Inesperado escrita por Rocker


Capítulo 25
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado a Maleficient, pela lindo recomendação, obrigada, fofa! ♥ Qualquer coisa que eu tiver que falar sobre o final, direi no bônus... Mas acho que vão gostar da surpresa desse capítulo! ;)



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Capítulo 24 - Fim

– Então é isso, não é? - perguntou Selena, apoiada na parte intacta da parede de uma ruína na Ilha de Ramandu, onde a estrela Lilliandil havia-lhes mostrado a Ilha Negra.

Agora, nessa ocasião, Selena observava a ilha que a partir dali teria vida. Olhava para a ilha, evitando olhar para o moreno às suas costas.

– Parece que sim. - respondeu Edmundo, desviando o olhar para uma árvore que farfalhava ao vento.

Ele não queria que houvesse aquele clima estranho. De jeito nenhum! Ambos sentiam que o momento da despedida estava próximo e ele queria aproveitar o resto de seu tempo em Nárnia junto com ela. Era errado, por acaso? Era errado querer passar os últimos minutos que tinha junto com a pessoa que ele mais ama nesse mundo?! Claro, ele entendia a dor que ele sentia pela despedida estar se aproximando, pois era a mesma que sentia. Mas ambos davam-se conta de que não seria fácil quando chegasse a hora. Ambos sabiam, e concordaram em criar as lembranças necessárias para amenizar a dor. Mas não pensariam que a dor, ainda assim, seriam tão intensa.

E Edmundo queria, de algum jeito, estender o momento entre eles. E fora o que tantara fazer desde que souberam que estavam próximos do País de Aslam.

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~*~ FLASHBACK ON ~*~

Edmundo se separou de Lena, a contra-gosto, e se virou para Caspian, que tinha uma mão apertando confortavelmente o ombro de Lúcia e um sorriso aliviado no rosto.

– Conseguimos. - disse Lúcia, visivelmente feliz e extasiada. - Eu sabia.

Selena riu, envolvendo a cintura de Edmundo com um braço enquanto ele a abraçava pelos ombros. - Modéstia à parte, Lu.

Lúcia revirou os olhos, mas não tirou o sorriso do rosto.

– Você não vai estragar minha felicidade, Lena! - brincou ela.

– Claro que não! - exclamou Selena, aproximando-se com Edmundo. - Afinal, parece que eu também previ isso!

– Mas não fomos só nós. - disse Edmundo, trocando um olhar cúmplice com as duas meninas.

– Tá falando do...? - começou Caspian, procurando raciocinar o que se passava na mente do amigo.

– Ei, Lúcia! - eles ouviram uma voz. - Ei, pessoal, eu estou aqui na água. Lúcia! Eu estou na água!

E conheciam aquela voz. Correram os quatro até a borda do navio, e viram um garoto na água, tentando nadar até onde estavam. Era Eustáquio! Ele voltara a ser um menino!

– Eustáquio?! - exclamou Lúcia, surpresa ao vê-lo.

– Eu voltei a ser um menino! - comemorava ele, batendo os braços na água cristalina para se manter sobre a superfície. - Eu sou um menino!

– Caspian, tire-o da água antes que ele se resfrie. - pediu Selena, sorrindo também ao vê-lo.

– Eustáquio! - gritou uma outra voz, antes que o rei pudesse reagir, e o ratinho Ripchip apareceu sobre a beirada quebrada do barco. - Suas asas foram aparadas!

E, com um pulo majestoso e animado, ele foi à água, comemorando com o garoto que tinha um sorriso quase rasgando-lhe os lábios.

– "Onde o céu e o mar se juntam

Doces ondas lá espumam"

Cantarolava o ratinho, com as risadas de Eustáquio como música de fundo. Em um ato que fez o menino franzir o cenho confuso, Ripchip parou de cantar a música, abriu a patinha em concha e bebeu da água do mar cristalino que o envolvia. E, uma surpresa, mais agradável que pavorosa. Doce. As águas daquele mar eram doces, como dita na música que ele tanto cantarolava pelos cantos.

– É doce! - exclamou ele, sorrindo bobamente, enquanto Eustáquio bebia para comprovação. - É doce mesmo!

