Blood Slaves escrita por Jéssica Aurich


Capítulo 8
Port Angeles


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 8 o/



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Como Alice não ia mais e Gladis não é exatamente o melhor meio de transporte, Jessica ofereceu o carro dela. Assim partimos ás 16 horas para Port Angeles, ouvindo músicas de Rock melosas. Aquela viajem seria esquisita. Eu iria comprar um vestido para ir ao baile com um assassino de quem eu estava fugindo. Eu nem tinha mais certeza de que iria, mas sair de Forks seria bom.

Jessica começou a tagarelar sobre garotos. Aparentemente ela e Mike tinham começado a sair, o que a deixou de super bom humor. A cidade era uma armadilha para turistas, mas as duas conheciam bem, então fomos direto para a melhor loja de vestidos.

As meninas trocavam de vestido toda hora, sem decidir por um. Eu não tinha tanta paciência, então procurei pela loja um que chamasse minha atenção. Fui recompensada com o melhor. Era de um ombro só, longo, azul escuro e cheio de pedrinhas da mesma cor, com um decote nas costas e uma fenda na perna.

Jessica encontrou um preto de alcinhas finas até o joelho e Ângela escolheu um longo rosa que modelava o corpo. Depois fomos em busca de sapatos que combinassem, o que demorou um pouco menos. Tenho que admitir, era bom sair com as garotas para fazer compras de vez em quando.

Nós planejávamos jantar em um restaurante italiano ali perto, mas as compras não demoraram tanto quanto planejávamos. Jess e Ângela foram colocar as compras no carro e depois iam descer à baia. Eu disse que as encontraria no restaurante em uma hora — eu queria encontrar uma livraria. Elas duas queriam vir comigo, mas as encorajei a irem se divertir. Elas não sabiam o quanto eu podia ficar ocupada quando estava cercada de livros; era algo que preferia fazer sozinha. Elas foram para o carro conversando alegremente, enquanto eu fui para a direção que Jess apontou.

Não demorei a encontrar a livraria, mas não era exatamente aquilo que eu estava procurando. Na vitrine da loja havia vários cristais e apanhadores de sonho, e lá dentro uma senhora se apoiava no balcão. Preferi procurar uma livraria mais normal.

Saí então vagando pelas ruas da cidade, que estavam lotadas com o trânsito do fim de um dia de trabalho. Não prestei tanta atenção para onde eu estava indo quanto deveria. Para variar, estava perdida em pensamentos. O que eu tinha descoberto... Era demais. E tudo só ficou mais estranho quando vi Edward. O medo que eu sentia... e a vontade de saber mais.

Na outra rua havia algumas vitrines, então segui por ali, porém não tive muita sorte. Eram apenas lojas de reparos e espaços vazios. Eu ainda tinha muito tempo antes de ter que encontrar Ângela e Jessica e definitivamente precisava melhorar meu humor antes de encontra-las. Passei a mão pelos meus cabelos e respirei fundo algumas vezes antes de virar a esquina.

Eu percebi enquanto cruzava outra rua que estava indo na direção errada. O pouco trânsito estava se dirigindo a norte e a maioria dos prédios por ali eram depósitos. Decidi virar a leste. Um grupo de homens entrou na rua que eu ia entrar, vestidos casualmente demais para estarem vindo do trabalho.

Enquanto se aproximavam de mim, percebi que não eram muito mais velhos que eu. Estavam fazendo piadas uns com os outros em voz alta, rindo estridentemente e esmurrando o braço uns dos outros. Eu me mantive tão longe quanto a calçada permitia para dar espaço a eles, caminhando bem rápido, de olho na esquina.

— Ei você! — um deles gritou. Não tinha mais ninguém por perto além de mim. Acelerei, tentando alcançar a calçada mais rapidamente. Podia ouvi-los rindo atrás de mim.

— Espere! — outro gritou. Abaixei a cabeça e virei a esquina. Ainda podia ouvi-los me seguindo.

