One Shot - Down escrita por alwaysbemyBela


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Estava relendo Blood Promise esses dias e discutindo algumas questões com a Dê tive a ideia pra essa fic, mas até ela me desencorajou de tão sádica que era UHASUASHUASUH
Mas é difícil ficar com uma ideia na cabeça e não escrever, e então esse foi o resultado, e pra minha surpresa ficou bom!

Espero que gostem e não sofram tanto UHSAHUSAHUSAUHSA :x



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Um grito cortou a noite.

Levantei em um pulo. Os gritos continuavam, cada vez mais altos. Cada grito era como se enfiassem facas em minha cabeça, parecia que estavam dividindo meu cérebro ao meio. Agarrei as cobertas, tentando controlar os tremores do meu corpo. Trinquei os dentes, tentando pensar em meio a tanta dor e gritos, que agora viravam quase rugidos.

Minha porta tremeu, ouvi gritos que chamavam meu nome, mas era tudo muito difuso, muito distante. A porta tremeu ainda mais forte e então Alberta e mais dois guardiões entraram quando a ela enfim cedeu. Junto com eles, a Moroi responsável pelo dormitório me olhava com olhos arregalados e pela porta quebrada via muitas garotas de pijama espreitando pelo corredor.

Fechei os olhos e tentei respirar fundo, os gritos continuavam e minha cabeça doía mais e mais, lágrimas escorriam pelo meu rosto. Será que Rose sentiu toda essa dor quando começou a ver fantasmas? Será que eu iria começar a ver fantasmas?

— Princesa. - Alberta chamou. Mesmo sendo o meio da noite para nós, ela estava vestida e desperta, assim como os outros guardiões. - Princesa, você precisa se acalmar. - Dizia ao se aproximar calmamente.

Porque eu preciso me acalmar? Pensei. Eles não deveriam estar atrás da origem dos gritos? Alguém deveria estar em perigo para estar gritando com tanta dor.

Alberta continuava avançando com cuidado, como se estivesse lidando com um animal selvagem.

— Faça parar. - Gritei entre dentes.

Então ela veio até mim, me segurando, e tentando abrir minhas mãos que até agora não havia percebido que estavam fechadas em punhos. As unhas haviam rasgado a pele e um pouco de sangue escorria dos machucados.

— Você precisa se acalmar. - Sussurrou, segurando meus dedos para que não voltassem a me machucar.

Assenti e relaxei a mão. Eu não queria me machucar, mesmo com tanta dor eu não tinha a intenção de me ferir para fazer que parasse, como já havia feito antes. Os gritos dessa vez pararam, mas era como se estivessem gravados em minha mente. Gritos de uma dor desesperada.

— O que houve? - Perguntou então Alberta, me analisando. Tentei colocar os pensamentos no lugar, mas nada fazia muito sentido.

Os gritos haviam me acordado e então minha cabeça começou a doer. Ou foi a dor que me acordou? Aos poucos percebi que os gritos eram meus. E que a dor não era só em minha cabeça, meu corpo todo doía, meu peito ainda mais.

Minha respiração começou a ficar irregular. Não estavam partindo meu cérebro ao meio, mas tirando um pedaço de mim. Em algum lugar do meu subconsciente eu sabia o que havia acontecido, eu estava sozinha. Para valer dessa vez. E quando eu finalmente entendi, a escuridão me tomou.

 

Acordei suando e tremendo. As lágrimas jorravam, tornando difícil respirar, exatamente como foi daquela vez. Mesmo cinco meses depois aquela noite ainda me atormentava. As lembranças de sentir que ela havia me deixado ainda me feriam da mesma maneira.

Fui quase rastejando ao banheiro, eu tinha que me controlar. Eu vivia no limite desde então e não queria reviver os dias obscuros que sucederam aquela noite. Enchi a banheira evitando me olhar no espelho, sabia como deveria estar parecendo. Ainda mais magra que o normal, as olheiras fundas e os olhos vermelhos de tanto chorar. Desliguei a torneira e deslizei para dentro, ficando submersa por alguns minutos.