Risadas dos outros quatro foram ouviram, até que Ripchip chamou a atenção deles para outra coisa.

– Olhem! Olhem! - exclamou ele, subindo sobre o ombro de Eustáquio, que já se virava para onde era apontado.

Ali, bem ali ao fundo, na linha do horizonte, onde o céu azul era pintado por nuvens branquíssimas e um tom rosado que lembrava o pôr-do-sol e o mar tinha as águas mais límpidas azuladas já vistas. Ali, onde ambos os azuis se cruzavam na linha do horizonte, podia-se ver outra confirmação da música que Ripchip nunca se esquecera. Ondas. Ondas esbranquiçadas pela espuma marinha, que pareciam vir em sua direção como se pudessem engolir o mar. O tão famoso Além-Mundo, o País de Aslam.

– O País de Aslam. - disse Caspian, sereno. - Devemos estar perto.

– Bom... - comentou Edmundo sugestivamente. - Se chegamos até aqui...

Selena engoliu em seco, sentindo algo se apertando em seu peito, um mal pressentimento. Precisava adiar um pouco mais essa ida, pois tinha uma leve ideia do que isso podia significar.

– Caspian! - ela chamou, e continuou quando teve sua atenção. - Podemos deixar essas pessoas em Ramandu enquanto vamos até lá. O Peregrino está cheio e pode não aguentar com todo mundo antes de consertar.

– Tem razão. - concordou seu primo, virando-se para gritar. - Drinian! De volta à Ilha de Ramandu!

– Sim, majestade!

– Lena, o que foi? - perguntou Lúcia, preocupada com a expressão perturbada da amiga.

– Não é nada, Lu. - ela abriu um sorriso amarelo, e Lúcia e Edmundo logo percebeu que tinha alguma coisa.

~*~

Todos comemoravam à Mesa de Aslam, animados pela recente vitória, juntamente com aqueles que passaram anos adormecidos, mas foram tirados de seu encanto. Todos, menos Selena. Ela ainda não conseguia tirar o temor de sua mente e a dor de seu coração de que nunca mais veria Edmundo. Caspian havia lhe dito, há muito tempo, que os reis mais novos só viriam ainda mais uma vez a Nárnia, antes que estivessem crescidos demais para tal aventura. E que, também, eles iriam embora assim que não houvesse mais problemas. E Selena não conseguia tirar isso da cabeça desde que derrubaram a serpente marinha e o Mal da Ilha Negra fora embora definitivamente.

– Selena. - ela ouviu uma voz a despertando dos devaneios. Uma voz que raramente se dirigira a ela. Virou-se, e se deparou com Eustáquio. - Aconteceu alguma coisa, e isso está evidente pela expressão no seu rosto.

Selena torceu a boca numa careta desgostosa. Por quê ela não podia fingir ser normal ao menos uma vez na vida e se divertir com aqueles que comemoravam a vitória?

– Sinto muito, Eustáquio, mas não consigo mais. - ela disse, por fim, deixando seu copo nas mãos do menino confuso e saindo por entre as árvores.

Eustáquio ainda se perguntava qual seria o problema com aquela garota quando esbarrou em Edmundo.

– Edmundo! - exclamou, surpreso.

– Por quê está com dois copos? Está gostando tanto do vinho, por acaso? - perguntou o moreno, brincando.

Eustáquio balançou a cabeça negativamente, ignorando a provocação do primo. Por mais que não tivesse conversado tanto com Selena durante aquela viagem, ele estava preocupado com a expressão sofrida e perturbada que ela apresentara depois de lhe dar o copo.

– Não, era o de Selena. Ela me entregou e disse alguma coisa como que não conseguia mais, antes de sair correndo por ali. - apontou para onde a menina passara minutos antes.

E, enquanto Edmundo corria até lá, ouviu a voz de Caspian, gritando-lhe que sairiam em poucos minutos.

~*~ FLASHBACK OFF ~*~

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– E, mesmo assim, eu ainda não estou preparada para isso. - disse Selena, apertando os lábios em uma linha fina, evitando ao máximo chorar ali.