Eu me vi em uma calçada que levava para os fundos de vários armazéns, cada um deles com portas enormes para os caminhões que viessem descarregar, todos fechados porque estava anoitecendo. Um vento frio arrepiou meus braços, lembrando-me de que havia esquecido a jaqueta no carro.

A rua deserta, a noite chegando, um grupo de homens me seguia e eu não fazia ideia de para onde ir.

Apressei meu passo para tentar alcançar a próxima rua, a respiração acelerada. Minha bolsa estava cruzada sobre meu corpo e o spray de pimenta dentro. Peguei e apertei em minhas mãos, já esperando o pior.

Escutei o passo deles atrás de mim, acelerando conforme eu o fazia. Comecei a correr.

Quando virei a rua quase chorei de desespero. A maldita da rua não tinha saída. Dei a meia volta, esperando que desse tempo de sair, mas eles tinham fechado a rua.

Eu estava encurralada.

Todo aquele tempo preocupada com vampiros e acabei esquecendo que existem monstros piores vagando pela Terra.

Meu coração parecia que ia escapar do peito, meu corpo todo tremia.

Um homem moreno tomou a frente, vindo em minha direção. Fui me afastando de costas até bater de encontro à parede. Quando estava a um passo de distância, espremi o spray bem em seus olhos e saí correndo. Não virei para ver se tinha funcionado, mas por seu grito, imaginei que sim.

Um segundo e um terceiro correram para me interceptar. Espremi o spray em um, metendo um chute em suas áreas baixas ao mesmo tempo, mas o outro conseguiu me segurar.

Gritei o mais alto que podia, antes que o brutamonte tapasse minha boca, tentei morder sua mão, espernear e de nada adiantou.

Os dois caras que estavam bem começaram tentar tirar minhas roupas e acabaram rasgando minha blusa. Era isso. Iria morrer ali, em um beco escuro, estuprada por vários homens. Seria apenas mais um nome em um jornal.

Lágrimas caiam pelo meu rosto. Depois de tudo o que passei... Era tão injusto!

Estava tão perturbada que não o vi chegando. Foi apenas um vulto, rápido e eficaz. O moreno foi jogado contra uma parede, que rachou com o impacto. O amigo dele foi à mesma direção. O loiro foi jogado no chão e suas costelas foram quebradas com um chute. Tenho certeza dessa parte, pois deu para ouvir o barulho (não me pergunte como). Um quarto foi jogado longe com um soco e o último foi preso à parede pelo pescoço. Acabou desmaiando pela falta de ar.

Enxerguei tudo àquilo entre lágrimas e soluços. Meu corpo todo tremia. Edward veio em minha direção e me pegou no colo como quem pega um bebê. Ficou me abraçando forte, embalando, e repetindo entredentes que tudo ia ficar bem. Mal percebi quando ele me colocou em seu carro. Estava tudo escuro lá dentro. Edward passou o cinto ao meu redor e acelerou para longe dali, cantando pneus.

O meu choro foi se acalentando aos poucos e ele parou em uma rua bem afastada do incidente. Sua mão gelada encostou em meu rosto, enxugando minhas lágrimas. Engraçado, senti-me mais segura ali, presa em um carro com um sanguessuga, que com minha própria espécie.

— Ei, não chore. Está tudo bem agora. Estou aqui com você. — Afastei-me do cinto e joguei-me em cima dele, abraçando-o. Pouco me importava se ele enfiasse as presas em meu pescoço, ofereceria meu sangue de bom grado.

— Eu não sei... Eu não consegui...

— Shiu, eu cheguei a tempo. — Parecia que ia dizer algo, mas desistiu. — Sabe, essa sua blusa rasgada está me dando tesão.

— Edward! — Dei um tapa fraco nele, sentindo minhas bochechas queimarem.

