Blood Slaves escrita por Jéssica Aurich


Capítulo 5
Que o jogo comece


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, capítulo novo antes do Reveillon.

Feliz ano novo leitores lindos ♥



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Naquela noite sonhei com o Edward novamente. Acordei no meio da madrugada depois disso e não consegui voltar a dormir. No sonho ele estava diferente, não era esse Edward estranho e irritante de todos os dias. Ele era interessante, intrigante, com um ar perigoso que me atraía.

Como perdi o sono, procurei por meus materiais de desenho e comecei a desenhá-lo na contracapa de meu caderno (foi o mais próximo de uma folha em branco que achei). Assim que terminei caí no sono.

Por conta desse episódio, acordei muito tarde no dia seguinte e cheguei atrasada na escola. O Sr. Mason não ficou nada feliz com meu atraso. Mike, que costumava se sentar ao meu lado, sentou-se na frente. Quando a aula acabou ele me acompanhou, porém sem o falatório costumeiro. Mike ficou chateado. Senti-me mal com isso, mas devo admitir que o silêncio era bem mais agradável.

Mais tarde, ao entrar no refeitório, meu olhar foi diretamente a minha mesa preferida. Acenei um oi para Alice e decepcionei-me ao perceber que Edward não estava lá. Segui para a fila do almoço conversando com as meninas e Jessica sussurrou em meu ouvido.

— Por que Edward Cullen está te encarando? — Olhei para onde ela apontou. Edward estava sentado em uma mesa, sozinho. Ao me ver, deu um sorriso e chamou-me com o indicador.

— Ele está chamando você? — perguntou com indignação. Jessica ficou me encarando até que eu respondesse.

— Não te contei? Vamos ao baile juntos. — E pisquei para ela, como se fosse normal Edward e eu almoçarmos juntos. Segui para a mesa e fiquei em pé ao lado da cadeira em frente à dele. Odeio quando as pessoas me pegam de surpresa: minha mente ficava tão desequilibrada quanto meu corpo.

— Por que não fica comigo hoje? — ele perguntou sorrindo.

— Desde quando nos sentamos juntos?

— Desde o circo de ontem. Afinal, senhorita Swan, — Ele inclinou-se em minha direção, apoiando o queixo em suas mãos. — esse é um jogo para dois.

Meu coração palpitou forte com a expressão em seu rosto ao dizer isso. Aquela expressão... Era a mesma que eu havia desenhado na madrugada. Exalando perigo, desafio. Sentei na cadeira desconcertada.

— E claro, agora é meu par no baile. Parece adequado que nos conheçamos melhor. — Cocei um pouco a garganta antes de recuperar a voz.

— Pensei que achava melhor não irmos juntos ao baile.

— Eu te avisei, querida Bella. Era melhor ter ouvido. Agora é tarde para voltar atrás. — Arqueou uma sobrancelha. — Conseguiu prender minha atenção.

— Edward... — Ele franziu a testa. — Você sofre de distúrbio de personalidade?

— Lá vem você de novo. — Eu suspirei. — Bella, se deseja que isso funcione tem que parar de falar para os outros, e isso inclui a minha pessoa, que sofro de transtornos mentais.

— Edward, se deseja que eu pare com esses comentários, pare de fazer jus a eles. Aliás, o que seria isso? — perguntei, referindo-me àquela situação.

— Boa pergunta.

Comecei a brincar com minha latinha de refrigerante. Só agora percebi que havia esquecido de pegar meu almoço. Não sentia um pingo de fome.

— No que está pensando?

Olhei para seus olhos verdes, confusa, e acabei soltando a verdade sem querer.

— Estou tentando entender quem é você.

Seu queixo se apertou um pouco, mas o sorriso sínico não abandonou o rosto.

— Está tendo sorte?

— Não muita — admiti. Ele riu.

— Quais suas teorias? — Senti minhas bochechas queimarem. Eu passei por todos os heróis da Marvel e DC comics. Não podia admitir isso.

— Não vai me dizer? — perguntou ele, inclinando a cabeça de lado com um sorriso extremamente tentador.

Sacudi a cabeça.

— É constrangedor demais.

— Isso é muito frustrante sabia?

— É, fiquei bem ciente dessa palavrinha durante esse mês. Frustrante. Uma pessoa salvar sua vida, no outro dia lhe tratar como pária e nunca lhe dar explicações... Isso é bem frustrante. Não venha me dizer algo como isso só porque me recuso a dizer sobre o que estou pensando.

— Calma, calma. — Edward levantou as mãos em sinal de paz. — Você tem uma personalidade bem forte, em?

— Só não gosto de dois pesos e duas medidas.

Ficamos nos encarado sérios por um tempo, até que ele soltou uma risadinha.

— O que foi?

— Seu namorado não está muito feliz por tê-lo abandonado.

— Meu namo... — Olhei para trás a procura de alguém até que a ficha caiu. — Ah. Claro. Tudo bem, Mike só não está acostumado a dividir minha atenção.

Edward não mordeu minha isca, apenas continuou com seu sorriso sínico, como se tivesse a mim em suas mãos.