Edmundo se aproximou aos poucos, e a girou para que pudesse ver seu rosto. Os traços delicados estavam tingidos por uma carranca dolorosa e sofrido, provavelmente espelhando a sua própria.

– E nem eu, Sel. Mas sabíamos que esse dia ia chegar. - disse ele, segurando as mãos dela entre as suas.

– Eu tinha lhe dito que podia ser doloroso... - ela disse, abrindo um sorriso amargo nos lábios.

Uma única lágrima brotou de seus olhos, e ela respirou fundo, decidida a conter um soluço que ameaçava brotar em seu peito. Edmundo soltou uma de suas mãos, que fora direto ao parapeito em busca do apoio da pedra negra, e estendeu sua mão até o rosto da menina, secando a lágrima solitária.

– Mas valeu cada segundo. - ele disse, com um sorriso sincero nos lábios.

Selena abriu a boca uma vez, mas a fechou. Abriu novamente e a fechou. Edmundo podia ver a angústia em seus olhos enquanto ela finalmente resolvia dizer.

– Quero que viva ao máximo sua vida, Eddie. - ela disse por fim, abaixando a cabeça.

Edmundo rapidamente tomou seu rosto em mãos, obrigando-a a olhá-lo.

– Por quê está dizendo isso, Sel?!

A menina respirou fundo antes de responder. - Porque seria egoísta da minha parte dizer que eu te procuraria e te castraria caso você arranjasse outra.

– M-mas... E você? Promete que também continuará sua vida?

Ela abriu outro sorriso amargo.

– Eu, Eddie? Eu nunca tive uma vida, não seria agora que ela começaria. Eu não tenho nada aqui em Nárnia, mas já tenho meus planos.

Edmundo suspirou, sabendo que nada adiantaria dizer.

– Sentirei sua falta. - ele disse, aproximando-se dela e roçando-lhe os lábios nos seus.

– Eddie. - ela chamou, de olhos fechados e com seus lábios clamando pelos dele. Quando ele lhe respondeu com um simples "hum", ela continuou. - Eu te amo.

Edmundo ficara verdadeiramente surpreso. Era a primeira vez que ela o dizia em voz alta a ele. E, sem deixar de estar feliz, ele respondeu um eu também te amo, enquanto a trazia para mais perto de si e a beijava com fervor.

~*~

Horas depois, o bote atravessava o mar de lírios que os levariam a seu destino. Edmundo e Caspian remando, Ripchip, Selena, Eustáquio e Lúcia. Conversavam para passar o tempo, evitando que o assunto chegasse às lágrimas que Selena e Edmundo derramavam quando voltaram a se juntar a eles. Ou o motivo delas. Todos já pareciam saber, e não havia necessidade de dizer nada sobre isso.

– E como foi? - perguntou Edmundo, evitando que o silêncio preenchesse o bote. - Quando Aslam transformou você?

– Por mais que eu tentasse, não estava conseguindo sozinho. - admitiu Eustáquio, enquanto Ripchip se apoiava na ponta do bote, observando seu destino. - Daí ele se aproximou de mim. Doeu um pouco, mas foi uma dor boa. Tipo... Quando você tira um espinho do pé. - ele deu de ombros. - Ser dragão não foi nada mal. Eu acho que fui um dragão melhor do que menino mesmo. Desculpe ter sido tão chato.

Selena sorriu, colocando a mão sobre seu ombro em um gesto de simpatia.

– Tudo bem, Eustáquio. Você foi um dragão bem legal.

Todos riram, mas logo foram interrompidos pelas palavras do ratinho.

– Meus amigos. Nós chegamos.

E todos se viraram para ver a grandeza do espetáculo. O mar de lírios acabou-se pouco antes de encontrarem a areia da praia. Ondas gigantescas cruzavam o ar pouco depois. Podiam-se ver altas montanhas por trás da espuma branca e um canto de pássaro também podia-se ser ouvido. Ripchip foi o primeiro a desembarcar, e os outros desceram logo atrás, admirados. Andaram lado a lado, suas sombras os seguindo-o. Até que uma outra sombra surgiu um pouco atrás daquelas. A sombra de leão. Eustáquio olhou em volta, admirando tudo ali, e deparou-se com um leão se aproximando.

– Aslam! - ele murmurou, chamando a atenção de todos.