Isso me perseguia desde que acordei na enfermaria, após me dar conta que nosso laço havia sido rompido, significando então que ela estava morta. O soro que estava ligado a minha veia dizia que a Dr Olendzki havia me examinado, mas eu sabia que não poderia ajudar, não tinha nada de errado com o meu corpo, além dos pequenos cortes causados pela minha unha, somente com a minha mente e coração.

Ela era minha melhor amiga desde o jardim de infância, no momento em que ela jogou um livro na professora, e desde então nunca havíamos nos separados. Até o ataque a escola. Até Dimitri ser transformado. Até ela me abandonar.

— Se você tivesse ficado, nada disso teria acontecido. - Gritei para o teto, chorando novamente.

Isso fez com que a Dra. Olendzki entrasse em meu quarto, seguida por Alberta e pelo Diretor Lazar, dando notícias que eu já esperava.

— Vasilisa, eu lhe dei um remédio para que você se acalmasse, junto com um para dor, já que a Guardiã Petrov me disse que você reclamou. - Disse a Doutora indicando o soro. - Mas além disso, não há nada de errado, você está em ótimas condições. - Ela se aproximou um pouco mais, vendo que eu ainda chorava. - Então você pode nos dizer o que aconteceu?

Eu não conseguia falar aquilo, eu nem sequer aceitava. Mas me forcei, elas tinham que saber, alguém tinha que ir atrás dela, saber o que houve.

— Rose. Rose, se foi. - Sussurrei entre lágrimas e soluços.

Três olhos arregalados me encararam. Dra. Olendzki levou a mão a boca, em choque. E pela primeira vez desde que a conhecia, Alberta expressou uma emoção. Seus olhos encheram de lágrimas e ela se colocou ao lado da Doutora.

— Você tem certeza? - Perguntou segurando as lágrimas.

Eu apenas assenti com a cabeça, aquela pequena demonstração de afeto por Rose sendo difícil de suportar e me fazendo chorar ainda mais.

— Mas como? - Perguntou a Doutora.

— O laço. Não sei como, mas sei que ela não está mais aqui, não está mais comigo. - Minha voz subiu um tom, pela dor, agora em meu peito, que se tornava insuportável.

— Preciso resolver umas coisas. - Disse Alberta retomando sua postura e saindo de cabeça baixa.

Eugene Lazar apenas observava tudo. Ele provavelmente sabia sobre minha ligação com Rose, mas não sabia o que fazer nessa situação.

— Cuide para que a Princesa se sinta melhor. - Disse a Doutora e se retirou atrás de Alberta.

Poucos minutos depois Adrian entrou correndo, com Avery atrás.

— É verdade? O que ele disse é verdade? - Perguntou atordoado. 'Ele' deveria ser o diretor, já que era pai de Avery e deveria ter dado a notícia.

Confirmei com a cabeça, sentindo que não era capaz de repetir aquilo, continuar vivendo aquilo.

Deixei que a escuridão me tomasse novamente.

A escola não poderia fazer um enterro ou memorial a Rose como fizeram a Mason e aos mortos na invasão dos Strigoi, já que ela havia se desligado da escola antes de partir, mas Alberta pediu para que o padre Andrew rezasse uma missa por ela. Não sabia como Rose se sentiria se soubesse disso, ela não era religiosa e só frequentava a igreja por mim, mas sua alma era boa demais para que não fosse lembrada e abençoada.

Christian se sentou ao meu lado na missa, segurou minha mão e manteve os olhos no padre o tempo todo, com lágrimas nos olhos. Eu sabia que ele estava sofrendo tanto quando Adrian, que se alcoolizava para diminuir a dor. Avery havia sugerido que eu fizesse o mesmo, que eu continuasse indo para festas e saindo com eles, para afastar a dor e a escuridão do espirito, mas eu não via mais sentido nisso, nem mesmo todas as bebidas do mundo aliviariam a dor de perdê-la. Eu não tinha vontade de ver ninguém, nem Adrian, e até mesmo Christian.

