Inesperado escrita por Rocker


Capítulo 20
Capítulo 19




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/446436/chapter/20

Capítulo 19

– Viajantes de Nárnia, bem-vindos! - exclamou a mulher e todos se curvaram, admirados por tal beleza. - Levantem-se. Não estão com fome?

– Quem é você? - perguntou Edmundo, com os olhos arregalados e levemente entorpecido.

Selena nada disse. Sentiu algo queimando em seu peito ao ver o deslumbramento quase automático de Edmundo quanto àquela mulher. Aquilo seria ciúmes? Talvez, mas Selena continha-se, sabendo que boa parte daquilo era algum tipo de encanto de atração. Afinal, ela mesma se sentia admirada com a beleza singela da mulher à sua frente.

– Eu sou Liliandil, filha de Ramandu. - disse a mulher, aproximando-se de Edmundo pelo outro lado da mesa. - Sou a guia de vocês. - completou, com um sorriso no rosto.

Caspian e Edmundo trocaram olhares rápidos, mas voltaram a olhar para a mulher, abobalhadamente encantados. Selena, então, percebeu algo mudando em seu interior. A raiva espumante simplesmente transbordou em seu interior a ponto de amenizar qualquer coisa. Ela estava entorpecida de qualquer coisa, qualquer sentimento. Ela estava... Indiferente. Como se não se importasse com nada. O que ela não sabia, porém, era que isso era outro truque da névoa verde. A névoa vinha lutando contra ela, procurando implantar algum medo ou simplesmente enlouquecê-la a cada vez que ela afirmada que não tinha nada. Agora, a névoa finalmente concedeu esse "nada". Selena agora, não sentia nada.

– Você é a estrela? - perguntou Caspian, alheio a qualquer coisa que não seja aquela mulher.

Ela assentiu, enquanto os dois reis continuavam se aproximando em passos lentos. Lúcia olhou de relance para Selena, desconfiada por ela ainda não ter dado qualquer sinal de ciúmes, que ela mesma já teria dado se fosse a amiga. Ela reparou que os olhos de Selena tomaram uma coloração verde nebulosa, completamente diferente do verde folhagem que pegava naturalmente quando ficava diretamente ao sol. Lúcia reparou, mas a informação não chegou na velocidade necessária à sua mente.

– Você é muito linda. - sussurrou Caspian.

– Se for uma distração para você, eu posso mudar de forma. - disse Liliandil, timidamente desesperada.

– Não! - Edmundo e Caspian exclamaram em uníssono.

Edmundo pareceu acordar do transe e um silêncio desconfortável para ambas as partes se seguiu.

Até que Liliandil o interrompeu, dirigindo-se a alguém que não lhe dirigiu a palavra ainda.

– Não devia se sentir intimidada ou ofendida? - perguntou a Selena, com o cenho franzido e um olhar desconfiado.

– Eu? - perguntou Selena, com um olhar vazio e o tom de voz indiferente.

– Sim. - disse Liliandil. - Era o comum para uma garota cujo o namorado se distraiu com outra. Ou até mesmo o primo.

Selena olhou para Edmundo e Caspian. Ela estava sendo controlada pela força da loucura da névoa, sentia como se os pensamentos e ações de seu corpo não fossem seus. Como se... Estivesse presa em seu próprio corpo, gritando desesperadamente por liberdade.

– Eu não. - ela disse, mesmo não sendo o que queria dizer. - Deixo esses babões por sua conta.

E ela virou-se, e saiu andando por entre as árvores.

– O que há com ela? - perguntou Caspian para ninguém em especial, observando o lugar por onde Selena saiu.

– Um feitiço. - respondeu Liliandil, chamando a atenção deles. - Um feitiço poderoso que só pode ser quebrado por algo poderoso.

– O que quer dizer? - perguntou Edmundo, finalmente liberto de tal encanto da estrela azul.

– Os olhos dela. - disse Lúcia, ofegando ao perceber que deixara um detalhe passar. - Os olhos dela estavam verdes.

– Mas os olhos dela são verdes. - comentou Caspian, franzindo o cenho em confusão.

– Não, não são. - disse Edmundo, finalmente entendendo aonde a irmã queria chegar. - São só verdes no sol, e estamos no meio da noite.

– Isso quer dizer que... - começou Caspian, mas foi interrompido.

– A loucura finalmente chegou à mente daquela garota. - disse Liliandil, antecipando um grito vindo do meio da floresta.

~*~

Selena corria pela vegetação montanhosa, lutando pelo controle do próprio corpo. Era difícil, e exigia um esforço sobre-humano, tanto físico, quanto mental. E será que ela conseguiria? Provavelmente não. Desta vez, a loucura vinha realmente com sua força total. Seria tão, mas tão mais fácil simplesmente sucumbir àquilo!

NÃO!

Selena não poderia fazer isso. Ela não tinha o que perder, mas se ela desistisse, outras pessoas a perderiam. Caspian, Edmundo, Lúcia... O rosto deles foram passando como flash em sua mente, dando-lhe mais forças para resistir ao que quer estivesse tentando tomar o controle de sua mente. Puxa, o que seria deles se ela simplesmente desistisse de tudo, desistisse da vida? Ela poderia fazer isso consigo mesma, sempre fez. Mas não com eles. Eles contavam com ela. A apoiavam, a ajudavam. A amavam. E não podia decepcioná-los.