Seguiram seu olhar, e pararam de andar ao ver o majestoso leão ainda se aproximando.

– Bem vindas crianças. - disse ele, parando em frente a eles. - Agiram muito bem. Muito bem mesmo. Estão bem longe. E agora, a jornada acabou.

Lúcia e Edmundo se entreolharam, e Selena não teve coragem de fazê-lo. Ainda sentia seu coração se apertando e não tinha a menor ideia de como reverter aquela situação.

– Estamos no seu país? - perguntou Lúcia.

– Não. Meu país fica para lá. - ele meneou a cabeça, indicando as ondas que quebravam para trás. Ou o que estava por trás delas.

Caspian seguiu seu olhar, engolindo em seco.

– O meu pai está em seu país?

– Só pode descobrir isso por si mesmo, meu filho. - Caspian olhou mais uma vez para as ondas, ainda hesitante. - Mas fique sabendo: se prosseguir, não há retorno.- avisou Aslam.

Caspian se aproximou das ondas sob o olhar atento dos amigos, e tocou na água, que se dividiu levemente sob seus dedos. Hesitou, pensou, e decidiu. Não haveria honra em desistir de tudo o que batalhou para conseguir. Recolheu a mão, e se virou com a cabeça baixa e um brilho embaçado nos olhos.

– Você não vai? - perguntou Edmundo.

– Meu pai não iria ficar orgulhoso de mim vendo eu desistir do que ele morreu para conseguir. - respondeu Caspian, e Selena o olhou com orgulho e admiração. - Passei tempo demais querendo o que foi tirado de mim e não o que recebi. Eu ganhei um reino, um povo. - e virou-se para o leão. - Eu prometo ser um rei melhor.

– Já está sendo. - garantiu Aslam, antes de se virar para os outros. Selena engoliu em seco, sabendo o que viria a seguir. - Crianças...

Lúcia abriu um sorriso singelo, até ouvir as palavras do irmão, às quais chegou a ela com incredulidade.

– Já está mesmo na hora de voltarmos, Lúcia.

Selena apertou os lábios numa linha fina, e abaixou a cabeça, tentando superar o turbilhão de emoções em seu peito. Não era somente por Edmundo. Havia Lúcia, que se tornara sua melhor amiga, e até por Eustáquio ela pegara certa simpatia. Seria difícil se separar deles agora.

– Mas você adora isso aqui. - disse Lúcia, incrédula.

– Adoro. - ele confessou, sentindo dificuldade em dizer tais palavras. - Mas adoro nossa casa. E nossa família.

Lúcia se calou, refletindo sobre suas palavras. De certa forma, ela sabia que Edmundo tinha razão. Não poderia abandonar sua casa e sua família. O que Pedro e Susana diriam se ela desistisse agora e decidisse por ficar? Mas também não haviam só eles do outro lado. Tinha Caspian e Selena ali. Como ficaria sem nunca mais vê-los? E ela sabia que Edmundo também ficaria muito bem quando voltassem. Ele não seria o mesmo longe de Selena.

– Precisam de nós. - insistiu o moreno.

– Selena também precisa. - murmurou a menina, olhando para amiga que já tinha lágrimas escorrendo pelas bochechas.

– Eminência... - interrompeu Ripchip, dando alguns passos à frente e fazendo uma reverência a Aslam, segurando a pena que tinha costume de ficar atrás de sua orelha. - Desde a mais tenra idade, eu sonhei em ver o seu país. Eu vivi grandes aventuras neste mundo e nada, aplacou essa vontade. Eu sei que posso não ser digno, mas com sua permissão, eu deixaria de lado a minha espada pelo prazer de poder ver o seu país com meus próprios olhos.

– Meu país foi feito para corações nobres como o seu. Sejam eles grandes ou pequenos.

– Majestade. - exultou o ratinho, com um sorriso que mal cabia em seu rosto.

– Ninguém seria mais merecedor. - disse Caspian, quando Ripchip se virou para ele.

– Grato. - murmurou o rato de volta.

– É verdade. - concordou Edmundo, abaixando a cabeça em sinal de respeito.

Ripchip o reverenciou e se virou para Lúcia.