Apenas permiti que Janine Hathaway me visitasse quando chegou em St Vladimir. Seus olhos castanhos estavam fundos e inchados, ela parecia abatida e não a guardiã durona que eu havia visto a última vez mesmo com tanta dor pelo campos.

— Você tem certeza? - Perguntou assim como Alberta, mas sua voz era fraca e quando eu confirmei, ela caiu de joelho e desabou em lágrimas.

Como foi com Alberta, aquilo me tocou de uma maneira ainda mais forte. Rose sempre teve uma diferença muito grande com a mãe, muito rancor e apesar de isso ter passado um pouco, ainda era um choque ver Janine daquela maneira, sofrendo tanto pela filha. Após alguns momentos de choro descontrolado, Janine levantou os olhos para mim com uma nova determinação.

— Eu serei sua guardiã agora. - Anunciou enxugando as lágrimas. - Esse era o sonho dela, e não importa o que a tenha levado embora, eu irei cuidar de você por ela, a Rainha querendo ou não.

Eu me segurei e agradeci, mas assim que ela saiu do quarto, desabei. As palavras de Mia ecoando em minha cabeça 'Por que você não foi com ela?' pela milésima vez. Poderia ter sido diferente? Eu poderia tê-la ajudado? Poderia tê-la salvo? Senti minhas unhas penetrando a pele mais uma vez, e soltei um grito angustiado entre os soluços, até dormir.

Após uma semana fui forçada a retomar as aulas, não podia perder o ano e nem me trancar no quarto para sempre, mas era difícil aguentar todos os olhos e comentários. Eu já havia passado por isso, mas com Rose ao meu lado, e agora a única coisa que eu tinha eram lembranças, lembranças doloridas. Eu assistia as aulas, me encontrava com a orientadora que já havia vendo antes, agora com mais frequência e então voltava para o quarto. Não tinha mais nem vontade de praticar o espirito com Adrian. Christian ainda frequentava algumas aulas comigo, mas se mantinha distante. Eu sabia que o tinha magoado, mas não tinha mais forças para me desculpar.

Na verdade, eu quase não tinha mais forças para nada, sair da cama e ir até as aulas custava tudo de mim. Eu não conseguia me alimentar e tomava o sangue que era necessário apenas para sobreviver. Eu sentia a escuridão do espirito brincando com a minha mente, mudando meu humor. Ás vezes me perguntava se a Sra. Karp se sentia assim, tão descontrolada. Até que Desiere, minha orientadora, pediu para que eu voltasse a tomar os antidepressivos.

Por um momento eu neguei, mas lembrei de como Rose ficou preocupada quando eu decidi deixar de toma-los, como ela pegava a minha escuridão para não me deixar mal, e o quanto aquilo custou a ela. Então aceitei, eu não queria enlouquecer mais do que a perda dela já me enlouquecia.

Sai do banho mais controlada, mesmo tomando os remédios há cinco meses, eu ainda sentia minha magia no fundo da minha cabeça, assim como a sua escuridão. Eu sabia que qualquer deslize poderia me levar a atitudes drásticas, e eu não queria fazer nada que Rose não aprovaria.

Então me vesti e sequei meu cabelo, hoje seria meu primeiro dia de aula na Universidade Leight.

Desde que me mudei para Corte, se tornou mais fácil sobreviver, eu mal tinha tempo para pensar. Tatiana me arrastava de evento em evento, de reunião em reunião, como seu próprio bicho de estimação. Às vezes eu gostaria que Rose estivesse aqui e se opusesse a vontade da Rainha, mas ela não estava e eu não tinha nada a fazer a não ser assentir e segui-la. Ao menos agora poderia estudar enfermagem, já que não poderia mais curar ninguém através do espirito, que pudesse ao menos ajuda-los. Por mim, seria medicina, mas Rainha Tatiana não queria que eu perdesse tanto tempo com uma faculdade quando tinha o futuro garantido e precisava tanto de mim. Então mais uma vez eu apenas aceitei o que tinha, assim como meus guardiões.

