Blood Slaves escrita por Jéssica Aurich


Capítulo 30
E que seja eterno


Notas iniciais do capítulo

É isso, meus amores, chegamos ao fim de Blood Slaves (chorando rios T-T). Eu só quero agradecer a todos vocês que acompanharam a história e comentaram, me dando forças a continuar, e dando ideias para novos capítulos. Sem vocês, eu nunca teria seguido em frente. LittlePop Eaton e MariHaruno, um agradecimento especial pelas lindas recomendações, soltei fogos quando recebi cada uma delas.
E por fim, não posso esquecer da minha amiga Luiza, que me aguentou nesses meses todos e sempre me ajudava quando a criatividade falhava. Sério, essa história não seria a mesma sem você.

Boa leitura, meus amores, e até a próxima



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Capítulo 30: E que seja eterno

— Tem certeza de que não quer ir outro dia? Quer dizer, pode ir durante fim de semana, pela manhã... — Charlie tentou mais uma vez. O nervosismo fazia com que falasse mais do que o normal. — Ainda tem um tempo antes das aulas começarem.

— Já conversamos sobre isso, pai. Quanto mais cedo eu for conhecer o campus, melhor. E prefiro viajar durante a noite, assim não perco o meu dia em um avião.

Claro que a verdadeira razão não era bem aquela. Eu não podia viajar durante o dia. Se um filete de sol tocasse minha pele por tempo suficiente, eu viraria churrasquinho. Já vi acontecer uma vez e definitivamente não queria passar por aquilo. Minha pele era tão sensível ao sol quanto a de um bebê, literalmente um bebê vampiro, como o retardado do Emmett insistia em me chamar.

Há alguns meses eu havia sido raptada por Raven, que me deixou agonizando à beira da morte. Se Edward não tivesse chegado a tempo, eu provavelmente não teria sobrevivido para contar a história. Segundo ele, meu corpo estava tão debilitado, que a alternativa mais rápida seria ele me dar seu sangue. Mas, da mesma maneira como o sangue de vampiro falhou com ele, quando humano, também falhou comigo, não sabemos exatamente o porquê.

Eu perdi a consciência, era tudo ou nada, e diante da situação, a alternativa que viu foi me transformar em vampira.

Quando eu estava inconsciente, pensei que Raven havia colocado fogo em meu corpo, pois senti tudo queimar. Edward me explicou que na verdade a dor que senti foi causada pelo sangue de vampiro tentando reanimar meu corpo sem vida.

— Eu podia ir junto, te ajudar com as coisas...

— Pai, você não pode deixar seu trabalho. Vou ficar bem, te prometo. Além do mais, Edward também está de mudança, eu o ponho para trabalhar.

— Edward, Edward. — Pronto, foi só tocar no nome do meu namorado que Charlie começou a resmungar sozinho.

Ele não se conformava com o fato de Edward e eu irmos morar juntos. Ciúme bobo de pai. Ou talvez não tão bobo assim. A história oficial era que eu havia passado no Instituto de Culinária da América e ele na Universidade de Nova York, em música. Iríamos unir o útil ao agradável e dividir um apartamento.

Na história original, eu tinha realmente passado na universidade, ele só ia morar comigo para me vigiar e ajudar. Querendo ou não, eu ainda estava nessa vida há pouco tempo e precisava de alguém que estivesse lá por mim.

Eu ainda estava me adaptando a essa nova existência e os Cullen me ajudaram bastante em todo esse período, sempre me auxiliando em minha nova condição.

— É o seguinte, durante as férias quero você de volta a Forks. Não quero você com seu namoradinho as férias inteiras. — Tive que me segurar para não rir.

— Ok, pai, mas e o que vamos falar para minha mãe? — Ele parou um pouco para pensar.

— Tudo bem, eu te divido com ela. Mas só. Da minha casa para a dela, da dela para a minha. — Revirei os olhos. Pode isso? Um pai ciumento daquele jeito? — E avise uma coisa àquele seu namoradinho: mantenho minha arma carregada especialmente para ele. — Ri alto com aquilo.

Nesses últimos tempos tem sido difícil conviver com Charlie, graças à minha nova vida. Vida não, existência. Eu tinha que repetir aquilo para mim diversas vezes para lembrar. Edward me ajudava a controlar a mente de meu pai, de modo que ele achasse normal eu passar os dias trancada em casa, não reclamasse por eu estar saindo mais a noite, não estranhasse minha nova aparência. Não gostava de fazer isso, mas era necessário.

Minha aparência tinha mudado drasticamente graças à transformação, era como se antes eu fosse apenas uma sombra do que eu havia me tornado. Meu cabelo tinha ganhado volume, forma e a cor estava mais vibrante. Meu corpo deu uma turbinada inesperada e minha pele estava ainda mais pálida (coisa que eu achava antes impossível). Ah, e meus dois pés esquerdos tinham se endireitado.

