The Strange Girl - Franklin escrita por Chibi Midori


Capítulo 2
Ludmile Williams




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- Ludmille!

 

Ah, doce Som. Por que não tem nada melhor que acordar lembrando que a idiota da sua mãe te deu um nome idiota. Ludmille Sally Williams. Com tantos malditos nomes ridículos para escolher... Podia ser apenas Mary. Talvez Jane. Ou Linda. Mas não. Mamãe lê romances medievais e ela acha que eu devia ter um nome de princesa.

 

Não sou uma princesa, não gosto de ser Ludmille e não sou uma Polly daquelas com roupa de imã. Minha mãe não entende isso. Agradeço todos os dias desde que arranjei um emprego. Eu moro numa cidade pequena. Franklin, em Tenessee.

 

Eu odeio Franklin. De verdade. Eu nasci em Boston e foi lá que eu morei até os meus doze anos de idade. Eu era feliz. Eu tinha amigas, estava me dando bem na escola, tinha um namorado. Boston é meu verdadeiro lar. Mas minha mãe se divorciou do meu pai.

 

Nada muito dramático. Eu fiquei feliz quando eles se separaram. Eles brigavam muito e o clima era insuportável. Eu tinha dez anos quando eles decidiram que já deu. Eles ficaram mais felizes depois do divórcio, mamãe resolveu levar meus avôs para morar com a gente e tudo mais.

 

Quando eu fiz onze anos, mamãe arranjou um namorado. O namorado dela me odiava, fato. E eu não gostava muito dele, mas minha mãe estava feliz e então eu não interferi. Meses depois ela engravidou. O namorado dela não gostou e pediu que ela abortasse. Ela não abortou, é claro, e terminou com ele.

 

Enquanto isso acontecia, apoiei minha mãe. Ela é jovem e bonita e se tinha vontade de ter outro filho, eu respeitava isso. Aos doze anos, eu não podia pedir mais do que eu tinha. Eu estava namorando seriamente com o Ryan. Saía quase todos os dias com a Tiara, minha melhor amiga eternamente. Eu adorava tudo em Boston. Adorava morar com meus avós, minha mãe e meu irmão mais novo Henry. Eu tinha uma vida inteiramente perfeita. Quando Henry fez um ano, mamãe decidiu que as lembranças daquele lugar eram dolorosas demais.

 

Eu chorei, esperneei e emburrei. Não adiantou. Tive que abandonar todo o meu mundo feliz e perfeito para morar em Franklin. Defino Franklin em poucas palavras: Eca. Eca meleca. Eu avisei à minha mãe que eu não ia fazer amigos aqui. É uma cidade idiota, cheia de caipiras e gente que eu não conheço e nem quero conhecer.

 

Eu vou fazer quinze anos dentro de três meses. E ainda não tenho amigos em Franklin. Eu não tentei me aproximar de ninguém, é verdade. Mas ninguém foi gentil comigo. Ninguém quer ser amigo daquela garota estranha que veio da cidade grande. Desde o principio as patricinhas me olham torto e os caras me olham como se alguém tivesse tatuado na minha testa “Garota com AIDS”. Não que eu tenha AIDS. Eu sou virgem, pra falar a verdade.

 

Aqui o senhor Neil Watson tem uma loja de roupas onde eu sou balconista. E tenho um desconto para funcionários, pude renovar meu guarda-roupa.

 

Minha mãe não gostou muito disto. Ela acha que eu sou muito nova para usar preto. Bobagem, eu tenho catorze anos. E tenho um monte de roupas que não são pretas. Tenho algumas vermelhas. Tenho roupas cinza. E eu tenho certeza que em algum lugar por aí eu tenho uma blusa branca com a estampa de um gato. Mouche, meu gato e único amigo em Franklin, miou alto quando eu levantei. Talvez por que o ato o tenha derrubado da cama.

 

- Quieto, Mouche!  - mandei quando ele veio enroscar-se em minhas pernas. Acariciei sua cabeça por alguns segundos até lembrar o porquê minha mãe estava me acordando às seis horas da manhã. Segunda feira. Primeiro dia de aula. Merda.

 

Só há uma coisa que eu odeio mais que ficar trancada nessa maldita casa: Ficar trancada naquela maldita escola. Levantei e vi minha avó já preparando meu café da manhã. Meu avô havia ido comprar os pães. Mamãe dava o mingau de Henry, meu irmão de dois anos. A única pessoa da casa que não faz caretas pra mim. Bom, ele faz. Mas por que ele é um bebê. O resto da família faz por que não gosta da minha aparência mesmo.