Lúcia parecia prestes a chorar. Aproximou-se do ratinho e se ajoelhou à sua frente, esforçando-se para segurar as lágrimas.

– Posso? - ela perguntou, levemente acanhada.

E Ripchip sabia bem o que ela queria dizer. Nunca ninguém havia feito isso, mas talvez pudesse abrir uma exceção desta vez.

– É... Acho que é a hora. - ela o pegou nos braços, e ele avisou. - Só dessa vez!

Lúcia fungou, abraçando mais o rato que logo cedeu e a abraçou de volta como podia. Ela o colocou no chão, mas Selena foi logo o pegando novamente.

– Epa! - exclamou o rato, esforçando-se para se equilibrar entre os braços levemente trêmulos de Selena.

– Ela pode, eu também posso! - disse ela, colocando-o novamente no chão.

O ratinho se virou para o último amigo, Eustáquio, que se aproximou e se ajoelhou à sua frente. Eustáquio, diferente das meninas, já não impedia que as lágrimas fossem derramadas. E era fácil de entender seu lado. Ripchip fora o primeiro a deixar seu orgulho de lado para ajudá-lo enquanto ainda era um dragão. O rato fora o primeiro a consolá-lo, e ficara ao seu lado todo o tempo. Fora seu primeiro amigo verdadeiro.

– Não chore. - pediu Ripchip.

– Eu não entendo. Eu não mais ver você? Nunca mais?

Selena e Edmundo trocaram um olhar, mas logo o desviaram. A dor era demais.

– Que surpreendente enigma você é. E um verdadeiro herói. - disse o rato. - Foi uma honra ter lutado ao seu lado. E um ótimo amigo.

Ele abaixou a cabeça em sinal de respeito, e Eustáquio se levantou.

– Senhor. - Selena pediu, direcionando-se a Aslam. - Queria permissão para ir com Ripchip.

Edmundo arregalou os olhos e deu um passo impulso à frente. Não pensou que esses seriam os planos dela para quando ele fosse embora. Mas agora nada poderia fazer e não teria um bom motivo para convencê-la a continuar em Nárnia. Afinal, ele mesmo estava prestes a ir também.

– Será bem vinda - respondeu Aslam. -, mas sua missão ainda é outra.

– Mi-missão?! - ela perguntou, gaguejando.

Aslam assentiu, e virou-se para o ratinho, que fez uma última reverência a todos e correu até as ondas.

– Eu não preciso mais disso. - disse Ripchip, confiante, cravando a espada na areia próximo à água.

Pegou um pequeno bote deixado ao lado, e subiu nas ondas, remando. Aos poucos, ele já não mais podia ser visto. E um dos grandes vazios se formou nos corações dos que ficaram. Nunca era fácil se despedir de um amigo.

– É a nossa última vez aqui, não é? - perguntou Lúcia a Aslam.

– É. Vocês cresceram minha querida, assim como Pedro e Susana.

Lúcia aproximou-se, e estendeu a mão para acariciar a juba de Aslam. - Vai nos visitar em nosso mundo?

– Vou estar de olho em vocês sempre.

Lúcia levou o cabelo para trás da orelha. - Como?

– Em seu mundo, eu tenho outro nome. Devem me reconhecer nele. Foi por isso que foram trazidos a Nárnia. Tendo me conhecido um pouco aqui, podem me reconhecer lá.

– Vamos voltar a nos ver? - ela perguntou num último fio de esperança.

– Hum... - Aslam pensou por um momento, cuidando para não dizer mais que o necessário. - Vamos, querida. Um dia.

A menina afastou-se quando o leão virou e rugiu para as ondas, que se abriram em um círculo no meio que não podia se ver o fim.

– Vocês e Lena são a única família que eu tenho. - disse Caspian, se aproximando. - Inclusive você Eustáquio. - ele disse sorrindo e colocando uma mão no ombro dele.

O menino sorriu sincero.

– Obrigado. - ele murmurou.

Caspian abraçou Edmundo. Logo após abraçou Lúcia e Eustáquio. Enquanto isso, Edmundo se preparava para despedir de Selena, quando foi impedido.