Em compensação olheiras foram aparecendo com o passar dos dias e só agora eu entendia de fato a necessidade por sangue. Aliás, essa necessidade era um dos motivos pelos quais eu estava indo mais cedo para Nova York. Sabe como nos desenhos animados os personagens famintos imaginam uns aos outros como coxinhas de frango? Meu pai era a minha coxinha de frango particular. Cada vez que eu sentia seu cheiro, ou ouvia seu coração palpitar, minha garganta queimava. Carlisle me forneceu um estoque de bolsas de sangue doadas para suprir um pouco daquela necessidade interminável.

No começo tentei caçar com os Cullen, mas manter uma dieta de sangue animal era como manter uma dieta a base de jiló. Em uma dessas caçadas, um humano passava em um local próximo e quase o ataquei. Se os Cullen não estivessem por perto, eu o teria matado. Até hoje me martirizava por isso.

Precisei procurar por doadores humanos, como Edward, e ele se tornou essencial nesse momento. Edward me ensinou como me controlar no momento de me alimentar, para nunca passar do ponto, ensinou-me a dar um pouco do meu sangue depois a esses humanos, para eles se curarem e ensinou-me a como controlar as mentes, de modo que eles cedessem fácil e depois não se lembrassem de nada. Carlisle e Esme eram completamente contra no início, mas depois do acidente de caça, viram que era a melhor opção.

— Já chegamos. — Charlie suspirou, entrando no estacionamento do aeroporto. — Sabe, ainda posso dar meia volta, Forks não está tão longe...

— Pai. — Olhei para ele. Outro suspiro profundo de sua parte.

— É que passou tão rápido! Depois de tantos anos tendo você apenas nas férias, ter você morando comigo foi incrível. E agora está me deixando de novo.

— Não está sendo fácil para mim também. — O clima de tristeza agora pairava no ar. — Deixar você a mercê de sua própria comida vai ser difícil. — Ele riu um pouco. — Mas convenci Sue a aparecer lá em casa de vez em quando com uma marmita decente.

— Graças a Deus! Depois de um ano com comida boa seria horrível voltar para as comidas congeladas e enlatadas. — Ri com ele.

Eu demorei um pouco, mas descobri que Charlie e Sue, uma mulher que morava na reserva, que visitou Billy no hospital no dia do acidente, estavam tendo um romancezinho. Sentia um pouco de culpa por não ter percebido. Nos meses que se seguiram ao acidente de Billy, Charlie ia muito a reserva para ajudar o amigo. Sue era amiga de Billy e também o ajudava. Entre uma visita ou outra, eles se conheceram melhor e se aproximaram. Foi Edward quem descobriu que meu pai não parava de pensar em uma mulher, e aí prensei Charlie na parede para descobrir os detalhes.

— Você está carregando o que aqui, Bells, sua caminhonete? — Meu pai estava tirando minha mala do porta malas e colocando em um carrinho.

— Bem que eu queria, mas Gladis não coube. Aliás, cuide bem da Gladis até eu voltar!

Charlie não me deixou levar Gladis para Nova York. Simples assim. Em suas próprias palavras “o senhor Cullen tem carros suficientes para os dois”. Estranhei muito Charlie querer que eu abusasse dos recursos de outra pessoa, até Edward me contar que meu pai achava que eu teria mais motivos para voltar, já que eu amava aquele carro, e que seria bom que eu tivesse como me locomover por Forks quando voltasse. Seria como se eu nunca tivesse saído de casa. Bobo, como se eu precisasse de outro motivo além dele próprio para voltar.

— Pode deixar que eu dirijo a “Gladis” de vez em quando. — Falou rindo. O que as pessoas tinham contra o nome da minha caminhonete?

Em uma coisa Charlie tinha razão, foi muito pouco tempo. Morei com ele pouco mais de um ano e foi definitivamente o ano mais louco da minha vida. Cheguei ao que pensei ser a cidade mais monótona e comum do mundo, e agora, graças a essa mudança, eu era mais forte que o Hulk, mais rápida que o Flash, mais pálida que o Gasparzinho e mais gelada que o Abominável homem das neves.

— E Bells, não se esqueça de falar com Jacob de vez em quando. — Minha vez de suspirar.

— Vou continuar tentando, mas você conhece aquele lá, cabeça dura...

— Para falar a verdade, até agora não entendi essa briga de vocês. — Fomos caminhando com o carrinho até a entrada do aeroporto.

— Honestamente? Nem eu.

Mentira. Eu entendia muito bem, só não me conformava. Jacob me culpava por coisas que não eram minha culpa, coisas que fogem do meu controle, apesar de terem relação comigo.