Encontrei Serena e Grant esperando por mim no estacionamento da Corte. Serena que era da minha idade, segurava uma bolsa e um livro, pois participaria das aulas comigo, Grant apenas observaria tudo de longe, como um veterano.

— Adrian disse que não poderá nos acompanhar. - Disse Grant após me cumprimentar. - Ressaca, ou algo assim. - Acrescentou com um pequeno sorriso.

Adrian havia voltado para Corte logo após a morte de Rose, já que estava na escola apenas para praticar o espirito comigo, e toda a minha tristeza apenas o abalava mais. E agora que eu estava aqui, ele estava sempre por perto.

— Tudo bem, então vamos logo. Não quero chegar atrasada. - Pedi entrando no carro e tentando não pensar nos meus sonhos.

A viagem até a universidade foi rápida e tranquila, assim como o restante do dia. Pela primeira vez me senti totalmente absorvida por algo que não fosse minha dor e a ausência de Rose. Os humanos eram legais e até me vi sorrindo para alguns, e os professores também.

Ao longo das aulas percebia Serena um pouco perdida e não pude deixar de imaginar como seria para Rose. Ela provavelmente estaria morrendo de tédio e bufando, louca pela hora do almoço.

Acabei demorando um pouco ao conversar com um professor, e quando saímos o sol estava quase se pondo, deixando o estacionamento coberto de sombras. Serena perguntava sobre uma matéria, mas eu mal a ouvia, pois, encostada em nosso carro, estava uma garota de longos cabelos castanhos estudando as unhas com certo tédio. Ela pareceu sentir meu olhar, pois levantou a cabeça e deu um pequeno sorriso que me fez estancar no lugar.

— Olá Liss. - Rose disse com a voz suave. Por um momento me perguntei se estava enlouquecendo, se o espirito finalmente havia levado a melhor e eu estava tendo alucinações.

Mas Serena ficou tensa ao meu lado e tirou uma estaca do cinto antes que eu tivesse alguma reação. Rose olhou divertida para ela, desencostou do carro e no segundo seguinte já estava em cima de Serena, quebrando seu pescoço e jogando o corpo sem vida longe.

Então virou-se para mim, sorriso com os dentes a mostra, como sempre fazia comigo, mas dessa vez havia presas também, como as minhas, como as de um Strigoi.

 

Rose

Lissa continuava paralisada, e mesmo assim era como um anjo enviado dos céus. Seus cabelos loiros caindo soltos pelos ombros, os olhos verdes-jade tão familiares me olhavam em choque. Daria tudo para poder saber o que ela estava pensando, como estava se sentindo. Ela parecia em dúvida, entre o medo e a descrença.

Mas antes que eu pudesse me aproximar mais, o seu segundo guardião veio correndo em minha direção, apenas o joguei longe, mas ouvi ossos se quebrarem quando bateu de encontro a um muro.

— Foi isso que a Rainha colocou para nos substituir? - Perguntei com desdém. - Achei que a última Dragomir mereceria coisa melhor.

Lissa continuava me olhando, agora com o medo ganhando da surpresa. - Hey, calma. Eu não vou te machucar. - Disse chegando mais perto, com as mãos para cima em um gesto de rendição. - Eu nunca iria, você sabe.

Ela então assentiu e eu me aproximei, ficando bem na sua frente. O cheiro dela era intoxicante, o sangue real dos Dragomir e seu perfume de flores. Toquei levemente seu rosto, o que fez com que ela estremecesse, mas inclinou instintivamente o rosto em direção a minha mão, como um gato procurando carinho.

— Eles não estão cuidando muito bem de você. - Observei seu rosto, mais magro do quando a vi pela última vez, olheiras fundas e os olhos estavam sem o brilho que era tão encantador.

— Você morreu. - Ela sussurrou, lágrimas brotando em seus olhos.

— Claro que não, estou aqui não estou? E vim te buscar. - Sorri tentando ser o mais delicada possível.

— Me buscar? - Lissa perguntou se afastando da minha mão.

— Claro que sim Liss, eu fiz uma promessa não fiz? Eu vou te proteger para sempre. - Sorri mostrando as presas. Não que eu me preocupasse em esconde-las.