— Espera, como sabe com tanta certeza o que Mike sente ou deixa de sentir? — Seu sorriso aumentou e levantou uma sobrancelha em desafio. Realmente tinha entrado de cabeça nessa história de jogo.

— Por que não me conta uma de suas teorias? — Seu rosto estava mais próximo do meu, os olhos esverdeados não desviavam dos meus e era possível sentir seu hálito de menta. Soltei o que pensava sem nem mesmo pensar no que estava fazendo.

— Estava pensando em heróis de quadrinhos. Não se enquadra em nenhum perfil.

— Não, realmente não me enquadro.

— Não, o que quer que você seja é bem maior que você.

— O que quer dizer com isso? — Pela primeira vez naquela conversa ele pareceu realmente tenso. Aquilo me fez acordar. O refeitório ao nosso redor já estava vazio. Levantei com pressa.

— Droga, a aula já deve ter começado. Vamos?

— Não vou à aula hoje. — Edward continuava brincando com a latinha, ainda parecendo meio tenso.

— E por que não?

— É saudável matar aula de vez em quando. — Ele sorriu para mim.

— Bom, eu vou.

— Nos vemos depois então.

Precisava me afastar um pouco dele. Não sabia o que Edward era, mas as possibilidades começavam a me assustar.

Ele era extremamente rápido, sua pele era dura como pedra (tive hematomas que comprovaram isso), tinha um poder de influência assustador, podendo ser comparado a hipnose, e de alguma forma conseguia ler as pessoas.

Conforme pensava nisso outros detalhes me alcançavam, como a beleza, olheiras, graça sobre-humana, a palidez, tudo isso afirmava que o que quer que Edward fosse era comum a toda sua família.

Esse pensamento lançou um arrepio incontrolável por todo meu corpo.

Olhei o relógio. Droga! Muito atrasada, era bem capaz de o senhor Mason não deixar que eu entrasse na sala. Abri a porta bem devagar, com minha melhor cara de inocente, e desejei que não o tivesse feito.

Dentro da sala todas as mesas foram retiradas e algumas macas improvisadas foram montadas. Alguns alunos já estavam sentados nelas, sendo auxiliados por algumas enfermeiras. Ao lado deles, uma bolsinha de sangue já começava a ser preenchida.

— Todos poderão doar, não se preocupem. A campanha será estendida até a próxima aula. Os que têm menos de 19 anos, por favor, venham buscar um formulário para que os pais preencham. — Sr. Mason gritava para os alunos.

Senti minha cabeça rodar um pouco. Não, não agora, não na escola. Como se o destino estivesse contra mim, aconteceu um pequeno acidente com um dos doadores. Sangue jorrava para todos os lados. Minha visão começou a escurecer, senti o chão se aproximando, mas alguém me pegou antes que caísse.

— Professor, vou levar Isabella Swan até a enfermaria, ela está passando mal. — Mike. Não importava muito quem fosse, contanto que me tirasse daquele lugar. Ele passou um braço meu ao redor de seu corpo, suportando parte de meu peso. Ainda bem que não falou o caminho todo como normalmente.

Já estávamos próximos ao refeitório quando pedi que ele parasse. Sentei na calçada e coloquei minha cabeça entre os joelhos para ver se ajudava, mas só pareceu piorar. Já estava sentindo minha boca salivar.

— Puxa, você está verde — Mike disse, brilhantemente.

— Bella? — Uma voz diferente me chamou. Não, não aquela voz. — Qual o problema, ela se machucou?

Meu corpo escolheu esse momento para trabalhar. Coloquei todo meu café da manhã para fora e agradeci mil vezes por não ter almoçado. Novamente, lá estava Edward Cullen segurando meu cabelo.

— Eu estava levando ela à enfermaria — Mike disse na defensiva. — mas pelo jeito ela não conseguiu chegar tão longe. — Há, há. Por que não ser mais óbvio?

Levantei e encontrei um Mike a alguns metros de distância, com cara de nojo, e um Edward que ao invés de estar preocupado, parecia achar graça da situação.

— Está melhor? — Tentei me levantar, mas cambaleei um pouco. O estômago vazio não ajudava em nada minha tontura. — Pode retornar para a sala, eu a levo — disse Edward, dirigindo-se ao Mike dessa vez.

— Não — protestou Mike pateticamente. — Eu é que devo fazer isso.

De repente a calçada desapareceu debaixo de mim. Edward me levantara nos braços com tanta facilidade que eu parecia pesar cinco quilos, não cinquenta. Queria protestar, mas não me sentia bem o suficiente para discutir. Além disso, a anormal frieza de seu corpo era reconfortante.

Edward simplesmente ignorou Mike e seguiu andando. O rei da obviedade ainda tentava discutir, já bem longe de nós.

— Sabe Bella, também tenho uma teoria sobre você. — Fez um minutinho de drama. — Acho que quer tornar esse tipo de encontro uma tradição.

Eu teria batido nele se tivesse forças. Em vez disso, revirei os olhos.