— Era isso que eu queria ver, sua atitude de volta. Aqui. — Ele retirou a jaqueta que estava usando e colocou sobre meus ombros. Estava fria, como se ninguém a estivesse usando, e tinha um cheiro maravilhoso de menta.

Nós sentamos em silêncio. Olhei para o relógio no painel. Já eram mais de sete horas. Olhei meu celular: várias chamadas perdidas.

— Meu Deus, Jessica e Ângela! — Dei um pulo. — Deveria ter me encontrado com elas há muito tempo.

Ele ligou o motor sem dizer outra palavra, dando a volta suavemente e correndo em direção a cidade. Nós estávamos de volta as luzes da cidade sem demora nenhuma, indo rápido demais, desviando sem dificuldade dos outros carros passando na rua. Ele parou ao lado de uma vaga que eu achei pequena demais para o Volvo, mas ele conseguiu estacionar sem dificuldade na primeira tentativa. Eu olhei pra fora pra ver as luzes do La Bella Itália, e Jess e Ângela que estavam acabando de sair, caminhando ansiosamente na direção contrária a nós.

— Como você sabia onde... — eu comecei, mas então balancei a cabeça. Ouvi a porta se abrindo e me virei pra o ver saindo.

— Para onde você tá indo? — perguntei

— Te levando pra jantar. — Ele sorriu sensualmente, mas seus olhos estavam duros. Ele saiu do carro e bateu a porta. Eu apalpei o banco e depois me apressei pra sair do carro também. Ele estava esperando por mim na calçada.

— Jess! Ângela! — chamei por elas, acenando quando se viraram. Elas voltaram correndo, o alívio aparecendo nos rostos e nas vozes das duas se transformou em surpresa quando viram quem estava ao meu lado. Elas pararam a poucos metros de distância de nós.

— Onde você esteve? — A voz de Jessica estava cheia de suspeita.

— Eu acabei me perdendo, e... Será que posso contar para vocês amanhã? Não consigo fazer isso agora. — Eu não podia reviver aquilo, nunca.

— Claro, tudo bem. — O tom de surpresa foi trocado por preocupação. Imagino que meu rosto inchado, por causa do choro, não deva ter ajudado muito.

— Estaria tudo bem se eu me juntasse a vocês? — perguntou Edward numa voz sedosa, irresistível. Eu podia ver as duas cambaleando e percebi que ele nunca havia usado os seus talentos com elas antes.

— Er... Claro — Jessica respondeu.

— Na verdade Bella, nós já comemos enquanto esperávamos você, desculpa — Ângela confessou.

— Tudo bem — eu não estou com fome. — Levantei os ombros.

— Eu acho que você devia comer alguma coisa. — A voz de Edward estava baixa, mas cheia de autoridade. Ele olhou para Jessica e falou um pouco mais alto.

— Vocês se incomodam se eu levar Bella esta noite? Assim vocês não vão precisar esperar enquanto ela come.

— Hum, sem problema, eu acho... — Ela mordeu o lábio, tentando descobrir pela minha expressão se eu queria ou não. Eu pisquei pra ela. Não havia nada que eu quisesse mais do que ficar sozinha com o meu eterno salvador. Havia tantas perguntas, mas eu não podia bombardeá-lo até que estivéssemos sozinhos.

— Ok. — Ângela foi mais rápida que Jessica. — Te vejo amanhã, Bella... Edward.

Ela agarrou a mão de Jessica e puxou ela em direção ao carro, que estava parado a apenas alguns metros dali, na Avenida principal.

Enquanto elas entravam no carro, Jess se virou e acenou, a expressão dela cheia de curiosidade. Eu acenei de volta, esperando que elas fossem embora antes de me virar para encará-lo.

O restaurante não estava lotado — não era alta estação em Port Angeles. A maitre era mulher e eu entendi a expressão no seu olhar enquanto ela assessorava Edward. Ela o recebeu um pouco mais educadamente do que era necessário. Eu fiquei surpreendida de ver o quanto isso me incomodou. Ela era vários centímetros mais alta que eu, e o louro do cabelo dela não era nem um pouco natural.