— Você vai? Você não quer me matar? - Seus olhos dessa vez se arregalaram, permitindo que algumas lágrimas escorressem pelo seu rosto. Sequei elas com meus dedos.

— É claro que não. Só quero você ao meu lado. - Usei minha voz mais sedutora.

Acabar com a última Dragomir traria ainda mais respeito para Dimitri e eu, além de ter Lissa ao meu lado. Eu gostaria disso, vim tramando para que isso acontecesse desde o momento em que percebi o quão bom seria, ter tudo o que eu sempre quis. Dimitri e Lissa, sem ter que abrir mão de nada, do amor, ou da proteção dela como esse maldito governo Moroi me obrigava.

— Como... Co-Como uma Moroi? - Perguntou gaguejando.

— Não. - Lissa estremeceu com o tom rude da minha voz. Então me apressei para corrigir isso. - Não Liss, seria perigoso demais para você. Mas pensa nas coisas boas que você poderia fazer sendo como eu, forte como eu, poderosa como eu.

— Então você vai me transformar? - Ela deu um passo para trás e eu segurei seu braço com todo o cuidado que eu pude, mas seus olhos se encheram de lágrimas e pânico.

— Só se você quiser. Dimitri me deu uma escolha sabe. Por um tempo. - Disse com certo rancor me virando e vendo Dimitri encostado no carro apenas observando, seu semblante sério, mas sentia sua paciência se esgotando.

Eu ainda não aceitava muito bem a ideia de ele ter me despertado a força, eu havia lutado tanto, estava prestes a escapar, quase chegando naquela maldita ponte quando ele conseguiu me prender e eu não fui capaz de invocar os fantasmas para me ajudar. Senti suas presas em meu pescoço e então acordei no quarto que havia sido minha prisão. A luz ferindo meus olhos.

Ouvi Dimitri virando a página do seu maldito livro, mas quando o olhei entendi o que ele queria dizer com que tudo era mais claro e vivo, seus cabelos negros brilhavam na pouca luz da aurora que vinha pela janela, e os olhos, os olhos que um dia eu amara, e ainda faziam com que uma eletricidade passasse por mim, eles eram ainda mais penetrantes. Eu conseguia ver cada linha de expressão, cada detalhe do rosto e corpo dele. E os cheiros, seu pós barba me dominou e eu me levantei em sua direção e quando o beijei, meu Deus, achei que fosse explodir por dentro. Cada toque, que agora já não eram mais frios em minha pele, deixava um rastro de fogo em por onde suas mãos passavam.

A raiva ainda estava lá, mas do que me adiantaria agora? Eu mesma havia matado Galina, e ele Nathan e os outros, tínhamos tudo para dominar aquele lugar e todo o império dela, mata-lo só para provar meu ponto não ajudaria em nada, e qual é, eu poderia transar com esse cara o tempo todo, então poderia lidar com isso. Melhor tê-lo como aliado do que inimigo. Nós seriamos imbatíveis juntos, nem guardiões ou Strigoi conseguiriam nos derrubar.

Agora só faltava ter Lissa ao meu lado.

— Você não faz ideia de como é Liss. Você não será mais indefessa, e mesmo sendo nova, eu cuido de você. Eu prometo. - Sussurrei afagando seu cabelo.

Lissa me estudava com cuidado, eu sabia que não estava em seu melhor estado. Eu sabia o que minha perda tinha feito a ela, desde que eu fui embora ela estava um pouco desequilibrada, lidar com a minha morte e a escuridão do espirito então?

— E você vai se livrar disso. - Cutuquei levemente sua testa. - Não vai mais te perturbar, não vai mais te ameaçar com toda essa loucura. A Sra. Karp fez, você tem pode, e você ainda vai ter a mim. Nós podemos ser uma grande família feliz, como você sempre quis. - Sugeri, usando suas palavras passadas. - Podemos até ir atrás do Christian depois, e então ficaremos todos juntos.

Ao mencionar Christian, Lissa se contraiu e desviou seu olhar para o chão.

