caverna de onde não deveria ter fugido!

A cabeça do meio, mais inteligente e mais perigosa, analisou a princesa com cautela, e então – para horror dos irmãos – a engoliu por inteiro. Depois, o dragão simplesmente deu meia volta e retornou para seu ninho, deixando um rastro de terra pisoteada e queimada por onde pisava.

Cauron, reconhecendo a derrota, pôs-se a cuidar das feridas dos irmãos, e ali mesmo – aos cair da noite – eles repousaram.

No entanto, o sono não demorou muito, pois na calada da noite, um rugido horrível ecoou pelos túneis da masmorra subterrânea, fazendo toda a terra tremer. Cauron, Guilior e Ferseos levantaram-se assustados, e decidiram ir ver o que tinha causado aquele som terrível.

Quando finalmente chegaram até a caverna onde vivia Vrainor, viram que o sangue do dragão estava por todo lado, e ali no meio da gruta encontrava-se o que restara dele, deitado com a barriga escamosa para cima e as asas retorcidas. Seu peito fora aberto de dentro para fora, e ao lado das três cabeças desfalecidas, estava a princesa Lassália, coberta de sangue rubro dos pés à cabeça.

Ao vê-los, a princesa demonstrou alegria e pediu ajuda para lavar todo o sangue de si.

Surpresos, os três irmãos perceberam que, de uma forma muito estranha, Lassália jamais havia precisado de socorro. Mas quando disseram isso a ela, a princesa limitou-se a negar.

– Foi graças a vocês que eu consegui matar o dragão – disse – Foi com a faca de Ferseos que perfurei o estômago dele de dentro para fora, e também graças a vocês as armadilhas nas três salas da masmorra foram vencidas. Percebem? Eu jamais fugiria sem a ajuda de um guerreiro, de um músico e de um ladrão.

Depois disso os três irmãos levaram a princesa de volta ao reino de Angsos, onde foram todos recebidos com festas e muitos presentes.

Por sua coragem, Cauron foi agraciado com um título elevado na cavalaria e recebeu terras para construir uma fortaleza e governá-la. A partir daquele dia, notícias de seus feitos correram por todo o mundo e ele conseguiu a glória com que sempre sonhara.

Por sua inteligência e talento, Guilior foi presenteado com todos os livros que pudesse ler e com cursos para aprender o que quisesse nas Escolas de Asmitia, e foi convidado a ajudar na construção da biblioteca do castelo do rei. Ele pode finalmente escrever sua canção – embora não pudesse ele mesmo tocá-la – e ela foi entoada e repetida por todos os músicos de respeito daquela época e também dos tempos futuros.

Por sua astúcia, Ferseos recebeu três vezes o seu peso em ouro, além de um belo navio para trabalhar como comerciante – e pirata, quando possível. Ele finalmente conseguiu a riqueza e o poder que tanto almejava.

Enquanto isso, a princesa Lassália foi mandada pelo rei para o Estado do Meio, e se tornou uma grande legisladora naquela cidade, conquistando honras raramente concedidas às mulheres.

No fim, os três irmãos viveram tudo aquilo que sempre sonharam por dois longos anos, até que – durante uma das visitas de Lassália ao seu reino – uma figura misteriosa chegou ao castelo de Angsos, coberta dos pés à cabeça por uma roupa de palha, encimada por um lagarto de bronze.

Ela era uma das monjas anciãs do Bosque dos Deuses, uma floresta sagrada que escondia segredos ancestrais. Diante do rei, a monja ofereceu aos três irmãos a chance de adentrar as profundezas da sua floresta, para encontrar os deuses de seu povo e descobrir seus mistérios.

Seria uma jornada muito longa, mas da qual – segundo ela – eles não iriam se arrepender.

Os três, que sempre foram muito ligados à floresta de seu povo em Erinel, decidiram arriscar e aceitar a oportunidade que lhes era oferecida, e naquele mesmo dia, partiram com a monja.

No entanto, pouco antes de partir, os irmãos agradeceram ao rei e à princesa Lassália por tão valiosas recompensas, e juraram perante os deuses da terra, que no dia em que a princesa ou qualquer um de seus descendentes precisasse de socorro, poderiam ir até o Bosque dos Deuses e chamar por eles...

...pois eles sempre responderiam ao sangue daquela que matou o Terror.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler! Só digo que esse conto talvez seja muito importante para a minha história principal... ou talvez não... quem sabe? :)