— Mesa pra dois. — A voz dele era fascinante, fosse intencional ou não.

Eu a vi olhar pra mim e afastar o olhar, obviamente feliz por eu ser tão comum. Ela nos guiou para uma mesa grande o suficiente para quatro pessoas no centro da área mais cheia do restaurante.

Estava quase me sentando, quando Edward balançou a cabeça pra mim.

— Talvez algo mais particular? — ele insistiu para a maitre. Eu não tinha certeza, mas podia jurar que o vi dar uma gorjeta na mão dela. Eu nunca tinha visto uma pessoa recusar uma mesa antes, exceto nos filmes antigos.

— Claro — ela parecia tão surpresa quanto eu estava. Ela se virou e nos guiou até umas cabines — todas vazias. — Que tal isto?

— Perfeito. — Ele deu um dos seus sorrisos encantadores, deixando ela momentaneamente deslumbrada.

— Hum. — Ela balançou a cabeça. — Seu garçom virá em um instante. — Ela foi embora descompassada.

— Você não devia fazer isso com as pessoas — eu critiquei. — Não é muito justo.

— Fazer o que? — Ele se fez de inocente.

— Deslumbrar as pessoas desse jeito — ela deve estar hiperventilado na cozinha nesse exato momento.

— Fazer o que? — Balançou os ombros. — Faz parte do que sou.

— Vampiro, quer dizer — baixei a voz.

— Não. Irresistível, mesmo.

— Há, há. — Revirei os olhos — Você é muito arrogante.

— Sou honesto. E o honesto aqui acabou de salvar seu traseiro.

— Sério, muito obrigada por aquilo — deixei as brincadeiras de lado. — Não quero nem pensar no que teria acontecido se não tivesse chagado a tempo.

— Eu fui muito misericordioso com eles. Minha vontade era de voltar lá e acabar com cada um. É por causa de sujeitos assim que não concordo com a política de Carlisle.

— Qual política? — perguntei, distraindo-me momentaneamente.

— A de só caçar animais.

Pedi licença para ir ao toilete. Só depois de me afastar dele percebi que minhas pernas ainda tremiam. No espelho encontrei todo o motivo da preocupação das meninas. Passei os dedos tentando arrumar o ninho que tinha virado meu cabelo e lavei o rosto, tentando diminuir a vermelhidão, por causa do choro. Não tive coragem de abrir o casaco. A blusa rasgada era demais para aguentar.

Quando voltei para a mesa, um pouquinho mais apresentável, a garçonete acabava de sair, com as bochechas um pouco coradas e o decote profundo demais para o meu gosto. Na mesa, duas cocas, uma na mão de Edward e outra me aguardando.

— Pensei que sua dieta se resumisse a sangue. — Irônico. Mais cedo eu não teria conseguido sequer tocar naquele assunto, mas depois do que passei...

— E se resume — disse com certo humor. — mas isso não me impede de comer comida, ou beber algo.

— E como é?

— Normal, oras. Posso sentir o sabor normalmente. Só tenho a vantagem de jamais engordar. E jamais me sentir farto.

— Que paraíso — Imagine, comer o quanto quiser sem se incomodar com quilinhos a mais. — Ei, aquele lance dos animais... Por que disse que era política de Carlisle? Jac... Minha fonte me disse que todos vocês eram assim.

— Vamos combinar algo? Prometo responder suas perguntas mais difíceis outro dia. Você acabou de passar por algo... Desagradável. Não quero te assustar ainda mais. — Aquilo atiçou minha curiosidade.

A garçonete apareceu com as nossas bebidas e uma cestinha de pães de alho. Ela ficou de costas pra mim enquanto colocava as coisas em cima da mesa.

— Vocês estão prontos para fazer o pedido? — ela perguntou a Edward.