Já na enfermaria, ele explicou a enfermeira o que tinha acontecido. Fui colocada na maca, já me sentindo estranha por ter sido afastada do corpo frio de Edward. Recebi um remédio para enjoo e não demorei a me sentir melhor.

— Agora me explique direito o que aconteceu — perguntou ele, sentado ao meu lado na maca.

— Você tinha razão. Matar aula é mesmo saudável. — Feria meu ego admitir que Edward estivesse certo em algum sentido. — Você devia ter me avisado. Sabe que sou sensível ao sangue, você estava lá no hospital.

— Como assim? Pensei que tivesse problemas com ferimentos.

— Não, é o sangue... Aquele cheiro... — Memórias ameaçaram invadir minha mente novamente. Todo aquele sangue. Empurrei-as de volta para o fundo da mente, onde deveriam permanecer.

— Pessoas normais não sentem cheiro de sangue — disse com uma expressão estranha.

— Bom, eu sinto. E ainda assim ainda acho que você é mais problemático que eu. — Ele apertou os olhos. — Ah sim, me esqueci que não gosta de falar sobre essas coisas. Ops.

Ainda bem que a enfermeira voltou bem nesse momento. O olhar assassino que Edward me laçou foi definitivamente um péssimo sinal. Depois que percebeu que minha cor tinha voltado ao normal, ela me liberou com uma dispensa e recomendou que eu voltasse para casa.

— Acho que vou passar mal mais vezes. — Edward franziu o cenho. — Educação Física. — Aquilo o fez rir. Honestamente, não faço ideia do porquê, ele nem tinha conhecido minhas duas pernas esquerdas ainda!

No estacionamento, eu já seguia para minha picape quando ele parou em minha frente.

— Aonde pensa que vai? — perguntou cruzando os braços.

— Para casa, oras.

— Até parece que vou deixar você dirigir nesse estado. Negativo. Eu te levo.

— Sou completamente capaz de dirigir. Além disso, não posso deixar minha picape aqui. Ei! — Edward segurou minha mão e arrastou-me para o seu carro com um aperto de ferro. Como que para zombar de mim, começou a chover forte.

Além da cena ridícula da criança sendo arrastada pelo estacionamento, eu ainda pareceria um gato molhado. Isso somava o que, 1x2 a favor dele?

Edward abriu a porta e indicou que eu entrasse. Não daria mais nenhum motivo de chacota, então simplesmente o fiz.

— Pode deixar, Alice leva seu ferro vel... Ops, seu carro para sua casa. São amigas, certo?

— Claro que somos. E a propósito, Gladis é bem potente.

— Gladis? — perguntou, caindo na gargalhada.

— Ei, respeito é bom e ela gosta. Foi o único nome que combinou. — Para uma senhora bem idosa. Mas ele não precisava saber disso.

Ainda rindo, ligou o som do carro. O som de piano dominou o ambiente, acalmando-me automaticamente.

— Clair de Lune?

— Conhece Debussy? — Ele parecia chocado, o espelho de minha própria expressão. Quem diria que esse ser conhecia música boa?

— Claro que sim! Faz parte de minha seleção para dormir. É uma das poucas que me acalma, e uma das minhas preferidas. — A preferida dele.

— É minha preferida também.

— Foi o motivo para eu aprender a tocar piano.

— Você toca? — Ele precisava melhorar um pouco o queixo caído.

— Toco. Acho que minha mãe ficou mais empolgada que eu quando decidi aprender, juntou até algumas economias para comprar o piano! — lembrei rindo. — Pena que não pude trazê-lo. Era grande demais para a casa do meu pai — emendei uma desculpa qualquer para evitar perguntas.

— Quem diria, você tem alguma cultura.

Ele pareceu querer dizer mais alguma coisa, mas desistiu, trocando o assunto.

— Como é a sua mãe?

— Bem parecida comigo, só que mais bonita. E mais estabanada também. Engraçada, curiosa e sempre sabe o que dizer. — A saudade apertou ao falar dela.

— E o marido dela? Gosta dele?

— Phil é uma ótima pessoa e faz minha mãe feliz, então não tenho certeza se devo achar alguma coisa.

— Será que ela teria a mesma consideração com você? Independentemente de quem escolhesse? — De repente ele estava atento, os olhos procurando os meus.

— A-acho que sim — gaguejei. — Mas afinal, ela é mãe. É meio diferente.

— Ninguém assustador demais, então? — zombou.

— Depende do que define por assustador.

— Você acha que eu sou assustador? — perguntou. E então, como se tivesse percebido o que havia falado, concertou: — Porque afinal de contas vamos juntos ao baile.

— Acho que pode ser assustador. Quando não é infantil — brinquei.

— Não sabe com quem está brincando, Isabella — Meu sangue gelou com a ameaça. Ele estava brincando. Não estava? — Tenho que ir buscar meus irmãos.

— Te vejo amanhã?

— Acho que não. Amanhã vou acampar com Emmett, em Great Rocks. Sei que vai ser difícil, mas tente não sentir muito minha falta.

— Há, até parece. — Saí do carro batendo a porta com um pouco mais de força que o necessário, e ouvi um “quebra” gritado lá de dentro. Entrei em casa rindo.


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