Depois que Edward deu um jeito em Raven e me transformou, ele foi até os lobos e os Cullen. Não demoraram muito a encontrar Seth também depois disso. O que quer que Raven tenha usado nos cortes de Seth impedia que seu corpo se curasse, logo encontraram o menino à beira da morte.

Carlisle o levou para o hospital e fizeram o possível e o impossível para curá-lo. Seth eventualmente melhorou, mas ficou desacordado por semanas antes disso, e sua habilidade para se curar já não era mais a mesma. Quando os lobos descobriram os motivos loucos de Raven para ter feito o que fez, não ficaram muito felizes com Edward.

Jacob, no entanto, transferiu sua raiva também para mim, tanto por Seth, quanto por eu ter sido transformada. Dizia que se eu tivesse mantido distância dos “sangue suga” desde o início, nada daquilo teria acontecido. Eu não queria ir embora deixando nossa situação daquela forma, mas Jacob havia tomado sua decisão. Tentei por diversas vezes mudar sua percepção, mas o resto dependia dele. Só esperava que um dia eu tivesse meu amigo de volta.

— Seu namoradinho está por aqui? — perguntou Charlie enquanto fazíamos o Check in.

— Vamos nos encontrar na sala de embarque.

— Hum — resmungou, tentando parecer indiferente.

Edward e eu decidimos que seria melhor se viéssemos até o aeroporto separados, para meu pai não reclamar mais ainda. Eu me despedi dos outros Cullen há alguns dias, já que hoje não daria.

Raven, quando me sequestrou, utilizou diversas plantas e ervas várias vezes, fosse para disfarçar seu próprio cheiro, para me drogar ou evitar que as feridas de Seth se fechassem. Carlisle ficou intrigado com aquilo quando contei. Em todos os seus séculos de existência ele não tinha ouvido falar em nada parecido. A caverna de Raven estava cheia daquelas plantas fedorentas, mas não tinha instruções de uso, então Carlisle resolveu viajar, visitar alguns amigos para pesquisar a fundo e tentar descobrir o efeito de tudo aquilo. Claro, sua esposa foi junto com ele.

Alice decidiu que viajaria com Jasper para Paris, segundo ela para fazer um novo curso sobre moda. Aparentemente ela já tinha alguns diplomas nessa área e queria dar um upgrade. Não que precisasse, Alice era a pessoa mais antenada em moda que eu conhecia.

Emmett e Rosalie não quiseram ficar para trás em Forks e decidiram partir em uma viagem de lua de mel. Honestamente? Eu nem sabia que eles eram casados. Foi uma surpresa quando Edward me contou que eles já fizeram dezenas de festas de casamento e já viajaram em lua de mel mais vezes ainda.

Os Cullen não ficariam longe uns dos outros por muito tempo, mas certamente a estadia deles em Forks chegava ao fim.

Clientes do voo 1540 com destino a Nova York, embarque no portão 4 — os alto-falantes anunciavam meu voo.

Eu e meu pai trocamos olhares, o coração já apertado. Era óbvio que os dois tentavam não chorar, mas os olhos de Charlie já estavam úmidos e os meus também queimavam.

— Pai, eu...

— Bells...

Começamos ao mesmo tempo. No fim, desistimos de falar e nos demos um abraço apertado. Palavras eram desnecessárias naquele momento. Eu sabia que ele me amava e eu também o amava. Por muito tempo ficamos distantes um do outro, mas acabei descobrindo que aquele homem era mais parecido comigo do que jamais pensei, e era incrível. Eu ia embora feliz por saber que ele estaria feliz, e talvez com Sue recomeçasse sua vida.

Charlie passou a mão por meu rosto e depois enxugou as próprias lágrimas. Fomos até o portão, demos um último abraço, e eu segui para a sala de embarque, olhando para trás a cada dois passos para ter um último vislumbre daquele homem baixinho e bigodudo das bochechas rosadas. Não é um adeus definitivo, Bella, relaxe. Eu precisava me lembrar. Despedidas nunca são fáceis.

Corri os olhos por toda a sala até encontrar o que eu procurava, certo homem bonito demais para ser real, com seus belos cabelos acobreados, olhos verdes e sorriso de lado que ainda me deixava com as pernas bambas. Edward me recebeu com um beijo quente e demorado.

— E então, Srta. Swan, pronta para sua nova existência? — sussurrou em meu ouvido com sua voz aveludada.

— Ao seu lado, Sr. Cullen, estou pronta para tudo.

Dar adeus ao que foi minha vida até então era difícil, mas eu realmente estava pronta para o que estava por vir. Uma nova cidade, nova faculdade, novas pessoas e uma nova Isabella. Estava pronta, desde que meu vampiro idiota estivesse ao meu lado.

E que venha o “felizes para sempre”.


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