 

Sou alta. Bem alta mesmo. 1,72. Morena, olhos castanhos, cabelo liso-super-ultra-mega-plus-blaster-master-power-escorrido. Nariz arrebitado, lábios cheios. Cintura estreita. Quadril normal. Pernas normais. Seios normais. Bom, meu corpo é normal. Pra ser sincera, meu corpo é até bonito. Não que eu ligue pra isso. Prendi meu cabelo num rabo de cavalo. Há tanto tempo eu não o prendo...

 

Vesti a primeira regata que eu achei. E não é preta. É verde com a estampa de uma gravata preta. Meus jeans. Tênis All Star, é claro. Fui para a cozinha e comi cereal com leite antes de ir pra escola. Por que as férias não duram pra sempre? Por que, por que, por que, por quê? Suspirei enquanto andava. Tranquei o portão da minha casa e guardei a chave na mochila.

 

Moro perto da minha escola. A cinco quadras, na verdade. Graças a Deus, amém. Mas mesmo a essa distância, mamãe insiste que eu deveria ir de carro. Há. Ela nunca me deixaria ir a uma escola de ônibus. Coruja que nem presta, né? Mas ao invés disso, vou pra escola de skate. Bem mais cômodo pra mim.

 

E quando eu cheguei à minha sala... Heather Sunshine estava se agarrando com o Adam Carrow. Ah, Jesus. Pode lascar, que eu mereço. Por que não tem nada melhor que sentar no fundo de uma sala quase deserta, exceto por um casal se comendo em cima da mesa do professor. Lindo.

 

Eu entrei, tossi alto e me sentei. Heather Sunshine me olhou por um instante enquanto Adam beijava seu pescoço... E voltou a beijar ele! Tá de brincadeira, né?

 

Segundos depois Gretchen Gardiner entrou na sala e sentou ao meu lado, o mesmo lugar que ela ocupara durante todo o ano passado. Gretchen é uma das garotas mais bonitas de Franklin.  Ela tem os olhos claros, cabelos castanhos e brilhantes, um rosto angelical e o corpo escultural como o de uma modelo. Cruzei os braços na mesa da carteira e enterrei o rosto lá. Sono, sono, sono!

 

- Eles deviam fazer isso no banheiro. – comentou Gretchen.

 

Ergui o rosto e a encarei. Ela tava falando comigo? Tipo... Comigo? Bom, ou é comigo ou com a amiga imaginária dela por que além de nós duas... Bom, só tem a Heather e o Adam, que estão meio ocupados no momento.

 

- Sou Gretchen Gardiner. – ela sorriu e estendeu a mão pra mim. Eu a apertei por que senti minha boca aberta, o que não tem necas haver. – E seu nome é... ?

 

- L-L-Ludmille. – Balbuciei – Ludmille Williams.

 

- Sério? Nossa, que nome lindo! É tão... Diferente! Ga-Mei. – Essa garota cheira, não cheira? – Eu queria me chamar Ludmille. Gretchen é um nome tão comum que chega a ser brega.

 

- Hmm...

 

Reparei que a Heather parou de beijar o Adam e me olhava de boca aberta. Como se eu fosse uma lhama verde com bolinhas rosa – choque. Eu mereço, não é? O que deu na Gardiner? Eu estudo aqui há anos. ANOS, percebeu? Por que – Em nome de Nossa Senhora da Carupita – ela de repente resolveu falar comigo? COMIGO?

 

Um garoto pálido com cabelos tão negros quanto os meus e olhos azul-profundos entrou na sala. Um garoto que sempre senta ao lado da Gretchen e cujo nome eu não tenho idéia.

 

- Ei, Tyson! – Gretchen acenou e sorriu – Senta aqui. Você já conhece a Ludmille? - Ela pôs ênfase no meu nome – Ludmille, este é o Tyson Crowley.

 

Tyson me olhou de olhos arregalados e pareceu meio chocado por me ver, como se eu fosse um fantasma. Ah, qual é? Ele piscou os olhos muito azuis antes de se recompor e me cumprimentar com um aceno da cabeça. Ele inclinou-se e beijou os lábios cheios e bem-feitos da Gretchen antes de sentar ao lado dela. Ok, hoje vai ser um dia BEM estranho.

 

**

 

- Ludmille! Hey, Ludmille!

 

Tá brincando comigo, né? O que essa retardada quer? Virei a cabeça na direção da mesa da Gretchen no refeitório. Ela estava sentada com Tyson Crowley e Jeanine Peterson que me olhavam como se eu fosse uma ofensa à paisagem. Com a minha jaqueta modesta, minha regata verde e meus jeans escuros e simples...