Não podia.

E não iria.

Selena abriu os olhos. Abriu seus próprios olhos castanhos-esverdeados, agora sem qualquer indício da loucura causada pela névoa. Selena agora era ela mesma, depois de todo o esforço para manter sua mente intacta, mantê-la sã. Mas talvez não por muito tempo. Aos poucos, a névoa que ela jurara ter saído de seu corpo estava se acumulando no chão à sua frente. Ou ao menos era o que ela pensava, pois ainda restara um pouco da loucura causada pela névoa verde. A névoa foi se acumulando à sua frente, formando uma miragem. Vozes, alucinações, premonições, tudo cruzou Selena naquele mísero segundo em que ela via a imagem de seu pai segurando a espada se formando.

Você é uma decepção para qualquer um.– disse a miragem verde, antes atingir-lhe o coração com a espada.

~*~

Edmundo chegou onde Selena estava poucos segundos depois da névoa verde se dispersar completamente. Ela se encontrada de joelhos nas folhas rececadas, com as duas mãos sobre o peito e a pedra negra entre os dedos, como se ali houvesse um ferimento grave e precisasse estancar o sangue. O que, de acordo com a mente dela, que ia desanuviando aos poucos, realmente acontecia. Edmundo, com o coração em mãos ao vê-la tão fragilizada, correu até a menina, envolvendo-a rapidamente em seus braços reconfortantes.

– Selena! Selena! - ela a chamava incessantemente.

Selena, ao ouvir a voz de Edmundo, abriu os olhos; dessa vez, definitivamente. Afastou a mão de seu peito e percebeu que não havia nada ali. Olhou em volta, percebendo que estava sobre o colo do moreno e Caspian, Lúcia e Liliandil vinham logo ao longe, percebeu que tudo não passava de uma alucinação. Uma alucinação!

– Sel, você está bem? - Edmundo perguntou, histérico e preocupado.

Selena então perdeu todo o controle sobre seu emocional. Jogou-se definitivamente nos braços do moreno, que após um segundo de surpresa logo a envolveu novamente, e chorou quase compulsivamente durante alguns minutos.

– Foi horrível, Eddie, horrível!

– Está tudo bem. - ele disse gentilmente, acariciando os cabelos dela, enquanto Selena, aos poucos, relaxava em seus braços. - Eu estou aqui, você vai ficar.

Por mais que ela soubesse que nem sempre seria assim, ela se sentiu feliz e reconfortada. E finalmente parou de chorar.

~*~

– Sirvam-se! - disse Liliandil, quando ela e os outro voltaram para a mesa.

Selena não mais saia do lado de Edmundo, temerosa de que podia ser pega novamente pela pela loucura causada pela névoa verde. E Edmundo também preferia assim, talvez fosse mais fácil de protegê-la do que quer que quisesse fazer-lhe mal.

– Espere! - disse Edmundo, fazendo com que os marinheiros parassem no meio do ato de pegar alguma comida. - O que aconteceu com eles? - ela perguntou, apontando para os três lordes.

– Esses pobres homens estavam quase loucos quando chegaram ao litoral. - explicou Liliandil. - Estavam ameaçando ser violentos entre si. Violência é proibida na mesa de Aslam. Então foram postos para dormir.

– Eles ainda vão acordar? - perguntou Lúcia, preocupada.

– Quando tudo de acertar. - respondeu a estrela. - Rápido! O tempo é curto.

Ela se virou na direção da trilha que os levou até ali, mas seguiu por um caminho lateral. Caspian a seguiu e Lúcia foi logo atrás. Edmundo queria insistir para que Selena ficasse e comesse alguma coisa, mas depois do episódio de minutos atrás, ele não correria o risco de deixá-la sozinha. Chegaram todos os cinco finalmente à lateral montanhosa, onde havia metade de uma parede, uma metade que não tinha ido abaixo.

– O mago Coriakin - dizia Liliandil. - lhes falou da Ilha Negra?

– Falou. - concordou Caspian, enquanto todos se uniam ao seu lado para observar a assustadora visão que tinham ao longe.

A Ilha Negra era mais assustadora ao vivo. Nuvens negras e escuras, mescladas pela névoa verde, cercavam toda a ilha que parecia ser consumida em escuridão.

– Em breve o Mal será irreversível. - disse Liliandil.

– Coriakin disse que para quebrar o feitiço só era preciso pousar as sete espadas na Mesa de Aslam. - disse Caspian.

– Ele disse a verdade. - a estrela assentiu, olhando para o rei.

– Nós só achamos seis. - interrompeu Edmundo, tendo seu rosto iluminado pela luz de Liliandil. - Sabe onde a sétima está?

– Lá dentro.

A estrela apontou para a Ilha Negra.

– Vão precisar de muita coragem. - ela disse, virando-se para eles. - Não percam mais tempo.

– Espero vê-la de novo. - disse Caspian, e Selena percebeu o quão abobalhado ele estava.

– Adeus. - Liliandil disse, sorrindo para eles.

O brilho azul em seu corpo intensificou, e logo ela sumiu novamente para os céus, onde é o lugar perfeito para uma estrela.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!