– Sem despedidas ainda. - disse Aslam, chamando a atenção de todos. - Selena ainda tem uma escolha a se fazer.

Selena e Edmundo trocaram um olhar confuso, até ela se virar para o leão.

– Você, como sempre dizia, não tem nada nesse mundo. - continuou Aslam. - Por isso, lhe dou o benefício da escolha. Pode ficar ao lado de Caspian, atravessar as ondas e se encontrar com Ripchip, ou seguir.

– Seguir? - perguntou ela, confusa.

– Seguir com estes três. Mas saiba que também não há retorno.

O coração dela parou. Pela primeira vez, ela não sabia raciocinar rapidamente diante de uma situação. Três opções, e em cada uma delas perderia alguma coisa, contrariando tudo o que ela vinha sentindo até então. Sim, ela tinha Caspian a perder. Edmundo, ao ver a dúvida e a insegurança nos olhos da menina, estava prestes a dizer-lhe que não podia lhe pedir para ir com ele, quando Caspian se pronunciou primeiramente.

– Vá. - disse ele, sorrindo para a prima.

– O quê?! - ela perguntou, incrédula com a confiança dele em ficar sozinho.

– Vá com eles. Eu sei que é o que você realmente quer.

Selena chorou. Pulou nos braços do primo, abraçando-o fortemente. Pela última vez.

– Eu nunca pediria para que você ficasse enquanto seu coração estivesse em outro mundo. - ele sussurrou ao seu ouvido, enquanto acariciava levemente os seus cabelos, fazendo-a chorar mais.

– Então prometa que vai atrás daquela estrela. - ela sussurrou de volta.

Caspian riu. - Prometo.

Quando finalmente se separaram, Selena se aproximou dos outros três, e entrelaçou sua mão à de Edmundo, que tinha os olhos brilhando de felicidade e excitação.

– Eu vou. - ela disse, por fim, a Aslam.

– Sabe que enfrentará muitas dificuldades em um outro mundo, não sabe? - perguntou o leão.

Selena assentiu. - Mas vou superar os obstáculos.

Aslam assentiu, e os quatro foram para as ondas.

– Eu vou voltar? - perguntou Eustáquio ao leão, hesitante.

– Nárnia ainda pode precisar de você.

Ele assentiu, e voltou com os três para dentro das ondas. Olharam uma última vez para o rei e o leão, até que a água preencheu o espaço onde estavam. A água os preencheu por inteiro, e Selena apertou a mão de Edmundo, garantindo-se que ele estava realmente ali. Respiravam bem ali na água, mas logo a luz acima deles os atraíram e, assim que os quatro emergiram, perceberam estar em um lugar menor, com móveis brancos. Edmundo segurou-se na barra de ferro da cama e se sentou, enquanto a água abaixava e puxava Selena para perto, garantindo que ela esta ali ainda.

Ele passou a mão pelo cabelo, assim que a água se fora, e percebeu que estava seco. Lúcia, ao chão junto com Eustáquio, fizera o mesmo movimento e percebeu o mesmo vestido azul de antes. Selena, sentada sobre o colo de Edmundo, olhando atônita ao redor, tinha um vestido roxo semelhante ao de Lúcia, e estranhava-se com tal roupa depois de tempos usando as roupas de marinheiro de seu primo.

Edmundo, sem conseguir se conter, apertou os braços ao redor da cintura de Selena e a beijou na bochecha. Eustáquio sorriu ao ver que a menina realmente havia ido para seu mundo. A água retornava ao quadro, que se encontrava ao lado dele.

– Eustáquio? Eustáquio! O que está fazendo aí em cima? A Jill Pole veio ver você!– gritou uma mulher do andar de baixo da casa, fazendo Selena se assustar e Eustáquio sorrir sem graça.

Viraram-se a tempo de ver o resto da água retornando ao quadro. Eustáquio se levantou com o quadro em mãos, e voltou com ele ao seu devido lugar. Selena e Lúcia se levantaram e Edmundo foi em direção à porta, encorajando Selena com um sorriso. Ela sorriu fracamente, e os acompanhou para fora. Hesitou juntamente com Lúcia, enquanto esta fechava a porta e tinha uma última visão do Peregrino da Alvorada retornando para sua casa.


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