— Bella? — Ela virou sem muita vontade na minha direção. Escolhi a primeira coisa que apareceu no cardápio.

— Umm... eu vou querer o ravióli de cogumelos.

— E você? — Ela se virou pra ele sorrindo.

— Vou querer um estrogonofe de filé, obrigada — disse, dispensando a garçonete oferecida.

— Posso te fazer uma pergunta? — Minha vez de parecer inocente.

— Claro.

— Sem querer parecer ingrata... Mas o que estava fazendo em Port Angeles?

— Também tenho meus informantes e eles me disseram que precisaria de mim.

— Precisaria, tipo no futuro?

— É. — Estava com um ar presunçoso.

— E quem seria esse informante?

— Você tem seus segredos, também tenho os meus — disse, piscando para mim.

A garçonete trouxe os pratos e comi rapidamente. Nem percebi o quanto estava com fome afinal, não tinha almoçado aquele dia. Edward estava na metade de seu prato quando terminei o meu.

— Garota com apetite, é assim que gosto. — Enrubesci com o comentário — Aqui. — Levou o garfo com um pouco de comida até minha boca, o que só me deixou mais vermelha ainda. — Isso mesmo, boa menina.

— Virei cachorro agora? — perguntei depois que mastiguei e ele riu.

— Edward?

— Hum?

— Você só não me explicou como me encontrou. Ou seu informante também sabia o local exato em que eu estava?

— Claro que não. Eu rastreei você através da mente de seus atacantes. Vi seu rosto na mente deles — O ar empolgado foi sendo substituído pela raiva. Tentei voltar para o que importava.

— Vampiros também podem ler mentes?

— Não os vampiros, o vampiro. Apenas eu. — A garçonete veio limpar a mesa e Edward a seguiu para pagar a conta.

Quando voltou, ofereceu o braço para mim. Aceitei e comecei a sair do restaurante ao seu lado.

— Já que lê mentes, me diga: o que as pessoas desse restaurante estão pensando? — Diminuímos o passo.

— Aquele senhor ali — Referiu-se ao homem perto da porta. — está pensando em como vai explicar para a esposa o porquê de ter se atrasado tanto. A mulher ao seu lado é a amante, e está pensando em quanto vai conseguir arrancar dele esta noite.

— Ui.

— A maitre que nos atendeu está pensando em com quem deixar os filhos no fim de semana. É mãe solteira e tem dois empregos.

— Que difícil.

— É. Ah, e claro, a garçonete está pensando em como que uma sem graça como você terminou com um gostoso como eu.

— Ei! — Sabia que ela era uma vadia.

— Só repassei o recado. Mas se quer minha opinião, acho que você é muito bonita também. — Novamente, minhas bochechas me traíram. Quando chegamos na porta, ele passou a mão fria em meu rosto e se aproximou, dando-me um selinho. — Pronto, uma pequena vingacinha em seu nome.

Olhei para o lado e vi que a garçonete estava nos observando. Edward seguiu na frente. Levantei minha mão, tocando os lábios.

Corri para acompanha-lo e entrei no carro depois dele. Estava frio lá dentro, mesmo com o casaco, então ele ligou o aquecedor.

— Voltando para essa história de vampiro — Ele deu um meio sorriso. — você não deveria dormir pela manhã, ao invés de ir para a escola?

— Isso é um mito. Péssimo, por sinal.

— Então vocês dormem à noite?

— Bella, alguns de nós nem mesmo dormem. — Olhou para mim de um jeito engraçado. — Não precisamos disso. Quando entramos em um estado... Vamos chamar de desacordado... Nosso corpo não descansa. Nossa mente viaja, é como sonhar, mas ao mesmo tempo estamos conscientes de tudo ao nosso redor.

— Isso não parece ser muito bom.

— E não é.

— O que mais é mito, sobre vocês? — Ele mordeu o lábio, como se estivesse pensando no assunto.

— Alhos e estacas não nos ferem, caixões são obra de uma mente distorcida, podemos sim sair à luz do sol...