— Oh, vocês nunca mais voltaram? - Perguntei lembrando de estar em sua cabeça quando eles terminaram.

Ela assentiu novamente, sentia suas forças se esvaindo. Eu poderia convence-la, seria apenas insistir nos pontos certos. Eu a abracei, passando a mão por seu cabelo e dizendo o quanto eu sentia muito, ela começou a chorar em meu ombro e eu ouvia Dimitri começar a bater o pé. Revirei os olhos para ele. Me prender em um quarto por semanas ok. Aguentar Lissa chorando por uns minutos, não. Ele estava precisando recordar que eu era totalmente capaz de mata-lo.

— Lissa, venha comigo. - Disse com mais firmeza dessa vez, sustentando seu olhar no meu. Não iria usar a compulsão com ela, e sinceramente, sabia que não seria necessário. - Eu nunca vou te abandonar, eu sei que fiz isso uma vez, mas eu ia voltar, eu estava pronta para voltar quando tudo aconteceu. E agora eu preciso de você do meu lado, assim como você precisa de mim. Vamos lá, nós vamos ficar juntas para sempre e eu nunca, nunca vou deixar você. - Segurando seus ombros e mantendo minha melhor expressão de inocente, dei minha cartada final.

— Você jura? Você não vai me deixar? - Lissa perguntou em um sussurro, lágrimas ainda escorrendo.

— Claro que sim Liss, eu não deveria ter feito isso da primeira vez e não irei fazer agora. - Vi a decisão ser tomada em seus olhos, ela puxou o cabelo para trás, deixando o pescoço a mostra para mim.

Ha! Eu era genial. E agora todos os Strigoi deveriam se ajoelhar aos meus pés, porque Rose Hathaway está prestes a exterminar uma linhagem real.

Eu deixei a expectativa me tomar, abaixei para tomar seu sangue e foi tarde demais quando ouvi passos e virei para ver as chamas me cercarem. Consegui apenas me virar e ter um último vislumbre de Dimitri.

 

Lissa

 

Eu fechei os olhos e esperei pela mordida. Meu corpo todo tremia e eu segurei a respiração em expectativa. Todo mundo sabia que a morfina da mordida de um Strigoi era ainda maior que de um Moroi, mas eu tive medo que doesse.

Não tinha certeza do que estava fazendo, permitir me transformar em uma Strigoi? Seria esse o meu fim? Mas quais seriam as alternativas? Continuar essa vida medíocre sobrevivendo entre a dor e a loucura, aceitando tudo o que a Rainha queria para o meu destino e sozinha?

Eu havia perdido Rose, mas ali estava ela, sempre falaram que os Strigoi não eram a mesma pessoa que um dia conhecemos, mas como não ser? Apesar da palidez em sua pele que um dia fora bronzeada, e o contorno vermelho em seus olhos, ela era exatamente a mesma. Estava ali jurando que me protegeria, e que não me abandonaria novamente. Era isso tudo o que eu sempre quis, não era? Nós poderíamos ser essa família que ela dizia, e o espirito deixaria de me preocupar. Porque não? Era o que eu queria. Eu queria ficar com Rose para sempre. Queria que ela cuidasse de mim, e sendo um Strigoi eu poderia cuidar dela também, e então nunca mais a perderia.

Respirei fundo e esperei. Senti seus cabelos roçando meu braço, seus lábios se aproximando cada vez mais do meu pescoço. Mas então ela me largou subitamente e um rugido alto veio de longe.

Abri os olhos para encontrar o caos a minha frente. Rose estava em chamas, olhando para Dimitri como quem se despede e ao se virar novamente para mim, estava virando cinzas, até não restar mais nada.

Dimitri gritou, tão alto e cheio de dor que tive que tampar os ouvidos, e partiu em direção a algo a minha direita, que ao controlar as lágrimas vi que era Christian.

Ele estava parado a poucos metros atrás de mim, pálido e com bolas de fogo nas mãos, que acertaram o braço de Dimitri antes que ele se aproximasse mais. Então Eddie se colocou entre ele e Christian e eu demorei um segundo para lembrar que Eddie era agora o seu guardião.