 

Eu parecia uma gata borralheira perto dos jeans trabalhados de Jeanine e sua blusa ridícula da ultima moda. Tipo... Ridícula mesmo. Parece um saco de batatas quadriculado com buracos pra cabeça e pros braços.

 

- LUDMIIIIIIIILLE!

 

- Sim, Gretchen? – me aproximei hesitando

 

- Senta aqui, mona! – Ela bateu na cadeira ao lado da dela, feliz.

 

- Você quer que eu... Sente com vocês? – arregalei os olhos. Tyson e Jeanine também questionaram a sanidade de Gretchen com olhar e ela apenas sacudiu os lindos cabelos castanhos pra trás ao sorrir outra vez.

 

- Quero, sim. – Ela me puxou e me obrigou a sentar, quase derrubando a bandeja do meu almoço. – Eu amei esse seu cabelo. Quanto tempo você passa fazendo chapinha pra deixar assim tão lisinho? E brilhante! Quando eu faço chapinha, meu cabelo resseca e fica parecendo cabelo de Barbie.

 

- Chapinha? – Olhei pra ela tentando entender do que ela estava falando – Ah, não! Meu cabelo é natural assim, ele...

 

- Até parece! – Jeanine passou as mãos pelos cachos loiros elaborados – Nenhum cabelo é tão liso assim!

 

- O meu é. – Me defendi. Eu estou quieta no meu canto e aí vem um pessoal com o qual eu nunca falei na minha vida me dizer que meu cabelo não é natural? Meu cabelo nunca viu química ou um secador ou mesmo um baby liss

 

- Ah, o meu cabelo está um problema! – Gretchen começou a dirigir-se a mim como se Jeanine não me encarasse – Ultimamente eu tenho tido que fazer hidratação duas vezes por semana. É uma loucura pra mim. E a minha pele está se enchendo de espinhas! Você tem sorte, Ludmille. Eu queria ter a pele limpinha assim e...

 

Gretchen se lançou a outro falatório interminável interrompido apenas pelos beijos de Tyson e pelas perguntas rápidas de Jeanine. Dia muito, muito, muito estranho.

 

**

 

- Ludmille, o que você está fazendo? – minha mãe berrou – Venha já cuidar do Henry! Você ainda nem pegou nesse garoto hoje!

 

- Mãe, eu estou no banheiro!

 

- Você está nesse banheiro há DUAS horas, Ludmille Williams!

 

- Eu to lavando o cabelo, mãe! – berrei – Eu não sou babá do Henry!

 

Liguei o chuveiro outra vez e minha mãe se calou – Ou talvez eu não ouvisse seus gritos por causa da água. Eu tive o dia mais esquisito da minha vida desde que eu vim pro Tenessee. Gretchen Gardiner agiu como se eu fosse sua amiga de infância contra a vontade dos amigos dela. Quando a água tirou os últimos vestígios de sabonete do meu corpo, saí do banheiro e vesti outra regata – desta vez preta – jeans retos e escuros, meus inseparáveis tênis all star e meu casaco.

 

Troquei a água do Mouche e pus comida na tigela dele. Dei um beijo na testa do Henry que estava assistindo ao Barney na televisão.

 

- Você devia fazer algo mais construtivo como brincar com carrinhos. Televisão queima os neurônios e eu já vi na internet que esse dinossauro roxo tem um pacto com o capeta. – falei. Henry riu pra mim e eu gritei por cima do ombro: - Estou indo trabalhar, vó!

 

Levei o lixo pra fora enquanto corria com o skate, antes que alguém me pedisse pra ficar por qualquer outro motivo. No trabalho vai ser tudo normal. Eu espero.

 

Não vejo por que não seria. Tudo o que eu tenho que fazer é passar o dia atrás de um balcão atendendo alguns clientes de vez em quando. Além de mim tem a Jessica Higurashi – uma japonesa delicada e simpática - e a Wanessa Davis – Uma garota negra. Eu não preciso dizer que eu morro de inveja daquela pele cor de chocolate, preciso?  E próprio Sr. Watson, é claro. Eu acho que a Higurashi não vai me tratar com sua amiga de infância como a Gretchen fez. E acho que a Davis também não.

 

É, no trabalho não vai acontecer nenhuma tragédia, pensei. Ah, como eu estava enganada!


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Notas finais do capítulo

E esse foi o primeiro capitulo. Ficou bem ruinzinho. O Segundo ta melhor, eu JURO" O terceiro BEM melhor... Enfim, acho que vcs entenderam que a fic vai melhorando gradualmente. Nha, esperem pelo menos ate o capitulo quatro pra me xingar por fazer voces perderem o tempo, ta bem? Deixem review, pra criticar ou elogiar sao muito bem-vindos.