— Pensei que pelo menos isso seria verdade. Não acontece nada, nada?

— Acontecer até acontece. O sol nos incomoda, atrapalha nossa sensibilidade, como a visão, e a pele até arde um pouco, mas não é nada como nos filmes, se ficarmos pouco tempo. Para os recém-nascidos é terrível, mas para os mais velhos... incomodo passageiro.

— Que sem graça. — Decepcionante.

— Admite, estava louca para me torrar.

— Talvez. Falando em tempo, quantos anos você tem? — Fiquei curiosa depois de ouvir a história de Jacob.

— Tenho 17.

— E há quanto tempo tem 17?

— Alguns séculos. — Ele olhou inocentemente para ver minha reação.

— Eca.

— Eca oque?

— Um velho me beijou. Eca, eca, eca! — Fingi que estava esfregando os lábios.

— Admite logo que amou.

— Por que não lê minha mente e descobre? — Sua expressão ficou estranha novamente, como naquela primeira vez que me viu no refeitório. — Edward?

— Se quer saber a verdade, não consigo ler sua mente.

— Não consegue... ? — E então a ficha caiu. O porquê de sua frustração. Alguém que aparentemente consegue ler a mente de todos, menos uma. — E por que não consegue?

— Não faço ideia. Acho que seu cérebro deve ter algum defeito ou algo do gênero.

— Está me chamando de esquisita? Você? A criatura sangue suga? — Ele lançou o que eu chamaria de olhar veneno para mim.

— Você está brincando com fogo. Esqueceu que você é o alimento aqui? — Minha pele se arrepiou com a brincadeira. Agradeci por ele não poder ler minha mente e por estar de casaco.

— Não acho que vá fazer nada comigo.

— Como pode ter tanta certeza?

— Porque teve chances demais e ao invés de aproveitá-las, me livrou em todas elas.

Ele ficou em silêncio após esse comentário. Queria eu ler pensamentos nessas horas. Antes que eu percebesse chegamos em Forks. Olhei para o relógio, para a janela e, finalmente, para a quilometragem do carro.

— Você é louco? Vai mais devagar! Vai me matar assim!

— Nunca sofri um acidente de trânsito, sequer recebi uma multa.

— Problema seu! — Ele estava a 150 km/h — Desacelere! — Vi o ponteiro descer até os 120 acompanhado por resmungos do Edward.

— Odeio andar devagar.

— E isso é devagar, por acaso?

Logo ele parou em frente à minha casa. Era estranho chegar em casa, voltar à normalidade, depois de tudo o que aconteceu. Eu ia tirar o casaco para devolver a ele, mas me lembrei de que estava praticamente seminua por baixo.

— Vai para a escola amanhã?

— Vou sim.

— Então te vejo amanhã. — Ele se aproximou e beijou minha bochecha. Saí do carro cambaleante. Ele tinha o mesmo cheiro de menta que aquela jaqueta. O que estava acontecendo comigo? Era para eu estar me aproximando dele por curiosidade apenas, e não...

E não pelo que? O que era aquilo?

Entrei silenciosamente em casa e escutei Edward cantar pneus depois. Tentei não chamar atenção, não queria preocupar Charlie contando o que tinha acontecido — não queria contar a ninguém o que tinha acontecido — e para isso seria melhor que ele não visse meu estado.

A sorte finalmente estava ao meu lado. Ele roncava tranquilamente no sofá, um jogo qualquer passava na televisão.

Subi, tomei um banho quente e demorado, esperando que a água levasse embora tudo o que eu estava sentindo. Minha mente insistia em retornar para aquele beco, então tentei me concentrar em outras coisas.

Como um certo perfume de menta.

Vesti um pijama confortável e desci para chamar Charlie para cama. Eu mesma não tinha certeza se conseguiria dormir.


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Notas finais do capítulo

Mas então, o que acharam? :)



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