E sem perder tempo, Eddie aproveitou a distração que Christian criou e atacou Dimitri, acertando golpes e mais golpes. Mas mesmo com o braço em chamas Dimitri ainda era melhor que Eddie, já era melhor quando Dhampir, agora com a força e agilidade de um Strigoi, era letal. Nem mesmo a distração fazia com que ele abrisse uma brecha para que Eddie acertasse seu coração. Dimitri ainda tinha o objetivo ao seu favor, ele estava com raiva, muita raiva. Haviam matado o amor da sua vida, e pelo jeito, morte.

Só que Janine apareceu, acertando o por trás e pegando o de surpresa. Até Eddie se assustou ao vê-la ali. Janine tinha cumprido sua promessa e virado minha guardiã, e apesar da Rainha não ter ficado muito feliz com isso, permitiu. Então Janine apenas ficava por perto, e no dia de hoje tinha vindo em outro carro, e ficado à espreita, para não levantar suspeitas.

Mas agora estava lá, tão furiosa quanto Dimitri. Ele havia transformado sua filha em Strigoi, e ela acabara de vê-la morrer, e se tinha alguém capaz de derrotar Dimitri Belikov, essa pessoa era Janine Hathaway.

Dimitri sabia que estava em desvantagem, então começou a se defender mais do que atacar, mas não foi o suficiente, Eddie acertou a estaca no braço bom, fazendo o urrar de dor, então Janine chutou, colocando fora do caminho de Eddie. Ela se posicionou bem a sua frente, e apesar da diferença de altura, Janine parecia enorme diante dele.

— Está na hora de você se juntar a Rose. - Disse entre dentes.

Dimitri desviou o olhar para onde o corpo de Rose estaria, se o vento não tivesse espalhado suas cinzas e foi o necessário para que Janine acertasse seu coração em um só golpe.

Assim que Dimitri não representava nenhum risco, Christian correu até mim, me pegando antes que eu desmoronasse.

— O que diabos você estava pensando? - Quase gritou para mim. Fiquei surpresa por um momento, ele acabou de salvar minha vida e agora está gritando comigo?

— Você matou a Rose. - Gritei de volta entre soluços.

Rose estava morta. De novo. Eu não iria suportar aquilo novamente, senti o mundo girar ao meu redor e segurei mais firme os braços de Christian, que percebeu meu desespero e me abraçou.

— Ela teria desejado assim. A verdadeira Rose, ela não iria querer ser um monstro. - Disse com delicadeza dessa vez.

Me lembrei da conversa que Rose e Dimitri teve ao que parece séculos atrás. Nenhum dos dois gostariam disso, e no fim, a jornada de Rose foi concluída, ela salvou a alma de Dimitri e conseguiu salvar a sua própria.

— Mas, o que você está fazendo aqui? - Perguntei me dando conta de que ainda estava na Universidade.

— Eu, ahn, eu vou estudar aqui. - Respondeu um pouco inseguro.

Eu senti o mundo girar ao meu redor.

— Você vai? Aqui? Comigo?

— Você acha mesmo que eu deixaria você Lissa? - Perguntou em um tom tão carinhoso que me encheu de um calor que não sentia há tempos.

Antes que eu me desse conta, colei meus lábios nos dele, sentindo a maciez e urgência do seu toque.

Lembrei de todas as vezes que eu o vi por perto, nas aulas, na igreja e até mesmo na Corte, quando tinha algum tempo livre e o encontrava com Mia. E não me senti mais tão sozinha.

— Vamos tira-los daqui. - Disse Janine quando Christian e eu nos separamos.

Rose agora encontraria a paz junto com Dimitri e talvez eu tenha encontrado a minha.


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Notas finais do capítulo

Posso confessar que chorei escrevendo? Criando as cenas na cabeça eu fiquei toda arrepiada, ainda mais com a Alberta demonstrando emoções e imaginando a Lissa sozinha descobrindo que a Rose havia morrido :(

Não pretendo escrever nada parecido tão cedo UHSAUSUHASxx